
Capítulo 52
Minha irmãzinha vampira
Mais uma lembrança, huh?
Logo ao acordar, esfreguei os olhos sonolentos com um pouco de energia. Desde o dia em que me transformei em Vampiro, tenho sonhado com meu passado. E não um passado qualquer, mas as memórias que compartilhei com Irina e Lilith. Na maior parte do tempo, via fragmentos de como nossa relação floresceu e momentos agradáveis em que ficamos próximos, sozinhos.
Preciso admitir, aqueles dias pareciam bastante tranquilos. Apesar de não recordar exatamente como nos conhecemos, pelos fragmentos das memórias que vi, dava para perceber que estávamos em um relacionamento amoroso bem antes do Ataque do Demônio Exterior.
Ao mesmo tempo, sentia uma frustração enorme. Minha alma ainda estava selada, e a maior parte das minhas memórias com as garotas ainda estavam trancadas. E, aparentemente, havia duas outras que estavam comigo há quinze anos atrás.
Me senti um lixo, pois não conseguia sequer lembrar os nomes delas. Curiosamente, desde que conheci Irina e Lilith, minhas conexões com essas garotas misteriosas só pareciam fortalecer. Embora não conseguisse identificar exatamente onde estavam, comecei a perceber emoções aleatórias, ainda que pequenas, vindo de uma fonte desconhecida.
Se eu tivesse que apostar, diria que compartilho um vínculo inquebrável com todas as quatro garotas. Afinal, elas sacrificaram um quarto de suas almas para me manter vivo.
Eu tinha vontade de encontrá-las… Queria lembrar das partes nebulosas da minha memória… E queria me tornar completo novamente…
Mas isso fica para outra hora… A coisa mais urgente que eu precisava pensar agora era na luta que ocorreria em três semanas.
Ao soltar um gemido de sono, olhei para o lado da minha cama e vi minha amada, tranquilamente dormindo, alheia a tudo. Contrariando minha imagem semi-nua, Lilith ainda vestia seu pijama conservador, não se deixe enganar. Ao contrário de Irina, parecia que Lilith não tinha a mesma inteligência social que a maioria das meninas da sua idade.
Ela entendia de amor, mas as coisas que os apaixonados faziam… Bem, eu diria que ela é mais pura que uma virgem.
Porém, eu também ainda não queria cruzar a última fronteira com ela. Embora bebesse seu sangue todas as noites e ocasionalmente trocássemos alguns carinhos, eu não iria forçar nada.
Por quê?
Porque eu precisava daquela motivação extra.
Para evoluir mais rápido e alcançar o nível do monstro que era Sirius Moonreaver, precisava treinar em dobro. Não, tinha que ir além da velocidade da luz e treinar mais do que jamais fiz antes. Caso contrário, nem respiraria o mesmo ar que ele. E, para isso, precisava colocar um grilhão em mim mesmo.
Se eu provasse o néctar doce de Lilith, tinha certeza que me entregaria a ela por dias. Talvez, pudesse passar o mês inteiro na cama, sem ver a luz do sol ou levantar um único peso.
Além disso, se me controlasse e tratasse Lilith como uma recompensa por derrotar o Moonreaver mais forte, certamente treinaria o dobro. Felizmente, ela não tinha ideia do meu estado mental e ficava serelepe com o pouco de carinho que trocávamos. Pensando bem, tinha sorte de Irina estar numa sessão de treinamento isolada.
Se ela estivesse por perto, talvez eu não pudesse treinar tão intensamente quanto tenho feito.
"Lilith… Lilith… vou tomar banho e ir para a sala de treinamento, tudo bem?"
"Huehuehue… Não aqui, Jin… E se a Lisa entrar?"
Haha, que sonho estranho ela deve estar tendo? Enfim, não importava. Beijei delicadamente sua testa e me vesti imediatamente. O espaço onde Lilith morava era gigante, e a caminhada até a sala de treinamento levava pelo menos trinta minutos. Felizmente, alguém ali dentro era mestre em Espaço-Tempo.
Encontrei as coordenadas das câmaras de simulação e teletransportei-me como de costume. E, curiosamente, a primeira pessoa que vi foi exatamente a mulher com quem Lilith sonhava.
"A-Ah! Mestre Jin! Você não devia me assustar assim!"
"Desculpe, foi sem querer."
"Tsk, por mais que eu veja isso várias vezes, a magia do Espaço-Tempo é realmente prática, né? Eu nem consegui perceber sua magia!"
Meu teleporte era bastante diferente do movimento instantâneo usado pelos Vampiros da Casa Moonreaver. Segundo Lilith, meu teleportar era praticamente instantâneo, enquanto o de lá tinha uma pequena demora de alguns milissegundos. E fazia sentido, já que eles manipulavam várias dimensões enquanto eu manipulava direto o Espaço-Tempo.
Havia uma pequena demora na teleportação deles, mas, fique claro, em uma batalha onde criaturas se movem na velocidade do som, esses poucos milissegundos são decisivos. Contudo, mesmo sendo mais rápido, tenho certeza de que a velocidade de reação de Sirius poderia lidar comigo.
"Podia ligar o sistema pra mim? Quero treinar."
"De novo?! Mas você acabou de dormir com a Jovem Senhorita há seis horas!"
"Sem problema," respondi com segurança. "Já dormi umas boas quatro horas. Isso é mais do que suficiente."
"… Você é outro nível, Mestre Jin."
Balancei a cabeça e ignorei a criada atônita. Aparentemente, a maioria dos Vampiros não treinava com tanta intensidade assim. Afinal, eles eram imortais por essência e tinham magia à disposição. Será que um leão precisa afiar suas garras todos os dias, se já é o predador máximo? Essa é a mentalidade da maioria dos Vampiros que não morrem nunca.
Já era comum ver Vampiros Verdadeiros hibernando por séculos, sem dormir apenas quatro horas. Até os Vampiros mais estudados dormiam oito horas, e se não estivessem no reino do Pesadelo, provavelmente dormiriam durante todas as horas de luz solar.
Porém, como outrora fui humano, não tinha essa mentalidade. Ah, parecia que não tinha horas suficientes no dia pra treinar! Infelizmente, não tinha uma câmara de tempo hiperbólica que transformasse mil anos em uma só, como nos romances.
Espera aí… Eu tinha a habilidade de manipular Espaço-Tempo e Criação… Isso quer dizer?!
Dei um salto direto na câmara de simulação e comecei os testes imediatamente. Primeiro, invoquei minha Arma da Alma, os cinco anéis acorrentados. O anel no polegar brilhou primeiro, na vibrante tonalidade arco-íris a que já estava acostumado. A luz se transformou milagrosamente em uma cápsula simples, conforme imaginei, que lembrava bastante uma pequena nave espacial.
Depois, veio a parte difícil. Concentrei toda a minha magia no anel do meio, direcionando toda minha atenção para manipular o Espaço-Tempo. A câmara hiperbólica era capaz de desacelerar o tempo mais de mil vezes, fazendo um milênio passar em um ano. E, na teoria, isso também era possível na vida real, já que o tempo funciona de modo diferente em planetas distintos.
Se pudesse realmente fazer isso, o curto mês de treino que tenho podia se expandir para mil meses! Assim, teria tempo suficiente para derrotar aquele arrogante Sirius Moonreaver.
Mas, ao tentar mexer com o tempo, parecia que ele queria mexer comigo.
Quanto mais tentava controlar o fluxo do tempo, mais percebia o quão pouco entendia dele. Era como um rio que flui, uma corrente linear, mas, ao mesmo tempo, parecia não ser tão simples assim. Como se o tempo não fosse apenas uma linha reta. Parecia poder se ramificar; poderia se tornar uma lemniscata, uma corrente ascendente que resistia ao caminho linear que estamos trilhando.
Agora que conseguia 'ver' o tempo de forma clara, tudo parecia tão confuso…
E a condição para usar meu Aspecto de Vampiro era entender como algo funciona. Por exemplo, se não soubesse os compostos da água, não conseguiria criá-la. O mesmo vale para o tempo. O que achava que entendia sobre ele estava totalmente errado.
Hah… Agora, isso é um beco sem saída…
Aprender como o tempo funciona não é algo que se faz em um dia. Se eu não estivesse sob a sombra de uma forca, talvez teria me aprofundado nos experimentos. Mas, infelizmente, ainda não tinha essa liberdade. Com o coração pesado, só pude adiar meu sonho de criar uma câmara de tempo hiperbólica.
Perdido, decidi treinar o que já sabia. Comecei a testar os limites do meu controle de Espaço, primeiro criando a maior peça de metal que pudesse imaginar. Atualmente, minha magia de Criação é limitada pela quantidade de energia mágica que posso fornecer. Não consigo criar obras enormes como uma cadeia de montanhas ou um oceano inteiro.
O mesmo vale para meu controle de Espaço. Meu poder mágico é bastante finito por enquanto, o que é esperado de um Vampiro de apenas dois meses. E isso é minha maior fraqueza.
Significa que, num futuro próximo, não poderei competir de igual para igual com o irmão da Lilith.
"Vamos tentar assim então…"
Era uma jogada de alto risco, mas decidi tentar a técnica secreta que planejei. Fechei os olhos, concentrei toda minha energia no anel do Espaço-Tempo e reuni magia como nunca antes. Não demorou para a pressão atingir minha alma. Senti como se o peso de todo o planeta estivesse sobre mim, fazendo gotas de suor pesadas escorrerem.
Com dentes cerrados, suportei a pressão e foquei exclusivamente na magia que havia conjurado.
Parecia que meu corpo dava umas tremedeiras incontroláveis para quem olhasse de fora. Num momento, minha face apontava para cima, e no próximo, teleportava-se para outra direção. Depois de alguns minutos de convulsões, caí ao chão, completamente encharcado de suor.
"Hah… Consegui parar o tempo por um nanosegundo… Será que isso basta pra impedir Sirius?" - pensei em voz alta.
A magia estava concluída, sem dúvida, mas não tinha certeza se era suficiente para desafiar o poderoso Sirius Moonreaver.
Parar o tempo.
Concebi essa ideia quando descobri que podia manipular Espaço-Tempo. Segundo as leis da física, reverter o tempo era praticamente impossível. Mesmo com minha magia, o máximo que conseguia era acelerar ou desacelerar. E isso exigiria uma quantidade absurda de energia mágica, algo que ainda não tinha.
Por isso, tentei parar o tempo apenas no espaço ao meu redor. Bem, parar o tempo em si era exagero. Consegui desacelerar tanto que parecia que o espaço estava suspenso no tempo.
No entanto, desacelerar o tempo em um espaço de um metro cúbico ao meu redor drenas toda minha magia instantaneamente. Sem falar que meu limite atual era de apenas um nanosegundo.
Na luta, só precisava acertar um golpe em Sirius. Se conseguisse desacelerar o tempo por APENAS UM SEGUNDO, ganharia imediatamente. Mas esse truque só podia funcionar uma vez. Se eu não conseguisse terminar a luta nesse tempo, Sirius faria os ajustes necessários para nunca mais ser pego por ele.
Por isso, meu feitiço tinha que ser perfeito.
"Hah… Hah… Vamos esperar minha magia se recuperar e tentar de novo."
Esse era o problema dos feitiços tão poderosos: consumiam energia mágica de forma tão intensa que mal podiam ser utilizados em batalha. Ainda assim, era a melhor estratégia que tinha. Fechei os olhos e entrei em estado meditativo. Mas, então…
"Hmmm?"
De repente, abri os olhos. Como alguém com poder de manipular Espaço-Tempo, sou bastante sensível às mudanças na estrutura. E, naquele momento, senti uma pequena ondulação na Dimensão Moonreaver.
Era bem sutil, como jogar uma pedrinha em um lago grande, mas eu a senti como se estivesse bem ao meu lado. Essa foi a primeira vez que percebi algo assim desde que entrei na Dimensão Moonreaver estável. E, pelo que percebi pela falta de atenção dos outros membros, parece que algo estranho está acontecendo.
"Hmmm… Como tenho tempo, vou lá investigar!"