Minha irmãzinha vampira

Capítulo 27

Minha irmãzinha vampira

"Aquilo… Ela cresceu tanto em apenas dois anos..."

No topo das arquibancadas, onde membros da Casa Everwinter podiam assistir em tempo real às ocorrências da Caçada de Inverno, mais de cem Vampiros observavam enquanto Irina invocava um iceberg do nada para derrotar de uma só vez um simples Yzhigesh.

Entre os presentes estavam membros de cada uma das três principais facções. Em especial, aqueles que haviam jurado lealdade a Damien Everwinter.

"Esse é o poder do Aspecto de Soberana do Inverno," uma das elites entre os Vampiros cuspiu com uma mistura de desgosto e inveja. "Ela consegue realizar feitos que ninguém na Casa Everwinter consegue. Não haverá gargalo na sua habilidade, e a única limitação será seu reservatório de magia."

"Porém, sua taxa de crescimento vai superar todos os outros na Casa Everwinter, inclusive o Mestre Damien."

"Superar o Mestre Damien, hein? Como esperado, não seria má ideia eliminá-la, não?"

Os Vampiros franziam o cenho enquanto uma onda de sede de sangue os dominava. Na opinião deles, tudo que ameaçasse a tentativa do mestre de se tornar o próximo líder da Casa Everwinter precisava ser eliminado. Infelizmente, nada na vida era tão simples assim.

"Não, não podemos fazer isso. A Matriarca provavelmente destruiria toda a nossa facção se desobedecêssemos às ordens dela."

"Que merda! Está ficando insuportável!"

Um dos Vampiros amaldiçoou furiosamente. Apesar de fazerem parte das três facções mais influentes, toda a sua existência parecia insignificante se comparada a um dedo da mão da Matriarca. Se ela desejasse, poderia fazer metade dos Everwinter desaparecerem, e ninguém questionaria sua decisão. Era esse ser que protegia Irina.

Para descrever com precisão como eles se sentiam, era como ver um trem vindo a mil quilômetros de distância e não poder fazer nada para impedir.

"Ouvi dizer que ela até incapacitou o próprio irmão, que havíamos enviado para chamá-la. Ela claramente é hostil ao nosso grupo."

"Nem chega a isso." O Vampiro mais calmo do grupo balançou a cabeça. "Quem derrubou Trent foi o jovem que ela levou para casa, não a Irina."

"Aquele coisa?"

Com Irina segurando o braço de Jin com força, era claro de quem aquele Vampiro estava falando. Observando a tela de exibição com interesse, os elites examinavam o jovem.

"Ele até que parece bem, mas será que é forte o suficiente para derrotar um Vampiro Verdadeiro de cinquenta anos? Sei que Trent não é lá essas coisas, mas..."

"Sim, temos testemunhas que podem confirmar isso," o Vampiro líder cruzou os braços e suspirou. "Aparentemente, ele usou uma arma de alma misteriosa que lhe permitiu usar Telecinese. Trent não conseguiu reagir e foi eliminado."

"Hoh... Telecinese, hein?"

Os membros da facção de Damien ficaram pensativos. Embora Irina tivesse um talento enorme e um dia pudesse se tornar forte o suficiente para disputar o trono, ela ainda era uma criança aos olhos deles. Sem falar que ela não tinha o número necessário de apoiadores, além de sua influência na aldeia ser insignificante se comparada às outras facções principais.

Porém, se ela começasse a reunir seguidores poderosos…

"Ei, tinha uma proibição de tocar na garota, mas não nas pessoas ao redor dela, certo?"

"... Você está certo," o líder deles sorriu de forma sinistra. "Não podemos ferir a Irina agora, então teremos que nos virar com o que temos."

Os Vampiros sorriram em resposta enquanto um deles alcançava um transponder, um dispositivo que permitia a membros do lado de fora comunicarem-se com os participantes da Caçada de Inverno em emergências. No entanto, neste caso, ele tinha um propósito muito mais nefasto.

"Rapazes, temos um trabalho para vocês…"

❖❖❖

Após eliminarmos nosso primeiro Demônio Externo, nosso grupo prosseguiu pelo campo de caça com pouquíssimas interrupções. Evidentemente, o terremoto causado por Irina assustou muitos Demônios Externos e Vampiros, fazendo da nossa caçada algo como um passeio em um parque coberto de neve.

Meus pais, que inicialmente estavam em alerta máximo, até ficaram entediados depois de um tempo. Mas não podíamos simplesmente partir no meio da caçada. No final, para passar o tempo, decidi fazer algumas perguntas.

"Luminita, você poderia explicar que tipos de Demônios Externos aparecem no Portão do Polo Norte?"

"Ah? Você está interessado, Mestre Jin?" A aia de cabelo prateado olhou para mim com um sorriso iluminando seu rosto. "Quer saber sobre o Okhiocnash? Sobre o Iautejh'xu? Ou é o Xythloss?"

São tantos para escolher!"

"H-Haha, não precisa de detalhes específicos…"

Não esperava que essa aia fosse uma verdadeira nerd em relação a Demônios Externos. Mas, na verdade, isso acabou jogando a meu favor.

"Você poderia me dizer por que a maioria dos Demônios Externos que vimos até agora possuem tentáculos?"

Das perguntas que tinha, essa era a que mais despertava minha curiosidade. Embora cada Demônio Externo até então fosse único à sua maneira, todos tinham uma característica em comum. Não importava se tinha formato de cervo, macaco ou um globo ocular gigante; todos tinham tentáculos saindo de seus corpos. Embora fosse nojento no começo, minha curiosidade agora superava o nojo.

"Oh? Isso provavelmente se deve ao habitat do Demônio Externo, presumimos." Luminita se acalmou um pouco e começou a explicar com calma. "Cada Grande Portão é definido pelos monstros que dele saem. Embora não possamos entrar neles, sabemos que levam a outro mundo ou dimensão. E, assim como no nosso mundo, os Demônios Externos precisaram evoluir para se encaixar em seu habitat. Mas bem, essa não é a única razão..."

A aia fez uma pausa para recuperar o fôlego antes de continuar.

"Você já ouviu falar da primeira vez que o Portão do Polo Norte apareceu?"

"Não, não posso dizer que sim." Balancei a cabeça e olhei para meus pais, esperando que soubessem algo. Infelizmente, assim como eu, eles tinham expressões vazias.

"Acho que foi há eras, e a Casa Everwinter realmente não gosta de divulgar a maior derrota que já tiveram."

"A maior derrota deles?"

Luminita confirmou com a cabeça ao meu comentário. Ao mesmo tempo, pude notar o rosto de Variel se contorcer levemente enquanto Irina ainda se encontrava afetuosamente grudada ao meu braço. Percebendo que não obteria nada deles, incentivei minha enciclopédia da Everwinter a continuar.

"Sim," Luminita suspirou. "Apesar de os Demônios Externos que saem do Portão do Polo Norte serem poderosos, eles não se comparam à monstruosidade que surgiu naquele dia fatídico. Um monstro que tinha mais de mil metros de altura. Sua cabeça, semelhante a um polvo, controlava dezenas de tentáculos flexíveis que se moviam independentes, como se tivessem uma mente própria."

Asas demoníacas que criavam furacões a cada bater. Pele escamosa que superava qualquer armadura. E um corpo humanoide com inteligência que ultrapassava qualquer uma de nossas mentes mais brilhantes... Foi a primeira vez que o mundo viu Cthulhu."

"Cthulhu? Achava que isso era só um mito?"

Naquele momento, até minha mãe não conseguiu mais se conter. Como pesquisadora de magia, ela obviamente tinha ouvido falar daquele monstro que parecia tão terrível que foi jogado às páginas de ficção.

"Cthulhu não é mito," Luminita balançou a cabeça com um sorriso irônico. "A Casa Everwinter pagou um preço enorme para forçar a besta poderosa a recuar e o exército que veio com ela. Metade dos nossos membros foi dizimada, e isso sem contar os reforços que tivemos que chamar de Outras Casas de Vampiros e de nossas alianças com os humanos."

"Então, uma batalha assim aconteceu no passado..."

Assim como humanos e Vampiros podem se tornar mais fortes, a mesma teoria se aplica aos Demônios Externos. Eles geralmente têm inteligência baixa, guiados apenas por instintos de caça. Mas, à medida que evoluem e sobem na cadeia alimentar, suas características começam a mudar.

Eles podem adquirir inteligência equivalente à dos humanos. Começar a comandar outros Demônios Externos a fazerem suas vontades. E, às vezes, superam qualquer força de elite que o nosso mundo oferece.

Denominamos essas entidades merecidamente…

Os Senhores Demônio.

"Se Cthulhu fosse um Senhor Demônio, faz sentido que a Casa Everwinter tenha sofrido."

"Exatamente. E, devido à sua bênção, presumimos que os outros Demônios Externos que vêm através deste Portão herdaram as características de Cthulhu."

"Então é por isso que todos têm tentáculos..."

Evolução e uma bênção de um Senhor Demônio. Se esse for o caso, tudo faz sentido. Sem falar que, se aquele monstro ainda estivesse vivo, poderia facilmente gerar novos Demônios Externos a fazer sua vontade.

"Por isso, a Casa Everwinter dá ênfase em melhorar os selos e permitir que alguma magia escape antes que se acumule demais." Luminita continuou sua explicação, agora com uma tonalidade muito mais séria. "Se a magia dentro do Portão ficar poderosa demais, Cthulhu poderá reaparecer, e esse é um risco que não podemos correr."

Só posso imaginar. Se a Matriarca Inocência, o poder completo da Casa Everwinter e seus reforços aliados conseguiram apenas repelir Cthulhu, é de se imaginar o nível que o Senhor Demônio teria atingido.

Senhores Demônio, hein… Acho que tenho mais uma meta a alcançar.

BOOOOM!!! BOOOOM!!! BOOOOM!!!

"Hoh… Tem outro, hein?"

Justo quando começávamos a nos sentir confortáveis, fomos mais uma vez lembrados de que estávamos em uma zona de batalha. Tremores sacudiram o solo do Cemitério de Inverno enquanto uma criatura gigantesca emergia das árvores. Diferente dos Demônios Externos anteriores, ela tinha um corpo imenso de elefante, com tentáculos substituindo seus dentes e sua tromba.

Cada passo que dava provocava tremores ao nosso redor enquanto seu corpo grotesco parecia determinado a nos achatar no chão.

"Um Oghythe," Os olhos de Luminita se arregalaram por um breve momento. "É um Demônio Externo com defesa e resistência ao gelo incríveis. Jovem senhora, essa adversária será um pouco mais difícil de lidar para você. Você não vai poder pulverizá-la como fez com o Yzhigesh."

Huh? Um Demônio Externo resistente aos poderes da Casa Everwinter? Bem, acho que isso é evolução ao seu próprio modo.

"Se for difícil até para a Irina..."

Eu retirei os dedos da minha irmãzinha do meu braço, finalmente livre para fazer o que quisesse. Cinco anéis apareciam na minha mão direita, enquanto as correntes que conectavam os anéis ao meu bracelete começavam a tocar. Sem dar chance para ela reagir, levantei a mão, canalizando energia mágica para a joia no meu dedo médio.

Como uma miragem no meio do deserto, a imagem do Oghythe começou a se distorcer. Alguns de seus tentáculos inquietos pararam no ar, enquanto seu corpo começava a levitar. Pendurado pela cabeça, o Demônio Externo tentava escapar do meu alcance, mas era evidente que era fraco demais. Seus quatro membros se debatiam enquanto suas orelhas agitavam-se em desespero completo.

"Hoh… Acho que Demônios Externos também respiram."

Não esperava que minha primeira tentativa de asfixiar essa monstruosidade fosse tão eficaz. Mas não estou reclamando. Apertei ainda mais a mão no Demônio, mantendo minha canalização de magia para a Telecinese, especialmente no controle de sua garganta. E, em apenas dois minutos de sua luta desesperada…

"Que pena… Não esperava que minha primeira morte de um Demônio fosse tão fácil."

Depois que a criatura deu seu último suspiro, joguei seu corpo para o lado, perdendo totalmente o interesse naquela criatura fraca. Um Demônio Externo especializado em defesa? Um capanga do Senhor Demônio Cthulhu? Não importava.

Era apenas mais uma pedra no meu caminho rumo ao topo.