
Capítulo 196
Poder das Runas
Capítulo 196: Sentimentos em Conflito
— Prazer em te ver novamente depois de tanto tempo, Instrutora Elva.
Ao ouvir suas palavras, Elva saiu de seu estado de distração, piscando uma vez como quem desperta de uma longa sequência de pensamentos que a tinham trazido para dentro de si mesma.
Mas, antes que ela pudesse dizer alguma coisa, e antes que Melissia, que olhava para ele com um olhar ardente cheio de emoções que palavras não conseguiam captar completamente, pudesse abrir a boca, Nichole, o Diretor da Academia Estrelas, falou por trás, com uma voz calma porém firme, fazendo todos, inclusive os presentes, pararem.
— Todos vocês, como já devem saber, a estudante Elysia foi ferida devido ao triste incidente que aconteceu há alguns meses. Embora o ferimento tenha sido fatal e suas chances de sobreviver fossem praticamente nulas, no final... ela venceu contra todas as probabilidades e está aqui, na sua frente.
Assim que suas palavras caíram, todos se endireitaram. A atmosfera relaxada e curiosa que pairava há instantes desapareceu, substituída pela pressão palpável que sua presença agora exercia.
Até então, o diretor tinha mantido sua aura sob controle, permitindo que o reencontro se desenrolasse sem interferências. Mas agora... ele não estava mais segurando seu poder.
... Na verdade, ele ainda estava... se fosse liberar toda sua presença, todos aqui presentes seriam forçados a se ajoelhar sem resistência, seus corpos tremeriam sob a força de sua existência, completamente impotentes e dominados. Todos, exceto Ash e Elva.
Ash, por causa de seu Núcleo Primordial, não sentiria nada, seu corpo era completamente imune a essa pressão externa, e Elva poderia se proteger, sendo uma humana mítica com seus próprios meios de resistência.
— Quanto a Ash — continuou Nichole, com um tom firme e inabalável — vocês podem ter ouvido que ele foi ficar com um parente durante esse tempo, mas isso é falso. A verdade é que ele saiu em busca de uma cura para Elysia. Claro, ninguém acreditava que ele teria sucesso, ninguém esperava que voltasse com algo útil... mas, surpreendentemente, ele conseguiu.
— Vocês devem estar se perguntando por que estou contando tudo isso. Devem estar pensando, por que estou aqui revelando o que Ash fez?
Espere, por que ele está falando isso para eles? Ele nunca disse nada sobre isso...
Durante a viagem até aqui, o Diretor insistiu que ele deveria vir junto, dizendo que era uma dessas raras oportunidades de motivar os estudantes, algo que eles poderiam lembrar e se inspirar.
Naquela época, Ash não compreendia completamente as intenções dele, nem o significado mais profundo por trás das palavras... mas agora, as coisas começavam a fazer sentido lentamente.
Que dor de cabeça... Ash suspirou internamente e resignou-se ao seu destino, sabendo que não podia impedir que ele dissesse qualquer coisa.
— O que quero dizer a todos vocês — disse Nichole, elevando um pouco a voz, o suficiente para mexer com o coração de todos ali — é que não importa o quão difícil pareça sua vida, o quão sufocantes sejam as circunstâncias, ou quão desesperadoras sejam suas experiências... sempre há um caminho. Por mais escura que seja a noite ou interminável que seja o percurso, sempre há uma saída.
Chamas douradas dançavam nos olhos de Nichole, brilhando de forma tênue, mas indiscutível. Sua expressão ficou ainda mais séria e sua aura fazia até os estudantes mais distraídos prenderem o olhar nele, automaticamente se endireitando sem perceber.
Até Ash ficou sério, por um momento.
— O que você precisa fazer em meio a esse desespero sem fim... é nunca desistir. No instante em que sua vontade se quebrar, o momento em que aceitar a derrota... é então que tudo de verdade acaba. Mas enquanto você tiver vontade de sobreviver e paciência para segurar até que uma pequena oportunidade se apresente... você poderá realizar o impossível.
— Assim como Ash.
Ele acrescentou a última parte, dando um tapinha nas costas de Ash com força suficiente para quase fazê-lo cambalear para frente.
... embora seja verdade que Ash nunca lhe tenha feito nada diretamente, não se pode dizer o mesmo do Sussurrador.
Os outros sete Santos também sofreram com a dor de tentar localizá-lo, e, no fim, quando falharam, foram obrigados a assistir a uma das famosas palestras do Sussurrador.
— É isso. Esses dois podem começar a frequentar as aulas a partir de hoje. Apesar do semestre estar quase no fim, não importa — disse Nichole para Elva, um sorriso estranho aparecendo no rosto enquanto sua presença avassaladora começava a diminuir lentamente.
— Afinal, ambos fizeram o impossível, não fizeram? Aprender tudo em um mês e passar nas provas não é nada demais... desde que não queiram serem expelledos. Certo?
Como se estivesse saboreando o momento, Nichole lançou um olhar novamente para Ash, com aquele sorriso ambíguo que ficava entre provocação e ameaça.
Ash olhou para aquela expressão... e estremeceu.
Ash resmungou internamente. Não que estivesse excessivamente preocupado com as provas. Com sua memória perfeita... e agora, com acesso até à Biblioteca da Alma, estudar não era problema algum.
Vai ser divertido... ver a cara dele depois que eu tirar a nota máxima em tudo. Hmm... talvez 100 seja demais. Vamos colocar 99. É, isso.
E com aquela mesma expressão ambígua refletida em seu rosto, Ash ergueu o punho bem alto, com um tom exageradamente polido ao falar: "Claro. Como disse o Diretor... podemos fazer o impossível, contanto que tenhamos vontade."
Eles sorriram um para o outro, dois homens com sorrisos enigmáticos, claramente pensando nos dias que virão.
— Toss... Entendi.
Elva quebrou finalmente o momento, com uma voz calma e composta. Ambos se viraram para ela, e com um aceno educado, falou ao diretor:
— Obrigada por vir pessoalmente até aqui e até por acompanhar esses dois. A partir daqui, cuidarei de tudo.
Depois, o diretor e o vice-diretor trocaram uma rápida palavra nos bastidores — nada longo ou barulhento, apenas uma conversa curta entre os superiores — antes que ele finalmente fosse embora.
Mas, mesmo partindo, o foco na sala permanecia inalterado. Olhares continuavam fixos em Ash e Elysia.
Embora as palavras do diretor tenham sido entregues com a intenção de inspirar... elas entravam em conflito com as emoções de muitas pessoas... ferindo corações frágeis que já estavam à beira de rasgar. Em uma atmosfera tão delicada, era difícil prever o que aconteceria a seguir.
Mas, por ora... o silêncio os mantinha todos.
Alguns estudantes ao fundo tinham suas mentes aceleradas —
Meu Deus... isso vai ficar muito interessante...
Ash saiu da academia para ajudar Elysia? Então, ela gosta dele...?
Ray e Ash... ambos gostam de Elysia. Então, quem ela escolherá? Aquele que arriscou tudo para salvá-la... ou o predestinado a se tornar poderoso...?
Eles não eram os únicos pensando nisso. Pensamentos semelhantes ecoaram em várias mentes ao mesmo tempo, misturando curiosidade, confusão e ciúmes, enquanto em outros corações, pouco a pouco, a esperança se desvanecia.
Ele saiu da academia... só para ajudar Elysia...
Melissia permaneceu ali, observando com olhos que já não tinham mais a mesma luz calorosa de antes. Uma parte de si sentia como se alguém estivesse novamente invadindo sua vida, cortando o caminho que ela mal começara a trilhar. Ou talvez... ela fosse quem estivesse interferindo?
Porém, desta vez, com um coração de aço, isso não a quebrou. Uma dor de coração só acontece uma vez... depois disso, só sangue escorre.
Seu olhar se tornou mais frio, sem aquele brilho sutil que antes tinha. Ela olhou para Ash... e depois para Elysia. Sua mente trabalhava freneticamente, tentando entender o que aquilo significava e o que deveria fazer dali em diante.
Enquanto os pensamentos de Melissia se agitavam silenciosamente, Ray permanecia a uma certa distância, perdido em sua própria crescente tempestade de emoções. Uma tormenta começava a se formar dentro dele.
{Que dor de cabeça, ela deveria ter morrido.}
A voz de Aetheris ecoou na cabeça dele, carregada de irritação e falta de empatia. Parecia que ele achava toda a situação desagradável, não pelo que havia acontecido, mas pelo que poderia vir a se tornar.
NÃODESESPERE.
Ray respondeu imediatamente. Sua mente rejeitava a ideia cruel sem hesitar. Mas Aetheris, sendo quem era, não se importava.
{Que besteira? Estou apenas sendo honesto. Sinto no osso, rapaz... as coisas vão ficar complicadas daqui para frente. Especialmente porque essa confusão tem aquela garota no meio dela.}
{Meninas são problema, não importa o universo, não importa a época.}
Ray não respondeu desta vez. Uma tempestade silenciosa era visível no seu peito, mas ele permaneceu calmo, ou pelo menos parecia assim por fora.
O que Ray não percebia, no entanto... era que Aetheris vinha observando mais de perto do que ele. O intercâmbio de olhares entre Ash e Elysia, a tensão sutil na postura de Ash, o ar calmo porém inquietante ao redor dele... o Deus Matador via tudo isso. Ele notava as coisas que não eram ditas, os detalhes que iam muito além das palavras.
{Suspiro... então as coisas não vão sair como o garoto esperava, hein. Mas talvez seja melhor assim. Uma decepçãozinha o fortalecerá. Vai aprender uma coisa de verdade... que meninas são distrações. E se ele não perceber isso agora, vai se arrepender depois.}
E talvez Aetheris não estivesse totalmente errado. Ele tinha vivido por muitas eras, visto impérios nascerem e caírem, reis perderem seus tronos, heróis abandonarem seus propósitos... e, repetidamente, a causa era sempre a mesma.
Uma mulher.
A beleza não é chamada de sinônimo de destruição à toa, apenas na poesia. Porque, repetidamente... ela se revela verdade.
Justamente naquele momento, Elva retornou. Notando a atmosfera estranha que pairava na sala, ela disse: "A aula está quase no fim. Vocês deveriam ir para a próxima aula agora."
— Dispensa.
Depois, ela olhou para Ash e falou com uma voz calma, porém firme: "Você... venha comigo."
Sem esperar resposta, ela virou-se e começou a caminhar para longe...
Ash a seguiu silenciosamente, e juntos saíram diante dos cinquenta estudantes.
***
{Então, o que você vai fazer agora, garoto? Você passou por todas aquelas missões, suportou noites sem dormir e se esforçou ao máximo, tudo apenas para salvar aquela garota... mas, agora que ela está bem, descobriu que alguém conseguiu salvá-la antes de você.}
Ray permaneceu silencioso, com uma expressão difícil de interpretar.
{E se essa garota acabar gostando do Ash? Pela aparência das coisas, parecia que os dois tinham algo. Talvez já fosse hora de parar de perseguir essa ideia tola de amor e focar totalmente em ficar mais forte.}
Cale a boca.
{Mesmo se eu calar, isso não vai mudar nada. Você pode ignorar a verdade o quanto quiser, mas ela só vai doer mais quando finalmente te alcançar. Melhor enfrentá-la agora, de frente, enquanto ainda tem força para resistir.}
Ray não respondeu às palavras dele. Simplesmente ficou ali, em silêncio, com os olhos fixos em Elysia enquanto ela se afastava com Grace e os outros. O grupo foi se dispersando gradualmente, mas três pessoas permaneciam ali, ainda imersas em seus pensamentos. Eram Melissia, Ray e Ethan.
Ray fechou lentamente os olhos, respirando silenciosamente, como se estivesse acalmando a tempestade que crescia dentro dele. E, ao abrir novamente os olhos... seu olhar tinha mudado — ainda calmo, mas agora carregado de uma seriedade sutil, como se tivesse decidido fazer algo.
Depois, sem mais palavras, começou a caminhar em direção a Elysia.
***