
Capítulo 84
Poder das Runas
BROOM!!!!!
Uma onda invisível de energia começou a se espalhar silenciosamente por toda a área ao redor da barreira.
Não havia nada de estranho aqui, pensou Elva, enquanto seu olhar se desviava para Melissia, que permanecia ao seu lado em silêncio.
Posso realmente confiar no que ela disse? A dúvida permanecia na sua mente, apertando seu peito.
Elva não conseguia afastar sua suspeita. Como Melissia tinha acesso a informações tão sensíveis? Não parecia algo que se pudesse simplesmente descobrir por acaso ou ouvir de relance.
E ainda assim, estávamos aqui. Elva não conhecia a verdade por trás disso, e parte dela não queria saber.
Porque, neste momento, a origem da informação não importava.
O que importava eram as vidas das crianças presas dentro da barreira. Essa realidade pesava sobre ela como um fardo. Seja a informação confiável ou não, ela não tinha escolha a não ser agir com base nela.
"Eu revirei toda a área com cuidado," disse Elva em voz alta, voltando-se para Melissia, "e acabei de fazer uma nova inspeção agora há pouco. Não há absolutamente nada suspeito por aqui."
Melissia permaneceu em silêncio, seu olhar fixo no ponto escuro da superfície da barreira sob seus pés.
Elas estavam atualmente no topo da barreira mágica, observando-a de cima.
Ao ouvir as palavras de Elva, Melissia lentamente fechou os olhos. Começou a recordar as palavras exatas que Ash tinha lhe dito mais cedo.
***
Flashback..
Era logo após o início do banquete. Entre os estudantes do primeiro ano, Ash foi o primeiro a chegar.
Seu olhar logo percebeu a Orb de Isolamento do Espaço Avançado — um artefato raro e perigoso — sendo segurada pelos demônios.
No momento em que viu, o coração de Ash afundou. Ele percebeu imediatamente que seu plano original já não serviria mais.
De acordo com os eventos do romance, assim que todos os estudantes se reuniram no banquete, Elva deveria oferecer seus parabéns aos segundo anos.
Era um momento formal, uma tradição. Após seu breve discurso, ela — junto com os demais instrutores — sairia do local do banquete, dando aos estudantes tempo para relaxar e interagir livremente, sem supervisão.
E foi justamente nesse intervalo — quando os instrutores haviam se afastado — que os demônios do romance fizeram seu movimento.
Foi quando eles ativaram a barreira.
Ash havia pensado em várias possibilidades. No romance, os demônios usaram um artefato poderoso para prender todos. Mas será que era necessário seguir exatamente o mesmo método?
Depois de tudo, o futuro mudou.
Eles poderiam alterar a estratégia, atacar em um momento diferente, usar uma ferramenta diferente.
Era tudo possível.
Ash tinha considerado infinitas variações do que poderia acontecer. Ele tinha planos de contingência para cada uma. Mas, ao ver a Orb de Isolamento do Espaço Avançado na posse dos demônios com seus próprios olhos, tudo se encaixou.
Estavam seguindo o plano original do romance.
Apenas — desta vez — mais avançado.
A estratégia dele até então tinha sido relativamente simples. Enquanto Ray e os outros estudantes enfrentavam os demônios presos dentro da barreira, Ash iria localizar e destruir a fonte da própria barreira.
Ele já sabia o que era e onde estaria escondida. Esse conhecimento lhe dava uma vantagem crítica.
E, uma vez destruída a barreira, os instrutores — que estavam fora dela — poderiam romper e intervir.
Mas agora, com a Orb de Isolamento do Espaço Avançado envolvida, tudo mudou.
A Orb de Isolamento do Espaço Avançado funciona de forma diferente. A fonte da barreira não estaria mais dentro, mas fora dela.
Esse era um conhecimento extremamente raro. A orb não era um item mágico comum.
Requeria materiais raros encontrados no reino dos demônios, muita potência e um tempo considerável para ser criada.
Poucas pessoas reconheceriam sua verdadeira capacidade, muito menos entenderiam seu funcionamento completo.
E mesmo entre essas poucas, uma vez alguém preso dentro da barreira, não conseguiria escapar — a não ser que fosse o criador ou o usuário da orb.
Ninguém comum saberia disso. Mas Ash não era uma pessoa comum. Era um leitor de romances. Tinha lido sobre isso nos capítulos finais da história.
Percebendo isso, Ash rapidamente reformulou seu plano. Se ele não podia destruir a fonte por si próprio, teria que encontrar alguém que pudesse fazê-lo.
Mas em quem confiaria com uma informação dessas?
Não podia simplesmente se aproximar de um instrutor e contar. Eles nunca acreditariam em um estudante do primeiro ano sem provas, e isso também o colocaria em perigo desnecessário.
Podiam ficar desconfiados e interrogá-lo — ou pior.
Ele precisava de alguém que não fosse facilmente duvidado ou prejudicado.
Alguém intocável.
Alguém nascido em berço de ouro, pensou consigo mesmo.
A lógica era clara.
Se a criança de um Santo — ou alguém de uma origem influente — entregasse essa informação, mesmo que os instrutores suspeitassem, não ousariam agir de forma dura contra ela.
Ash analisou suas opções e decidiu pela única pessoa que conhecia pessoalmente que atendia a esses critérios.
Melissia.
Sem perder tempo, entrou em contato com ela e saiu discretamente do salão do banquete.
Movendo-se de forma rápida e cautelosa, foi até o ponto de encontro designado — felizmente, não ficava muito longe do local do evento.
***
Quando Ash chegou ao local, respirou fundo e esperou. Não passaram nem poucos minutos até Melissia chegar.
Ela vestia um vestido preto, detalhadamente adornado com delicados desenhos de rosas vermelhas. Seu cabelo, bem preso, enquadrava seu rosto com elegância.
Ela estava deslumbrante, irradiando uma beleza capaz de tirar o fôlego de quem a enxergasse.
Mas Ash não percebeu nada disso. Sua mente estava demasiado carregada de urgência, o peso da situação pressionando-o.
"Desculpe chamar você assim de repente," começou, com a voz baixa, mas firme. "Mas isso é urgente — e só você pode fazer."
Melissia o encarou, com olhar firme e sem piscar. A garota temperamental e impetuosa que ele lembrava parecia ausente, substituída por uma versão mais madura, mais serena. Mesmo assim, uma tênue tonalidade vermelha tingia suas bochechas, traindo suas emoções.
Ela sentiu uma pontada de tristeza por Ash não ter sequer olhado para sua aparência — nem uma palavra sobre como ela parecia. Fazia tanto tempo desde a última conversa, e ela tinha esperado por algo... qualquer coisa.
A última troca de palavras foi quando Ash veio buscar sua recompensa por vencer uma aposta.
"O que foi?"
Seu tom era calmo, suave, sem qualquer traço de raiva.
Ash não perdeu tempo. Explicou a situação — os demônios, o banquete, e o que poderia acontecer em breve. Não entrou em detalhes mais profundos, apenas o suficiente para ela agir.
Enquanto ela ouvia, um susto passou pelo rosto de Melissia.
"Não deveríamos contar aos instrutores?" ela perguntou, com a voz levemente elevada de preocupação.
Ash encarou-a seriamente. "O que você vai dizer para eles? Como conseguiu essa informação?"
Melissia abriu a boca para responder, mas hesitou. O peso das palavras dele caiu sobre ela. Depois de uma pausa, fez a pergunta inevitável.
"Então... como você soube disso tudo?"
Os olhos de Ash se endureceram levemente, mas sua voz permaneceu firme.
"Depois que tudo acabar, eu explicarei tudo. Mas, por enquanto, o mais importante é você ficar fora do salão do banquete. Quando a barreira subir, você deve imediatamente informar a Instrutora Elva."
Melissia concordou, a gravidade da situação pesando sobre ela.
"Certo," ela disse seriamente, "vou fazer isso."
Ash continuou, com uma voz mais firme: "E lembre-se do que eu te disse — essa barreira é forte o suficiente para expulsar até alguém de Rank Mítico. Se tentarem investigar ao redor, não vão encontrar nada suspeito. Afinal, se a barreira consegue expulsá-los, como poderiam identificar sua origem?"
Ele fez uma pausa para organizar suas ideias.
"Não vou explicar detalhes técnicos de como o dispositivo funciona — honestamente, nem eu sei tudo. Mas," enfatizou,
"A única maneira de encontrar a origem da barreira é observar até os menores detalhes ao redor dela. Por mais normal que algo pareça — uma pedra, uma árvore, uma flor — pode ser qualquer coisa."
Melissia concordou novamente, agora com expressão totalmente séria, carregando o peso da responsabilidade que Ash lhe havia confiado.
***
Ao abrir os olhos, Melissia se virou para Elva e repetiu as palavras de Ash, com voz firme, porém urgente.
"A barreira é forte o suficiente para expulsar até alguém de Rank Mítico. Se ela consegue fazê-los sair, como poderiam detectar sua origem?"
Depois de ouvir isso, Elva ficou em silêncio por um momento. Uma leve vergonha surgiu em seu rosto, pois, embora fosse extremamente poderosa e experiente, não tinha considerado uma evidência tão óbvia.
Mas Melissia não parou aí: "A origem da barreira pode ser qualquer coisa. Pode ser uma pedra comum, uma árvore, uma flor, ou algo que pareça completamente inofensivo. Mas encontrá-la vai —"
Antes que Melissia pudesse terminar, Elva a interrompeu. Seus olhos se aguçararam, e um brilho repentino apareceu, como se ela tivesse percebido algo importante.
"Você disse que poderia ser até a menor coisa, certo?" perguntou Elva.
Melissia assentiu rapidamente, um pouco confusa com a urgência na voz de Elva.
"S-sim," respondeu, insegura.
Elva voltou o olhar para a área ao redor da barreira. Os arredores já haviam sido limpos de pessoas, e os guardas garantiram que ninguém, nem estudantes nem funcionários, estivesse por perto.
A área vazia estava cheia de pequenas construções, trechos de árvores, flores coloridas e várias rochas espalhadas.
"Se fizermos isso do jeito tradicional, inspecionando cada objeto um por um, levaria muito tempo," disse Elva, com a voz ficando mais pesada a cada palavra. "Não podemos perder tempo agora."
"Então, vamos destruir tudo. As construções podem ser reconstruídas, as árvores podem ser replantadas — mas vidas humanas, essas nunca voltarão."
Ao ouvir isso, Melissia se sentiu extremamente idiota por não ter pensado nisso ela mesma.
Nem Ash tinha sugerido isso... mas talvez ele estivesse contando com Elva descobrindo por conta própria.
No fundo, ele devia acreditar que Elva, com sua experiência e inteligência, encontraria a melhor solução sozinha.
Após decidir, Elva lentamente levantou a mão ao alto. Uma aura violeta profunda emanou dela, envolvendo-a como uma segunda pele de pura energia.
A pressão que sua aura emitia era tão forte que o ar parecia mais denso e pesado, mas, de alguma forma, Melissia permaneceu firme, sem ser afetada pela força.
No entanto, não podia deixar de se sentir maravilhada com a força de Elva.
Incrível...
Havia algo diferente em Elva comparada à Nyra, mas Melissia não conseguia exatamente nomear o que era.
Enquanto ela estava perdida em seus pensamentos, viu Elva apontar o dedo para frente. Um pequeno círculo de magia, altamente complexo, apareceu na ponta do dedo de Elva, brilhando suavemente.
Com movimentos calmos e firmes, Elva direcionou o círculo mágico ao chão.
No instante em que seu dedo tocou o chão, a gravidade começou a chiar.
No começo, o aumento da gravidade foi tão sutil que mal pôde ser percebido. Mas, em segundos, a força ficou cada vez mais intensa, até parecer que uma mão invisível estava esmagando tudo abaixo dela.
As árvores começaram a se partir e ranger sob o peso extremo, seus troncos se quebrando como gravetos finos.
Rochas se pulverizaram em pó, flores delicadas murcharam instantaneamente, incapazes de resistir nem um momento a mais.
Edifícios desabaram, o chão tremeu.
Era pura destruição.
No meio de toda essa devastação, uma árvore pequena permaneceu de pé.
Mesmo com a força da gravidade tão potente a ponto de esmagar pedra, aquela pequena árvore nem sequer perdeu uma folha. Estava lá, intacta, aparentemente normal, mas de alguma forma diferente de tudo ao redor.
Quando seus olhos se fixaram nela, Elva sorriu com uma expressão de confiança.
Encontrei.