
Capítulo 9
Terramar: O Mar Encoberto
Charles estendeu a mão para pegar Bandages e puxou-o para ficar atrás dele. Ele desenvainou a faca preta presa ao seu bico e a usou como um facão para cortar os galhos entrelaçados com bandagens à sua frente.
Os ramos espinhosos quebraram-se facilmente sob os golpes incessantes de Charles, mas as pontas cortadas não revelaram nada além de vazio.
Os dois avançaram mais fundo na floresta e, em breve, Charles avistou as outras pessoas que Bandages havia mencionado. A cena diante dele o deixou chocado.
Uma árvore anã peculiar estava à sua frente, com o tronco decorado por longos espinhos entrelaçados com os corpos dos jovens desacordados. Humanos inconscientes estavam suspensos no ar, parecendo fatias de carne curada balançando suavemente como se fossem frutos estranhos da árvore.
A árvore não carregava apenas um “fruto”, mas múltiplos desses “frutos” pendurados nos galhos.
"Salvem-nos," ordenou Charles, apertando a faca preta com mais força enquanto avançava correndo.
Um dos jovens caiu no chão com um baque. A dor o despertou do estado de inconsciência. Ele olhou para Charles, que cortava freneticamente os galhos. Atordoado, perguntou: “Quem é você? Você viu nosso capitão?”
Charles não podia perder tempo para responder às perguntas dele. Com cada golpe de sua faca, cortava os galhos e libertava todos os capturados. Mas desta vez, algo começava a se mover dentro dos galhos ocos. Um conjunto de pequenos tentáculos rosa, quiverando, saía da seção transversal da madeira.
Estalo! Estalo! Estalo!
O tronco da árvore anã tremeu, atraindo a atenção de todos enquanto seus olhares se fixavam nela.O tronco de cor ferrugem começou a se abrir lentamente. Alguns olhares espreitaram pela fresta e focaram no alvo — Charles.
Um pensamento cruzou a mente de Charles. Isto é vivo?
Os movimentos da árvore anã se intensificaram. A rachadura se alargou, revelando carne torcida e um globo ocular amarelo-alaranjado repleto de uma fúria ilimitada.
"Corram!" todos imediatamente correram. Mesmo sem compreender totalmente a situação, seu instinto os impulsionou a fugir pela própria vida.
Antes que pudessem dar alguns passos, ouviram uma explosão ensurdecedora atrás deles. A árvore anã se estilhaçou e as criaturas contorcidas, com aspecto de carne, rastejaram para fora.
À primeira vista, elas se pareciam com estrelas-do-mar cobertas por uma camada de cabelo preto. De perto, esse cabelo preto na verdade eram camadas de tentáculos escuros. Bem no meio de seus corpos, tinha um olho de cor laranja-amarelada e uma boca grande repleta de dentes afiados.
As criaturas monstruosas abriram suas bocas famintas, enquanto seus tentáculos agitavam-se selvagemente, perseguindo implacavelmente suas presas em fuga.
Por sorte, Charles tinha aberto caminho anteriormente, e a distância entre os dois grupos começou a aumentar.
Estalo! Estalo! Estalo!
Todos os troncos das árvores ao redor tremeram e se partiram. Era como se Charles e seu grupo tivessem acionado algum mecanismo oculto. Uma variedade de seres grotescos pareciam ter sido abruptamente despertados de seu sono, esticando suas nauseantes extensões de carne.
Eles balançavam e emitiram gritos piercantes, que davam dores de cabeça. Sua aparência instantaneamente transformou toda a ilha em um inferno vivo.
Os olhares maléficos vindo de todos os lados fizeram um frio correr pela espinha dos humanos, e seus membros congelaram em resposta.
"Rápido! Mais rápido!!" Charles apoiou o jovem enquanto tentavam superar os horrores que os perseguiam.
Pareciam correr há bastante tempo, mas sua situação ficara cada vez mais desesperadora. Além dos abominações de carne que surgiam atrás deles, até as árvores peculiares à frente começaram a tremer.
Justamente então, uma massa de tentáculos se entrelaçou formando uma enorme rede na frente deles. Agora estavam encurralados!
Nesse momento crítico, Charles de repente lembrou de algo. Ele foi até a cintura e sentiu um objeto duro — as explosivos que trouxera.
Estouro!
Com um estrondo retumbante, a força da explosão liberou uma chuva grotesca de sangue escarlate e pedaços de carne. A cena macabra revelou um caminho agora desobstruído à sua frente.
Usando os explosivos, Charles liderou o grupo em direção ao norte. Contudo, seu estoque de explosivos era limitado, e cada explosão consumia parte dele. Seus rostos ficavam cada vez mais sombrios à medida que ainda não avistavam a praia de areia.
Quando Charles foi lançar o último pacote de explosivos que tinha na mão, o som distante das ondas quebrando na praia chegou aos seus ouvidos. A praia estava logo ali!
Todos compreenderam o que isso significava e aceleraram ainda mais o passo. Usaram toda a força restante de seus corpos exaustos.
O último pacote de explosivos foi inflado e lançado. O solo duro e sólido agora havia sido substituído por areia macia. Finalmente, haviam saído.
O grupo de sete correu freneticamente em direção à balsada de madeira na praia. Enquanto isso, os monstros de carne estavam em perseguição implacável.
Em sua visão periférica, Charles viu um brilho dourado — era a estátua de Fhtagn que ele havia descartado anteriormente.
Charles deu alguns passos rápidos, pegou a estátua e pulou na embarcação de madeira. Os outros desesperadamente pegaram os remos. Justo antes que as massas de carne os alcançassem, eles retornaram ao abraço do mar.
Parecendo assustados com a água do mar, os monstros recuaram ao contato com ela e escorregaram de volta.
Assim que o grupo voltou a bordo do S.S. Mouse, todos respiraram aliviados. Todos se jogaram no chão e assopraram o ar como cães exaustos.
Apesar da dor que todos sentiam nos músculos, Charles forçou-se a se levantar. O perigo ainda não tinha se passado completamente — eles precisavam partir da ilha.
"Segundo Engenheiro, inicialize o motor. Marinheiros, içem o âncora. Primeiro oficial, assuma o comando. Vamos embora dessa terra amaldiçoada."
"Sim, capitão!" respondeu a tripulação em uníssono.
Ao ver os tripulantes executando rapidamente suas ordens, Charles sentiu uma sensação repentina de inquietação. Algo não estava certo. Ele revisou rapidamente suas memórias e ficou surpreso ao descobrir que, com o retorno de toda a equipe, agora poderia chamá-los pelo nome.
Parece que, seja a própria ilha ou os monstros que manipulavam suas memórias, elas seriam restauradas assim que saíssem daquele lugar miserável.
Encostado na escada do navio, com as mãos nos corrimões, Charles olhou ao longe, onde a ilha lentamente desaparecia na escuridão. Os monstros grotescos agora pareciam mais borrados, mas ele podia distinguir seus tentáculos revoltantes. Balanceando-se ritmicamente como se estivessem realizando algum ritual, o pano de fundo sombrio só aumentava a sensação de arrepiante daquele espetáculo.
Sob o olhar atento de Charles, as chaminés do S.S. Mouse voltaram a expelir fumaça negra, enquanto o grupo se distanciava lentamente daquela ilha estranha.
Somente na hora do almoço Charles conseguiu explicar o que aconteceu. Somente então os membros da equipe entenderam a situação, ficando chocados e perplexos.
"Meu Deus, uma ilha não mapeada é realmente tão perigosa? Não é à toa que os navios de exploração têm uma taxa tão alta de desaparecimento."
"Minhas memórias foram apagadas e restauradas? Capitão, você não está me enganando, né?"
Após uma rápida mordida na sopa, Charles tossiu e calmamente pediu a palavra, fazendo com que os murmúrios se silenciassem. Ele examinou o rosto de cada pessoa e disse: "Todo mundo, diga seus nomes e cargos. Vamos conferir nossas memórias para ver se há alguma inconsistência."
A ilha misteriosa deixava Charles em alerta novamente. Ela podia silenciosamente fazer a tripulação desaparecer e apagar as memórias de todos. Seu poder era profundamente perturbador e inquietante para ele.
"Bandages. Cargo:… Primeiro oficial. Tarefa: Auxiliar o capitão na organização dos planos de trabalho… e responsável por compilar… o cronograma de carga."
"James. Cargo: Segundo Engenheiro. Tarefa: Manutenção do funcionamento adequado da sala de máquinas. Supervisão do sistema de propulsão, equipamentos auxiliares, caldeiras, lubrificação, refrigeração e combustível."
"Frey. Cargo: Cozinheiro. Tarefa: Preparar as refeições da tripulação."
"Dipp. Cargo: Marinheiro. Tarefa: Orientar os marinheiros na manutenção, reparo e manuseio do âncora, cordas e equipamentos. Liderar tarefas como pintura, mastreação e trabalhos em alta altitude."
"Walter. Cargo: A.B. (Quer dizer, Marinharia auxiliar). Tarefa: Direção, serviço de vigia e manutenção rotineira do convés."
"Jack. Cargo: O.S.[1]. Tarefa: Cuidar das amarras, colocar as escadas e realizar várias operações no convés."
"Anna. Cargo: Médica do navio. Tarefa: Tratamento de doenças dos tripulantes e inspeções médicas de rotina."
Após conferir as memórias e não encontrar anomalias, Charles finalmente respirou aliviado. Sua preocupação fora infundada, e o pesadelo finalmente tinha acabado.
1. O.S. significa Marinharia ordinária ☜
Reflexões de Cozyjuhye
Sinal de alerta!!!