
Capítulo 89
Poder das Runas
"NANCYYYYYYYY!!"
Um grito torturante rasgou a garganta de Ash enquanto seu corpo se endireitava na maca da enfermaria, suado, com o peito arfando como se o ar tivesse ficado denso demais para respirar.
Seus olhos se abriram de repente, selvagens e vazios. Ele vasculhou freneticamente as paredes brancas e estéreis ao seu redor.
Onde estou…?
Os lençóis limpos sob ele, o som suave dos aparelhos médicos e o cheiro sutil de desinfetante lhe deram a resposta.
Enfermaria…?
"Foi um sonho…?" ele murmurou, a voz quase um sussurro, ainda agarrado aos fragmentos do pesadelo—não, da memória—que acabara de despedaçá-lo por dentro.
Espera. Elysia…?
De repente, seu coração acelerou com um medo profundo.
"Onde ela está?" perguntou em voz alta, a voz carregada de tensão enquanto jogava a coberta para fora e se levantava.
Suas pernas tremeram, o movimento súbito foi demais para seu corpo em recuperação, mas ele se segurou e respirou fundo, procurando manter o equilíbrio.
Exatamente quando estava prestes a abrir a porta, ela se abriu sozinha.
Uma mulher com uniforme branco de curandeira estava na sua frente, a mão ainda levantada como se estivesse prestes a bater na porta.
"Ah! Estudante Ash, você acordou—" ela disse, surpresa agradável.
Mas Ash não parou. Passou por ela como se ela fosse invisível e seguiu andando pelo corredor.
Elizabeth, a responsável pela enfermaria na Academia, piscou surpresa.
Ela tinha sido encarregada de verificar cada estudante inconsciente após o ataque do demônio.
A maioria já tinha recobrado a consciência, exceto os feridos mais graves.
Sinceramente, ela não esperava muita coisa de Ash—ele era o último da ranked, afinal.
Ninguém de cabeça fria acreditaria que alguém como ele tinha lutado contra demônios.
Por isso, ao vê-lo acordado, sentiu um alívio—pelo menos, seu trabalho ficaria mais fácil agora.
Mas então…
Ele simplesmente ignorou ela…?
No entanto, Elizabeth não deixou sua compostura escapar. Uma boa curandeira nunca se deixa abalar por um paciente, por mais rude que seja.
"Você ainda deveria estar descansando. Mesmo que não tenha lutado na batalha, sua condição—"
Ela parou de falar no meio da frase. Ash tinha se voltado para ela.
Seus olhos azuis agora não estavam mais distantes ou nublados. Estavam afiados. Frios. Ardendo com uma intensidade que ela nunca tinha visto antes.
E naquele olhar, Elizabeth percebeu algo que nunca tinha sentido de um estudante antes—uma intenção de matar.
"Onde está Elysia?" ele perguntou, a voz baixa e firme—não mais o tom frágil de alguém que quase não se sustentava há pouco.
Elizabeth hesitou.
Aquela garota… ela não estaria sendo curada pela Santa Myra?
Ela lembrou das ordens rígidas.
Não se permitia que ninguém se aproximasse da sala enquanto as Santas trabalhavam na garota.
A energia demoníaca em seu corpo era instável.
"Você não—"
"EU perguntei, ONDE ELA ESTÁ?" a voz de Ash tremeu como trovão no corredor silencioso.
Sua presença intensificou-se, e por um momento, Elizabeth esqueceu que era a chefe das curandeiras. Esqueceu seu orgulho, sua posição, sua experiência.
Tudo que sentiu foi o medo por trás de suas palavras.
Mas ainda assim, ela retraiu os lábios e mascarou o medo com um sorriso educado.
Hmph. Você acha que pode me tratar assim? Só esperar.
"Sala Nº 234," ela disse secamente. "É lá que ela está."
Aash não lhe agradeceu. Nem olhou para trás. Seguiu andando—não, cambaleando—pelo corredor, cada passo mais pesado que o anterior.
Seu corpo estava ferido; não havia feridas externas, mas seus núcleos estavam quebrados.
Se não fosse pelo Feitiço de Ocultamento, que continuamente suprimia a aura primordial caótica e tempestuosa que surgia dentro dele, toda a enfermaria poderia ser destruída apenas por sua aura.
Sua Aura tornou-se caótica e Violenta após seu núcleo ser danificado
E mesmo assim, através da dor, ele avançava.
Em direção a ela.
***
Dentro da Sala 234:
"Como ela está?" Nichole perguntou à Santa Myra, que permanecia calada ao lado da cama de Elysia, com as mãos brilhando com uma luz suave e divina.
A expressão de Myra era séria enquanto sustentava a palma da mão acima da garota inconsciente.
"A energia demoníaca está bem presa à força vital dela," disse, em tom baixo. "Se tentarmos extraí-la à força, pode romper seu núcleo… ou até parar seu coração. Mas se deixarmos como está, ela pode ser consumida lentamente de dentro para fora."
Ela olhou para os demais no quarto.
"Resumindo, ela vive prestes a acabarem com seu tempo—seis meses. Isso é o máximo que ela pode. Talvez menos."
O silêncio que se seguiu não foi apenas quietude. Era sufocante. Como se o próprio ambiente estivesse acorrentado pela dor.
Os Santos tinham se reunido na esperança de encontrar uma cura. Mas, ao invés disso, encontraram um beco sem saída.
"E quanto à sua magia da natureza?" Nichole perguntou, voltando-se para Lydia.
Lydia balançou a cabeça lentamente. "Como já disse antes… está além das minhas capacidades. A menos que—"
"—A menos que busquemos ajuda dos Elfos," Alice completou, terminando o pensamento.
Myra assentiu. "A antiga Magia da Vida deles talvez seja forte o suficiente para separá-la."
Mas então—
"Não podemos fazer isso," disse Lucas abruptamente. "Os Elfos não são nossos aliados. Com demônios atacando o mundo, eles vão exigir mais do que ouro. Vocês sabem o quão irracionais eles são."
"Então, o que, ficamos parados?" Lydia retrucou, irritada.
"Estou dizendo que devemos considerar todas as opções," respondeu Lucas, frio. "Se não há como salvá-la… então talvez acabar com ela sem dor seja mais gentil do que vê-la sofrer—"
BAAM!!
A porta da Sala 234 quebrou-se ao meio.
"Quem vocês pretendem matar!?"
Uma voz fria seguiu a pancada.
Bem… não esperava que ele invadisse assim…
Lucas se virou, observando o estudante que agora se posicionava diante deles.
Todos—cada Santo na sala—haviam percebido alguém espionando lá fora. Mas, por ser apenas um estudante, possivelmente um amigo da garota, não haviam intervido.
Porém, não esperavam que sua reação fosse carregada de raiva e sede de sangue.
"E você quem é?" perguntou Mark, com autoridade na voz.
Mas Ash não respondeu. Ignorou Mark completamente.
Seu olhar ardia com tamanha intensidade que até os Santos levantaram sobrancelhas, intrigados.
Ele caminhou em direção a ela com passos lentos e deliberados.
Fúria e foco na mesma medida.
Chegou ao seu lado e parou.
Seus olhos se suavizaram.
O rosto dela, sereno mesmo enquanto dormia, estava pálido—mas ainda assim, belo.
Mais uma vez? Não posso perder você de novo. Nem para o destino. Nem para os demônios. Nem por misericórdia deles.
Ele segurou sua mão suavemente, quase com reverência, e começou a transferir mana para ela.
Os Santos não impediram.
Simplesmente assistiram.
Até Mark permaneceu em silêncio, observando a cena com curiosidade.
Afinal, não é todo dia que um menino de 12 anos ignora eles abertamente.
Alguns segundos se passaram.
Ash retirou a mão do dela e a colocou delicadamente na testa da garota.
Elfos, hein…
Ele murmurou o pensamento, silencioso, antes de se inclinar para levantá-la—
Uma mão o parou no meio do movimento.
Ele se virou.
E, ao fazê-lo, o ar se adensou.
A intenção de matar dele transbordou como uma tempestade — embora nenhum deles fosse afetado por ela.
Ele não usou a Aura do núcleo primordial na sua intenção de matar, porque sabia que o núcleo era trincado e seu poder caótico, provavelmente, faria com que ele perdesse o controle, prejudicando Elysia, além do fato de não querer mostrar tudo que possui ao possível inimigo.
"O que você acha que está fazendo?" perguntou Myra, com a mão ainda no seu ombro.
"Estou fazendo o que nenhum de vocês tem coragem de fazer," disse Ash, a voz cortante. "Agora, tire sua mão."
"Pode haver um mal-entendido aqui," interveio Maelis. "Você talvez não perceba com quem está falando—"
"Sei exatamente com quem estou falando," interrompeu Ash. "As Sete Santas da Humanidade, faróis de esperança, guardiãs do reino… que piada."
Lucas apertou os olhos. "Então você sabe que não deve ser tão insolente—"
Mas Ash não deixou.
"Insolente? Você acha que isso é isso?" sua voz subiu de tom a cada palavra. "Ficar aqui, implorando pela vida dela, é 'insolência'? Deixe-me dizer uma coisa, seu filho da puta—se fosse sua filha nesta cama, você não estaria falando de mortes indolores. Se fosse Melissia e não Elysia, já teria enviado exércitos contra os demônios e os Elfos!"
"Você acha que não vejo? Que não sei?"
Ele deu um passo à frente, o tom mudando de raiva para algo muito mais perigoso—uma convicção gelada.
"Você se esconde atrás de títulos. Por trás de palavras como 'lógica' e 'sacrifício'. Mas a verdade é simples—você só não se importa. Porque ela não é sua."
"Não ouse agir como se fosse racional. Você só tenta se aproveitar da situação."
"E eu não estou bravo com você. Até entendo. É isso que torna tudo pior—eu entendo demais."
"Se ela não estivesse aqui… eu também não estaria."
"Eu não te odeio, isso é só a natureza humana," disse Ash, quase com calma agora. "Nem estou surpreso."
"Não estou decepcionado—você só confirmou o que eu já acreditava."
Ele virou-se novamente em direção a Elysia, preparando-se para levantá-la.
"Mas se algum de vocês tentar me impedir…"
Antes que pudesse terminar, Lucas soltou uma ficha de sua Aura em direção a Ash. Não era avassaladora—apenas uma ponta, para humilhar o garoto e fazê-lo ajoelhar-se por sua insolência.
"…não será bom para vocês no futuro."
Nenhum dos Santos se moveu para detê-lo. Ao contrário, ficaram assistindo, divertidos, esperando que o garoto colapsasse.
Mas o que aconteceu a seguir os deixou de queixo caído.
No instante em que a Aura se aproximou de Ash—ela desapareceu, devorada completamente.
E Ash nem sequer percebeu.
O que foi aquilo…?
Lucas franziu a testa, confuso. Librou mais pressão—mas o resultado foi o mesmo. A Aura desapareceu na hora em que se aproximou de Ash.
Movido pelo descrédito, Lucas liberou toda sua Aura sobre o garoto.
Mas nada mudou.
Ash permaneceu firme, levantando Elysia em seus braços como se carregasse uma pluma, como se o mundo ao redor dele não tivesse mudado.
Os outros Santos assistiam, cada vez mais chocados. Se tanta pressão fosse direcionada a qualquer outra criança, ela já teria morrido ali mesmo.
Que diabos é esse garoto? ficou ecoando na cabeça de todos.
Enquanto isso, dentro de Ash, o Núcleo primordial trincado pulsava fraco.
A cada toque da Aura de um Santo, ela era consumida, absorvida nas rachaduras, transformando-se em energia que lentamente curava seu núcleo ferido.
Lucas, incapaz de aceitar, usou a telepatia para perguntar aos outros:
[Soltem sua Aura. Quero ver se há limite.]
Alguns hesitaram—mas ao olhar para Ash, de pé, impassível, cederam à curiosidade.
E assim, liberaram sua pressão divina.
BOOM.
O ar tremeu sem um som. Uma pressão mais pesada que montanhas encheu a câmara—controlada, condensada, mas sufocante.
No entanto, nada no ambiente foi danificado. Mesmo Elysia, ainda inconsciente nos braços de Ash, permaneceu intocada.
Mas os Santos… agora suavam frio.
Olhando para o garoto que se mantinha sob o peso de toda aquela força—e não avermelhou nem uma gota.
Nem uma vez.
Que… diabos ele é?
Quando Ash estava prestes a sair da sala, Nichole finalmente falou.
"Espera, Ash!"
Ash parou e se virou lentamente. Seus olhos— frios, afiados, cheios de sede de sangue—encontraram os de Nichole.
A diretora segurou seu olhar e soltou um suspiro.
"Para onde está levando ela? Se for para os Elfos… você não sabe o quão irracionais eles são com estranhos. Podem fazer dela uma refém. Você pode acabar colocando ela em mais perigo."
Ele deu um passo à frente, com voz firme, porém sem ser cruel.
"Apenas fique aqui. Como Diretor desta academia… assumirei a responsabilidade e negociarei diretamente com eles."