Poder das Runas

Capítulo 203

Poder das Runas

Capítulo 203: A Derrota de Elysia

É tão confortável...

Elysia pensou enquanto a sensação de energia transbordante invadia seu corpo, preenchendo cada canto de seu ser. O cansaço que havia sentido momentos atrás desaparecera como se nunca tivesse existido.

Sua resistência e sua mana agora estavam no auge, como se uma força invisível a tivesse reabastecido de dentro para fora. A Bênção da Lua finalmente revelava suas verdadeiras cores.

Ela fechou os olhos por um instante, concentrando-se na mana lunar fluindo por suas veias. Mas algo agora parecia diferente. Havia uma energia estranha misturada à essência prateada familiar, fundindo-se de forma tão harmoniosa que parecia que sua bênção finalmente despertara para sua forma completa.

Seus lábios formaram um leve sorriso enquanto ela apertava seu pedaço de aço e assumia novamente sua postura de ataque.

Acho... acho que acabei de despertar uma parte do meu verdadeiro poder...

Apesar de esse despertar ter vindo mais cedo do que Ash tinha lhe dito para esperar, ela não insistiu nisso. Sua mente agora estava focada unicamente em entender sua habilidade e utilizá-la.

Esse poder... habilidade de ataque da alma?... Espera, um ataque de alma?

Sua expressão ficou conflituosa. De um lado, ela estava eufórica por possuir uma habilidade tão devastadora. Mas, do outro, hesitava. Era um duelo, não uma luta até a morte. E se ela ferisse a alma de Ray além do reparo? Essa ideia lhe causou um calafrio de inquietação.

Mordendo levemente o lábio, ela hesitou por um momento, enquanto seus pensamentos se agitavam.

Devo realmente usar isso... Não, tenho que usar. Se eu não me esforçar agora, se não puder lutar com tudo o que tenho, qual é o sentido de estar aqui? Só vou tentar acertar uma ou duas investidas, o suficiente para abrir brechas para meus ataques. Sim... isso deve ser suficiente.

Seu conflito interno se encerrou ali. Uma determinação forte acendeu seus olhos enquanto sussurrava baixinho: "Vamos lá..."

Com esse pensamento, ela avançou, a mana prateada da lua ao redor de sua lâmina brilhando intensamente, seu brilho carregando uma ponta afiada, quase predatória. Seus movimentos não hesitaram nem sentiram desconforto; usar esse poder parecia natural para ela, tão fácil quanto respirar.

A expressão tranquila de Ray finalmente vacilou. Seus olhos se estreitaram ao perceber o perigo à sua frente.

{Garoto, escute com atenção. Isso não é apenas mana. É um ataque de alma.}

Ao ouvir a voz de Aetheris ecoar dentro de sua mente, os passos de Ray vacilaram por um instante, seu olhar se tornando sério.

Um ataque de alma...? Então é isso que é essa sensação aguda e sufocante.

Depois de alertá-lo, Aetheris ficou em silêncio, decidindo não interferir mais. Queria que Ray aprendesse pela dor da experiência. Ainda assim, ao menos deu uma pista sobre que tipo de ataque estaria por vir.

A lâmina de Elysia, brilhando com a luz da lua, colidiu com a arma de Ray. O confronto parecia algo comum, mas no instante em que suas armas se tocaram, um grito agudo escapou dos lábios de Ray. Seu corpo recuou, seu rosto contorcido de dor como se algo invisível tivesse atravessado sua própria alma. Ele cambaleou para trás, segurando sua espada com mais força.

Uma onda de assobios percorreu as arquibancadas do arena, e o silêncio que se seguiu foi tão pesado que parecia que o próprio ar tinha engrossado.

"O que foi aquilo?" murmurou um garoto, a voz quebrando a quietude, tremendo de incredulidade.

"Elysia conseguiu fazer o Ray sentir dor, isso é um grande acontecimento..." comentou outro, olhos arregalados e sem piscar, como se estivesse lutando para processar o que via.

"Acho que ela despertou algum tipo de poder novo..." acrescentou alguém, com tom baixo, cheio de admiração.

"Claro que sim, aqueles cinco minutos em que o Ray não atacou foram para dar tempo a ela, o que é chamado de cavalheirismo..." disse uma garota, com um tom misto de admiração e ceticismo.

"Será que ele não estaria só louco de amor...?" brincou outra garota, levantando as sobrancelhas com um sorriso maroto, causando risos e olhares nervosos entre os presentes.

No entanto, Elysia não recuou. Desta vez, ela atacou novamente, sem usar o ataque de alma, seus movimentos fluidos e precisos, cada golpe seguido do próximo como se estivesse dançando com a lâmina.

Ray, que há instantes obitava seus golpes com confiança, agora recuou de imediato. Ele se recusou a deixar suas armas se chocarem novamente, dando um passo atrás apressado.

"Você... Que poder é esse?" rosnou Ray, com a mão firme ao redor da sua lâmina.

A voz de Elysia foi baixa, mas carregada de peso. "Não vou perder para você... não quando você insultou Ash." Seus olhos de sangue vermelho pareciam brilhar, "Se eu não puder defendê-lo agora, então que direito tenho de dizer que me importo com ele?"

O rosto de Ray escureceu. "Você está lutando por ele? Para protegê-lo?"

"Não preciso provar nada para você," respondeu Elysia, com tom calmo, porém cortante. "Mas vou mostrar que menosprezar ele é seu maior erro."

Ray apertou os dentes. Mais uma vez, Ash... Sempre Ash. Mesmo agora, ela não me vê.

Enquanto isso, nas arquibancadas, os lábios de Ash se curvaram na mais leve expressão de sorriso. Isso mesmo, Elysia... assim, acerte-o mais uma vez.

Havia uma satisfação estranha ao assistir aquilo se desenrolar, uma sensação passageira de alívio. Mas essa emoção logo desapareceu, substituída por sua habitual serenidade.

Mas ainda assim... isso não é suficiente para derrotá-lo...

Os pensamentos de Ash permaneceram calmos e claros enquanto observava a cena abaixo. Ele já sabia a diferença de força entre eles, e como se confirmasse suas suspeitas, a próxima troca mostrou exatamente isso.

Antes que Elysia pudesse se recompor para outro ataque, a figura de Ray ficou turva e desapareceu de vista. O som de um único passo ecoou suavemente, e num piscar de olhos, ele apareceu atrás dela, sua presença pressionando como uma sombra.

Ela congelou por um instante ao sentir a lâmina grossa de sua espada do instituto apoiada no pescoço dela.

"Desista..." disse Ray, com tom calmo, mas carregado de finalização.

O aperto de Elysia na arma se fortaleceu, sua respiração irregular. Sua mente gritava para ela parar, mas seu coração ardia de teimosia.

Não posso desistir... ainda não.

Antes que ele terminasse de falar, ela virou seu corpo rapidamente, ignorando a arma grossa no pescoço. Sua lâmina brilhou enquanto se lançava contra ele com força desesperada, mas a figura de Ray se moveu novamente.

Num piscar de olhos, ele estava atrás dela outra vez, mais rápido do que os olhos poderiam seguir. Desta vez, sua voz soou fria, embora ainda controlada.

"Por que está se esforçando tanto assim? Quer acabar machucada?"

"Cale a boca... Ainda não terminei!" ela gritou, respirando com dificuldade, a voz tremendo, mas cheia de determinação.

As sobrancelhas de Ray se franziram levemente enquanto ele suspirava. "Você é teimosa..."

Antes que ela pudesse atacar novamente, sua mão se moveu com velocidade estonteante, atingindo um golpe preciso na nuca dela. Era uma missão precisa e controlada, projetada para terminar o duelo sem causar ferimentos, mas forte o suficiente para fazer sua consciência desaparecer.

Sua lâmina escorregou de seus dedos enquanto sua visão ficava turva.

Não... não posso... perder assim...

Ray exalou suavemente, um suspiro que não carregava triunfo, apenas resignação silenciosa. Ele avançou, tentando segurar seu corpo que caía, mas então... seu corpo inteiro became rígido.

Pois antes mesmo que pudesse alcançá-la, alguém já estava lá.

A poucos passos de distância, de pé e calmo, segurando o corpo inconsciente de Elysia nos braços como se fosse o mais natural do mundo... estava Ash, seu olhar fixo em Ray.

Os olhos de Ray se estreitaram.

Quando foi que ele...?

"Espera, quem é aquele rapaz bonito?" uma garota nas arquibancadas exclamou, inclinando-se para frente, com olhos arregalados.

"Talvez um veterano...?" outra suspeitou, embora sua voz insegura revelasse dúvida.

"É o Ash Burn, idiotas..."

"O QUE?? Quer dizer que ele é o Ash... Aquele Ash...?"

"Claro, seu idiota..." veio a resposta frustrada.

"Espere, então como que ele apareceu ali do nada...? E por que ele está assim?"

"Como eu faria pra saber, gênio? Talvez algum artefato ou habilidade, sei lá..."

"Mas mesmo assim..."

O público começou a murmurar desconfiado. A tela grande acima da arena passou a reproduzir a cena de alguém surgindo do nada para apanhar Elysia enquanto ela caía, e as arquibancadas começaram a murmurar e sussurrar. A arena, antes silenciosa, agora soava como um enxame de abelhas assustadas.

E então, cortando aquele barulho todo, a voz de Ash ressoou por toda a arena. Ela atravessou o microfone embutido nos uniformes de duelos que Ray e Elysia usavam, uma ferramenta também para comentários e medidas de segurança.

Claro que nada poderia prever ou bloquear um ataque de alma como o de Elysia anteriormente; isso era algo que nem os sistemas da academia tinham previsto.

"Ouvi dizer que você queria duelar comigo?"

Assim que suas palavras ecoaram pelo palco, o silêncio voltou a se instaurar. Pesado, quase sufocante, como se ninguém tivesse coragem de respirar.

Somente os instrutores sussurraram entre si, com vozes baixas, enquanto Leonard ficava de lado, sorrindo como alguém que acabara de assistir a um espetáculo garantido.

Sim, lutem... me mostrem uma boa luta. Tenho altas expectativas de vocês dois agora...

O jeito de Ash agir, Leonard sentia no osso — Ash era Forte. Muito mais forte do que antes. Nem conseguia estimar até onde tinha chegado, mas isso fazia seu sangue ferver de antecipação.

Qualquer encontro sortudo que tiveram, não sei, mas me mostrem algo que valha a pena a espera... depois de tanto tempo, quero ver uma luta de incendiar sangue...

"Sim, eu quero," respondeu Ray, com tom frio e direto.

"Entendido. Então, vamos duelar," disse Ash, com voz calma, porém firme. Inclinado levemente a cabeça como se estivesse avaliando Ray, então deu um passo silencioso para trás, carregando ainda Elysia nos braços, com graça de princesa.

Quase imperceptível, uma leve luz de mana vitalia cintilou ao redor de sua mão enquanto ele infundia energia no pescoço dela, suavizando o choque causado pelo golpe de Ray.

Ele rapidamente a entregou ao médico da enfermaria da academia, confirmando que ela apenas tinha desmaiado, e então voltou à arena.

Em poucos minutos, Ash estava lá novamente, encarando Ray com determinação silenciosa. Ray, por sua vez, estava finalizando uma poção, com expressão indecifrável.

Poção de cura de alma...?* Ash se perguntou, mas descartou a dúvida. Não era estranho. Afinal, seu sistema tinha todo tipo de item capaz de curar ferimentos profundos.

O instrutor Leonard entrou na arena com um sorriso exagerado, que parecia muito satisfeito para o momento tenso. "Querem realmente lutar?"

"Sim," responderam os dois ao mesmo tempo, as vozes se sobrepondo, firmes.

"Então, ótimo. Vou ficar de fora, assistindo do lado de fora da barreira, porque essa luta pode ficar fora de controle," Leonard disse, com tom que deixava transparecer um pouco de animação. "Precisa de alguma arma, Ash?"

"Sou mago, instrutor," respondeu Ash suavemente.

"Ah, é mesmo. Quase tinha me esquecido — você é mago. Hahaha... Tudo bem, tudo bem."

O sorriso de Leonard se alargou. "Vamos lá, então."