Poder das Runas

Capítulo 73

Poder das Runas

"Por que não estamos ajudando eles?" perguntou Elysia. Sua voz era aguda e irritada — daquele tipo que dizia que ela já sabia a resposta, mas perguntava mesmo assim.

Ash ficou em silêncio por um instante, depois murmurou baixinho, "Se eles conseguem lidar com isso, tudo bem. Mas se estiverem à beira da morte, nós vamos intervir."

Elysia inclinou a cabeça de forma abrupta em direção a ele, com a sobrancelha franzida. Ele percebeu pelo canto do olho e rapidamente disse: "Não se mexa... alguém pode noti—"

BAAM!!

Um golpe limpo acertou exatamente no topo da cabeça dele.

Ash quase pulou de susto. Todo o corpo reagiu, mas ele se segurou — por pouco.

"Que diabos, Elysia?!" ele sussurrou, com a voz oscilando entre o pânico e a raiva, "Eles vão nos perceber se você continuar assim!"

"E você..." ela rosnou, os olhos ardendo nele, "Voltaste completamente ao padrão antigo. Achei que — talvez — você tivesse crescido um pouco, mas não. Você é o mesmo idiota irritante de sempre."

"Eu cresci. Estou melhor do que nunca!" ele retrucou, na defensiva.

"Não. Você... Não ouse me interromper."

BAAM!!

Mais um punho de furiosa violência desceu sobre seu crânio.

"Ninguém te conhece como eu," ela continuou, "Você é tecnicamente de classificação mais baixa do que eu, mas de alguma forma eu sinto que você está no meu nível — talvez até mais forte. Nem sei como isso é possível. Mas uma coisa é certa — você é poderoso. Certo?"

Ash piscou. Depois desviou o olhar.

"..."

"Eu disse certo?"

"...Sim."

"Então por que você está aí parado como um figurante, esperando a entrada do herói perfeito? O que, acha que isso é um romance e você é o protagonista que chega na hora certa?"

"M-Mas—"

"Cale a boca."

BOOOM!!!

LAÇO!

VÔMITO!!

A batalha continuava ao longe, explosões sacudindo o chão — mas a fúria destrutiva de Elysia nem mesmo vacilou.

"Você sempre foi assim," ela disse, a voz mesclada de raiva e dor, "Desde a última vida, seu idiota. Eu lembro disso. Você era inteligente—provavelmente o mais inteligente da maldita escola—mas nunca mostrava. Se deixava ser manipulável. E qual era a sua razão mesmo?"

Ela imitou sua voz, elevando o tom numa cantilena zombeteira: "Não é melhor ficar fora do centro das atenções?"

Ash não respondeu. Abaixou a cabeça como um cachorro que sabe que o chinelo vai vir.

"M-Mas—"

"Não. Deixe-me terminar."

Ele abriu a boca para dizer algo, mas acabou fechando de novo.

"Você está fazendo isso de novo. Escondendo sua força como se fosse um segredo sujo. Ainda fingindo ser comum, quando claramente não é."

Quase disse, Não era tão forte no começo, mas até isso morreu na garganta.

Ele queria cavar um buraco e se esconder nele. Ela estava remexendo partes dele que ele tinha enterrado de propósito.

"Você ainda é um covarde, não é?"

"Não sou," Ash rosnou, o maxilar travado.

"É sim."

Ela fez uma pausa. Depois falou, mais suave, mas ainda com raiva: "Ugh… trabalhei tanto pra te tirar dessa concha, pra mudar essa versão sua de autoaversão, de autoesconder-se… e agora você voltou a ela como se fosse seu cobertor de segurança."

Ele olhou para ela, a frustração borbulhando: "De que adianta as pessoas saberem que eu sou forte? Melhor pegar o inimigo de surpresa, não acha? Se eu mostrar meu poder, eles vão me targeting. Ou pior — vão targeting a minha—"

CLASH!

CLANG!

SHRRIIIK!

"Inimigo? QUEM?", ela latiu, puxando a gola dele com a mão, os rostos a centímetros de distância.

"—Minha fraqueza..." ele murmurou.

Por um momento, a expressão dela se quebrou ao ouvir a última palavra, os olhos dele atingiram algo que ela não esperava.

Ela o encarou.

Ele a encarou de volta.

Mas, na verdade, pensava interiormente nas palavras que ela havia dito.

Quem é meu inimigo? Ele pensou, Ninguém me conhece. Eu mal existo aqui… então por que estou me escondendo como se fosse um criminoso? Por que estava escondido, fingindo ser fraco?

Não sabia a resposta, só seguia o que sentia ser o melhor naquele momento para sobreviver num lugar desconhecido.

"E qual exatamente é sua fraqueza, hein?" ela perguntou, pressionando ainda mais aquela última palavra.

Ash não respondeu.

Apenas olhou para ela.

"…Este maldito," ela murmuro, a voz trêmula. Uma mistura de raiva, culpa e algo que ela se recusava a nomear. Suas mãos cerradas, não para socar—mas para impedir que tremessem.

"Você acha que eu sou sua fraqueza?"

Ash permaneceu em silêncio, mas seu silêncio era ensurdecedor.

Ela suspirou e fez uma careta, como se fosse gritar ou chorar, mas não fez nenhuma das duas.

"Eu não sou sua fraqueza, Ash", sua voz soou mais clara do que antes, como aço afiado pela verdade, "Eu não sou uma boneca de vidro. Não sou mais aquela de antes. Agora sou forte. Nesse mundo, podemos nos tornar fortes, igual àqueles romances malucos que costumávamos ler."

Ela puxou ele ainda mais para perto, a ponto de ele ter que olhar nos olhos dela e sentir sua respiração.

"Então me diga… você quer que eu seja sua fraqueza? Ou sua força?"

O caos ao fundo se misturou ao barulho. Palavras dela atingiram mais fundo do que qualquer explosão.

Ash piscou, se sentindo um pouco surpreso com a proximidade, mas ainda mais pelo que ela disse.

Pela primeira vez, ele realmente pensou nisso.

Ela não tinha razão?

Por que sempre a tratei como algo frágil, algo a proteger, a esconder por trás, quando talvez — só talvez — ela fosse quem poderia elevá-lo?

Possibilidades se abriram na cabeça dele como uma porta destrancada.

Mas Elysia ainda não tinha terminado.

"Eu observei você durante o último mês. Você não fala com ninguém. Nem tenta. Se isola, igual antes. E não diga que é porque você é 'ruim de conversa'."

Ash murmurou, quase inaudível: "...Não sou bom de conversa".

"Ughh!! Eu sabia que você ia dizer isso!" ela gritou baixinho, abrindo os olhos de surpresa.

"Mas—"

As palavras de Elysia travaram na garganta. Sua expressão congelou.

Um calafrio percorreu a espinha deles quando uma força invisível varreu o corredor, carregada com temor e uma presença que instintivamente fazia o corpo querer fugir.

A atenção de Ash se voltou imediatamente para o local da luta, enquanto uma sensação de estalo de energia demoníaca crescia no ar. Era espessa, volátil, uma tempestade formando-se sem som ou aviso.

E então ele viu.

Seus olhos se fixaram em Miraak, cujo corpo irradiava energia demoníaca como um farol de caos.

Ao lado dele, uma rachadura pairava no ar—não maior que um ovo, mas brilhando como uma estrela morrente. Luz negra spiralava ao seu redor, deformando o espaço com um puxão que fazia o mundo parecer desequilibrado.

Um único olhar foi suficiente para ele entender tudo.

Ele está tentando abrir um portal...

Enquanto discutia com Elysia, quase tinha esquecido a parte mais perigosa dessa luta.

Um sussurro de pânico apertou seu peito, mas ele o esmagou.

"Droga..." ele murmurou, baixinho, com a voz tensa e urgente, porque não havia tempo para hesitar, pensar em consequências ou medo ou fracasso.

Ele sabia, no fundo dos ossos, que se aquele portal se abrisse completamente, se Miraak conseguisse invocar mais um demônio de alto nível ou uma horda de bestas demoníacas na academia, não seria mais uma batalha.

Seria um massacre.

Sem perder mais um segundo, ele canalizou mana de relâmpago pelas veias e músculos da parte inferior do corpo, deixando-a surgir com força bruta e descontrolada, e murmurou: "Pensamento Omni".

De repente, as cores desapareceram de sua visão, sendo substituídas por tons de cinza enquanto o tempo se curvava sob o peso dessa habilidade. O mundo ao redor desacelerou, como mel escorrendo em vidro, e cada movimento se tornou deliberado, visível, como assistir os ponteiros do relógio avançar um a um, ao invés de girar descontroladamente.

Ele se libertou cuidadosamente do aperto de Elysia e se lançou para frente numa arrancada, impulsionado por uma velocidade extraordinária. Cada passo deixava rastros de relâmpagos.

O mundo ao seu redor ficou turvo, uma mistura de cinza e branco, mas dentro da sua mente parecia que o tempo desacelerou até quase parar, cada instante se estendendo como um batimento de coração esticado eternamente.

E dentro daquele silêncio alongado, pensamentos brotavam loucamente, como teias de aranha se formando no ar.

Alguns focavam em como impedir o portal, que pulsava com energia instável, enquanto outros se agarravam teimosamente ao eco das palavras de Elysia.

Será que eu estava sendo covarde? A pergunta surgiu, sem convite, mas sem deixar de ser verdadeira.

E a resposta veio como um sussurro nos cantos mais escuros de mim mesmo.

Sim. Eu era.

Não preciso mais negar. Já cheguei ao meu limite. Fiz tudo além do que podia.

E ao olhar dentro do meu coração, sem as camadas de desculpas ou a neblina do autopiedade — percebi que algo muito pior do que o medo vinha me guiando.

Estava sendo ilusório.

Sempre justifiquei meu silêncio com a ideia de que só tentava sobreviver. Que era melhor passar despercebido do que ser julgado. Que manter-se invisível era mais seguro. Mas quando destruo esses pensamentos, quando os examino de todos os ângulos possíveis, uma verdade amarga sobe como bile na garganta.

E se eu for fraco? As pessoas ainda vão zombar de mim. Que venham, que me intimidagem como sempre fizeram. Já sobrevivi antes, e vou resistir de novo.

E se eu for forte?

Se eu for forte, serei respeitado, temido, até admirado—mas também me tornarei uma ameaça. Serei invejado. Ganarei inimigos, não porque queira, mas porque é o que o poder faz. Então, por que? Devo continuar escondido só por medo de fazer inimigos? Isso não é precaução. Isso é pura estupidez.

As palavras se cravaram em seu coração com brutal honestidade.

Desde o dia em que decidi mudar o destino... desde o momento em que escolhi salvar o mundo... eu já estava declarando guerra—contra demônios, contra anjos, contra todo o sistema maldito que controla o destino.

Então, por que... por que diabos ainda tenho medo?

Uma única palavra surgiu como uma maldição, como um segredo que nunca ousou admitir nem mesmo para si próprio.

Foco.

Ele temia. Não pelo poder, nem pela responsabilidade—mas pelos olhos. Pela atenção. Pelo peso de ser visto, verdadeiramente visto, e julgado por pessoas que nunca entenderiam o inferno pelo qual tinha passado para chegar até aqui.

Mas até essa desculpa agora parecia vazia.

Porque se algum dia ele dissesse isso em voz alta, se algum dia dissesse a Elysia que seu maior medo era apenas ser olhado—apenas ser notado—ela o chutaria até o inferno sem pensar duas vezes.

E, no fundo, ele saberia que merecia.

Então, naquele momento, Ash tomou uma decisão, uma escolha silenciosa e firme, que penetrou fundo em seus ossos.

Não vou mais me esconder. Não vou mais me resumir só pra que os outros se sintam confortáveis.

A partir de agora, vou ficar na linha de frente—igual aos gênios, igual aos que todos admiram e temem.

Mesmo que não tenha nascido com o talento deles, mesmo que o destino nunca tenha me dado uma vantagem inicial—eu lutei para chegar aqui. Sangrei por cada centímetro, quebrei e reconstruí a mim mesmo mais vezes do que posso contar.

Conquistei meu lugar, não por sorte ou bênçãos, mas por pura vontade e pela dor que nunca deixei me destruir.

Talvez eu não seja um gênio. Talvez eu não seja um herói escolhido.

Mas eu sou quem sou. Sou ASH BURN.

E recuso-me a desaparecer na multidão novamente.

Que me vejam.

Que julguem.

Que venham.

No final, ninguém se importou realmente com o quão difícil foi a jornada. Ninguém perguntou quanto você sangrou, ou com que frequência quebrou.

Eles só se importaram com o resultado.

E Ash decidiu...

Que vai mostrar ao mundo que trabalho duro e determinação podem superar talento.