Poder das Runas

Capítulo 90

Poder das Runas

\"Para onde você está levando ela? Se vocês estão indo para os Elfos… vocês claramente não entendem o quão imprevisíveis eles podem ser com estranhos. Existe uma chance real de que vejam ela como uma peça de troca, talvez até a façam refém. Em vez de ajudar, vocês podem acabar colocando ela ainda mais em perigo.\"

Nichole deu um passo à frente, com a voz firme, mas sem ser agressivo—medida, como alguém tentando guiar ao invés de mandar.

\"Fiquem aqui. Como Diretor desta academia… assumirei total responsabilidade e negociarei pessoalmente com eles.\"

Myra finalmente falou também. A pressão esmagadora que vinha pesando no ambiente gradually recuou, como se os Santos estivessem puxando suas forças de volta como uma maré que retorna ao mar.

\"É verdade,\" ela afirmou com uma calma séria. \"Se você viajar com ela do jeito que está, há um risco real de que seu estado piore além do que podemos controlar.\"

Enquanto isso, Mark observava quieto, pensamentos girando sob sua expressão compenetrada.

Ele nem sequer reagiu à nossa aura… Isso quer dizer que ele nem sentiu? Ou será que é algum tipo de poder adormecido, enterrado bem fundo nele, esperando ser despertado?

Interessante.

Lucan também encarava Ash, sua mente lentamente encaixando algo familiar.

Ash... Ash... Ash... Por que esse nome soa tão familiar? ele se perguntou, franzindo a testa levemente.

E então veio a percepção.

Espere… a Nyra não mencionou ter encontrado um garoto estranho enquanto escoltava Melissia até a academia? Será que… ele é?

Enquanto os Santos estavam presos em seus pensamentos, Ash era consumido por algo completamente diferente.

Estão certos. Não quero correr riscos desnecessários… mas depois que deixei aquele demônio escapar por minha própria tolice, a academia não ficou mais vulnerável agora?

Ela ainda estará em perigo aqui?

Ele expressou essa preocupação em voz alta, com tom calmo, mas queimando silenciosamente.

\"Não confio em nenhum de vocês. Se for para salvar ela ou seus próprios filhos, vocês escolheriam seus filhos—todo santo dia. E agora que os demônios atacaram a academia, não acredito que esse seja o último. Há uma alta probabilidade de esses ataques só piorarem.\"

Ele olhou nos olhos de todos, cada palavra como uma pedra jogada em água calma.

\"Por isso, não confio que vocês consigam mantê-la segura.\"

Maelis, claramente irritado, deu um passo à frente com uma bufada. "Presta atenção no que diz, garoto. Nós somos Protetores da Humanidade, e—"

\"Poupe-me dessas besteiras,\" Ash interrompeu, de forma fria, com uma voz cortante que parecia rasgar o silêncio.

\"Não vou dizer isso de novo. Protetor ou não—não me importo. Se vocês fossem realmente protetores, onde estavam quando a academia estava sendo destruída? Não me venham com desculpa de que estavam lutando contra outro demônio ‘em nome da humanidade’. Porque se precisar de todos vocês para lidar com um único demônio, então este mundo já está às portas da destruição. E todos vocês são fracos.\"

Ele fez uma pausa, deixando o silêncio aprofundar ainda mais suas palavras.

\"Então como vocês podem olhar nos meus olhos e dizer que podem garantir a segurança dela se eu a deixar aqui?\"

O ambiente ficou num silêncio desconfortável. Por mais que odiassem admitir—mesmo com todo seu poder—as palavras de Ash não eram mentiras. Se o Rei Dos Demônios atacasse… ninguém poderia afirmar com certeza que alguém sobreviveria.

Foi então que Nichole, calmo mas sério, perguntou: "Então, você está dizendo… que acredita que pode protegê-la melhor do que nós?"

Ash não respondeu imediatamente. Desta vez, ele foi quem ficou em silêncio.

Mesmo que quisesse argumentar, sabia a verdade—ele não podia confiar no Sobrecarga de Concentração [1]. Esse estado consumiria tudo, deixando-o possivelmente impotente. Se um Santo ficasse para proteger Elysia, enquanto ele ia aprender magia da vida com os Elfos, seria a melhor situação possível.

Justo então, Alice, que permanecera silenciosa o tempo todo, finalmente deu um passo à frente e falou de forma despreocupada, contrastando com o clima tenso.

\"Vou me responsabilizar pela segurança dela. Que acha disso?\"

Ela olhou diretamente para Ash enquanto falava. Sua voz estava firme, suas intenções claras. As palavras ficaram no ar, surpreendendo todos—especialmente Ash.

\"Não olhe desse jeito,\" ela acrescentou com um sorriso malicioso. \"Não tenho filhos na academia, então não preciso tomar essas decisões difíceis. E, sejamos sinceros, a Guilda dos Aventureiros funciona bem mesmo sem mim. Estou mais lá para manter esses aventureiros selvagens sob controle.\"

Ela olhou ao redor, seu tom leve, mas suas palavras carregadas de peso.

\"Então, estou bastante livre. Posso ficar aqui na academia pelos próximos seis meses e acompanhar tudo junto com Nichole. E, de verdade—se houver dois Santos aqui, duvido que os demônios mais ousados até ousem chegar perto.\"

Ash entrou em reflexão.

É verdade. Mesmo no romance, os demônios só atacaram quando os Santos estavam fora—geralmente ocupados lidando com outras ameaças, especialmente o filho do Rei dos Demônios.

A menos que o próprio Rei Dos Demônios venha, nenhum outro demônio conseguirá invadir a academia enquanto dois Santos estiverem de guarda.

Ash mordeu a língua, grato por seu rosto ter voltado ao estado de serenidade habitual. Sabia—após aquela explosão emocional—que seus sentimentos ainda estavam ali. Só enterrados.

Somente reprimidos.

Mas, lá no fundo, ele entendia que se trabalhasse nisso… se realmente tentasse… talvez um dia pudesse trazê-los de volta.

Mas por que ela se ofereceria voluntariamente?

Ash estreitou os olhos, a suspeita se enrolando por seus pensamentos como fumaça.

Antes que pudesse falar, a voz de Alice cortou a tensão. "Você provavelmente está se perguntando o que eu ganho com isso, certo? Qual é a intenção oculta por trás da minha oferta?"

Ash não respondeu, mas seu silêncio era uma resposta em si.

Sorriso de Alice não vacilou. "Bom, então, aqui está a condição. Se você quiser que eu a proteja até que volte, então eu… quero VOCÊ."

Assim que suas palavras se dissiparam, o ambiente caiu num silêncio surpreso.

Cada Santo olhava para ela com uma expressão que praticamente gritava:

Você está louca?

Sentindo o peso dos olhares, Alice soltou uma risada suave e se corrigiu: "Ah—não interprete errado. Quero que você… seja meu discípulo."

Ao ouvir isso, uma nova onda de choque percorreu o ambiente, embora ninguém tivesse dito nada em voz alta—mas muitos já tinham considerado a mesma coisa.

Afinal, esse garoto—esse menino frio, desafiante, que ousou encarar os Santos sem vacilar—não era comum. Mesmo sem ver todo seu potencial, o fogo nele era real. Uma semente rara, que valia a pena cultivar.

Nenhum dos Santos, exceto Nichole, sabia que o potencial de Ash só alcançava o nível de Grande Mestre. Eles assumiam que sua coragem vinha do talento bruto.

Nichole permaneceu em silêncio, assistindo aos acontecimentos. Não se incomodou em contar para eles.

Ele também não sabia que Ash tinha lutado na batalha anterior contra os demônios—apenas Elva descobriu após interrogar os estudantes.

Mas ela nunca teve a chance de contar antes dele partir para ver Elysia.

Ash respirou fundo e disse, de forma direta: "Eu recuso."

Mais uma vez, o ambiente mergulhou em silêncio. Por um momento, pareceram presos numa espécie de loop de incredulidade—abismados, de novo, e de novo, e de novo.

O olhar de Alice suavizou, mas o sorriso que usava era duro demais para ser genuíno.

\"P-por quê?\" Sua voz era suave, mas os olhos revelavam outra história.

Ela fazia o possível para se manter firme, embora uma contração nos dedos traísse a frustração crescente.

A voz de Ash cortou a tensão, com uma certeza fria: "É simples. Você vai se arrepender de me aceitar como discípulo.\"

As palavras ficaram no ar, sem pedir desculpas, como se ele estivesse simplesmente afirmando um fato inquestionável—sem espaço para dúvidas.

Ao ouvir isso, o sorriso de Alice aumentou, mas era do tipo que um predador faz antes de atacar.

\"Ah, não se preocupe com isso.\" Ela se inclinou para frente, a luz em seus olhos uma mistura perigosa de diversão e cálculo.

\"Só vou te aceitar depois que você voltar. Se você morrer… bem, problema resolvido. Mas se voltar vivo, entrando nas terras élficas?\"

\"Então, você valerá ainda mais para ser minha discípulo.\"

Maluca, vadia.

Cobra.

Os pensamentos de Myra e Lydia ecoaram de forma alinhada, cortantes e amargas.

Elas não eram as únicas. Vários Santos consideraram pegar Ash sob sua proteção, mas nenhum ousou falar nada.

Como já haviam deixado claro, eles priorizariam seus próprios filhos em relação a uma garota desconhecida—então ficaram calados.

A mesma silêncio se estendeu por Myra, Lydia, Lucan e Maelis. Até Nichole não disse nada—ele já tinha Ray, afinal.

Quanto a Mark, chefe da Associação Humana, observava Ash com atenção, expressão indecifrável.

Sua mente trabalhava, fazendo cálculos. Seja o que for, ele não estava pronto para compartilhar.

Ash pensou por um momento e disse: "Você vai protegê-la até eu voltar, e, quando eu retornar, se quiser, pode mudar de ideia. Não me importarei. Mas para mim, confiar em vocês não é fácil.\"

Ele virou-se para Nichole e perguntou: "Diretor, você tem um contrato de mana que funcione mesmo com Santos?"

Usou o termo Diretor para lembrá-lo de que ainda era um estudante da sua academia.

Nichole demorou a responder, apenas suspirou com uma amargura de leve diversão, pegando um pequeno pergaminho cristalino de sua túnica e oferecendo a Ash.

Ash pegou o pergaminho sem dizer palavra, depois cuidadosamente colocou Elysia de volta na cama. Seus movimentos eram delicados, reverentes, como se estivesse colocando algo precioso.

Desenrolou o contrato de mana, cujo pergaminho brilhava levemente com um tom prateado, e escreveu os termos claramente—seu pedido, a proteção dela e o preço da confiança.

Depois, assinou sem hesitar, entregando-o a Alice.

Alice e os demais observaram a cena com estranheza, mas não disseram nada.

Os olhos de Alice se estreitaram ao ler o conteúdo, mas ela nada falou. Um sorriso pequeno, curioso, surgiu nos lábios enquanto colocava o dedo sobre o pergaminho.

O contrato brilhou—e então se desfez, sua magia se espalhando em fios que dançaram em seus corpos.

O ambiente prendeu a respiração.

Justo quando o contrato se fundiu, Ash se levantou e disse: \"Desculpem pela explosão anterior. Mas ouvir que ela poderia morrer me deixou fora de mim, especialmente quando alguém sugeriu matá-la.\"

Ele disse isso olhando diretamente para Lucan.

Lucan não respondeu, apenas sorriu.

\"Agora—vou para o Continente dos Elfos. Espero que o Diretor aprove minha saída… por seis meses.\"

Nichole suspirou novamente ao ver como a atitude de Ash mudava rapidamente assim que Alice assinou o contrato.

\"Sim. Autorizo. De qualquer forma, a academia ficará fechada por um mês devido ao incidente com o demônio… então vou te conceder mais cinco meses.\"

\"Só tente voltar vivo.\"

\"Eu verei que sim,\" respondeu Ash, inclinando-se uma vez antes de sair da sala.