Minha irmãzinha vampira

Capítulo 53

Minha irmãzinha vampira

"Eles perceberam alguma coisa?"

Quatro figuras sombrias estavam perfeitamente escondidas na escuridão de uma região remota da Dimensão Moonreaver. Seus corpos estavam envoltos por um manto misterioso, que os camuflava completamente no ambiente. Mesmo os melhores magos não conseguiriam notar as suas redondezas, por mais que tentassem.

"Não houve movimento na Casa Moonreaver," respondeu uma das figuras à pergunta do líder. "Estamos livres."

"Continuem monitorando os sinais deles. Não podemos vacilar nesta missão."

Não havia espaço para descanso ou brincadeiras. Os quatro estavam ali estritamente a trabalho, e seu comportamento evidenciava isso. Movendo-se lentamente para não fazer barulho, os intrusos avançaram até as margens da Dimensão Moonreaver, em passos cautelosos. Naturalmente, sua localização era tão remota que a maioria dos guardas nem mesmo patrulhava por ali. Ainda assim, estavam sendo o mais cuidadosos possível.

"Esta é a extremidade noroeste da Dimensão Moonreaver, certo?"

"Sim, senhor! Além de algumas áreas residenciais, não há nada além de floresta aqui."

"Áreas residenciais, hein? Você sabe se há algum Verdadeiro Vampiro que devamos ficar de olho?"

"Negativo, senhor. A maioria dos guerreiros mais fortes da Moonreaver vive no centro da Dimensão. Até mesmo as cidadelas de hibernação estão concentradas perto do núcleo."

"Hoh… Não sei se isso é uma notícia boa ou ruim."

O líder da equipe de reconhecimento franziu a testa. O objetivo deles era o artefato perdido de seu antepassado, e não havia como a Casa Moonreaver colocar um objeto tão importante na periferia de sua dimensão. Se as informações estavam corretas, eles estavam muito adentro, no coração da Casa Moonreaver.

No entanto, o fato de não haver ameaças significativas na periferia era uma vantagem no momento. Se um monstro estivesse dormindo a poucos centenas de metros de distância, entrar ali com tanta facilidade seria impossível.

"Quanto já mapeamos?"

"Exceto pelo local central, mapeamos noventa por cento da Dimensão Moonreaver, senhor. Com esta última missão, devemos conseguir preencher as partes pendentes."

"Ótimo… Aproveitando, esse local remoto parece fácil de invadir. Este seria o melhor lugar para nossa equipe de aterrissagem?"

"Isso não cabe a nós decidir," o líder pigarreou. "Foque na missão. Qualquer distração pode levar ao fracasso."

"Sim, senhor!"

As quatro figuras encapuzadas pegaram seus dispositivos de mapeamento e começaram a caminhar devagar pela área. Por questões de sigilo, os dispositivos que portavam só conseguiam mapear as redondezas imediatas. E, se houvesse algum Moonreaver por perto, todo o plano deles seria facilmente descoberto. Por isso, dedicaram meses minuciosos para mapear uma única região.

E agora, estavam quase na linha de chegada.

Sendo profissionais de verdade, mantinham o compromisso com seu trabalho. Cada segundo era gasto da forma mais cuidadosa possível. Estavam em uma missão de infiltração, e serem descobertos seria praticamente uma sentença de morte. Por isso, mesmo sem ninguém ao redor, a tensão entre eles era extremamente alta.

"Até quando vai levar?"

"... Devemos encerrar por hoje. Mapear toda a região noroeste levará mais de uma noite. Podemos voltar amanhã e… CUIDADO!!!"

Justo quando estavam prestes a concluir a missão, o líder gritou no auge da adrenalina. Seus três subordinados se viraram rapidamente, apenas para ver um enorme pedaço de gelo rodando em direção a eles. Movendo-se em velocidade acelerada, porém, nada que os quatro especialistas não pudessem lidar. Eles dispersaram-se de forma desorganizada, deixando a lasca de gelo atingir violentamente suas posições anteriores.

'Falhamos na missão?!' pensaram os invasores ao mesmo tempo.

Viraram a cabeça na direção de onde o ataque vinha e viram algo que ultrapassava suas maiores expectativas. Seu histórico de missão impecável, os meses que passaram enganando os maiores magos da Casa Moonreaver… tudo foi frustrado por um jovem Vampiro de cabelos negros, que flutuava no ar com uma expressão triunfante.

❖❖❖

'De verdade, tinha intrusos!!!'

Sorri como um adolescente que tinha acabado de ganhar as chaves do carro dos pais pela primeira vez. No começo, pensei que as ondulações no Espaço-Tempo fossem apenas uma flutuação natural da Dimensão Moonreaver, um construto imperfeito. Contudo, Lilith tinha dito que a Dimensão Moonreaver permanecia firme há mais de um século, sem sinais de colapso.

Na verdade, ela era tão estável quanto a nossa realidade no mundo comum.

E, portanto, se a Dimensão Moonreaver era estável, isso só podia significar uma coisa:

Situação envolvendo trapaça.

E, com certeza…

'São quatro… Embora estejam ocultos visualmente e seus assinaturas mágicas sejam frações, posso, de forma vaga, sentir a localização deles.'

Graças ao meu controle sobre Espaço-Tempo, eu podia 'ver' as silhuetas camufladas dos intrusos. Eles estavam causando uma influência significativa na tessitura do Espaço, o que ativou meu alerta ao máximo.

São poucos os indivíduos capazes de deixar uma marca tão grande na tessitura do Espaço. Geralmente, quanto maior o seu reservatório de magia, mais densa é a marca que deixam. Até agora, os sinais mais marcantes que notei vieram da Matriarca Innocence e daquele bastardo Sirius Moonreaver. Essas marcas assemelhavam-se a buracos negros que pareciam sugar toda forma de vida ao redor.

Por outro lado, embora esses bastardos não chegassem ao nível daqueles dois seres, suas marcas eram bastante respeitáveis. Eu diria que esses quatro superavam Irina e Lilith em pura potência mágica.

'Ainda bem que mandei a Lisa buscar Lilith… Pelo caminho, ela leva alguns minutos para chegar.'

Voltei o olhar na direção da minha casa na distância, que se via ao longe. Pelo cálculo, devia estar a uns vinte a trinta quilômetros de mim. Para a Lisa chegar lá, acordar Lilith, informar a situação, fazê-la trocar de roupa e chegar ao meu local… Acredito que uns poucos minutos sejam razoáveis.

Enquanto isso…

"Embora não seja minha obrigação perguntar, qual a sua ligação?" perguntei educadamente, contrariando a recepção rude anterior.

Embora claramente parecessem intrusos, poderia estar interpretando mal a situação. Talvez eles fossem membros legítimos da Casa Moonreaver e estivessem apenas limpando a floresta?

"... Como vocês perceberam a nossa presença?"

Os quatro Vampiros removaram os mantos estranhos, revelando expressões severas. Todos eram homens, na faixa dos vinte e poucos aos trinta anos. Mas, como é comum entre Vampiros, a idade real deles ultrapassava bastante a aparência. Todos eram bem feitos, altos, e dois deles tinham cicatrizes evidentes.

Vampiros podem cicatrizar qualquer ferida, então essas cicatrizes provavelmente eram de combate. Uma marca de orgulho para Vampiros com mentalidade guerreira. Eles não apresentavam sinal algum de magia, e, mesmo assim, sentia uma pressão enorme se formando ao meu redor.

Hoho? Isso é um bom sinal. Se eles fossem membros da Casa Moonreaver, tentariam resolver o equívoco na hora. Portanto, se eram intrusos mesmo…

"Não tenho obrigação de responder," respondi enquanto minha magia se acumulava na minha mão direita. "E, se estou certo… Vocês provavelmente não vão responder às minhas perguntas, certo?"

Os quatro intrusos permaneceram em silêncio, encarando-me com olhos capazes de matar.

"Achei que fosse assim…"

Agora que tinha confirmado quem eram, era hora de planejar minha próxima jogada. Pela presença avassaladora, esses quatro não eram vilões qualquer. Estavam em uma outra categoria. Experientes em batalha, com habilidades mágicas e uma sede de sangue que podia sentir a dezenas de metros de distância.

Eram, de longe, os adversários mais poderosos que já enfrentei; monstros como Sirius e a Matriarca nem entram na conta, já que nunca lutei contra eles de fato.

A decisão mais sensata era fugir. Não fazia parte da Casa Moonreaver e certamente não ia arriscar minha vida por uma acusação infundada. Na verdade, qualquer que fosse o plano deles, não me afetava em nada. Desde que Lilith e Irina estivessem seguras, não me importo com as demais sabotagens na Dimensão Moonreaver.

Logo, o melhor a fazer era recuar, esperar ajuda e deixar que a própria Casa Moonreaver limpe a bagunça.

Mas…

"Uma oportunidade dessas não aparece toda hora, né?"

Não podia me ver, mas, se me olhasse no espelho, certamente veria um sorriso maníaco. Contra todas as probabilidades, sendo um contra quatro, e sabedor de que estou em desvantagem em magia, experiência e motivação.

Mas isso não importava.

A magia se acumulou na minha mão enquanto invocava minha Arma de Alma. Em uma batalha desvantajosa, quem ataca primeiro toma a iniciativa. Primeiro, lancei um tiro de aviso com vários relâmpagos para atingir os quatro invasores. Haviam duas razões para usar o raio como primeiro golpe.

Relâmpagos são extremamente rápidos e difíceis de evitar. Isso faria com que os intrusos se surpreendessem e talvez usassem medidas evasivas que revelariam suas identidades. Segundo, queria que eles achassem que eu era parte da Casa Moonreaver, já que essa especialidade envolve usar relâmpagos.

E essa foi uma jogada inteligente.

"Ele é da linhagem Moonreaver! Temos que silenciá-lo!"

Embora eu não conseguisse identificar exatamente sua habilidade de movimentação, eles caíram na minha armadilha. Os quatro moveram-se a velocidades quase impossíveis de acompanhar, pulando como performers de circo e se camuflando na floresta. Se não fosse minha percepção espacial, perderia completamente a noção de onde estavam.

"Um Moonreaver que é especialista em relâmpagos… Vai ser complicado." O líder cuspiu de irritação. Mas nunca perdeu o foco. "Cerquem e o encerem de todos os lados!"

Você acha que vai ser tão fácil assim?

Levantei o dedo do meio e utilizei minha habilidade de controlar o espaço. Quase instantaneamente, "agarrei" os quatro intrusos no espaço e os congelei. Aproveitando o choque deles, invoquei um relâmpago gigante para acabar com todos.

Infelizmente…

Bzzzzzzzztt!!!

O relâmpago acertou violentamente, atingindo o chão e quebrando árvores ao meio. Foi tão poderoso que poderia deixar até Caçadores experientes em pausa momentânea. Mas, os quatro Vampiros saíram ilesos. Reuniram-se e ficaram lá, com as roupas limpas.

"Telecinese, hein? Parece que não podemos te subestimar."

… Será que essa foi a primeira vez?

Sim, foi.

Era a primeira vez que não conseguia travar meu oponente por mais de um segundo. Eles escaparam do meu controle espacial antes que eu percebesse. Desde que despertei minha habilidade de controlar o Espaço-Tempo, passei batido em inimigos simplesmente ao prendê-los no lugar. Mas, à medida que o nível dos adversários aumentava, não podia mais confiar numa habilidade tão conveniente.

Um dos intrusos acelerou mais rápido do que eu podia reagir, reaparecendo atrás de mim. De suas mangas voaram três adagas refinadas. Elas voaram ao acaso, ignorando todas as leis físicas.

'Telecinese… Eles também têm essa habilidade…'

Ouvi do Variel que, quando um Verdadeiro Vampiro envelhece e fica suficientemente forte, adquire a habilidade de controlar objetos apenas com a magia. Foi por isso que Variel não ficou impressionado ao confundir meu controle de Espaço com simples Telecinese.

'Tsc, eles são rápidos demais.'

Sem tempo para evitar, dobrei a tessitura do Espaço-Tempo ao meu redor, fazendo as adagas ficarem teleportando da minha mão direita para a esquerda. Infelizmente, elas não atingiram os corações dos outros invasores e voltaram para seus donos.

"Magia dimensional também! Deve ser alguém da linhagem principal!" Os intrusos imediatamente mudaram de postura. Pareciam ter aprofundado seu engano, o que me favorece bastante.

"Então, não há outro jeito…"

A área foi invadida por uma força mágica intensa, com os olhos dos invasores tingidos de vermelho sem alma. Uma sensação nauseante de sede de sangue dominou meus sentidos, enquanto o mundo ao meu redor começava a girar. Eu senti o cheiro de sangue.

E não era sangue comum. Uma essência espessa e nauseante que eu jamais conseguiria apreciar.

Virei meus olhos enquanto via os invasores abrir uma ferida na carne, transformando seu sangue nojento em armas e poderes auxiliares. Um criou duas pistolas capazes de disparar uma quantidade infinita de balas. Outro gerou uma névoa de sangue que fortalecia seus aliados, ao mesmo tempo que enfraquecia a mim. Um fez uma foice de dois metros com uma ponta capaz de perfurar diamantes.

E, por fim… O líder invocou uma Katana tingida da cor mais densa de sangue vermelho que já tinha visto.

Aquelas não eram as Artes do Sangue que os Servos de Sangue usavam… Não, eram milhares de níveis acima disso. Essas armas continham uma energia mágica densa, algo que Servos de Sangue não poderiam possuir.

"Vocês são…"

E foi quando me lembrei.

Concelei com o Variel uma vez sobre como os Servos de Sangue usam seu próprio sangue como armas. E foi aí que o mordomo me contou as origens horríveis das Artes do Sangue.

Muito antes dos dias das Dez Casas Guardiãs, existia apenas uma Nobre Casa. Não, era uma Casa Real. Todos os Vampiros, sejam Verdadeiros ou Servos de Sangue, se ajoelhavam perante essa linhagem. A linhagem que usava seu próprio sangue para oprimir e dominar o Mundo Vampírico.

Eles lutavam principalmente usando seu sangue herdado, que tinha uma resistência natural contra todos os Vampiros. Com sua brutalidade e crueldade, recolheram milhões de almas mortais e destruíram dezenas de clãs vampíricos sob seu domínio tirano.

Um dia, estiveram no auge do mundo. Usando o poder de seu sangue, empilharam corpos até as montanhas e se banharam no rio de sangue que se seguiu.

Eram herdeiros do Progenitor Vampiro e, uma época, os verdadeiros senhores do mundo.

"A Casa Bloodborne."