Minha irmãzinha vampira

Capítulo 125

Minha irmãzinha vampira

"Jin Valter..."

O Alto-Elder pronunciou meu nome com um rosnado baixo, suas narinas dilatadas e seus olhos visivelmente abalados. Era como se ele pudesse lançar adagas com seu olhar, enquanto suas presas vampíricas balançavam ameaçadoramente na boca. Caramba, essa deve ser a primeira vez que alguém ficou tão PUTO ao me ver...

Ainda assim, conseguia entender seu tumulto mental atual.

"Horatio se rendeu? Para você?"

"Por quê? Está difícil de acreditar? Que seu querido sobrinho decidiu virar as costas para você e traí-lo?"

"...Seu brat irritante."

O Alto-Elder fez uma pausa por um instante, provavelmente para recuperar a compostura. Diferente de outros vampiros, especialmente da Casa Bloodborne, ele parecia calmo e centrado o suficiente para manter a cabeça fria durante as discussões. Provavelmente, isso era fruto de centenas, talvez milhares, de anos lutando com outros na mesa de negociação.

Quem saberia quantas vezes ele teve que ser a voz da razão na sala, enquanto um exército de vampiros apaixonados sugeria ações insolentes e imprudentes.

Talvez… É por isso que esse homem foi escolhido como Alto-Elder da Casa Bloodborne.

"O que Horatio te contou?"

"Nada de mais," sorri alegremente, me preparando para ver a reação na expressão dele. "Apenas que você está tentando ressuscitar o Progenitor, e acredita que sou sua reencarnação. Além disso, planeja usar a Árvore do Mundo para convocar a alma do Progenitor, e como tem desconfianças de que sou sua reencarnação, vai precisar da minha alma."

"..."

O rosto do Alto-Elder instantaneamente ficou pálido, como se tivesse recebido um choque daqueles de virar a cabeça. Preciso admitir, ver uma figura tão reverenciada como ele ficar sem palavras realmente era algo impressionante. Com um sorriso debochado, continuei a provocar o diabo.

"Pensando bem, se eu fosse a reencarnação do Progenitor, isso não me faria seu pai? Vai lá, me chame de papai."

"... Suas provocações são inúteis, Jin Valter."

Embora estivesse abalado, o Alto-Elder se recompôs mais uma vez. Levantando os braços em minha direção, uma simbologia enigmática surgiu na palma de sua mão levantada. Logo, uma força mágica preencheu o ambiente, enquanto uma sensação opressiva descia sobre a Floresta dos Elfos. A pressão invisível quase me forçou a ajoelhar, sentindo meu torso preso por uma força misteriosa.

Por Instinto, minha Armadura da Alma apareceu, e meu anel do meio começou a brilhar com uma luz empírea. O poder do Espaço-Tempo percorreu minhas veias, mas, estranhamente, a pressão misteriosa parecia nunca cessar. Na verdade, parecia que, ao usar minha magia, meu corpo ficava cem vezes mais lento, e o controle que eu tinha ia sendo lentamente arrancado das pontas dos meus dedos.

"Isto é..."

"Supressão de Linhagem," disse o Alto-Elder com uma voz um pouco entediada. "Você me subestimou, Jin Valter. Meu sangue é o mais puro entre todos os Vampiros, e, embora eu não esteja no mesmo nível que meu pai, consigo diminuir as habilidades de todos os Vampiros por meio da Supressão de Linhagem."

O Alto-Elder me olhava de cima, como um humano olharia para uma formiga. Cada vez que dirigia o olhar, eu podia sentir a pressão misteriosa aumentando, como um construtor empilhando tijolos a uma pilha. Antes que percebesse, meu corpo queimava e meu sangue parecia ferver. Falar se tornava uma tarefa cansativa, e minha face não conseguia manter os olhos fixos.

"Já se perguntou… Por que a Casa Bloodborne ainda é tão temida, mesmo tendo perdido tanto ao longo dos anos? Até uma vampira antiga como a Matriarca Inocência sofreria com os efeitos da minha Supressão de Linhagem, quanto mais uma criança como você."

Ajustando as luvas brancas, o Alto-Elder caminhou como um cirurgião se preparando para uma operação.

"Não sei se você realmente possui a alma do meu pai, mas, infelizmente, seu corpo é apenas o de um vampiro comum. Não, como você era humano antes, seu corpo é mais fraco do que o de um Verdadeiro Vampiro. Você nunca teve chance contra mim."

Sem parecer impressionado, o vampiro imponente canalizou mais magia em sua marca, aumentando exponencialmente a pressão misteriosa que selava meus movimentos.

"Você não deveria ter vindo sozinho, Jin Valter. Embora a situação de Horatio pareça lamentável, ele fez seu trabalho. Ele te trouxe até aqui, afinal."

"..."

O Alto-Elder não se importava com o bem-estar de seus pares. Não importava se as palavras que saíam da minha boca eram verdade ou não. Tudo o que ele queria… Era a realização de seu plano mestre.

… Como eu já previa.

"Jin! Jin! Jin! O que você está fazendo?!"

Uma voz irritante familiar ecoou em meus ouvidos enquanto eu fingia terminar a encenação. Resistia à tentação de perder o personagem e olhar para trás, mas a fada, cada vez mais irritante, apareceu na minha frente e gritou:

"N-Necessita da minha ajuda?! A-Aguarde um momento, ok?! Eu vou chamar a Rosa pra-..."

[Sora, não faça nada.]

Enviei uma mensagem mental para a Ignorante Espírito da Árvore do Mundo, que estava prestes a acabar com meu plano mestre.

"H-Huh? Por que você está agindo assim?"

[Eu te falei, não? Que precisava confirmar algo.]

"Quer dizer… Você quer verificar se realmente possui a alma do Progenitor?"

[Não, verifiquei que não sou o Progenitor… Ou, pelo menos, não tenho relação com os Bloodbornes e sua linhagem nefasta.]

"Huh? Então por que você se entrega assim, de corpo e alma?"

[Só assista.]

Eu teria explicado tudo para Sora, mas levaria muito tempo. E, além disso, quem sabe como essa fada intrometida poderia atrapalhar meus planos? Eu só precisava que ela assistisse em silêncio do lado, e deixasse o resto comigo.

"Vem… Vai acabar em um minuto."

Indiferente ao meu plano, o Alto-Elder agarrou meu corpo enfraquecido e puxou meu braço com força. Jogando-se na brincadeira, tropecei e caí, fazendo o máximo para parecer convincente. Era preciso que ele perdesse a guarda e acreditasse que tudo estava seguindo seu plano.

Felizmente, o homem era demasiado convencido para imaginar que eu pudesse resistir, e empurrou meu corpo 'indefeso' bem na frente do caixão do Progenitor.

"Se você realmente possui a alma do pai, será ressuscitado como o Verdadeiro Progenitor da nossa raça. O cabeça da Casa Bloodborne e o único governante da raça Vampira. Mas, se você não tiver a alma do pai… Bem, você poderá ser apenas um nutriente para seu renascimento."

O Alto-Elder bateu na grande tampa do caixão, fazendo tremer toda a sala. Todos os fiéis da Casa Bloodborne ajoelharam-se em reverência, alguns chorando de alegria ou de expectativa. E por uma boa razão.

A tampa do sarcófago rangeu ao se abrir, e sangue escorreu de lá. Cascatas de líquido vermelho caíram sobre o chão de grama enquanto um fétido e pungente cheiro tomava conta dos meus sentidos.

Nesse momento, ouvi vozes diversas. Algumas jovens e agudas, como o pranto de um bebê. Outras profundas e ressonantes, como o ronco de um avô. Cada uma delas ecoava dentro da minha cabeça como um gravador quebrado, e não me dava um instante de paz.

Nem mesmo consegui contar quantas vozes saíram daquele caixão, e, antes que percebesse, entendi o que causava essa estranha manifestação.

Essas vozes… Eram as vozes das vítimas sacrificadas.

Quantas vidas foram desperdiçadas nesse esquema para ressuscitar o Progenitor? Quantas almas inocentes foram arrancadas de suas famílias para virar carne de pouso da Casa Bloodborne? Quantas… almas estavam contidas neste caixão?

Centenas? Milhares? Se não… milhões?

Os membros da família Bloodborne… Eram realmente repulsivos. Na busca por prestígio e poder, estavam dispostos a acabar com muitas vidas puras…

À medida que o sangue parava de jorrar do caixão, tive uma visão clara do que havia lá dentro. Um corpo mumificado, envolto firmemente em cetim, completamente manchado de sangue que inundava o sarcófago. Não consegui ver o rosto da múmia, mas, pelo pulsar suave e constante da força vital que emanava, percebi que o corpo ainda vivia.

Provavelmente, era uma das muitas vítimas sacrificadas pela Casa Bloodborne para a ressurreição do Progenitor. E, pela assinatura de vida do corpo… devia ser um descendente direto da Casa Bloodborne.

Que nojeira… Pensar que eles sacrificariam um de seus próprios sem nenhum remorso. Não, dado o modo como sempre operaram, era algo esperado.

"Agora… É hora de descobrir se você é realmente a reencarnação do pai… Ou apenas um fracasso destinado a ser nossa vítima."

Com um sorriso tranquilo, o Alto-Elder lançou-me dentro do caixão ensangüentado e fechou a tampa bem apertada atrás de mim.

Ótimo… Agora que infiltrei nesse lugar, posso avançar para o próximo passo do meu plano. Gostaria de respirar fundo, mas o cheiro horrendo impediu-me de dar uma inspiração profunda. Calmando-me, olhei ao redor do meu novo espaço 'hospitaleiro'.

Comparado à sua aparência luxuosa, o interior do caixão era bastante trivial, até monótono. Não havia nada de interessante além do fato de haver uma pessoa viva envolta como uma múmia. Contudo, isso não durou muito.

A magia começou a preencher o ambiente vindo de fora, enquanto sangue voltava a jorrar dentro do caixão. Podia ver runas esculpidas em cada fresta da caixa ensanguentada, enquanto as almas das vítimas continuavam a seus lamentos.

Parece… que a Casa Bloodborne tinha iniciado o ritual de ressurreição.

Um enorme sorriso surgiu nos meus lábios enquanto minha Armadura da Alma começou a brilhar. Usando cada gota do meu poder mágico, concentrei tudo no meu dedo médio e recitei a magia que preparei para esse momento.

"Vita: Rebirth."