Poder das Runas

Capítulo 74

Poder das Runas

[Aurora Starborn]

"PORTAL DO REINO DOS DEMÔNIOS: ABERTO!"

As palavras ecoaram como uma maldição pelo grandioso salão de festas. O espaço, que antes vibrava com elegância, decorado com lustres flutuantes e banners de seda com detalhes dourados, agora estava desfeito: mesas viradas, taças de vinho quebradas e pratos espalhados que ainda exalavam iguarias meia consumidas.

O ar cheirava a champanhe derramado, tecido queimado e uma mana densa o suficiente para sufocar.

O coração de Aurora pulsava doloridamente no peito ao ver as rachaduras começarem a ondular no ar, como vidro se quebrando sob força invisível.

A fenda era pequena, do tamanho de um punho fechado, mas pulsava com uma energia instável que latejava como um segundo batimento de coração na sala.

O que... é isso...?

Ela sentiu a respiração ficar presa, os pulmões se recusando a obedecer. Seu corpo já sofria com múltiplas maldições, distorcendo seu fluxo de mana em uma tempestade caótica.

A mana de sua estrela, antes linda e vibrante, como constelações dançando pelo seu corpo, agora era uma confusão fragmentada, desalinhada.

Ela tentava resistir à maldição, tentando dissipá-la, mas a dificuldade era grande. Ela consumia sua mana e energia mental muito mais rápido do que queria admitir.

E agora, para piorar, o inimigo tinha invocado algo muito além de um simples feitiço.

Ele disse... portal? Está tentando abrir um portal...? O próprio pensamento parecia estranho, como se não pertencesse a esta realidade.

Suas mãos tremiam ao lado do corpo. Seu corpo, já enfraquecido, ficava mais pesado a cada segundo. E aquela coisa—seja lá qual fosse a criatura que lançava aquilo—não era mencionada em nenhum dos livros.

Nem nos arquivos restritos. Nem em livros históricos. Era um horror artificial vestido de carne, sorrindo de forma ameaçadora.

Demônios...?

A Associação Humana mantinha a verdade sobre os demônios bem guardada, escondida do público, para evitar pânico e caos descontrolado. Assim, havia muitas pessoas ignorantes no mundo.

Mas, após este incidente, o mundo inteiro ficará sabendo deles.

Justamente então, seus olhos se fixaram no portal, que já começava a se expandir, lentamente, mas de forma inexorável. Suas bordas caóticas brilhavam como chamas negras, pulsando com uma energia instável.

Não... não posso deixar crescer! Eu sinto—é a morte. A morte real. Se aquilo se abrir, todos nós morremos aqui.

Ela levantou a mão tremendo, forçando-se a ignorar a maldição que rastejava sob sua pele como formigas de fogo.

Não podia mais dividir sua atenção. Seu coração gritava, seu corpo doía, mas ela entregou cada fibra de si na próxima invocação.

Um círculo de luz branca floresceu ao redor de sua palma, e em poucos momentos, sua mana de estrela começou a correr para dentro dele como uma onda gigante—densamente radiante e carregada de dor.

O vento uivava ao seu redor enquanto o feitiço tomava forma, forte o suficiente para atrair a atenção do campo de batalha.

O som de aço e gritos desapareceu. Todos—Amélia, Grace, Lyra, os calouros—viraram-se em sua direção. O salão tinha se tornado um palco congelado de sua resistência.

Até Zerak observava a cena com um sorriso divertido nos lábios, sem fazer qualquer movimento para pará-la.

Miraak também virou o olhar para ela—não para ela, mas para o círculo que se formava em sua mão, onde a mana de estrela condensada começava a se transformar em algo mais puro.

Um brilho branco começou a dominar a luz vibrante das estrelas, lentamente.

Mas isso não durou.

A transformação parou na metade, deixando o branco e o violeta misturados.

Sangue escorreu dos ouvidos de Aurora, caiu do queixo pelos cantos da boca, mas ela não vacilou.

Ela não podia.

Ela tinha usado um feitiço além de sua força—um feitiço de um círculo de nível superior ao seu, forçado por puro desespero e mana de estrela bruta.

Se não fosse pela maldição... eu poderia terminar isso, pensou, a dor amarga engolida enquanto lançava o feitiço.

Com o lábio mordido até provar sangue, ela cerrava a mandíbula e liberava a magia.

"Feixe Estelar!"

As palavras saíram com força, ela tossiu violentamente, um jato de sangue manchando seu vestido rasgado, e caiu de joelhos.

Conseguiu usar um feitiço acima de seu círculo de magia graças à sua mana de estrela, mas por causa da maldição, a mana estava caótica e distorcida, causando um retrocesso.

Segurando o peito, respirando com dificuldade, seu corpo convulsionava com o impacto, mas seus olhos—vermelhos e ardentes—continuavam fixos no feixe que agora atravessava o salão.

A luz branca e violeta cortava o ar como uma flecha divina, rápido demais para a maioria reagir.

Iluminava o salão arruinado, refletindo sombras estranhas nos utensílios de prata quebrados e tapetes manchados de vinho. A comida abandonada nas mesas, passando por ali, parecia sizzle sob o calor.

Todos os olhos estavam fixos em Miraak, que tinha as mãos relaxadas atrás das costas, como se nada de importante estivesse acontecendo.

Todos os olhares se voltaram para o ataque. Amélia ficou congelada, Grace e Lyra seguraram a respiração, e os calouros ficaram boquiabertos, em silêncio surpreso.

Ray, Ethan e Irvin formaram um círculo ao redor de Zerak, impedindo-o de interferir—embora ele parecesse nem se importar. Ele apenas observava, relaxado, como se fosse uma peça de teatro.

O feixe se aproximava.

E Miraak... sorriu.

Um sorriso lento, sinistro, que fez o sangue de Aurora gelar.

Antes do feixe atingir,

ele levantou a mão e murmurou, numa voz calma, mas com um tom estranho que ecoava pelo campo de batalha,

"Maldição da Anulação."

No momento em que o feixe o atingiu, uma explosão brilhou—cega e silenciosa. E quando a luz diminuiu, o resultado foi uma onda de frio e medo que percorreu o salão.

Não havia ferimento.

Nem explosão.

Nem queimadura.

Simplesmente empurrou Miraak para trás.

Dois passos. Foi só isso.

Somente dois passos para trás.

Aurora sentiu o mundo inclinar sob seus pés.

Ele... ele nem sequer foi ferido.

Sangue escorria da boca dela enquanto sussurrava, rouca: "Como...? ...Como isso?"

E ela não era a única.

Amélia também deu um passo atrás, com o rosto distorcido de incredulidade. Grace abriu a boca, sem palavras, surpresa demais.

Lyra apertava as mãos ao redor do dragão prateado ao seu lado. Ao redor deles, os calouros estavam pálidos, paralisados, com as mentes gritando de medo.

Estamos mortos...

Mamãe, estou com medo...

Eu... não quero morrer...

Isto é o fim...?

O silêncio era sufocante.

Miraak riu—alto, agudo, torto.

"Hehehe… Quem diria que precisaria usar uma de minhas técnicas ocultas para parar a magia de uma criança? Que divertido," disse, lambendo as palavras como veneno nos dentes, "Mas acho que você merece isso, pequena estrela."

Aurora mal o ouviu. Sua visão se turvou, o frio da exaustão de mana começando a penetrar sua espinha. Seus dedos tremeram. Ela não tinha mais nada.

É o fim, não é? É assim que eu morro...

Pensou na mãe, nas estrelas, em tudo que ainda não fez.

Miraak avançou, ainda rindo, sua voz subindo enquanto falava novamente, "Vamos acelerar o processo do portal—"

Mas ele nunca terminou.

Porque, naquele exato momento, um estrondo ensurdecedor partiu o ar. Uma rajada de relâmpagos limpos, rápido demais para o olho acompanhar, passou ao lado de Miraak e atingiu a tempestade do portal instável.

Os olhos de Aurora, arregalados e trêmulos, se voltaram para a origem do impacto, junto com todos os demais.

***

Não há intervalo.

Ash soube disso no instante em que olhou para a forma de Miraak.

Seu corpo avançou, mais rápido que o olho pudesse acompanhar, mas em sua mente, o tempo desacelerou até parecer uma eternidade. Segundos se alongaram sob o efeito de Omni Thought. Cada movimento, cada faísca de energia, cada som, ampliava-se e ecoava em silêncio estranho.

"Se ele fosse distraído por um segundo..."

A ideia surgiu como um sussurro, meio formada, mas pesada. O significado era claro.

Se Miraak se distraísse por um instante, poderia atacar o portal sem hesitação.

Assim que esse pensamento surgiu, o olhar penetrante de Ash capturou Aurora disparando um feixe de luz pura pelo salão. Voou para frente com força incrível, mas, para ele, moveu-se como uma onda lenta na água.

Na realidade, apenas dois ou três segundos tinham passado desde que Omni Thought foi ativado.

Seus olhos se moveram rapidamente ao centro de tudo—um portal, pequeno, mas crescendo, pairando no ar como uma rachadura no espaço.

Mas então Ash percebeu algo mais—linhas vagas e marcas brilhantes flutuando ao redor do portal,

Simbolos..

Cortes no ar cercavam o portal como vidro quebrado, e ao redor dessas rachaduras flutuava um círculo—um estranho, desenhado com dezenas de formas e linhas brilhantes que cintilavam em uma língua que ele não compreendia.

O que é isso?

Ele nunca tinha visto algo assim antes. Mas, por outro lado, raramente usava Omni Thought. Era difícil de ativar e ainda mais difícil de controlar. Talvez essa visão estranha só aparecesse quando sua mente estivesse operando no máximo de sua potência.

Parece alguma estrutura...

Flutuando em um círculo ao redor do portal negro, enquadrado pelas fissuras se espalhando pelo espaço, estavam símbolos—dezenas deles—interligados por linhas finas e brilhantes. Parecia um círculo mágico, mas não tinha o mesmo aspecto da magia humana.

Será que é um círculo mágico...? Não... talvez um círculo demoníaco? ele arriscou.

Ele não tinha certeza. O romance nunca explicava como os demônios estruturavam seus poderes. Eram descritos como seres misteriosos e caóticos.

Seus pensamentos aceleravam, saltando entre teorias. E foi então—ele viu Miraak levantar a mão e falar.

"Maldição da Anulação."

A maldição não foi dirigida a Ash, mas algo mudou no ar. O círculo ao redor do portal tremeu. Uma das linhas brilhantes piscou e desapareceu. Uma pequena falha apareceu no padrão—um erro.

Uma rachadura.

Uma imperfeição perfeita, única.

Os olhos de Ash se arregalaram levemente.

É isso...

Um plano se formou naquele instante.

Ele avançou, mais rápido do que antes. Mesmo usando [Passo do Relâmpago], uma técnica de movimento da classe Guerreiro, Ash não estava preocupado.

Todos os outros ainda estavam distraídos pelo caos. Ninguém tinha notado sua presença ainda.

Embora tivesse decidido não esconder mais sua força, ele não queria revelar tudo ainda. Especialmente sua classe única de Espadachim Mágico.

Miraak ainda se recuperava do efeito da mana de estrela de Aurora. Ela permanecia como uma interferência residual no ar. E isso tornava o círculo demoníaco ainda mais instável.

A rachadura causada pela interferência se espalhava, crescendo mais instável a cada segundo.

Ash sabia que aquela era a oportunidade que esperava há tanto tempo. Não hesitou—porque, lá no fundo, ele compreendia algo fundamental.

Não chamam as Dualidades por acaso... Se eu esperar, está acabado.

Miraak era temido pelos campos de batalha por um motivo. Sua habilidade característica, a Maldição da Anulação, não apenas interrompia mana—ela a destruía.

Desfazendo feitiços e apagando estruturas mágicas como se fossem desenhos de giz na chuva.

Para magos, ele não era apenas uma ameaça.

Era um desastre vivo.

Uma calamidade.

Aurora temia que sua mana fosse inútil contra uma habilidade assim. Mas confiava no Núcleo Primordial.

Confiava em si mesma.

Sem pensar mais, levantou a mão e a eletricidade começou a se reunir.

Pequenos arcos elétricos ecruziam por seus dedos, mas isso não parou por aí.

Micro círculos mágicos começaram a se formar na palma de sua mão, empilhando-se, girando, combinando-se com precisão perigosa.

A mana condensada girava ao redor de sua palma, formando uma esfera luminosa única.

Dentro dessa esfera, dezenas de pequenos relâmpagos giravam em uma harmonia caótica.

Dezenas deles, aninhados uns nos outros, mantidos juntos por um controle delicado.

Esse feitiço era uma criação de Ash, fruto de longas experiências. Mas exigia controle perfeito de mana e foco intenso.

[Esfera de Trovão Multi-Centro]

Era um feitiço impossível sem o hiper foco de Omni Thought. Mas agora, ele podia ver cada fio de energia, cada movimento de sua magia.

Era lindo.

E mortal.

Passou por Miraak num relâmpago de luz e empurrou a esfera adiante.

Equiparou o feixe de relâmpagos contra a falha no portal, onde a imperfeição era maior.

E passou por ela sem parar.

Aash não precisava olhar para trás.

EXPLOSÃO!!!!!!!!