Terramar: O Mar Encoberto

Capítulo 1004

Terramar: O Mar Encoberto

Ilov, dentro uma ala de isolamento, vestia roupas limpas e encarava tranquilamente o "galho" de árvore repousando silenciosamente dentro de uma caixa cheia de água.

O galho que parecia feito de carne ou sangue tinha crescido consideravelmente. Agora, estava tão espesso quanto um antebraço.

De alguma forma, ele conseguiu recuperar o "galho", mas não podia deixá-lo exposto ao ar. Era preciso contê-lo e tratá-lo como uma Anomalia de nível de ameaça máxima.

Ilov olhou ao redor e começou a bater na parede branca à sua direita. "Corvo, sei que você está aí! Diga à Equipe de Contenção de Anomalias que venham rápido! Não estou brincando com você!"

Do outro lado da parede, uma mulher de cabelo curto e traços marcantes ficou com os braços cruzados, encarando o colega com quem tinha enfrentado várias situações de risco de vida através do vidro unidirecional.

Não havia como negar: a mente de Jackal tinha sido contaminada. Contudo, eles não faziam ideia do que exatamente tinha contaminado sua mente ou por que ele via algo na água dentro da caixa transparente.

"Jackal, se você ainda consegue me entender, então escuta o que vou falar e simplesmente descanse. Seja obediente e descanse. Não se preocupe com mais nada; concentre-se em se recuperar."

Ilov ficou furioso ao ouvir essas palavras pelo alto-falante próximo. "O quê?! Você quer que eu descanse?! Não estou doente! Comecei como médico, então sabe-se lá se eu não vou saber se estou mal! Você não tem ideia do quão sério isso é!"

Ilov carregou a caixa transparente com o galho de carne e correu em direção à parede. Incluiu-a levemente para mostrar ao colega. "Viu? Está aqui, mas não tem forma física! É como um reflexo na água!"

"Mas mesmo sendo apenas um reflexo, encontrei uma maneira de tocá-lo! Você consegue fazer contato com ele usando seu próprio reflexo na água!"

Com isso, Ilov ergueu uma mão acima da superfície da água. À medida que movia lentamente, o reflexo de sua mão na água também se moveu lentamente até tocar no galho de carne.

O galho de carne se mexeu levemente, provocando uma exclamação de Ilov. "Viu?! Ele se mexeu! Não estou sonhando! Ele realmente existe!"

Silia, atrás do espelho, esfregou a cabeça doendo. As ações bizarras de Ilov não eram convincentes nem um pouco.

"Jackal, já mandamos pessoas examinarem, e é só uma caixa com água apodrecida. Não há nada nela."

Percebendo que ainda não acreditavam nele, Ilov entrou em desespero. Franziu a testa freneticamente e exclamou: "Porque nossa tecnologia ainda não consegue detectar isso!"

"Esse não é o único indício! Interrogue os pacientes do hospital de campanha e verá que muitos viram essa coisa. Tenho a sensação de que encontraremos pistas maiores dentro das mentes deles!"

"E aviso que o poder dessa coisa é inimaginável! Vi em sonho! Não sei onde ela está agora, mas se ela ficar hostil conosco, não conseguiremos lutar contra ela!"

"Jackal, você está de licença. Descanse bem, não pense demais. Deixe o resto conosco. Seu quarto está equipado com vários dispositivos de monitoramento, então qualquer Anomalia que tente influenciar você será detectada."

Com isso, Silia virou-se e saiu da sala de monitoramento para escrever seu relatório de incidente. Afinal, as explosões de Jackal tinham alarmado muitas pessoas.

"Ei, para onde você vai?!", gritou Ilov. Sua voz ecoou pelos corredores enquanto Silia se afastava. "Venha rápido! Veja! Foi um movimento! Ainda está vivo! MUDOU!"

No entanto, Silia nem olhou para trás ao sair da porta.

***

Em algum lugar nas profundezas escuras do Mar Subterrâneo, havia uma massa de carne do tamanho de uma ilha. A ilha de carne se contorcia enquanto afundava lentamente em direção ao fundo do mar.

A ilha de carne era Charles, e ele testava se poderia alcançar o mundo da superfície. As chances eram baixas, mas quem poderia ter certeza sem tentar?

Charles mergulhava mais e mais fundo. Em determinado momento, flashes brancos de luz o envolveram enquanto ele começava a se teleportar rapidamente.

Logo, Charles sentiu que tinha alcançado o ponto mais profundo do oceano, mas ao emergir, ficou surpreso ao encontrar um oceano. No entanto, foi rápido demais para não perceber onde estava — ele se encontrava na Terra da Divindade, no Mar do Oriente.

Ele tinha começado a perfurar o fundo no Mar Ocidental, mas de algum modo se viu no Mar Oriental. Claramente, havia algo errado. Parecia que alguma coisa estava interferindo na sua percepção.

Charles não avançou nem um centímetro antes de mergulhar no leito do mar, mas, em vez de emergir no Mar Ocidental, encontrou-se em um continente. Pela camada de rocha acima, ele ainda estava dentro do Mar Subterrâneo.

Claramente, o Mar Subterrâneo também tinha seus continentes.

As marcas no solo indicavam que aquele continente era habitável, e talvez houvesse humanos vivendo lá. O Charles humano ficaria radiante com essa descoberta, pois era um continente que jamais afundaria.

No entanto, o Charles atual nem se importava—tudo o que lhe importava era entender quem ou o que realmente conseguia interferir na sua percepção, especialmente quando ele podia ser considerado praticamente um deus.

Na verdade, Charles podia descobrir a resposta instantaneamente. Bastava liberar as limitações da sua mente e aceitar todo o conhecimento ao seu redor. Em menos de um piscar de olhos, ele iria saber o que acontecia sob o leito do mar.

Infelizmente, isso significava se tornar um deus instantaneamente.

O conhecimento—antes considerado inestimável—tinha se tornado quase uma maldição para Charles.

Após alguns momentos de reflexão, uma luz branca envolveu Charles, e ele desapareceu no ar.

No interior da Mansão do Governador, na ensolarada Ilha da Esperança, Bandagens estava sentado em sua mesa, revisando vários documentos.

Ele havia se tornado o governante de fato da Ilha da Esperança, sendo o responsável pelas decisões dos departamentos do governo local.

Bandagens era hábil na gestão. Era ainda mais competente nisso do que Charles. Quanto a como e quando adquiriu suas habilidades gerenciais, decidiu não pensar a respeito.

Já estava acostumado ao seu trabalho das nove às cinco, e o cheiro estranho que impregnava nele, resultado de anos no mar, havia desaparecido há muito tempo.

Enquanto assinava alguns papéis, alguém bateu na porta.

"Entre", respondeu Bandagens sem levantar os olhos.

A porta se abriu, e imediatamente ele se levantou animado ao ver o visitante.

"Capitão!", exclamou.

"Capitão? Faz tempo que ninguém me chama assim. Na verdade, estou até sentindo falta," disse Charles, sorrindo calorosamente enquanto caminhava em direção ao seu velho amigo.

Bandagens foi até ele, abraçando-o forte por um tempo antes de finalmente soltá-lo.

"Andei pelo ilha, e... tudo parece ótimo. Você é definitivamente melhor em ser governador do que eu," Charles sorriu.

"Capitão, você… está bem?" perguntou Bandagens, avaliando o capitão de cima a baixo, mas não encontrou nenhuma alteração. Parecia que Charles não tinha mudado nada.

"Estou bem? Haha, como posso dizer? Hm, acho que posso estar morrendo," respondeu Charles, com tom calmo, mas com uma pitada de autodepreciação.

Bandagens ficou surpreso.

"Vou… chamar todo mundo… para cá," disse antes de correr em direção à janela.

Antes de chegar lá, as paredes de ambos os lados da janela se fecharam como duas porções de carne, esmagando a janela até o nada.

"Não os chame. Tenho certeza de que vão chorar e fazer um escândalo, o que vai dar problema. Além disso, não acho bom eles saberem o motivo da minha visita."