Terramar: O Mar Encoberto

Capítulo 1053

Terramar: O Mar Encoberto

"Sim, dez anos! Uma data completa! Uma década inteira equivale a 5.256.000 minutos! Cada ciclo de tempo dura 40 minutos, o que significa que passei por 131.400 ciclos!!"

Wrench foi ficando cada vez mais agitado; cuspiu saliva enquanto acrescentava: "Você sabe por que eu sei disso? Sabe por que ainda não enlouqueci? É porque, a cada ciclo de tempo, minha mente e sanidade são resetadas, exceto pelas minhas memórias!!"

Um silêncio sepulcral tomou conta do convés. Os membros da tripulação, cobertos de neve por toda parte, congelaram e trocaram olhares. Um leve sentimento de desespero permeava o ar.

Percebendo que o moral da equipe estava se desintegrando rapidamente, Klaus imediatamente exclamou: "Não escutem as bobagens dele! Antes, ele estava sozinho, mas agora somos tantos! Com certeza vamos encontrar uma solução!"

"Estamos numa situação estranha, mas precisamos manter a calma para pensar numa solução. E não já enfrentamos algo parecido antes? Lembrem daquela ilha com peixes? Aquela ilha não era muito mais perigosa do que a nossa situação?"

Graças à rápida reação de Klaus, o moral deixou de cair. Porém, isso não foi suficiente. Era preciso resolver o problema imediatamente.

Klaus e os responsáveis pela Lua de Mel — o Primeiro Oficial e o Segundo Oficial — se aglomeraram para pensar numa saída. Enquanto isso, os ciclos de tempo continuavam e eles retornavam ao convés repetidamente.

"Não posso ficar aqui parado. Esse problema não vai me impedir! Todos vocês, entrem! Deixem comigo, vou tentar alguma coisa," disse Lily, levantando voo. Momentos depois, sua figura delgada foi envolta por uma luz brilhante.

Um raio de sol deslumbrante emanou dela, iluminando tudo ao redor.

As partículas de neve que giravam no ar e os icebergs próximos começaram a derreter sob seu brilho. Nesse instante, parecia que um sol tinha se manifestado novamente no Mar Subterrâneo.Sabendo dos perigos da luz solar, a tripulação não ousou encará-la por muito tempo. Ficaram cheios de admiração e se refugiaram na cabina. Quando a luz desapareceu, a neve e os icebergs desapareceram também.

Seu desaparecimento significava que a tripulação não precisava mais se preocupar em colidir com um iceberg ou em se livrar do pó branco estranho.

"Funcionou?" Klaus liderou a equipe para fora, olhou para o céu completamente escuro e examinou. As partículas de neve tinham desaparecido, e a visão trouxe uma esperança de que talvez houvesse uma saída.

Naquele segundo, porém, a cena ao redor deles tremulou, e eles se encontraram de volta ao convés novamente. As partículas de neve no ar começaram a cair de novo, e outro ciclo de tempo se iniciou.

Lily fez um biquinho e tentou mais uma vez. Independentemente de seus esforços, ela sempre se via de volta ao convés a cada quarenta minutos.

Após quinze ciclos, Lily finalmente desistiu.

O poder que o Deus da Luz lhe deixara era completamente inútil contra a situação bizarra em que se encontravam, e esta foi a primeira vez que Lily enfrentou um problema que seu poder não conseguiu resolver.

Seus olhos ficaram vermelhos, uma expressão de mágoa apareceu no rosto dela, mas ela rapidamente se acalmou. Afinal, ela já não era mais uma criança. Não tinha ninguém para ajudar, tinha que aguentar firme. Lily sentou-se e começou a analisar a experiência adquirida em tantas tentativas.

Enquanto isso, o Capitão Klaus deu um passo à frente e reuniu a tripulação. Após pensar por alguns segundos, ele disse: "O Primeiro Oficial e eu temos algumas possíveis soluções. Todos devem fazer o que eu mandar."

"A razão de estarmos nessa situação tão estranha provavelmente é por termos feito contato físico com aquele pó branco. Não sabemos como ele nos afeta, mas talvez possamos tentar garantir que ele não nos prejudique."

"Primeiro Oficial, quero que comece a registrar a quantidade de ciclos de tempo a partir do próximo ciclo. Assim que começar o próximo ciclo, quero que use seu relicário para simular um túnel de vento e sopre todo o pó do ar."

"Todos os outros, utilizem suas armas para cortar qualquer parte do corpo que tenha entrado em contato com a neve, seja cabelo, roupas ou pele... cortem sem hesitação!"

Era uma solução absurda, mas nenhum membro da tripulação se opôs. Afinal, as ordens do capitão na embarcação eram inquestionáveis.

Quando o novo ciclo começou, todos seguiram rigidamente as ordens de Klaus, mas foi inútil. Cortaram partes do corpo sem hesitar, mas nada mudou.

Como a primeira solução não funcionou, Klaus passou para a próxima.

Os ciclos de tempo se repetiam infinitamente, e eles tentaram de novo e de novo.

Depois de doze ciclos, as soluções de Klaus se esgotaram. Todos ficaram imóveis, sem dizer uma palavra, enquanto uma sensação estranha se espalhava pelos seus corações.

"Não se preocupem! Vamos continuar pensando em uma solução! Desta vez, quero que todos venham pensar em uma solução!" declarou Klaus, sem demonstrar sinal de desistência.

Discutiram diversas possibilidades, e até Lily participou. Sentiam-se nem com fome nem com sono diante daquela situação absurda. Criaram soluções, tentaram de novo, e de novo — era tudo o que faziam.

Depois de um número desconhecido de ciclos, encontraram-se mais uma vez no convés. Dessa vez, ninguém falou nada, nem mesmo Klaus. Eles tinham imaginado toda espécie de solução, mas suas mentes já não conseguiam criar novas ideias.

Os olhares de todos se voltaram para Klaus, aguardando suas novas ordens.

Todos se esforçavam para não desabar. Sempre acreditaram que havia uma saída — que havia uma solução para aquilo —. Achavam que era assim... ou estavam enganados e iludindo a si mesmos?

O peso daquele olhar parecia maior do que nunca, e Klaus sentiu-se como se carregasse uma montanha nas costas. A atmosfera opressiva e estranha persistiu por várias rodadas, até que, com muita dificuldade, Klaus finalmente disse: "Vamos fazer o seguinte! Vamos orar às Divindades!"

As pupilas de todos se dilataram assustadas. Sabiam dos perigos de orar a qualquer Divindade enquanto estavam no mar. Era algo tão perigoso que se tornava um taboo.

Se não recebessem resposta, tudo bem. Mas se houvesse uma resposta, ela poderia piorar ainda mais a situação. Parecia que Klaus realmente tinha esgotado todas as opções disponíveis, decidindo apelar para medidas desesperadas.

A Divindade da Luz…

O Grande Pássaro do Sofrimento…

O Olho que Tudo Veja…

Fhtagn…

Vaso do Trovão Rugidor…

Hipnos…

Edikth…

A Comilona...

O Mar Subterrâneo possuía uma infinidade de Divindades, e eles oraram a cada uma delas, uma por uma. Chegaram até a desenhar os símbolos dessas Divindades no convés.

Alteravam a Divindade que pediam a cada ciclo de tempo.

No final, ficaram sem Divindades para orar, mas nada mudou. Klaus não tentou mais melhorar o moral. O moral da tripulação já era inexistente. Como levantar algo que já não existia?

"Primeiro Oficial, quanto tempo estamos aqui dentro?" perguntou Klaus, pegando uma garrafa de licor e tomando um gole profundo.

"Estive contando. Acabamos de passar de quinze dias," disse o Primeiro Oficial. As palavras dele destruíram completamente a esperança de todos.

Eram só quinze dias; ainda tinham que suportar nove anos, onze meses e quinze dias de desespero! Cada um desabafava o medo no coração à sua maneira — alguns xingando, outros chorando, alguns gemendo.

Aqueles cuja mente já ameaçava desmoronar finalmente perderam o controle, recorrendo a métodos extremos para descarregar o medo e o desespero.

"Droga! O que estamos fazendo é inútil! Não adianta nada! Tô fora!" gritou um marinheiro, empunhando uma pistola. Apontou para a própria cabeça e puxou o gatilho.

Um estrondo ensurdecedor ecoou, e o convés coberto de neve foi instantaneamente tingido de vermelho.

Silêncio. Todos olharam involuntariamente para suas próprias armas.

Justamente então, o ciclo de tempo recomeçou.

Para surpresa de todos, o marinheiro morto reapareceu ao lado deles com a cabeça completamente intacta.

"Pfft! É inútil. Vocês acham que eu nunca tentei acabar com minha vida nos últimos dez anos?" Disse Wrench, com uma voz estranha, ecoando nos ouvidos de todos.