Poder das Runas

Capítulo 83

Poder das Runas

Irmão, ataque aquela garota por quem ele estava chorando. Se o empurrarmos para a ira, ele cometerá erros, e assim poderemos virar o jogo a nosso favor.

Ao ouvir essas palavras escorregando pela sua mente, os lábios ensanguentados de Zerak se curvaram em um sorriso sombrio, torto e sem esperança.

Seu olhar piscou em direção a Ash, que fazia uma curva desesperada, protegendo na frente as crianças inconscientes espalhadas atrás dele.

Então vamos fazer isso, Zerak respondeu através do fio invisível da telepatia, seus olhos estreitando-se com uma intenção cruel.

"Se você quer morrer com tanta vontade, deixe que eu seja o primeiro a te matar", disse Ash, sua voz firme e cheia de raiva fria, enquanto olhava para Miraak.

Ash estava prestes a atacar quando, de relance, percebeu Zerak correndo na direção de Elysia, que ainda estava inconsciente e completamente indefesa.

Esse filho da mãe realmente se atreve—!

Seu pensamento gritou.

Sem perder nem um segundo, Ash avançou como um raio. Ele apareceu ao lado de Zerak em um piscar de olhos, brandindo sua espada sem misericórdia.

A lâmina, brilhando com relâmpagos dourados, cortou o ar, na intenção de cortar as pernas de Zerak limpo.

Porém, de alguma forma, como se percebesse o ataque, Zerak torceu-se no último instante, jogando seu corpo de lado. A lâmina dourada passou raspando, rasgando o ar vazio.

Zerak roulou pelo chão, caindo de forma desajeitada.

Tsc.

Ash ficou na sua frente, protegido por seu corpo. Seus olhos, já cheios de raiva, agora pareciam ainda mais gélidos, até parecer que a temperatura de toda a sala caiu.

Do outro lado da sala, Miraak permanecia ao lado dos estudantes inconscientes. Flutuando acima deles, vários orbes negros pulsavam como corações escuros.

Grace, Aurora, Lyra, Irvin, Ethan, Ray e os demais não estavam ali com aquele grupo—eles tinham se espalhado pela sala durante a luta anterior, separados daqueles que se agarravam desesperadamente às bordas.

"HAHAHA! E agora, humano, o que vai fazer?!" Miraak gritou alto, sua risada forçada e tensa. "Proteja a garota ali, ou salve esses estudantes? Você não consegue salvar ambos!"

"HAHAHA! HAHAHA!" Zerak entrou na brincadeira, forçando uma risada, embora suas mãos tremessem levemente de medo.

Por dentro, ambos estavam em pânico. Tentavam ganhar tempo, pensar numa maneira de sobreviver ao monstro diante deles. Sabiam que, se tentarem escapar sem enfrentá-lo, um deles vai morrer.

Não tenho tempo pra essa besteira, pensou Ash, sentindo uma dor aguda pulsar dentro da cabeça.

Sua mente já estava exausta de usar Omni Thought repetidas vezes, e o efeito de retorno começava a se manifestar.

"Vai em frente," disse Ash em um tom baixo e gelado. Suas palavras ecoaram como trovão, silenciando de uma vez a risada patética deles. "Mate-os."

Ambos, Miraak e Zerak, pararam de repente, olhando para ele incrédulos.

"Mate-os," repetiu Ash, sua voz firme e inabalável, "e depois lave o pescoço e espere por mim. Eu virarei suas cabeças."

O peso de suas palavras deixou a sala em silêncio absoluto. Miraak e Zerak, apesar de tudo, sabiam que ele não estava blefando.

Sentiam a força intangível girando ao redor de Ash, tornando-se mais pesada e afiada a cada respiração que ele dava.

"Q-Como assim... Como você deixa seu povo morrer?!" Zerak gaguejou, o horror se misturando à sua voz.

Ash deu uma risada desdenhosa, olhando para Zerak como se fosse algo nojento grudado no solado de sua bota. Sua voz cortou o silêncio pesado como uma lâmina:

"E daí? Que se dane. Eles podem se virar. A academia devia protegê-los, mas isso é problema deles, não meu. Mate-os, salve-os, queime tudo — não me importo mais."

Antes mesmo que Zerak pudesse entender aquelas palavras, o corpo de Ash se turvou. Em menos de um segundo, apareceu na sua frente.

A espada moveu-se com velocidade assustadora, sua lâmina mirando direto na garganta de Zerak.

Mas Zerak reagiu por puro instinto. Quase lhes faltou conseguir torcer seu corpo a tempo, mas a lâmina ainda penetrou fundo ao lado dele, logo abaixo das costelas. A dor ardente explodiu no peito dele enquanto sangue jorrava da ferida.

Vou morrer...?

Esse pensamento passou rápido pela mente de Zerak antes que a chute de Ash acertasse seu rosto, levando-o a uma queda violenta no chão, com um baque nauseante.

A gente... cometeu um erro... vindo pra cá?

Esses foram seus últimos pensamentos antes que sua visão escurecesse, seu corpo caindo ao chão.

"Irmão!!"

Um grito de Miraak, cheio de dor e desespero, cortou a sala como uma lâmina de pura agonia, mas Ash sentia nada além de uma satisfação fria e implacável bem no fundo do seu peito vazio.

"SEU FILHO DA P*TA!" gritou Miraak, sua voz trincando de raiva, "COMO VOCÊ OUSOU MACHUCÁ-LO?! EU VOU MATAR TODO MUNDO QUE VOCÊ SE IMPORTA! E DEPOIS VOU MATA-LO EU MESMO! VOU FAZER VOCÊ SENTIR—"

"Cale a boca," interrompeu Ash friamente, sua voz, monótona e sem emoções, esmagando a explosão de Miraak.

Ele avançou lentamente, mexendo sua espada no ar para limpar o sangue da lâmina.

"De qualquer jeito, você vai morrer aqui," disse Ash, com tom chato e indiferente. "Como pensa em manter todas aquelas promessas idiotas?"

Palavras desafiadoras, provocações a Miraak, mas sua mente já calculava o próximo passo.

Os orbes continuavam pairando ameaçadoramente, seu poder zumbindo no ar, ameaçando a vida dos inconscientes. Ash sabia que não podia deixar aquilo acontecer.

Ele não matou Zerak à toa.

Não podia arriscar que a fúria de Miraak se voltasse para os estudantes. Não se importava com a vida deles, mas sabia que Elysia ficaria triste se ela soubesse que todo mundo aqui morreu.

Tsc, não quero ouvir ela reclamando depois.

Se estivesse sozinho, não hesitaria em deixar os outros morrerem. Eles não significam nada para ele.

Embora Elysia não o odeie por deixá-los sucumbir, Ash sabia que ela ficaria devastada. E esse peso era insuportável.

Parece que o amor cegou pra mim... mas o que posso fazer? É o que é.

Depois de perdê-la uma vez, sinto que até poderia lutar com deuses por ela.

Enquanto isso, Miraak, agora consumido pela fúria, virou toda a atenção para Ash.

Os orbes negros que pairavam ameaçadoramente sobre as crianças, com um movimento de seu pulso, rodearam Miraak.

"VAMOS VER COMO VOCÊ SOBREVIVE A ISTO!!!"

Miraak gritou, com a voz carregada de veneno. Sua raiva atingiu o pico, e os orbes começaram a se mover, ganhando velocidade e poder, indo direto para Ash.

Enquanto os orbes avançavam, Ash os observava com um sorriso frio.

Parece que a aposta deu certo.

Pensou enquanto sua espada cortava o ar com um arco afiado.

Relâmpagos dourados estalaram, cortando o orbe mais próximo, mas Miraak já tinha antecipado o movimento.

Os demais orbes espalharam-se, cercando Ash por todos os lados.

Você não consegue ver todos eles, humano.

Os olhos de Ash vasculharam os orbes ao seu redor. Seu coração acelerou, mas ele não deixou a pressão afetar seu foco.

Com uma torção rápida do corpo, seus pés firmaram-se no chão. Seu olhar permaneceu sem piscar, firme.

Todos os músculos dele estavam se quebrando e se reconstruindo, mas sua atenção estava apenas nos orbes ao redor e então, ele atacou.

ARRANCO!!!

ARRANCO!!

EXPLODIU!!

EXPLODIU!!

Cada orbe explodiu violentamente ao ser atingido, sua espada cortando com brutal eficiência. Mas os orbes eram implacáveis.

A cena de luta parecia engolida pela escuridão, como se lutasse de dentro de uma noite sem fim.

Mais orbes se formaram com a energia demoníaca que girava ao redor de Miraak, rodeando Ash como uma tempestade.

Eles se moviam em perfeita sincronização, fechando o espaço ao seu redor, apertando a pressão na sala. A atmosfera ficou pesada, sufocante.

A dor de cabeça aumentava, Tsc

Os pensamentos de Ash zuniam enquanto seus olhos vasculhavam os orbes. Com cada golpe, sua lâmina cortava a tempestade, deixando rastros de relâmpagos dourados por onde passava.

Os orbes explodiam em rajadas de energia escura, mas sempre mais surgiam—maiores, mais fortes, convocados por Miraak para substituir os destruídos.

E Miraak ficava cada vez mais desesperado, mais frenético.

O ar encheu-se com o cheiro forte de energia queimada, o chão tremia sob a força da batalha.

Os lábios de Miraak torceram-se em uma carranca. Ele sentia o fim se aproximando.

Sabia que o tempo dele estava acabando.

Os orbes ao redor dele piscavam fracamente, sua luz escura se apagando, sinal de que sua energia começava a se esgotar.

Mas Miraak tinha uma última cartada.

Nunca imaginei que fosse chegar a esse ponto, tendo que fazer 'aquilo'.

Um sorriso maligno, tortuoso, se estendeu em seu rosto enquanto ele cravava suas garras profundamente no peito, segurando seu próprio coração.

Sua respiração ofegante acompanhava o quê? A queimar sua linhagem sanguínea ancestral — o sangue de um dos sete demônios overlords.

"AARHRHHHHHHHHHHH!!!"

Um grito rouco rasgou sua garganta enquanto seu corpo estremeceu violentamente de dor. Seu sangue queimava enquanto era consumido pela magia negra que ele havia liberado.

Uma onda de poder explodiu dele, girando como um redemoinho. Seus traços se distorceram, e seu aspecto se tornou completamente demoníaco, consumido por suas origens.

O ar crepitava com energia malévola, e o chão sob seus pés virou e se abriu. A força de seu poder rasgou o próprio tecido da realidade, deformando o espaço ao redor.

Por um breve momento, a espada de Ash desacelerou, pegas de surpresa pela onda opressiva de energia que o atingiu.

Seu corpo cambaleou e sua Aura Primordial e a Aura do Linhagem de Miraak colidiram no ar com um grito estridente.

SCHIIIIIIIIIIIII!!!!!!!

"HAHAHAHAHHH HAHAHA"

Logo, a risada de Miraak preencheu o ambiente.

"Vamos morrer juntos, HUMANOS!"

Ele ergueu os braços alto, e os orbes restantes voltaram-se para ele, crescendo e multiplicando seu poder a uma velocidade assustadora.

Brilhando com uma luz vermelha macabra, vibrando com a fúria bruta do sangue demoníaco de Miraak.

Que irritante!!!!

Pensou Ash enquanto apertava ainda mais sua espada, relâmpagos dourados estalando na lâmina, formando um contraste evidente com a energia negra e sanguinolenta que girava ao redor de Miraak.

Com um rugido, Miraak lançou os orbes novamente contra Ash. Mas, desta vez, eles não buscavam apenas destruição—estavam famintos.

Giratando, deformando-se e estendendo-se para drenar a própria essência de Ash.

As mãos de Miraak moviam-se freneticamente, enviando os orbes rodopiando como um tornado mortal, cercando Ash com uma precisão que parecia impossível.

Os músculos de Ash gritavam de protesto enquanto ele depositava mais mana em seus golpes, cada movimento cortando a tempestade de orbes.

Sua espada abriu um caminho sangrento entre os ataques, mas quanto mais orbes destruía, mais Miraak os convocava de novo.

"EU VOU FICAR MORRENDO VOCÊ SE ARREPENDER DE LUTA COMIGO!" gritou Miraak, seu corpo brilhando com veias vermelhas de fogo, enquanto investia mais de sua linhagem na magia.

Coração de Ash pulsava forte. Não era mais uma batalha de força ou velocidade — virou uma batalha de vontades.

Ele está queimando sua linhagem? Nunca fez isso na história... Droga!

Miraak tinha ativado algo antigo, primal, e Ash estava ficando sem tempo.

Miraak sorriu, percebendo a vitória no ar. Os orbes eram muitos demais, poderosos demais — e Ash vacilava.

"Você não consegue vencer, humano. Eu vou te quebrar!" gritava Miraak, sua voz cheia de malícia, uma promessa sinistra que arrepiou Ash até os ossos.

De repente, os orbes que atacavam Ash mudaram de direção, ganhando velocidade mortal, em direção a Elysia.

"Vou tirar a vida dessa garota e fazer você sentir desespero!" gritou Miraak, com um sorriso cruel no rosto.

O rosto de Ash se distorce ainda mais, parecia impossível um humano fazer uma careta desse jeito.

Sem hesitar, ele avançou rápido, espada levantada. Raios de relâmpago brilhavam na lâmina.

Alcançou Elysia num movimento borrado, sua espada piscou de desespero enquanto cortava os orbes que vinham em sua direção. Ele não consegue contar quantas vezes balançou — parecia uma eternidade.

Apesar da força de seus golpes, os orbes de Miraak continuavam a se multiplicar, suas sombras negras apagando a luz da sala.

Por causa disso, alguns orbes acertaram nele — atravessando sua defesa.

Seu corpo, que mantinha um equilíbrio delicado entre vida e morte por causa da sobrecarga do núcleo, ficou instável.

O poder de cura da Runa desacelerou, tornada lenta e pesada pela energia demoníaca e pela linhagem de nulificação dos orbes.

A pressão ficava insuportável. Seus golpes lentos, seus movimentos pesados. Cada ataque cobrava seu preço. Seu corpo, já quase à beira de colapsar, estava à beira do colapso total.

Seus núcleos começaram a trincar pelo excesso de uso de seus poderes. A única coisa que o mantinha vivo era o Omni Thought.

Mas até sua mente começava a escorregar. A dor aumentava, sua dor de cabeça atingia níveis insuportáveis.

Droga!!

Sua pele queimava a cada respiração dolorida, seus movimentos desaceleravam, pois sua cura não acompanhava mais.

E então, algo aconteceu.

A barreira negra ao redor da sala—aquela formada pelos demônios—tremeu violentamente, como se estivesse prestes a rachar.

Fendas cruzaram sua superfície, seguidas por um som ensurdecedor de explosões que sacudiram a estrutura sob eles, e o coração de Ash caiu.

Ambos, Ash e Miraak, ficaram com os olhos arregalados de urgência.

Não, não, não agora, pensou Ash freneticamente, enquanto a realidade da situação o apertava cada vez mais.

CRAC!!!

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