
Capítulo 12
Terramar: O Mar Encoberto
Meu primeiro companheiro foi atacado por uma criatura desconhecida e permanece inconsciente. A sua condição não parece boa. Seria um milagre se ele conseguisse sobreviver a essa provação com todos esses ferimentos. Não tenho certeza se ele alguma vez vai acordar.
Clique.
Charles colocou a tampa na caneta e a guardou de volta no bolso. Soltando um suspiro e sentindo a impotência da situação, pegou seu diário e folheou-o de forma casual. Mas quando chegou a uma página em especial, sua respiração ficou presa na garganta e seu coração acelerou.
Naquele momento, arrependeu-se de ter lido aquela página.
Fechando o diário, soltou uma risada insana e balançou a cabeça.
“O que há de tão engraçado?” Anna, que estava a uma certa distância, perguntou curiosa.
Charles fixou nela o olhar por alguns segundos antes de se aproximar de Bandages e pegar a lâmina negra de sua mão. Com um dedo, indicou para Anna sair do lado de fora.
“Você não disse que seria mais seguro se todos ficássemos juntos? Por que estamos indo embora de novo?” Anna perguntou enquanto saía da cabine de piloto.
Charles segurou seu rosto de pele clara com as mãos e deu-lhe um beijo suave nos lábios. Os olhos de Anna se arregalaram um pouco de surpresa.
Quando Charles se afastou, as bochechas de Anna ficaram levemente coradas. Ela bateu brincando no peito dele com um punho e ronronou: “O que foi que deu em você de uma hora pra outra?”“Jiajia, somos amigos de infância. Você só gosta de mim há todos esses anos?” Charles se inclinou contra a parede do navio com uma expressão calma.
Anna se aconchegou em seu abraço e respondeu com carinho: “Claro que sim, bobinha. Só você mesmo, desde que me deu uma pá na caixa de areia da escola infantil.”
Charles a segurou com ternura enquanto olhava para a escuridão além do horizonte. “Jiajia, você é uma esposa perfeita. Linda, elegante, leal.”
Com um sorriso, Anna levantou as mãos e enlaçou os braços ao redor do pescoço dele. “Adoro esses elogios bobos. Continue assim.”
“Você lembra as marcas desses batons que você tem?” Charles perguntou.
“Por que você tá perguntando disso? Já faz tanto tempo, como eu iria lembrar?” Anna respondeu com uma leve irritação na voz.
“Sim, é claro que você não lembra. Porque eu sou um cara sem ideia nenhuma, então não lembro de marca nenhuma,” Charles disse, com a boca tremendo um pouco. De repente, lágrimas surgedram de seus olhos. Sua mão esquerda foi ao quadril, e apareceu uma pistola em suas mãos. O cano escuro apontava firmemente para a barriga de Anna.
“Gao Zhiming, o que você está fazendo?” Anna mostrou um leve sinal de descontentamento.
“Você até conhece meu nome verdadeiro, então por que teve que ser falso? Por quê?!” O rosto de Charles se contorceu ainda mais enquanto ele se forçava a apertar o gatilho.
Paff! Paff! Paff!
O impacto dos tiros consecutivos fez Anna cambalear para trás, e sangue verde escuro espirrou para todas as direções. Seus olhos se arregalaram de incredulidade.
Com um leve tremor, Anna abaixou lentamente a cabeça. Quando viu os tentáculos mexendo e se estendendo de seu abdomen, ela começou a arranhar seus próprios cabelos desesperada, incapaz de aceitar a realidade.
“O que é isso? Por que essa coisa está dentro de mim? Gao Zhiming, me salva! Por favor!” ela implorou.
Assim que as palavras saíram de seus lábios, suas feições delicadas desmoronaram como uma vela derretendo. Uma criatura torcida e grotesca, coberta de limo amarelado-esverdeado, surgiu no convés do S.S. Mouse. Semelhava à mesma espécie encontrada na ilha—pedaços de carne retorcidos, assustadores, com sete ou oito tentáculos incontroláveis agitándose, parecendo um polvo deformado emergindo da água.
Olhando para a criatura diante dele, lágrimas escorreram pelo rosto de Charles. Sua mão trêmula segurava firmemente a arma. Era tudo mentira. Tudo que ele lembrava sobre Anna era uma mentira.
Em um segundo, a criatura abriu sua boca grotesca e rosnou enquanto avançava em direção a Charles.
Charles rolou para o lado, evitando por pouco o ataque da criatura. Seus olhos ficaram resolutos e suas mãos recarregaram as balas habilmente.
Paff! Paff! Paff!
Cada tiro que atingia a monstro era seguido de um respingo de sangue verde. Contudo, esses ferimentos eram inúteis para detê-la. Com um rugido ensurdecedor, um tentáculo coberto por finos filamentos pretos se estendeu e golpeou a mão de Charles, fazendo a arma escapar de sua mão.
“Por quê?!” Charles rangeu os dentes enquanto rapidamente pegava sua lâmina negra e cortava o tentáculo. O tentáculo cortado se contorcia incessantemente no convés.
A abominação carnívora soltou um rugido furioso e recuou. Em perseguição, Charles avançou com a lâmina na mão.
Assim que chegou à proa do navio, eles se enfrentaram novamente. Os tentáculos do monstro, finíssimos e pretos, de repente se desenrolaram como uma rede de pesca. Seu contra-ataque de repente enlaçou fortemente Charles.
Os tentáculos apertaram seu corpo, e Charles parecia ouvir os gritos de dor de seus próprios ossos.
Estalos! Suas costelas começaram a rachar uma a uma. A dor intensa fez Charles gemer de agonia.
À beira do desespero, o vidro do leme se quebrou de repente quando uma bala atravessou o colossal olho amarelo do monstro, fazendo-o explodir como uma melancia.
Com um uivo horrendo, a criatura imediatamente soltou seu aperto em Charles e correu para o lado do navio na tentativa de escapar.
O som de tiros ecoou enquanto os outros do porão saíam armados.
Apesar de sua grande força, a criatura de carne ainda era feita de carne e sangue. Sob a saraivada de balas, seu corpo grotesco foi despedaçado como um saco rasgado.
Quando o tiroteio cessou, o monstro, antes confiante, jaz em uma poça de sangue fétido e podre. Seus tentáculos restantes tremiam e se retorciam fracamente.
Pressionando uma mão contra o abdômen doendo, Charles se aproximou da criatura.
Quando passou a levantar a pistola e a apontar para a boca da criatura, a parte frontal da abominação carnosa se transformou na face da médica do navio, Anna.
Anna fechou o rosto numa expressão triste, e sangue negro-esverdeado escorreu do canto do olho dela. “Gao Zhiming, me desculpe... Eu nem sabia que era falsa...”
Essas palavras atravessaram o coração de Charles como uma lâmina, e uma expressão de dor apareceu em seu rosto. Ele preferiria que a criatura o amaldiçoasse e cuspisse palavrões nele.
Os outros se reuniram atrás de Charles com expressões sérias.
“Não tenho mais controle. Só sou seu isca. Ela está ganhando tempo. Mira abaixo do olho, é o ponto fraco,” Anna disse.
Olhar para sua companheira e relembrar as memórias na cabeça fez com que sua mão segurando a revolver pesasse mil vezes mais.
“Gao Zhiming! Apresse-se! Ela tem uma regeneração forte!” Anna incentivou.
Com a hesitação de Charles, Anna se virou para Dipp e ordenou: “Garoto, faz você.”
Justo quando Dipp hesitou, Charles rangeu os dentes, levantou a arma e puxou o gatilho.
Paff! Paff! Paff! Paff! Paff! Paff!
Enquanto as balas atingiam a criatura, um sorriso triste apareceu no rosto de Anna. “Obrigada... eu realmente queria voltar pra casa com você...”
À medida que suas palavras se apagavam, seu rosto começou a derreter e se fundiu ao corpo sem vida da criatura grotesca.
De repente, Charles entrou em uma risada maníaca. Correndo para frente, pegou o cadáver da criatura e o atirou com toda força no mar.
“Não tente me enganar de novo! Não caio mais nessa! Vocês, monstros que mudam memórias! É tudo falso! Tudo mentira! Fake! Fake!”
O comportamento anormal de Charles preocupou James. Ele olhou para o capitão com uma ponta de preocupação e escolheu suas palavras cuidadosamente. “Capitão, você está bem?”
“Tô ótimo, hahaha! Como eu poderia não estar? A crise acabou, o monstro canibal morreu! Isso é motivo de comemoração! Chefe, prepare uma festa. Dipp, ajude o Jack a limpar aqui. Vou assumir o leme!”
Durante o resto do dia, a tripulação do S.S. Mouse caminhava na ponta dos pés ao redor do capitão. Tinha medo de acidentalmente provocar uma reação dele.
Mas Charles parecia estar completamente normal. Guiava o navio e comia como de costume. Apenas seu comportamento estava estranho, parecia excessivamente animado.
Depois de terminar sua comida, Charles foi até seus aposentos. Apesar do breu no interior, não acendeu a luz. Com uma expressão amarga, pegou a garrafa de bebida na prateleira do fundo. Sentado na cama, bebeu goles refeitos um após o outro.
“Anna, por que você precisa comer humanos...”
“Se você não tivesse comido minha tripulação, eu poderia fingir que não sabia...”
Pensamentos de Cozyjuhye
Eu me sinto mal pelo Charles. Acho que experimentar a perda de algo depois de tê-lo é mais doloroso do que nunca ter tido. Mas sério, Charles, sua única exigência para uma criatura é que ela não coma sua tripulação?