Terramar: O Mar Encoberto

Capítulo 995

Terramar: O Mar Encoberto

De volta à Universidade de Ilha Hope, localizada no coração da ilha, Lily estava sentada na biblioteca, tranquilamente folheando uma fila de livros didáticos e anotações.

Seus cabelos longos caíam sobre as costas, com os lados presos cuidadosamente com um grampo de pérolas.

Vestia uma blusa de lã bege simples, combinada com uma saia de cor clara. Apesar do visual discreto, destacava sua graça natural e compostura.

Maya, sua melhor amiga e colega de classe, estava ao seu lado. Ela tinha sido uma ajuda imensa para Lily durante todo esse tempo. Foi graças a ela que Lily agora conseguia se manter firme nos estudos.

Depois de tanto tempo na escola, Lily não só amadureceu bastante em conhecimento, mas também em maturidade.

Às vezes, ao refletir sobre sua versão mais jovem, ela percebia de repente como era ingênua e impulsiva naquela época. Seus pensamentos eram simplistas demais e pareciam de uma criança. Ela nunca tinha se colocado no lugar dos outros.

Mas agora, ela era uma pessoa completamente diferente de um ano atrás. Seus traços inocentes deram lugar a uma expressão serena e composta.

Claro, Lily acolhia essa mudança e ficava feliz em aceitá-la. Afinal, esse era o motivo pelo qual ela frequentava a academia — para crescer, amadurecer.

Para evitar chamar atenção por sua beleza, que poderia distraí-la dos estudos, Lily até passou a usar uma maquiagem leve na esperança de parecer mais comum.

Porém, seus esforços pareciam infrutíferos, pois ainda assim, admiradores se aproximavam. Colegas homens muitas vezes disputavam sua atenção, apoiados pela permissão do Governador.

Porém, Lily olhava para eles com desprezo aberto. Como podiam gastar seu dinheiro com frivolidades, ao invés de se dedicarem aos estudos?

Enquanto Lily se concentrava no seu livro, Maya a cutucou suavemente com o cotovelo. Ela levantou o rosto e viu Maya apontando com a caneta para o relógio mecânico na parede da biblioteca.

Era hora do jantar, o momento de elas saírem da biblioteca.

Lily concordou com um aceno de cabeça e começou a guardar suas coisas. Colocando os livros e as canetas na bolsa pendurada na cadeira, as duas meninas então deixaram a biblioteca.

Assim que saíram, entrelaçaram os braços enquanto começavam a conversar sobre coisas que apenas meninas da idade delas poderiam achar interessante.

Estudar era estressante, e essa era a maneira delas de aliviar a pressão que carregavam nos ombros.

Quando estavam perto da lanchonete da escola, Lily puxou Maya gentilmente pelo braço e sugeriu: "Vamos sair para comer? Que tal o Bistrô Garra Vermelha? Você me ajudou tanto na defesa da minha tese na semana passada. Acho que mereço te convidar direito."

Na verdade, era apenas uma justificativa que Lily criou. Ela conhecia bem sua amiga. Se não fosse por isso, Maya, que era prática por natureza, não toparia sair para comer fora.

Além disso, Lily escolheu um restaurante modesto para que Maya não se sentisse desconfortável.

Embora pudesse levar sua amiga a um restaurante mais sofisticado, ou até uma dessas casas de jantar exclusivas frequentadas pela elite de Hope Island, ela não sugeriu isso.

Ela sabia que o equilíbrio é fundamental em qualquer relacionamento. Se uma parte desse excesso de dedicação, a harmonia natural se desequilibraria.

Amizades também precisam ser cultivadas.

"Claro!" Maya aceitou de bom grado a proposta de Lily. "Eu também gosto de gastar às vezes lá. As almôndegas de lagosta salgada são realmente deliciosas!"

As duas meninas pegaram o bonde e saíram do distrito central da ilha. Seguiram para a periferia e, eventualmente, chegaram a um pequeno bistrô antigo, escondido num canto tranquilo próximo ao porto.

Uma placa de garra de caranguejo gigante pendia sobre a entrada do estabelecimento. Era um restaurante familiar. O pai cuidava da cozinha, o filho atendia às mesas, e a mãe cuidava do estoque.

Apesar da simplicidade, a comida tinha muito sabor e o preço acessível ajudava a manter o negócio prosperando, mesmo na localização afastada.

Agora que as cadeias de suprimentos da ilha estavam totalmente restabelecidas, até uma pequena refeição como aquela oferecia uma variedade de pratos.

Lily e Maya fizeram seus pedidos, sentaram-se de volta e bebericaram seus doces e cremosos sucos de banana, conversando alegremente enquanto aguardavam.

Como era comum entre meninas, o assunto naturalmente passou para meninos. Um sorriso malicioso apareceu nos lábios de Lily enquanto ela se inclinava e perguntava: "E aí, o que está acontecendo entre você e o Ike? Ouvi dizer que ele agora é seu namorado."

Sem qualquer pudor ou vergonha, Maya encolheu os ombros e admitiu: "Sim, nos conhecemos no aniversário do Governador. Ele é legal, além disso, a Marinha já o colocou numa posição estratégica."

"Provavelmente não haverá guerras em breve, então estar na Marinha é um emprego estável. O salário é bom e ele consegue folgas decentes. Até tem direito a uma casa, mesmo que seja um estúdio, pelo menos não preciso me preocupar com aluguel depois que sair da academia."

"Argh, Maya!" Lily reclamou ao ouvir a avaliação prática de Maya sobre Ike. Ela franziu a testa, decepcionada, e falou: "Você sabe que isso não é o que quero saber."

"Então, o que você quer saber?" Maya perguntou, arqueando uma sobrancelha.

"Quero saber detalhes picantes da sua vida amorosa! Ele já fez algum gesto romântico por você? O que ele fez para conquistar seu coração?"

Maya deu mais uma tragada na palha e respondeu: "Não tem romantismo nenhum. Nem me atraem muito as aparências dele. Ele até departure o nariz. Eu namoro com ele por praticidade mesmo. No fundo, não sou lá essas coisas, acho que consegui um namorado bem razoável."

Ela ergueu o rosto para encarar Lily e continuou: "Não fica assim, não. Sério, ele também não sente muito por mim. Tentou te conquistar antes. Só escolheu ficar comigo após fazer uma análise lógica e perceber que não tinha chance com você."

"Gosto de pessoas racionais; são previsíveis e controláveis," concluiu Maya.

"Uh…" Lily ficou sem palavras.

Percebendo a atmosfera constrangedora, Maya rapidamente mudou de assunto.

"Enfim, Lily, não liga. Você é tão bonita que, se eu fosse garotinha, também gostava de você. Mas falando sério, você tem tantos pretendentes e não dá chance pra ninguém. Que tipo de garoto você gosta?"

Um sentimento de impotência cruzou o rosto de Lily. Essa questão tinha se tornado um tema recorrente entre elas. "Senhorita Maya, podemos mudar de assunto? Por que voltamos a esse tema? O mundo tem coisas mais importantes que amor, sabia?"

Os cantos dos olhos de Maya se mexeram de diversão. "Não é justamente dessa idade que se fala dessas coisas? O que? Vai esperar até fazer vinte anos pra pensar nisso? Até lá, já estaremos trabalhando e quem vai ter tempo pra romance? Além do mais, foi você quem trouxe esse assunto à tona, lembra?"

Lily suspirou e revirou os olhos. "Não tenho pensado nisso com atenção. Além do mais, aqueles garotos são muito imaturos."

"Imaturos?" Maya arregalou os olhos, surpresa. "Então você prefere os mais velhos, mais maduros? Mas não quis sair com o Dr. Milan quando ele te convidou pra jantar."

"Ai, nem é isso que quero falar. Não é maturidade por idade. É a maneira como pensam. Eles são tão vazios. Não têm ambições, falta profundidade na alma. O único sonho deles é conseguir um emprego melhor e uma casa maior."

Nesse momento, a comida chegou. Assim que o garçom colocou os pratos à sua frente, Lily pegou seus garfos e facas de metal e começou a comer rapidamente.

Suas bochechas inflaram enquanto mastigava, parecendo um pequeno hamster. Apesar de ter mudado bastante, alguns hábitos de roedor do passado ainda permaneciam, exigindo mais tempo para se adaptar totalmente.

Maya espetou a massa marrom em seu prato com o garfo, enrolando-a em um feixe ordenado antes de levá-la à boca.

"Ambição? Lily, você anda lendo muitos romances? Essas histórias são falsas, inventadas por gente para ganhar dinheiro."

Lily sorriu para a amiga, mas não respondeu.