Poder das Runas

Capítulo 197

Poder das Runas

Capítulo 197: Duelo Inesperado

Estando no corredor da academia, próximo a uma grande janela que oferecia uma vista clara do lado de fora, Ash permaneceu em silêncio.

A grama, as árvores e as flores balançavam suavemente ao vento, formando uma cena calma, quase de sonho. Mas acima daquela paisagem serena, o céu estava encoberto por nuvens escuras.

Iria chover em breve.

Ash não estava sozinho. Ao seu lado, Elva permanecia quieta. Seus olhos não o abandonavam—nem por um segundo. E, desta vez, ela sorria. Mas seu sorriso não era suave ou gentil.

Era afiado, do mesmo tipo perigoso que ela tinha na expressão no dia em que apareceu durante o exame de entrada da academia. Aquele tipo de sorriso que faz seus instintos ficarem tensos e a sua guarda subir.

"Eu sabia que você era especial," ela disse, com a voz suave, porém carregada de diversão. "Mas especial o suficiente para voltar vivo da Continent dos Elfos? Agora... isso eu não esperava. Então me diga, o que exatamente aconteceu?"

Aash ficou um pouco surpreso com a maneira direta com que ela perguntou. A maioria das pessoas teria hesitado, rodeado o assunto, tentado ser inteligente. Mas Elva sempre foi direta quando queria algo.

Mesmo agora, seu olhar nunca vacilou. Ainda assim, ao invés de responder de imediato, Ash olhou para fora da janela. Seus dedos tocaram a borda da moldura, e sua expressão suavizou um pouco.

Após um momento de silêncio, ele respondeu.

"Não sou nada especial. Honestamente, nem tenho tanta habilidade assim. Pode dizer... que só tive acesso a algumas informações. Foi isso que fez parecer diferente."

Ele não mentia. Sem o conhecimento do romance, e sem as Runas, Ash não teria sobrevivido nem às primeiras fases. Ele não nasceu forte. Não foi escolhido pelo destino. Era apenas alguém que teve sorte com seu conhecimento.

"Minha força também não é minha," acrescentou tranquilamente. "Ela é emprestada. E talvez, um dia, eu perca tudo. Ou quem sabe, não. Eu realmente não sei. O futuro não é algo que eu possa prever."

Ele realmente acreditava nisso. Nem mesmo as Runas podiam garantir algo certo. Sua origem era um mistério, mas, após tudo que ele tinha visto e sentido através delas, Ash começara a formular hipóteses.

As Runas talvez não fossem apenas ferramentas mágicas simples ou melhorias de poder mencionadas no romance. Podiam ser algo muito mais profundo. Algo fundamental.

Ele acreditava que poderiam ser a manifestação das Leis do mundo—forças que mantêm o equilíbrio, a ordem e a estrutura vivas.

Se isso fosse verdade, então as Runas talvez nem pertencessem realmente a ele. Poderiam retornar à sua origem algum dia. Ou alguém mais forte as poderia tomar à força.

E se fossem tomadas...

O que aconteceria com ele?

As forças simplesmente desapareceriam?

Ou sua alma se rasgaria com a perda?

Ele não sabia. Mas essa ideia nunca saiu completamente de sua cabeça.

Mesmo agora, aquele medo persistia no fundo de sua mente.

No entanto, nada disso era certo. Eram apenas pensamentos, não fatos comprovados. Suposições baseadas na maneira estranha como as Runas interagiam com seu corpo e alma. Nada mais.

Assim, com uma voz calma e um pequeno sorriso, ele continuou: "Usando algum conhecimento... e uma força emprestada, consegui convencê-los. Simples, não é?"

Desta vez, ele virou a cabeça e olhou diretamente para Elva.

Quanto ao motivo de ter contado—por que disse tudo isso, mesmo que de forma vaga—foi porque confiava nela. Não completamente. Não como uma pessoa. Mas como uma professora.

Elva, ou mais precisamente, Vice-Diretora Elva, era a única pessoa na academia que realmente se importava com os alunos. Ela não demonstrava isso com frequência. Geralmente, escondia atrás de uma expressão severa ou fingia estar excessivamente animada para despistar. Mas Ash tinha percebido.

Por causa dela, o bullying dentro da academia quase desapareceu.

Se algum estudante fosse pego machucando outros, as punições eram severas. Desde expulsões, repetição de um ano inteiro de estudos, até punições piores.

Por causa dela, Ash teve pelo menos um ou dois meses de paz durante seu período mais fraco. Aqueles poucos meses foram a única vez em que pôde respirar sem estar preocupado em sua segurança.

E por isso... ele lhe devia algo. Talvez não como pessoa, mas pelo menos como professora.

Embora, havia uma coisa que o incomodava.

Ela era muito curiosa e excessivamente grudenta. Sempre queria saber mais, especialmente sobre segredos.

Talvez isso fosse só um mau hábito dela?

"Entendo. Desde que todos estejam seguros, acho que está tudo bem."

Elva falou com tom uniforme, sua voz calma, sem nenhuma emoção aparente. Mas, para Ash, parecia estranhamente aliviada por todos terem saído com vida.

Havia uma sutil sensação de calor escondida por trás de suas palavras. Uma suavidade que fez seu coração sentir-se estranho por um momento.

Ela está aliviada por eu estar bem... ou talvez ela só quis dizer que todos estão seguros. Mas, mesmo assim, por que ela se importa? Não consigo compreender...

Aquela curiosidade silenciosa arranhava as bordas de seus pensamentos, recusando-se a desaparecer. E, no fim, acabou vencendo.

"Por que você se importa?"

Elva piscou, olhando para ele com uma expressão um pouco confusa, como se não entendesse exatamente o que ele quis dizer. Percebendo que suas palavras não estavam claras, Ash reformulou.

"Quer dizer... por que você se importa se alguém vive ou morre? Não são seus familiares ou amigos próximos, né? Então por que parece aliviada quando alguém termina vivo e bem?"

Ao ouvir isso, a expressão de Elva vacilou. Algo em seu rosto mudou. Seu olhar permaneceu fixo em Ash com uma intensidade estranha, como se ela estivesse avaliando silenciosamente, tentando descobrir que tipo de pessoa faria uma pergunta dessas.

Depois, ela respondeu, sua voz firme, mas sem ser rude.

"Você realmente precisa de um motivo para salvar alguém?"

Ash não respondeu de imediato. Seus olhos baixaram, e uma sombra sutil passou por seu rosto, como se uma cortina estivesse sendo lentamente puxada. Ele olhou para as mãos, com uma expressão difícil de interpretar—como se não quisesse que ela visse o que realmente estava pensando por trás daquele silêncio.

Porém, Elva não tinha terminado.

"Eu também sou humano, sabia? E se os humanos não ajudarem outros humanos, então quem ajudará? Você acha que os monstros que vivem nas masmorras vão se importar? Ou algum herói desconhecido que sempre aparece na hora?"

Suas palavras ficaram no ar, suaves, mas firmes. Ainda assim, os olhos de Ash se estreitaram um pouco. Havia algo nele que não podia concordar totalmente com aquela ideia.

"Acho que isso não basta," ele murmurou, sua voz carregada de um peso silencioso. "Não consigo aceitar esse raciocínio."

Ele levantou lentamente o olhar, sua expressão calma, mas com algo mais frio, mais cínico.

"E se a pessoa que você salva hoje se tornar uma assassina em série amanhã? Você se arrependeria então?"

"E se, na sua tentativa de salvar alguém, você acabar morrendo no lugar? Ou pior... e se alguém próximo a você morrer por causa dessa decisão? Como você conviveria com isso?"

"Você ainda acharia que salvar os outros é a coisa certa a fazer? Ainda sentiria alívio nessa situação?"

Sua voz ecoou suavemente pelo corredor, deixando uma sensação de silêncio pesado. Lá fora, as nuvens negras acima tinham engrossado, lançando sombras mais densas sobre tudo.

O ar parecia mais pesado, como se até o mundo tivesse pause por um momento para refletir sobre sua pergunta. A escuridão que os cercava ficava mais densa, pressionando os ombros deles, e de repente, tudo parecia um pouco mais frio.

Ela respirou lentamente, com calma, como se estivesse escolhendo cuidadosamente como responder... como se estivesse tentando encontrar a melhor forma de explicar algo que já tinha pensado mil vezes.

"... Talvez eu me arrependa," ela finalmente disse, sua voz suave... mas, havia algo inquestionavelmente sincero nela, como se não fosse a primeira vez que se perguntava isso.

"Talvez a pessoa que eu salvei seja alguém cruel, alguém que vai ferir outros sem hesitação... alguém que não merece a chance que eu lhe dei."

Seus dedos apertaram a janela com força, o suficiente para fazer uma pequena rachadura ao longo da moldura... mas ela não pareceu notar.

"E talvez... um dia, eu perca alguém que eu amo porque escolhi salvar a pessoa errada. Talvez eu até morra tentando ajudar alguém que não merecia... alguém que pode se virar contra mim assim que eu abaixar a guarda."

Ela olhou para o céu escuro acima deles por um momento, perdida em pensamentos.

"Mas mesmo assim... acho que eu não pararia."

Seu olhar voltou para Ash, firme e claro.

"Se eu começar a decidir quem merece ser salvo com base no que eles podem virar no futuro... então, realmente, sou diferente dos monstros contra os quais lutamos? Se eu escolho quem vive e quem morre com base em um futuro que não posso prever, o que isso faz de mim? Ainda serei humana nesse ponto? E se não, quem sou eu para fazer essa escolha? Humanos realmente têm o direito de decidir quem deve ser salvo ou abandonado?"

As perguntas não pareciam destinadas a ele... elas ficavam ali, como ecos de uma verdade com a qual ela tinha vivido por tempo demais, sem resposta e pesada.

"Você perguntou por que eu me importo?"

Sua voz ficou ainda mais suave, mas, de alguma forma, cada palavra ficou mais pesada... como se ela estivesse finalmente removendo a última camada do que realmente sentia.

"Eu me preocupo porque é a única coisa que posso fazer... é a única parte de mim que não quero perder. Tornar-se poderosa e tudo mais... tudo bem. Mas se, no processo, minha humanidade desaparecer... se você ficar forte, mas parar de sentir algo pelos outros... então tudo foi em vão."

Sua entonação não vacilou, mas havia uma sugestão de algo mais, algo bruto, enterrado por baixo dessas palavras calmas.

"E se isso significar que me chamem de ingênua ou tola... que assim seja. Prefiro ser uma tola que ainda sente, que ainda chora, que ainda Hope... do que alguém que passa pela vida sem sentir nada, sem cicatrizes, inalterado por qualquer um."

***

Estranho...

Ash pensou enquanto caminhava pelos corredores sombrios, o silêncio quebrado apenas pelo vento ocasional que passava por ele. Seguia em direção à aula de treino de combate, passos silenciosos sobre o piso de pedra.

Mas sua mente... ela estava em outro lugar. Ainda refletia sobre o que Elva tinha dito antes.

Sou humano, então devo ajudar humanos? Que tipo de lógica é essa...?

Ele não entendia qual raciocínio ela seguia. Não... se fosse honesto consigo mesmo, ele nem queria entender isso.

Ele já sabia que tipo de pessoa era. Egoísta. Aquele tipo que não hesitaria em deixar os outros morrerem se isso significasse atingir seus objetivos. Na verdade, ele não sentiu nada—nem mesmo culpa—na primeira vez que tirou uma vida humana.

Foi um dos subordinados de um supervisor da cidade, um homem corrupto que engolia as verbas destinadas ao orfanato, enquanto as crianças dormiam com fome em quartos frios.

Sim... Ser egoísta é muito melhor. Sim... muito melhor mesmo. Eu... não sou mais humano, acho...

Ash não sabia, mas as palavras de Elva estavam afetando-o de uma forma que ele não queria admitir. Embora a mudança não fosse tanta, suas palavras permaneciam como um eco silencioso na sua mente.

Antes que pudesse se prender demais nisso, viu um grupo de estudantes correndo apressados, suas vozes ecoando com empolgação.

"Vamos, corram! Se não, vamos perder."

"Sim, é um duelo entre Elysia e Ray!"

"Vai ser interessante. O Ray gosta da Elysia? Então por que ele foi o primeiro a desafiar ela...?"

Que diabo...?

Ash olhou para os estudantes passando e sentiu uma estranha inquietação crescendo no peito.