Poder das Runas

Capítulo 62

Poder das Runas

Elva entrou na sala de aula com sua graça habitual, aquela que parecia silenciar qualquer ambiente que ela cruzasse. Vários estudantes se endireitaram na cadeira, os olhos automaticamente voltados para ela.

Mas desta vez, ela não estava sozinha.

Ao seu lado, vinha uma garota que Ash nunca tinha visto antes. Parecia ter a mesma idade dele, talvez um pouco mais velha, com cabelos negros e delicados que emolduravam seu rosto pálido, e olhos azuis marcantes que — para sua surpresa — combinavam com os seus.

Havia uma leveza em seus passos, uma energia sutil na maneira como ela se movia, como se estivesse segurando uma risada ou dançando ao som de um ritmo só dela.

Seu olhar vagou pelo cômodo, brilhante e curioso, parando aqui e ali como se estivesse procurando por algo — ou alguém.

Quem ela é?

Ash estreitou levemente os olhos. tentou vasculhar na memória, mas nada veio à tona.

Não... minha mente está confusa. Não é possível que o romance cubra cada dia em detalhes. Não devo confiar tanto nisso.

Ela vestia o uniforme da Academia Estrelas — preto com detalhes dourados — mas de alguma forma, parecia diferente nela. Talvez fosse a maneira como ela se carregava. Confiante, mas não arrogante. Relaxada, mas concentrada.

Ela aproximou-se de Elva e virou-se para encarar a turma. Sua voz, alegre e clara, preenchia a sala com facilidade.

"Olá! Meu nome é Amelia Veynar. Vou começar a frequentar a turma de hoje em diante. Espero que possamos ser bons amigos."

Ash permaneceu em silêncio na cadeira, observando-a. Não gostava de como seus instintos estavam reagindo. Havia algo nela que o deixava desconfortável.

***

Após essa breve apresentação, Ash fez o possível para evitá-la. Mas sua presença permanecia na sua cabeça.

Não era só o timing estranho de sua chegada — um mês após o início do semestre — ou o fato de ter sido colocada na Turma 1S, algo geralmente reservado a estudantes com talentos extraordinários ou origens igualmente incríveis. Aquilo já a tornava suspeita.

Nenhum estudante comum entra na Turma 1S tão tarde. Sua origem deve ser forte — forte o suficiente para quebrar as regras da academia.

Ele pensou nos santos, aqueles sete indivíduos cuja influência moldou grande parte do continente. Será que ela tem alguma ligação com um deles?

Ou talvez com alguém ainda maior?

Por mais que tentasse juntar as peças, não conseguia se lembrar de ninguém com uma origem assim.

Mais do que isso, era a impressão que ela tinha deixado nele. Ele não sabia por quê, mas ela lhe lembrava alguém.

Parece uma versão mais jovem da Vice-Diretora Elva...

Um frio percorreu seu corpo.

Não me diga… ela é filha dela?

Justo quando esse pensamento se firmou, uma voz passou por seus pensamentos — leve, quase brincalhona, mas assustadoramente precisa.

"O que quer que esteja pensando, deve descartá-lo imediatamente."

Ash quase saltou para trás.

Ele nem tinha percebido que ela tinha se aproximado.

Ela estava bem na frente dele, com olhos brincalhões, como se soubesse exatamente o que ele tinha pensando.

Que diabo… ela está me seguindo?

Manter sua compostura, respondeu monossilicamente. "Não estava pensando em nada. E você deveria parar de me seguir. Todas as aulas já terminaram."

"Mas você não me respondeu," ela respondeu, inclinando a cabeça. "Então, o que mais eu poderia fazer?"

Ash rangeu a mandíbula. Se pudesse mostrar emoções no rosto, estaria cerrando os dentes agora mesmo.

Ela tinha perguntado algo antes. Algo que o pegou completamente desprevenido. Desde então, não conseguiu tirar aquilo da cabeça.

"Já disse que não."

---

Algumas horas antes

Após o término da aula de Elva, Amelia ganhou vida — conversando com quase todos os estudantes, como uma tagarela imbatível.

Uma por uma, ela passou pelos colegas. Então, finalmente, parou na frente da mesa de Ash, inclinou-se um pouco demais, e perguntou —

"Você é meu irmão perdido?"

A pergunta atingiu a turma como uma explosão. Silêncio, depois —

"Pffft—!"

Grace cuspiu um gole d'água direto na cara de Ethan, encharcando-o completamente. Ele parecia ter sido atingido por uma onda.

Toda a sala explodiu em risadas.

Melissia ficou boquiaberta, com a boca aberta. Lyra e Irvin ergueram risadinhas sufocadas. Metade da turma entrou em caos — alguns morrendo de vergonha alheia, outros tão atônitos que nem reagiram.

A sala vibrava com risadinhas contidas. Alguns riam do azar de Ethan, mas a maior parte estava estarrecida com a pergunta absurda de Amelia.

Ash olhou de volta para ela com uma expressão vazia, mas por dentro, estava sem palavras.

"Não," ele falou, mais alto do que o necessário.

Amelia não pareceu abalada. Ao contrário, ela assentiu como se tivesse esperado por isso.

"Entendo…" respondeu, um pouco decepcionada. "Só que nossos olhos são da mesma cor, então pensei que talvez..."

Imediatamente, Ash colocou ela na lista de evitar a qualquer custo.

Apontou para Ray. "Ele tem cabelo preto. Isso não significa que seja seu irmão também."

Ray piscou, confuso.

Por que estou me metendo nisso?

Desde aquele momento, Amelia não saiu mais dele.

"Qual é o seu nome?"

"De onde você é?"

"Você gosta de doces?"

"Ainda há uma chance de sermos irmãos. Eu sou mais velha que você, afinal. Deveria saber."

Por mais que tentasse se livrar dela, ela insistia — cheia de perguntas, cheia de curiosidade, como abelha em volta de uma flor.

---

E agora, lá estava ela de novo.

Aash sentia uma dor de cabeça crescendo.

"Por que você está me seguindo?" ele perguntou, forçando as palavras devagar. Sua paciência estava no limite. Sentia que sua calma, seu silêncio, estavam se destruindo, e ela era a responsável por isso.

"Por quê? É fácil," ela respondeu, sorrindo brilhantemente. "Porque eu gosto de você."

A voz dela não era suave. Na verdade, ecoava alto o suficiente para que toda a enfermaria ouvisse.

Ash congelou.

Os estudantes ao redor também congelaram.

As conversas pararam. Os passos cessaram. Todos os olhares se voltaram para eles.

Coração afundou.

A entrada de Amelia na academia já tinha despertado muita curiosidade — ninguém sabia como ela tinha entrado, e se perguntassem, ela apenas sorria e dizia: "Meu avô me deixou matricular."

Nunca explicou quem era esse avô, embora fosse óbvio que ele tinha autoridade suficiente para colocá-la na turma mais elite.

Junte esse mistério com sua beleza, charme e confiança, e ela rapidamente virou uma das pessoas mais comentadas da academia.

E agora, no seu primeiro dia, ela acabara de dizer que gostava de alguém.

Não só de alguém — mas de Ash. O estudante de menorRanque na academia.

Ele sentiu como se o chão sob seus pés estivesse desabando.

"O que quer dizer com isso?" ele perguntou, tentando manter a voz firme. Precisava esclarecer o mal-entendido.

"É simples," Amelia respondeu. "Eu acho você interessante, Ash Burn. É só isso."

Ash olhou para ela por um instante, depois soltou uma respiração lenta.

"Nunca deveria dizer essas coisas," ele falou após uma pausa. "As pessoas levam a sério. E eu não quero problemas. Então, por favor, me deixe em paz."

Ele não esperou resposta. Passou por ela e acelerou o passo, indo em direção à biblioteca.

Ao seu lado, começaram a murmurar.

"Ela acabou de falar que gosta dele?"

"Espera, ele acabou de rejeitá-la?"

"Deve ser brincadeira. A deusa Amelia foi rejeitada pelo último colocado?"

"Ele é mudo ou algo assim? Nunca vi alguém como ele..."

As palavras chegavam a seus ouvidos — ele podia ouvi-las claramente graças aos seus sentidos aguçados.

Seus punhos apertaram-se ao lado do corpo.

Mudo?! Seu bastardo — eu só sou virgem, isso não me faz um mudo!

Com raiva, ele caminhou bravamente, murmurando palavrões, indo direto para a biblioteca.

***

[Ponto de Vista de Amelia Veynar]

Ela observou Ash enquanto ele avançava pelo corredor, passos firmes e decididos — como se estivesse tentando fugir de algo invisível que se agarrava à sombra dele.

Seu sorriso se alargou um pouco.

Que estranho…

Mesmo agora, depois de tudo, ela não conseguia ver uma única centelha de emoção ao redor dele. Nada. Nem um traço. Nenhum vermelho de irritação, nenhum azul de tristeza, nenhuma linha dourada de alegria.

Desde criança, o velho lhe dizia — Você é diferente, Amelia. Os fios do destino se aproximam um pouco mais de você. Ela tinha uma afinidade com o destino, uma relação sobrenatural.

Algo que despertaria nela mais tarde, quando seu corpo e espírito estivessem fortes o suficiente para suportar.

Mas esse não era o único presente que ela carregava.

Seus olhos eram únicos. Diferentes de tudo o que ela tinha visto.

Ela conseguia sentir emoções — cruas, honestas, transbordando das pessoas como luzes coloridas. Alegria brilhante, tristeza opaca, inveja que pinicava… Cada emoção tinha uma cor, um peso, uma forma.

Era como assistir às almas dançarem em câmera lenta. Uma bênção, ela dizia. Uma maldição, às vezes sentia. Pois ela sempre soube em quem confiar… e quem evitar.

Isso a mantinha segura. Permitia sobreviver, muito antes de ter um nome ou um lar.

Mas então, ela entrou na academia.

E o encontrou.

Ash Burn.

Um menino que se destacava numa multidão, mas parecia um fantasma.

Ele não emitia nada. Nem cor. Nem pulso. Apenas... silêncio. Suas emoções não se escondiam — simplesmente, não existiam. Pelo menos, aos olhos dela. Ela o olhava e olhava, mas só havia um vazio branco onde suas emoções deveriam estar.

E isso foi a coisa mais fascinante que ela já viu.

Então, ela o provocou. Zombou dele. Chamou-o de irmão na frente de todos, só para ver se ele queb tab— só para ver se alguma faísca apareceria.

Mas, mesmo assim… nada.

E, no entanto, ao invés de assustá-la, isso a fez sorrir.

Ash Burn… você é o primeiro enigma que não consigo decifrar.

Seus lábios se curvaram enquanto ela se virava, com o coração batendo mais rápido.

A academia realmente é um lugar divertido.