
Capítulo 1055
Terramar: O Mar Encoberto
Dez anos...
Todos ficaram presos nesse ciclo infinito por uma década inteira. A única coisa que os mantinha de pé eram as palavras de Wrench — a esperança de que, após esses dez anos, eles seriam livres.
Mas a realidade pregou uma peça cruel neles. Ficaram aqui por uma década, e ainda assim continuavam presos nesse mesmo pesadelo.
Movidos pelo desespero, o grupo avançou como uma horda de mortos-vivos, rasgando freneticamente a neve com as mãos nuas até conseguir puxar Wrench para fora do esconderijo.
"O que está acontecendo?!" exclamaram, exigindo uma resposta. Seus rostos contorcidos pela histeria pareciam nada mais do que loucos.
"Hã?" Wrench parecia claramente confuso. "Ainda estamos presos aqui após dez anos? Talvez eu lembre errado... Talvez tenha sido vinte anos? Ou foi um século?"
Seu tom casual e indiferente fazia parecer que o longo período de tempo não significava nada. No entanto, aquelas palavras destruíram a sanidade remanescente de todos os presentes.
O grupo explodiu de raiva. Com as faces coradas e as veias pulsando, atacaram Wrench, mordendo, arranhando e rasgando sua carne, liberando uma década de fúria reprimida.
***
O tempo acabou; um novo ciclo começou. O Wrench morto foi revivido mais uma vez.De novo, foram enviados de volta ao convés. Desta vez, eles não atacaram Wrench, não rasgaram sua carne. Em vez disso, amarraram-no.***
Wrench gritou de dor, enquanto a dor invadia seu corpo, seus pulmões contraindo-se violentamente. Junto com a tatuagem de águia gravada na pele dele, parecia que a própria águia de sangue agitava suas asas, lutando para se libertar de seu repouso.
Esse era o método de tortura mais infame usado pelos piratas Sottom. Eles chamavam isso de Águia de Sangue. Era uma tortura lenta e excruciante, feita para sufocar lentamente a vítima.
Quanto mais dor Wrench sofria, mais satisfeitos ficavam os rostos do grupo. Seus sorrisos tortos se ampliavam, e seus olhos brilhavam com um prazer sádico.
Outra rodada do ciclo começava...
Desta vez, o grupo arrastou Wrench para frente. Tinha um tormento diferente em mente — alimentá-lo com pedaços de cabelo.
O capitão Klaus respirou fundo antes de dar um passo à frente. "Pra que tudo isso? Chega dessa maluquice!"
As mãos que seguravam os tufos de cabelo pararam no ar. O grupo olhou por um instante para o capitão e, então, voltou a empurrar cabelo garganta abaixo de Wrench.
Ninguém mais respeitava a autoridade de Klaus. Toda a disciplina a bordo do navio tinha se desintegrado naquele momento.
Durante os últimos dez anos, a ordem tinha sido mantida porque todos tinham a esperança comum de que sua prisão chegaria ao fim.
Porém agora, essa esperança foi destruída. Ninguém sabia quanto tempo ainda teriam que permanecer nessa repetição opressiva e torturante.
Nada era mais assustador do que ver a esperança sendo arrancada e despedaçada diante dos seus olhos.
"Pelo amor de Deus, eu já disse pra parar! Vocês estão todos surdos?" Klaus gritou, suas escamas verdes surgindo na pele enquanto se transformava em um monstro meio serpente, meio humano.
Com botões no lugar dos olhos, a boneca nas costas dele agarrava-se a Klaus enquanto ele avançava.
Fios de lã escura saíram e se enroscaram pelas narinas e garganta do grupo. Depois, se aprofundaram, penetraram nas veias e serpenteavam pelas artérias sanguíneas.
O grupo conhecia bem os poderes e relíquias do capitão Klaus. Esse conhecimento era seu melhor aliado na hora de reagir.
Cada ataque vinha acompanhado de maldições e palavrões venenosos.
"Você se acha um capitão? Que abominável! Um verdadeiro capitão nos teria tirado desse inferno! Seu merda inútil!"
"Vai se ferrar! Tinha tanta gente no bar, por que você foi se meter nessa missão idiota? Foi tudo culpa sua, seu filho da puta!"
O caos tomou conta, todos se envolveram na briga. O cheiro de sangue e enxofre rapidamente encheu o convés.
Enquanto isso, Lily permanecia ao lado, como se fosse uma espectadora, e não uma participante desse drama trágico.
De repente, ela deu um passo à frente, uma luz dourada explodiu de dentro dela, envolvendo todos a bordo.
Embora estivesse à beira de desmoronar, Lily recusou-se a desistir.
"Todos!" ela chamou. "Se o Wrench conseguiu sair, nós também podemos! Talvez fiquem livres na próxima rodada?"
Todos pararam e voltaram seu olhar para Lily. Mas suas expressões não pareciam convencidas. Na verdade, estavam marcadas por ódio e uma vontade assassina evidente.
"Sair? Quanto mais tempo? Dez anos, vinte, trinta? Ou cem?"
"Exato! E você! É a responsável por tudo isso, sua vadia imunda!"
"Se não fosse por sua missão idiota, estaríamos nessa situação?"
Agora, tinham um novo alvo para descarregar toda a raiva — Lily. Mesmo imobilizados pela luz dourada, ainda podiam cuspir e xingar a garota.
Lily também estava bastante exausta da situação atual. Mas fez o máximo para manter a compostura e disse: "Sinto muito que as coisas tenham chegado a esse ponto. Quando voltarmos, vou garantir que Charles compense tudo que..."
Antes que pudesse terminar, outro ciclo começou. Liberados da luz dourada, os membros do grupo se aproximaram de Lily. Seus olhos estavam ardendo com desejo animalesco, seus olhares cheios de luxúria fixos na jovem.
"Não precisamos de recompensa. Apenas deite e deixe a gente dar uma voltinha."
"Já se passaram dez anos; você também deve estar sedenta por isso. É realmente eufórico. As mulheres também gostam. Garanto que você vai ficar viciada assim que experimentar!"
"É isso aí! Ele acertou! Tire suas roupas!"
"Vai logo! Abaixe essa preguiça toda e tire a roupa!"
Alguns do grupo já tinham descido as calças, as línguas lambendo os lábios secos enquanto brincavam com seus atributos, olhando para Lily.
Depois de perder o respeito pela autoridade e pela ordem, o grupo agora até abandonava o senso básico de dignidade.
A respiração de Lily ficou mais pesada enquanto ela permanecia no lugar, exausta, observando toda aquela cena.
De repente, uma sombra surgiu por trás e a puxou para um abraço apertado.
No instante seguinte, uma lança brilhante de luz dourada surgiu de Lily e atravessou o corpo do agressor. Mesmo assim, ele achou que tinha valido a pena.
Ao cair, ele não esqueceu de fazer uma observação infame: "Essa vadia é tão macia! Como algodão!"
As palavras dele foram a faísca que detonou a loucura do grupo. Sem hesitar, todos avançaram em direção a Lily.
O suave brilho do sol surgiu de Lily, eliminando effortlessemente todos os residentes do Mar Subterrâneo diante dela. Um por um, caiam — nenhum foi poupado.
Mas não demorou para o tempo recomeçar. A equipe revivida imediatamente voltou a atacar Lily.
De novo e de novo, eles caíam, mas sabiam que a morte já não era uma ameaça. Não queriam abrir mão dessa oportunidade única de liberar toda a frustração acumulada.
À medida que o ciclo se repetia, os ataques de Lily ficavam mais ferozes, mas nada mudava.
Quando outro ciclo começava, o capitão Klaus avançava para impedir sua equipe de se aproximar de Lily.
"Chega! Tenho uma solução!" anunciou Klaus.
A turma olhou para ele uníssono, vendo enquanto Klaus lentamente se virava em direção a Lily.
Sua expressão que antes era firme e autoritária começou a se transformar numa de desejo, enquanto avaliava Lily de cima a baixo.
"Que tal isso?" sugeriu Klaus, com um sorriso perverso nos lábios. "Por que você não se dedica e deixa seu corpo aqui pra gente satisfazer nossas vontades?"
As palavras dele pareciam congelar o ar. Lily olhou fixamente para Klaus, os olhos arregalados, sem acreditar.
Como capitã do Amor da Donzela, sua vontade sempre foi firme e inabalável. Mas agora, até ela tinha sucumbido.
O ciclo infinito de tempo tinha lentamente corrompido a mente do grupo. A repetição incessante — de novo e de novo — corroía suas crenças, sua dignidade e sua esperança.
Sua sanidade era resetada a cada ciclo, então eles não enlouqueciam de vez. Mas a situação atual era muito mais assustadora do que a própria loucura.
Eles não podiam mais ser considerados humanos. Cada um deles tinha se entregado completamente aos desejos mais sombrios e aos impulsos mais negros, transformados por esse lugar em monstros disfarçados apenas por uma fina camada de pele humana.
E o mais terrível: Lily sentia a mesma escuridão se agarrando ao seu próprio coração.