
Capítulo 71
Poder das Runas
Ash observou enquanto Miraak lentamente levantava a mão, um sorriso silencioso se contorcendo em seu rosto. Havia algo profundamente errado naquele sorriso, seus dedos se moviam como se comandassem uma orquestra silenciosa de decadência.
"Maldição do Sono."
As palavras saíram de seus lábios como uma oração, mas o ar respondeu como se tivesse sido atingido. Uma onda de energia demoníaca irrompeu de sua palma, silenciosa porém violenta, avançando como uma maré negra, devorando o solo enquanto se deslocava.
Ash não recuou. Seus olhos ficaram fixos na onda que se aproximava antes de se virar levemente para Elysia.
"Cubra-se com mana da Lua."
Ela assentiu sem questionar. Uma luz prateada floresceu de sua pele, graciosa e protetora, envolvendo-a como uma segunda pele. Em segundos, ela estava totalmente coberta, radiante sob a crescente escuridão.
Então ela olhou de volta para ele.
"Venha aqui. Eu também vou te proteger."
Ash balançou a cabeça, a voz firme como pedra.
"Vou ficar bem."
A mana da Lua e da Estrela consegue anular energia demoníaca, pensou ele, mas Elysia ainda é muito fraca. Mesmo que não possa bloqueá-la completamente, ao menos os efeitos serão reduzidos…
Seu olhar mudou — Aurora estava próxima, já envolta em uma luz roxa cintilante.
A mana de estrela dela pisca como constelações, pulsando suavemente, estranha e bela. A energia a envolvia como se as próprias estrelas se recusassem a deixá-la cair.
No romance… ela não morreu durante aquela luta? lembrou-se amargamente. Mas agora o futuro mudou. Os inimigos também. Então talvez… só talvez ela sobreviva. Ela tem potencial para rivalizar com Ray. Uma pessoa como ela poderia ser um verdadeiro trunfo no futuro.
Então seus olhos se moveram novamente, seu corpo brilhando de verde.
Aetheris está protegendo ele, hein… Faz sentido.
Então, a maldição atingiu todos ao mesmo tempo.
E a cena que se seguiu parecia um pesadelo.
A energia demoníaca que carregava a maldição era como névoa rolando por um cemitério silencioso, espessa e pesada com morte. Onde ela passava, estudantes desabavam. Seus corpos caíam ao chão como fios cortados, independentemente do ano ou da força.
Toc, toc.
Toc, toc.
Toc, toc.
Toc, toc.
Ninguém sequer falou alguma palavra, pois era a primeira vez que enfrentavam um medo tão profundo, tão intenso que ficam petrificados no lugar.
Estava silencioso, mas o som de corpos caindo ecoava mais alto que qualquer grito.
A maldição também atingiu Ash e Elysia — mas Ash não hesitou. Seus olhos permaneciam fixos, destemidos, mesmo com um calafrio percorrendo sua pele.
E exatamente quando a maldição tentou invadir seu corpo — A Runas da Vida brilhou intensamente.
Um brilho tênue percorreu seu corpo, e num instante, a energia demoníaca desapareceu.
Disseminou-se.
Como se nunca tivesse existido.
- Ah, tch, — ele retesou a língua internamente. Se ao menos eu pudesse usar ativamente minha afinidade de Vida… isso já teria acabado.
Mas, claro, nada nunca saiu do jeito dele, especialmente para ele,
Às vezes, parecia que tinha esgotado toda a sorte no instante em que transmigrara.
Ele olhou de volta para Elysia. Movera-se na frente dela pouco antes da chegada da maldição, e a maior parte da energia o atingiu ao invés dela. O que passou por ela foi bloqueado pela mana da Lua.
E, felizmente, funcionou.
Ela parecia bem, embora sua expressão refletisse tensão e medo, mas estava acordada.
E isso já era suficiente.
Havia tanta coisa que queria perguntar. Como ela sabia? Como ela reencarnou? O que mais se lembrava? Mas agora não era o momento de respostas. Ele também não estava pronto para enfrentá-la.
Ainda não.
Porém, neste exato momento, nada disso importava.
Porque se ele não fosse cuidadoso nos próximos minutos, poderia realmente morrer.
Ele virou levemente a cabeça.
"Antes que a energia se dissipe, deite-se. Se perceberem que a maldição não nos atingiu, seremos os primeiros a eles virem."
Sem esperar resposta, apoiou-se num pilar próximo e deslizou lentamente até o chão, fingindo estar inconsciente. Sua respiração desacelerou, superficial mas constante, olhos semi-abertos.
Elysia hesitou por um momento.
Como ele não foi afetado…?
Questões turbinaram sua mente, mas poderiam esperar. Ele tinha razão. Este não era o momento para curiosidades.
Ela se moveu silenciosamente ao lado dele e se deitou, sua luz prateada lentamente diminuindo até um brilho tênue.
Felizmente, estavam longe o suficiente dos outros estudantes e dos demônios para que isso passasse despercebido.
Ash manteve os olhos semi-abertos, observando através da névoa enquanto a energia lentamente começava a dissipar-se.
E então, ele viu.
A cena que lembrava do romance — Não.
Não exatamente do mesmo jeito.
A energia demoníaca clareou, dissipando-se como fumaça preta se dissolvendo ao vento, e lentamente, uma cena que parecia saída de um filme de terror surgiu à vista.
A única coisa que faltava era sangue e gritos.
O corredor estava anormalmente silencioso — corpos espalhados pelo chão, com o peito suavemente subindo e descendo. Um silêncio pesado pairava no ar, os estudantes que antes estavam animados agora pareciam bonecos sem vida.
Apesar de a maioria ter sido colocada para dormir, alguns resistiram à maldição. Os olhos semicerrados de Ash vasculharam a área, parando ao avistar Aurora, Ray, Grace, Ethan, Irvin, Lyra e Amelia ainda de pé, junto com alguns segundos anos.
Não era surpreendente.
Aurora tinha mana de estrelas, Ray foi salvo por Aetheris, Grace não foi afetada por causa do sangue angelical, e a afinidade de Lyra com a Natureza era próxima à Vida, permitindo-lhe resistir em certa medida.
Porém, ela parecia um pouco exausta, quase caindo no sono.
Quanto a Ethan e Irvin — Ethan tinha se escondido nas sombras, fundindo-se a elas como fumaça, então a maldição não o tocou. Irvin havia afundado na terra usando sua afinidade — só agora reaparecendo do chão, com a sujeira grudada nos braços.
Quanto a Amelia, Ash não fazia ideia de como ela estava segura, mas sabia,
Contanto que ela estivesse acordada, pensou Ash sombriamente, não posso me revelar como Desconhecido. Isso significa que terei que lutar como mago quando a hora chegar.
Apenas esses poucos, junto com alguns segundos anos que usaram truques semelhantes para evitar a maldição, permaneciam. Talvez uns dez ou doze estudantes ao todo. Todos em pé, tensos, tentando manter-se de pé enquanto o peso do medo pressionava como uma tempestade no céu.
"Ohoho, não é incrível a situação?" A voz de Zerak cortou o silêncio como uma lâmina, "Olhem só. Sua maldição mal fez efeito — ainda há tantos de pé."
O rosto de Miraak torceu-se de irritação, "Essas criaturas de sangue volúvel estão me irritando de verdade. Vamos torturá-las antes de matá-las, irmão."
"Hehe," Zerak riu, entretido mais pela ideia do que pela violência propriamente dita.
**
Obrigado.
{Essas maldições não são nada. Não se preocupem — enquanto eu estiver aqui, a maldição não vai funcionar com vocês. Mas posso sentir a força deles. Tomem cuidado.}
Sim.
Os olhos de Ray passaram ao redor. Seus amigos ainda estavam de pé, mas por pouco. A maioria com o rosto pálido, as mãos tremendo ligeiramente. Mas nenhum deles recuou.
Exceto Aurora.
Ela permanecia imóvel, postura ereta, expressão calma — como se já estivesse planejando os próximos passos. Mesmo Ray, normalmente calmo, sentiu a raiva subir como água fervendo sob a pele.
{Foi bom que a mortal forte te obrigou a passar por um treinamento mental. Se não, já estaria fora de controle agora.}
Isso é verdade. Estou feliz por isso.
A mão de Ray se fechou em um punho. Então ele murmurou baixinho, "Precisamos acabar com eles. Se não, vamos morrer todos."
Sua voz não foi alta, mas suficiente para que os outros escutassem. Um a um, olhavam para ele e assentiam.
"Ethan," Aurora chamou, "você tem afinidade por sombras, certo? Trabalhe com Irvin e mova os estudantes inconscientes para os lados. Se uma luta começar, eles vão acabar no fogo cruzado."
A voz dela era suave, mas carregava uma autoridade firme. Mesmo Ethan, que raramente ouvia alguém, assentiu e logo se moveu, Irvin o seguindo sem questionar.
Aurora virou-se para o resto. "Façam o melhor que puderem," ela disse baixinho. "Tentem não morrer."
Ela não falou mais nada, mas de alguma forma, foi suficiente. Há um efeito calmante em sua voz que acalmou seus nervos.
{Viu? Essa é a aura de uma verdadeira líder. Diferente de você — sempre deixando suas emoções afetarem seu julgamento.}
Ray não argumentou.
Porque Aetheris tinha razão.
Sempre que demônios estavam envolvidos, algo dentro dele quebrava. Seus pensamentos ficavam nublados, e a chama da vingança tomava conta.
Zerak e Miraak observavam com interesse, mas não interferiram.
"Irmão, eles querem lutar conosco," disse Miraak, lambendo os lábios.
"Hehe. Não é interessante?" Zerak sorriu. "Vai ser mais divertido se eles resistirem. Vamos ver eles lutarem por um pouco — assim vai ficar ainda melhor matá-los."
"Isso mesmo."
Depois que os corpos inconscientes foram movidos para o lado, os poucos que sobraram se reuniram perto do centro. Ash e Elysia já estavam ao lado, de modo que ninguém os tocou.
E naquele momento frágil de silêncio, a tensão encheu o ar como um trovão esperando para rasgar o céu.