Capítulo 1033

Foi apenas um olhar rápido, mas chamou toda a atenção de Anna. Uma repórter estava de pé na frente de uma escola com um microfone na mão, realizando uma entrevista.

No entanto, não foi a repórter quem chamou a atenção de Anna. Em vez disso, foi o rosto familiar que ela viu ao fundo — uma menina caminhando pela entrada principal da escola.

Ela era uma garota adorável, com sardas; seu nome era Olivia. Ela estivera lá no dia em que Charles foi convocado.

Ela deveria ter ficado louca após aquele encontro, mas agora, assim como Wang Jianshe, parecia perfeitamente normal.

Wang Jianshe é perigoso demais para eu me aproximar agora. Mas Olivia deve estar muito mais segura. Talvez eu consiga descobrir por que Wang Jianshe é como é agora se eu conseguir chegar até ela.

Os pensamentos de Anna continuavam a correr.

A IMF provavelmente não gastaria tantos recursos monitorando ela. Ela é apenas uma das muitas pessoas comuns que perderam a cabeça naquele dia.

A tela da televisão piscou mais uma vez, e a entrevista foi substituída por uma animação familiar — Tom esmagando um machado de ferro gigante em um Jerry desesperado.

Anna retomou seus movimentos e continuou comendo. Baixando a voz, ela falou em mandarim: "Coma rápido. Assim que terminarmos, vamos para a Grécia. Temos coisas para resolver."

Depois de uma rápida despedida com os Rooks, Anna partiu naquele mesmo dia, com Gao Zhiming ao seu lado.

Grécia.

Dentro de uma escola de alto padrão, Olivia conversava e ria com suas amigas enquanto passeavam pelo corredor. Seu sorriso era radiante de alegria enquanto compartilhava animadamente histórias sobre suas férias recentes.

"Juro! Aquela praia era simplesmente maravilhosa! A vista era deslumbrante, e os preços lá eram baratos! É o melhor lugar para os estudantes como a gente tirar férias!"

As três meninas fizeram a curva e seguiram em direção ao banheiro.

"E sabe o que mais? Tem várias pedras verdes, brilhantes, enterradas na areia!"

"Sério? Então quer dizer que agora você é rica?"

Olivia deu uma risada alta. "Brincadeira! Na verdade, não eram esmeraldas — eram apenas pedaços de vidro quebrado de garrafas de álcool descartadas. Com o tempo e a ação das ondas que os poliram, pareciam gemas lapidadas."

"Quer dizer, são só vidro, mas eram tãooooo bonitas!"

Entrando em uma das cabines, Olivia, animada, continuou falando.

"Ah, vocês viram meu Twitter? Posteia várias fotos bonitas!"

Depois de resolver seus assuntos, ela deu a descarga, virou-se para o espelho e foi até a pia.

"Da próxima vez, vamos todas juntas! É muito legal poder ver lugares novos, conhecer pessoas diferentes e viver novas experiências."

À medida que a água fria escorria pelas mãos dela, Olivia começou a perceber que algo estava errado. Desde que entrou na cabine, nenhuma resposta veio das suas amigas. Nem uma palavra. Ela estava falando sozinha.

"Sia? Sariah?" Olivia chamou, levantando a cabeça, confusa.

Seu olhar se fixou no grande espelho acima da pia, e ela observou seu reflexo. As cabines ao fundo estavam estranhamente silenciosas. Não havia nenhum som além da água correndo na pia.

"Meninas, não pensem em fazer pegadinha comigo assim. Não caio nessa," Olivia tentou afastar a sensação de desconforto.

Com passos hesitantes, ela se aproximou de uma das cabines e empurrou delicadamente a porta. Ela se abriu para dentro sem resistência nenhuma.

Os olhos de Olivia se arregalaram de choque ao ver Sariah deitada no chão, inconsciente.

"Sariah!" Olivia entrou em disparada, ajoelhou-se e segurou Sariah nos braços. "Acorda! O que aconteceu?"

Com uma mão trêmula, Olivia pegou o telefone e discou rapidamente 112.

Barulho!

Uma faca arremessada caiu de cima e atravessou a tela do telefone. O aparelho apagou instantaneamente.

No instante seguinte, Olivia sentiu seu entorno escurecer. Ela virou a cabeça abruptamente para cima e viu duas mãos pálidas descendo do teto.

Ela mal teve tempo de processar o que viu ou de gritar, quando as mãos agarraram sua cabeça e puxaram-na para cima.

Ela lutou e chutou selvagemente, tentando escapar. Mas, sendo uma garota pequena do ensino médio, sua força não era páreo.

Incapaz de se conter, Olivia foi arrastada pelo teto até a sala de armazenamento do segundo andar.

Uma voz pairou pelo ar.

"Já faz tempo, hein. Diga, querida Olivia, você ainda se lembra da pessoa que tirou sua foto naquele dia?"

A garota sardenta cambaleou para os pés. Seu coração ainda disparava pelo susto, enquanto ela se virou para ver quem era o falante.

No momento em que Olivia viu Anna, ela congelou. Como uma chave desbloqueando uma porta lacrada, o rosto de Anna quebrou o bloqueio mental na memória dela.

Todas as memórias enterradas voltaram à tona.

Uma árvore monstruosa de carne, com galhos torcidos feitos de órgãos retorcidos, surgia das profundezas de sua mente. O terror sufocante que ela exalava começava a corroer sua sanidade.

A alegria que transparecia no rosto de Olivia pouco antes foi desaparecendo lentamente, sendo substituída pela agonia. Sua forma, antes vibrante e viva, começou a se curvar, tentando encolher-se.

"Á-rvore! Árvore! AHHHH!" Olivia gritou e caiu no chão. Ela se segurou a cabeça com ambas as mãos e continuou gritando descontroladamente. Lágrimas e mucos escorriam livremente pelo rosto.

"Humm?" Anna observou a garota sardenta na sua frente, com uma sobrancelha levantada. Ela imaginou que precisaria usar algumas estratégias para fazer a garota se lembrar.

Logo que ela me veja, vai me reconhecer…

"Olhe nos meus olhos," Anna ordenou.

"AHHHHH!" Olivia soltou outro grito agudo.

Como um cachorro vira-lata assustado, ela se esgueirou para trás até estar encostada na parede mais distante do cômodo. Depois, encolheu os membros e enterrando o rosto no peito, permaneceu assim.

Anna assentiu consigo mesma e disse: "Hmm, agora isso parece mais normal."

Comparado ao disfarce artificial que a IMF havia imposto a Olivia, o estado de terror atual da garota era muito mais genuíno, o que a deixou mais tranquila.

Anna se aproximou de Olivia, ajoelhou-se de um lado, colocou a mão no ombro tremulo da menina e sorriu suavemente, falando perto do ouvido dela.

"O que fizeram com você?" Anna questionou. "O que passou lá dentro? Conte tudo."

Com a mente à beira de desabar, Olivia não respondeu. Em vez disso, bateu violentamente a cabeça contra a parede. Repetidamente, tentou se ferir desesperadamente para evitar encarar Anna.

Anna rapidamente entendeu que Olivia estava em uma resposta trauma completa. Se ela não estabilizasse a menina logo, nunca poderia obter as respostas que precisava.

Ela estendeu a mão, segurou a cabeça de Olivia antes que ela pudesse se chocar novamente contra a parede. Em seguida, puxou a garota para seu abraço, envolvendo-a com força.

Ela balançou Olivia suavemente, como uma mãe confortando uma criança assustada.

"Não tenha medo. Eu não vou fazer mal a você. A árvore na sua cabeça também não vai."

Ela usou sua experiência passada como Dianita para tentar estabilizar a mente fragmentada de Olivia com reforço psicológico puro.

Felizmente, funcionou. Depois de meia hora, as tremedeiras violentas de Olivia finalmente cessaram. Embora ela não tivesse voltado a ser aquela garota animada de antes, pelo menos conseguiu se comunicar.

"Diga… Depois que você saiu do resort, o que aconteceu? O que fizeram com você?" Anna perguntou.

Olivia não teve coragem de olhar para o rosto de Anna. Sua voz tremia enquanto respondia: "E-eles… fizeram várias perguntas. Eu não consegui… responder. Usei… LEGO para fazer… aquilo para mostrar para eles."

Em seu estado atual, Olivia mal conseguiu mencionar a árvore.

Anna estreitou os olhos, surpresa. Em condições normais, memórias associadas a emoções tão intensas eram difíceis de alterar. Mesmo que tivessem sido manipuladas, o efeito não duraria muito.

Mais importante, essa era uma memória de Charles. E Charles já era um Deus.

Contudo, a IMF conseguiu alterar uma memória com a aparência de um Deus.

De fato, eles têm ferramentas extremamente poderosas à disposição.

Com base na condição atual de Olivia, a suspeita de Anna foi confirmada. Wang Jianshe não havia sido substituído.

Seus memories haviam sido apenas reescritos. O atual dele tinha completamente esquecido seu acordo com ela.

"Continue. Não pare. O que mais eles te fizeram fazer?"

"Eles… me fizeram encontrar um louco," Olivia respondeu. Sua voz estava mais firme agora que ela não falava mais do a árvore.

"Um louco? Que louco? Já o conheci antes?"

"Não sei. Ele era esquisito… com uma barba grossa, despenteada. Ele segurava um tanque de água gigante nas mãos e não queria soltar. Ficava dizendo que o galho da árvore estava na água…"