
Capítulo 61
Poder das Runas
Três semanas atrás
Depois que Ash deixou a Cidade de Ferro, o mundo continuou a girar — sem perceber os tremores quequietamente começavam a se espalhar pelo tecido do próprio destino. Em algum lugar distante da realidade, escondido entre as dobras do espaço, uma dimensão oculta banhada por uma luz suave de azul celeste flutuava em uma quietude atemporal.
Na borda de uma colina tranquila, onde as nuvens filtravam a luz do sol formando uma névoa de sonho, um homem idoso estava sentado com uma vara de pescar na mão. O lago abaixo dele cintilava suavemente, com pequenas ondulações ocasionais, como se o próprio mundo respirasse devagar e de forma constante ao seu redor.
Ao seu atrás, ficava uma jovem garota, com pouco mais de quatorze anos. Seus braços cruzados, sobrancelhas franzidas. Ela observava as costas imóveis do velho, com a voz carregada de frustração.
"Ei, velhão. Alguém está usando seu nome. Por que você não faz nada a respeito?"
A pergunta pairou no ar por um instante antes que ele respondesse, com uma voz calma e firme.
"Por que você pergunta?"
"Porque," ela disse, a curiosidade na voz revelando sua juventude, "você sempre me disse que derrubaria qualquer um que ousasse usar seu nome indevidamente. Então, por que agora… está simplesmente deixando passar?"
Ela tinha crescido ao lado dele, ouvindo suas histórias de batalhas antigas e sacrifícios silenciosos. Ele tinha salvado o mundo inúmeras vezes—ou assim dizia—e seu poder era tão vasto que dava vertigem apenas imaginar. Jamais buscou fama ou recompensa. Tudo o que sempre quis foi paz.
E, no entanto, agora, alguém havia entrado no mundo carregando seu título, e ele não fazia nada.
Os olhos do velho continuavam fechados. "Porque… Eu não sei quem foi."
As palavras a atingiram como um tapa. "Como assim, você não sabe?" Sua voz tremeu.
Por um momento, a calmaria pareceu pesada. Ela não podia acreditar. O homem que a criou—aquele considerado mestre supremo do destino—não conseguia identificar um impostor?
Isso não podia ser verdade.
Ela sabia quem ele era—o que ele era. O Oráculo do Destino. Aquele que lia o mundo como um livro, que tinha visto seu nascimento e seus possíveis fins. Ele não era apenas alguém. Era aquele que tinha o conhecimento. E, mesmo assim, agora, não tinha?
"Você está mentindo," ela disse em voz baixa, quase para si mesma.
Mas ele apenas sorriu de leve, os olhos ainda fechados.
Ela se lembrou. Como os livros que ele lhe dava não eram de nenhuma biblioteca de Akumia. Como ele falava de eventos ainda por acontecer. Como, com um simples olhar, ele conseguia puxar fios do destino como se fossem linhas em um tear.
Então, como alguém poderia usar seu nome e simplesmente desaparecer?
Ele então abriu lentamente os olhos. Não eram mais olhos—pelo menos, não no sentido humano. O que ele encarava era uma roda dourada, girando lentamente onde deveriam estar suas pupilas. Ela brilhava de leve, como se o próprio tempo se curvasse ao redor dela.
Ele olhou para o céu. Seu olhar atravessou as nuvens e perfurou algo muito além do horizonte.
Observou enquanto fios invisíveis se desfaziam e se reformavam acima das nuvens—delicadas linhas do destino torcendo, virando, substituindo o antigo pelo novo. Lá em cima, as rodas do destino giravam sem parar.
Quem diria que um dia testemunharia algo assim…
As Feras estavam mudando. O destino sendo reescrito. Desfeito e remendo por mãos desconhecidas.
Agora há esperança… mesmo que seja pouca.
Nunca tinha visto algo assim antes. Em todos os anos que observou o mundo girar.
"Tentei encontrá-los," continuou ele, "Mas algo… ou alguém bloqueou minha visão. Não era apenas um véu. Era como se o próprio mundo se recusasse a revelar sua presença."
Ele gentilmente balançou a cabeça, perdido em pensamentos que somente ele poderia compreender. "Se eu tivesse sido um pouco mais rápido… talvez eu tivesse visto o rosto deles. Mas não fui."
Amélia, a garota, mordeu o lábio. Seu coração acelerava de inquietação. "Mas… eu achava que ninguém podia se esconder de você. Não era isso que você sempre dizia?"
Ele ficou em silêncio, os olhos fixos no céu, como se procurasse respostas que sabia que não viriam.
O velho exalou lentamente, os olhos retornando a ela.
"Porque o mundo não conhece meu verdadeiro nome."
Ela piscou. "O quê?"
Ele sorriu novamente, mais para si mesmo. "Posso encontrar qualquer um cujo nome e rosto eu conheça, mas achar alguém sem nome ou rosto será difícil, e a não ser que alguém diga meu nome… eu não consigo rastreá-los."
"Mas…"
"Descobri tarde demais. Alguém usou meu pseudônimo, não meu nome, e, quando os rumores me chegaram, já era tarde demais para ver quem era. Minha visão foi bloqueada. Não pelo destino em si, mas por algo mais. Algo… desconhecido."
Ele desviou o olhar.
Talvez fosse isso que o destino queria. Que eu não soubesse… ainda não.
Ele perdeu sua chance.
Mas nem tudo estava perdido.
"Porém, consegui aprender duas coisas," ele disse ao final. "Primeiro—essa pessoa é responsável pela mudança no destino. Está alterando os caminhos, modificando vidas de maneiras que talvez nem compreendam. Até as ações mais simples e gestos mais sutis feitos por ela podem parecer irrelevantes… mas as consequências estão se espalhando pelo mundo."
Os olhos de Amélia se arregalaram. "Não é uma coisa boa? Você disse que o destino estava torcido e escuro. Não é a mudança o que o mundo precisa?"
O velho não respondeu de imediato. Em sua mente, pensamentos ecoavam como o som distante de um sino.
Nem toda mudança é boa, pensou ele. Essa pessoa trata o destino como um jogo. Sua tristeza pode destruir tudo. Sua gentileza pode salvar. Tudo depende do caminho que escolherem.
"Ei," interrompeu Amélia seus pensamentos. "Você disse que descobriu duas coisas. Qual é a segunda?"
Ele a olhou com um sorriso suave. "Eu vi onde o fio se convergente—o epicentro da mudança."
Ela inclinou-se para frente. "Onde?"
"Na Academia Estrelar. Alguém lá é responsável por essa alteração."
Os olhos de Amélia brilharam como estrelas. Aquele nome—Academia Estrelar—era um sonho dela. Um lugar onde talento e destino se cruzavam. Um lugar que ela desejava há muito tempo.
"Então," disse o velho com uma risada suave, "decidi enviá-la lá. Sei que sempre quis estudar lá. Nunca planejei deixá-la partir, mas impedi-la agora seria egoísmo. Vá aproveitar a vida que sempre sonhou. E, enquanto estiver lá… tente encontrar essa pessoa."
"Sim! Obrigada, velhote!" ela gritou, pulando de alegria. "Prometo que vou encontrá-la!"
Enquanto ela corria, rindo de felicidade, o velho sorriu levemente.
Havia uma razão para tê-la adotado. Não apenas por causa de sua afinidade incomum pelo destino… mas pela simples calor que ela trouxe para uma vida que havia ficado quente demais.
Meu tempo está chegando ao fim, pensou ele. Mas nem eu posso prever o que há além. As rodas do destino estão girando—e desta vez, não sou eu quem as está movendo.
Tempo presente
Devo focar na Magia Rúnica agora. A Arte da Espada pode esperar um pouco…
Pensou Ash, sentado silenciosamente no fundo da sala de aula. Ao seu redor, estudantes conversavam com os colegas, risos e vozes enchendo o ambiente de energia.
Até Ray voltou às aulas após três semanas inteiras—mas mesmo assim, Ash permanecia sozinho no fundo.
Desde que entrou na academia, em um mês inteiro, nenhuma pessoa havia se tornado sua amiga. Ninguém tentava falar com ele, e, como ele mesmo não era muito bom em conversar, nunca se esforçou para se aproximar de alguém.
No entanto, a sala sempre falava dele.
Porque, não importava quão obscura fosse a pergunta do professor, não importava quão fundo no livro a resposta estivesse—Ash sempre a respondia. Sua memória nunca falhava.
Nas aulas de combate, também, ele evoluía rapidamente. Mas ninguém notava o esforço que fazia para crescer tão rápido. Só viam os resultados.
Até agora, ele usava seu uniforme de treino—inalteravelmente canalizando mana nele enquanto seguia seu dia, movendo-se normalmente, apesar de suportar o peso constante de cem quilos que pressiona-lo.
O uniforme era tão fino que desaparecia sob a roupa, invisível a menos que alguém soubesse exatamente o que procurar.
Treinava incansavelmente—cada momento que não passava dormindo ou tomando banho, era dedicado a fortalecer-se em silêncio. Mesmo durante os treinos de luta, usava o uniforme, ajudando a mascarar suas verdadeiras capacidades.
Ninguém suspeitava do quanto ele era poderoso, vendo apenas o que ele deixava que vissem.
E, ainda assim, o que mais se comentava entre as pessoas era a mudança em sua aparência.
Seus cabelos prateados, típicos de quem tem o cabelo repartido lateralmente, agora eram mais afiados, mais definidos. Seu corpo, que antes parecia malnutrido, transformara-se numa estrutura magra e atlética—ajustada, composta, silenciosa em sua disciplina. O olhar frio e a face sem expressão, combinados com a precisão silenciosa com que se movia, transmitiam uma aura difícil de ignorar.
Nunca falavam abertamente—mas o olhar das meninas dizia tudo. Antes cheias de desprezo ou zombaria, agora seus olhos refletiam admiração, curiosidade… até um pouco de afeto, incerto e infantil na sua doçura.
Neste momento, Ash pensava sobre o que deveria focar a seguir—suas magias ou sua espada.
Após um momento de silêncio interno, escolheu a magia.
Conheço um pouco de espadas da minha vida passada, raciocinou, mas mesmo tendo aprendido duas ou três magias, mal sei alguma coisa sobre magia de verdade. E o que quero… não é magia comum. Quero criar minha própria vertente mágica. Mas, antes disso, preciso de conhecimentos. Muita coisa. Preciso entender como a magia realmente funciona, especialmente a subestimada magia rúnica.
Sabia que não podia simplesmente conversar com os instrutores e pedir conselho. Eles ririam dele, descartariam como fantasia infantil. Afinal, quem acreditaria que um garoto de doze anos, quase iniciante, poderia criar sua própria vertente de magia?
Terá que pular algumas aulas e focar em ler tudo o que puder sobre Magia Rúnica e outros ramos mágicos na biblioteca…
Isso era uma coisa que a academia tinha feito certo—qualquer aluno podia acessar qualquer livro na biblioteca, não importando quão avançado fosse o feitiço, quão raro o arte ou complexo a teoria. Nada era restringido. Se tinha curiosidade e determinação, podia aprender.
Foi uma regra criada para garantir que nenhum desejo de aprender fosse reprimido.
Quando entender o suficiente… talvez então, eu possa…
Seus pensamentos foram interrompidos ao abrir a porta da sala de aula.
Entrou Elva, graciosa como sempre, chamando a atenção de todos. Mas desta vez, ela não estava sozinha.
Trailhava uma garota que parecida com eles, talvez um pouco maior. Ela seguia Elva com passos leves, os olhos passeando pela sala, cheios de fascínio e curiosidade.
Havia um traço de travessura em seu olhar enquanto examinava cada rosto, como se tentasse encontrar algo—ou alguém—em especial.