
Capítulo 8
Terramar: O Mar Encoberto
"Encontrei! É aqui!!"
A empolgação de Charles aumentou ao avistar o objeto que ele buscava. Parecia ter sido abandonado ali, sem guardas ou observadores por perto. Agora, só precisava levá-lo de volta ao Arquipélago de Coral e a sua missão estaria cumprida!
Justamente quando estava a um passo de avançar para pegar o artefato dourado, um pensamento repentino o parou no meio do caminho. Será que isso é um pouco fácil demais? Se fosse tão simples assim, por que seus antecessores não o pegaram também? Em vez disso, todos desapareceram.
Enquanto Charles ficava perdido em pensamentos e sem saber que decisão tomar, Bandagens avançou rapidamente e pegou a estátua de Fhtagn discretamente.
Depois, voltou ao lado de Charles e falou com seu jeito lento de sempre: "Vamos… voltar… O Sumo Sacerdote está esperando…"
Charles ficou realmente incomodado, pois tinha a sensação de que algo estava errado, mas não podia perder tempo pensando nisso. Com o objetivo da missão em mãos, fez um gesto e liderou o grupo para sair rapidamente do edifício.
"Aquilo parece pesado, então vamos revezar a carga a cada trinta minutos."
Ao caminhar ao lado de Charles, Bandagens e James concordaram com a cabeça. Eles voltaram pelo mesmo caminho apressadamente rumo à praia.
Mesmo com a troca de turnos, o peso da estátua continuava a cansar seus corpos já exaustos. Assim, na metade do percurso, Charles decidiu fazer uma pausa rápida. Não podiam se permitir esgotar completamente, pois precisavam estar alertas e prontos para reagir a qualquer imprevisto.
Sentados ao redor da fogueira crepitante, o olhar de Charles varreu a escuridão ao redor. Se algum perigo estivesse por vir, provavelmente apareceria na volta, e ele não podia baixar a guarda.Depois de descansar cerca de quinze minutos, Charles se virou para Bandagens e falou: "Nosso caminho até o final não pode parar. Temos que seguir em frente até o fim."
Bandagens assentiu e fez uma pausa. Depois, olhou para a esquerda, depois para a direita, e então voltou a olhar para Charles e respondeu: "Acho que… esqueci alguma coisa…"
"Contanto que tenhamos a estátua conosco, o resto não importa. Vamos logo," respondeu Charles, com um toque de impaciência. Acariciou a estátua com força no peito e seguiu adiante.
Bandagens ficou em silêncio e o acompanhou sem dizer uma palavra.
A floresta assustadora cintilava entre as árvores, ora visível, ora oculta sob a luz das tochas. Além do som de seus próprios passos e da respiração ofegante, predominava o silêncio absoluto.
Quando Charles finalmente avistou o S.S. Mouse na praia ao longe, seu rosto encharcado de suor revelou um sorriso de alívio.
"Conseguimos! Assim que voltar, posso entregar isso aos cultistas, comprar minha embarcação de exploração, recrutar uma tripulação e partir para casa."
No entanto, no instante em que pisou na areia e se preparou para correr até o S.S. Mouse, seu pé ficou preso no ar, e o sorriso desapareceu de seu rosto. Uma dúvida intrigante surgiu de repente em sua mente.
"Eu naveguei uma embarcação desse tamanho até aqui sozinho?"
Um sentimento inexplicável de temor tomou conta de Charles enquanto ele repassava suas memórias.
"Os cultistas de Fhtagn me enviaram buscar seu artefato sagrado. Naveguei sozinho no S.S. Mouse, preparei comida na cozinha sozinho, abasteci os motores sozinho, limpei o convés sozinho, patrolava o convés… sozinho… Ficava no comando sozinho durante um turno de 24 horas?"
Charles abraçou a estátua dourada e ficou caminhando de um lado para o outro na areia.
"Eu tinha uma tripulação. Navegava com o Primeiro Oficial Old John e o Contra Mestre Jim. Éramos só nós três. Mas na viagem anterior, Jim foi dilacerado vivo pela criatura das águas. Old John pediu demissão depois que chegamos ao Arquipélago de Coral. Depois disso, sobrou só eu no S.S. Mouse. É isso mesmo!!"
A dor estava visível em seu rosto. Apesar de suas memórias serem vívidas e claras, a realidade diante dele fazia perceber o quão irracionais e ilógicos eram essas recordações.
"Isso não faz sentido! Eu não sou o Homem de Aço, como consegui fazer tudo isso sozinho? Tem algo errado!!"
Enquanto o olhar de Charles vagava distraidamente pelo chão, ele parou repentinamente.
Ao seu lado, estavam sete pegadas claramente marcadas na areia. Não havia como confundir — eram recentes, provas de que aquelas pegadas tinham sido deixadas há pouco tempo.
Charles rapidamente deixou a estátua de lado, tirou sua bota e comparou a sola da bota com uma das pegadas no chão.
"O padrão, o tamanho, a curvatura… essa é minha pegada! Não vim sozinho até aqui; minhas memórias foram manipuladas!" exclamou Charles, com o rosto suado de nervosismo.
Seus olhos se voltaram para os vários barcos vazios perto do S.S. Mouse. Agora ele entendia por que não havia ninguém nesses barcos.
Inspirando profundamente, Charles tentou se acalmar e reconstituir suas memórias originais. "As evidências apontam que não estou sozinho; tenho tripulantes que desapareceram. Eles sumiram de verdade e também foram apagados da minha memória. Preciso encontrá-los. Não posso voltar sozinho."
Porém, uma nova questão surgiu: como poderia encontrar seis pessoas que não reconhecia, que aparentemente não existiam? Quem eram? Como se chamavam? Eram homens ou mulheres?
Foi então que uma figura emergiu das sombras, adentrando o brilho das tochas.
Quando Charles viu a aparência do indivíduo, suas pupilas se estreitaram. Sem pensar duas vezes, puxou sua pistola e apontou para a cabeça do estranho.
Era uma figura humanóide, envolta em bandagens desgastadas, amareladas, que mal escondiam a pele escura por baixo.
"Pare aí! Diga seu nome!" ordenou Charles.
"Eu... Eu sou Bandagens. Não, espere, não sou… não sou Bandagens. Quem é você? Acho que te conheço… Você me conhece?" a figura respondeu com um gaguejar.
Rapidamente, Charles verificou as pegadas enroladas em bandagens nos pés, procurando uma que combinasse. Para seu espanto, essa pessoa parecia mesmo ser um de seus membros da tripulação.
Baixando a arma, Charles explicou rapidamente a situação a Bandagens.
"É… é isso? Não consigo me lembrar. Quem sou eu? Você… sabe quem eu sou?" Bandagens respondeu de forma incerta.
"Vamos conversar sobre tudo isso depois. De onde você veio? Tem mais alguém lá?" insistiu Charles.
"Nas… nas árvores. As árvores não gostaram de mim… Elas deixaram eu partir. Tem outros lá."
Charles não conseguiu compreender completamente o que esse indivíduo coberto de bandagens dizia, mas parecia que ele sabia onde poderia encontrar os outros.
"Depressa, me mostre o caminho. Precisamos resgatá-los," implorou Charles.
Charles tatuou na memória os padrões das últimas cinco pegadas antes de pegar Bandagens para voltar ao bosque peculiar.
A floresta enigmática continuava silenciosa como sempre. Com Bandagens liderando, eles retornaram ao caminho marcado pelas inúmeras pegadas.
Com a lembrança da descoberta anterior, Charles começou a perceber algo errado. As pegadas no chão iam diminuindo à medida que avançavam. Claramente, seus tripulantes tinham desaparecido um a um enquanto caminhavam em direção ao edifício.
Talvez fosse um efeito psicológico, mas Charles começou a sentir que algo na floresta o observava.
Depois de meia hora andando, Bandagens de repente virou para a floresta ao lado. Agora Charles entendeu por que as bandagens dele estavam tão rasgadas.