
Capítulo 60
Poder das Runas
Suas pálpebras tremeram ao se abrir lentamente.
O mundo o cumprimentou em uma quietude suave—uma luz tênue esparramando-se preguiçosamente pelas cortinas. Havia uma pressão estranha nos seus membros, como se seu corpo tivesse afundado no chão e se solidificado durante a noite.
Levou um tempo para perceber que ele não estava na sua cama.
O carpete sob ele era firme, texturizado, desconhecido contra sua pele—mas não parecia errado. Quase como se seu corpo tivesse moldado-se a ele durante a noite. Como se até a gravidade tivesse decidido que ele pertencia mais perto do chão.
Ele não questionou. Não se moveu. Apenas encarou o teto de forma vazia, olhos vidrados e imóveis, enquanto a consciência retornava lentamente como água gelada que atravessava veias que não pediam por isso.
Seus membros estavam rígidos. Suas articulações doíam. Seu pescoço latejava com uma tensão dormente e insistente, mas nada disso realmente se registrava.
Por fim, ele se apoiou lentamente—devagar, mecânico, como uma marionete lembrando-se de que tinha fios. Seu olhar desceu e lá estava.
A espada.
Deitada exatamente onde tinha deixado na noite anterior.
Sua bainha branca reluzia suavemente na luz tênue, indiferente a tudo que tinha acontecido.
Ele a encarou por um longo tempo.
Estava esperando que a culpa o atingisse? Ou talvez algum vestígio de vergonha ou raiva?
Não. Não havia nada. Apenas o vazio habitual se enrolando silenciosamente no peito dele, pesado como um segundo ritmo cardíaco.
Sua reflexão o olhava de volta na superfície polida da lâmina—expressão neutra, olhos vazios, rosto demasiado imóvel para parecer dele.
Estou me sentindo um lixo agora, pensou Ash, desviando o olhar com um sentimento amargo.
A tempestade tinha passado.
Ou talvez ele simplesmente estivesse exausto demais.
Preciso de uma arma nova. Essa virou inútil agora...
O pensamento caiu com o peso de uma pedra,
e, acima de tudo, seu coração parecia mais leve; não é como se suas preocupações tivessem desaparecido, mas elas não pareciam tão pesadas assim.
Adivinha, chorar ajuda mesmo. Quem diz que um homem não pode chorar, deve ser um monstro de coração frio.
Ele se levantou enquanto pensava, ignorando o estalo nos joelhos, a rigidez, a ardência seca na garganta.
E então, como se fosse ensaio, seu estômago emitiu um ruído baixo.
Ele piscou, virou a cabeça em direção ao relógio e fixou os números piscando.
Durmo um dia inteiro e uma noite sem comer nada, e ainda perdi minhas aulas.
Mas esse pensamento não o incomodou tanto; ele apenas suspirou.
Pegou a espada, deslizou-a para dentro do anel de espaço com facilidade treinada, sem se incomodar em olhar novamente para ela. Depois, caminhou até a janela, deixou o sol da manhã banhar sua pele e ficou lá por um tempo.
Os pássaros lá fora cantavam com uma alegria quase descontrolada, suas melodias dançando entre os galhos que se balançavam suavemente com a brisa matinal.
A luz dourada filtrava-se pelo vidro, quente e leve, espalhando-se pelo chão em manchas irregulares que brilhavam como brasas suaves.
O céu se estendia amplo e sem nuvens acima, com tons que variavam de pêssego pálido a um azul terno, como uma tela que ainda estava secando sob a mão de algum deus preguiçoso.
O vento agitava as cortinas, levantando-as com uma graça que só as manhãs podem proporcionar—nem apressada, nem hesitante, apenas silenciosamente viva.
Em algum lugar ao longe, a campainha da torre da academia soou uma vez, baixa e profunda, fundindo-se no silêncio do amanhecer como um batimento de coração.
E Ash…
Ash permaneceu lá, a luz tocando seu rosto, absorvendo-se na frieza da sua pele.
O mundo lá fora parecia tão bonito que quase parecia irreal—como algo destinado a outra pessoa. Como se a paz fosse um espetáculo que só pudesse ser observado pela janela.
Ele não sabia quanto tempo ficou assim.
Mas, eventualmente, chamou:
Estado.
**
[ESTADO]
Nome – Ash Burn
Raça – Humano
Idade – 12 anos
Classe – Espadachim Mágico (Único)
Patente – Iniciante (F-Ranque) – (80%)
Afinidade – Raio, Vida
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[ATRIBUTOS]
Força – 150
Agilidade – 150
Vitalidade – 150
Inteligência – 150
Resistência – 150
Carisma – 150
Mana – 150 (x2, pois possui dois núcleos)
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[TRAÇOS]
- Códice da Criação (Patente Iniciante)
- Núcleo Primordial (Incompleto)
[HABILIDADES]
- Pensamento Omnis
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[RUNICAS]
- Runa da Estabilidade
- Runa do Conhecimento
- Runa da Vida
- Runa do Equilíbrio
- Runa do Encobrimento
***
Runa: Runa do Encobrimento
Descrição:
-Ela oculta o destino do usuário de qualquer um que tente lê-lo ou interferir. Não apaga o destino, mas o cobre como uma densa neblina, impossibilitando rastreá-lo ou prever o caminho futuro do usuário.
-Também mascara a energia mágica, traços, linhagem e qualquer outra verdade oculta dentro do corpo. Se alguém tentar usar magia, habilidades ou ferramentas para escanear ou observar, o que for visto será bloqueado, mostrado como vazio ou completamente enganoso.
***
Ele adquiriu a Runa do Encobrimento após retornar da Cidade de Ferro. Não foi uma escolha aleatória.
Todos os runas tinham valor a longo prazo. Não serviam para gratificação instantânea, mas para um crescimento sutil e constante que se revelava ao longo do tempo.
A Runa do Encobrimento não era diferente.
Ela permitia que ele escondesse sua presença quando necessário, sua mana, suas intenções e até seu próprio destino de serem vistos pelos outros. Em um mundo onde as pessoas podiam ir além da superfície, onde o próprio destino podia ser lido como um fio, esse tipo de cobertura era mais que útil—era essencial.
De olho nisso, Ash tinha certeza de que havia feito a escolha certa.
No começo, a runa assumiu a forma de um manto feito de sombras. Permitindo que ele se infiltrasse na escuridão como se ali pertencesse, que se movesse sem ser notado.
Não era apenas furtividade. Era desaparecer. Sua presença inteira tinha sido apagada. Mesmo parado, parecia que ele não fazia mais parte do mundo.
Mas ainda assim, o efeito de esconder seu destino era irresistível demais para abandonar....
Existiam pessoas neste mundo com afinidade com o destino. E, mesmo sem essa afinidade, se alguém atingisse um nível elevado, poderia ainda assim mergulhar nas linhas do destino, ver para onde uma pessoa estava indo.
Ash não queria isso. Não queria ser previsível. Não queria que alguém o rastreasse.
Esse medo nunca o abandonou.
Por isso, pegou a runa. Como precaução. Como uma camada de proteção. Talvez fosse paranóia. Talvez fosse simplesmente bom senso. De qualquer forma, não se arrependeu.
Porém, nenhuma habilidade havia se desbloqueado do núcleo primordial mesmo após absorver outra runa.
Isso ainda o incomodava um pouco.
Esperava que absorver outra runa despertasse algo, desencadeasse uma nova habilidade ou pelo menos desse algum sinal de que ele estava se aproximando de entender o propósito do núcleo.
Mas nada mudou—exceto pelo símbolo da Runa do Encobrimento, que havia sido gravado em seus dois núcleos como uma marca silenciosa.
Mesmo assim, mesmo que o núcleo não tivesse mudado, a runa ajudava de outra maneira.
A aura primordial do núcleo era demais para ser contida. Ele vinha tentando reprimi-la, mas exigia esforço, concentração plena, e não podia manter esse controle mental o tempo todo.
A Runa do Encobrimento ajudou mais do que ele imaginava. Não apenas suprimia a antiga aura do núcleo—ela lhe dava controle sobre ela.
Agora, se quisesse, poderia liberar essa pressão. Deixar a força ancestral escapar. Permitir que outros a percebessem. Ou não. Isso dependia inteiramente dele.
A ideia trouxe uma leve satisfação à sua mente.
O progresso é suave, pensou Ash ao olhar para suas estatísticas.
Desde que voltou do calabouço, não se permitiu parar. Todo dia tinha sido de movimento—treinando o corpo, treinando no campo de batalha durante as aulas, praticando manipulação de mana sempre que podia, e empunhando a espada onde pudesse encontrar um lugar tranquilo.
E quando não havia mais nada para atacar, simplesmente lia livros na biblioteca.
Passava horas na grande biblioteca da academia, devorando página após página, buscando o tipo de conhecimento que não podia ser ensinado por aulas ou batalhas.
Agora, seu foco estava em livros sobre—Arte das Espadas, Formaçõs de Magia Rúnica, registros históricos—qualquer coisa que pudesse ajudá-lo a evoluir.
E era aí que ela ainda aparecia para ele.
Elysia.
Ela continua a mesma, pensou Ash, Mesmo depois de ter sido puxada para um mundo totalmente novo… esse amor silencioso por livros nunca desapareceu, nem um pouco.
Sempre que a via lá, ele optava por outro corredor. Não era exatamente uma forma de evitar, mas parecia mais fácil assim.
Os caminhos deles ainda não se cruzaram novamente, e talvez fosse melhor assim.
desviando dos pensamentos, Ash respirou lentamente, deixando o ar aprofundar-se no peito antes de virar-se de vez da janela.
Foi ao banheiro, tomou um banho quente, e deixou a água aliviar a rigidez nos membros e o peso opaco atrás dos olhos. Depois, se veste, sai do quarto e vai para o refeitório.
O café da manhã passou rápido. Comia mais do que de costume, embora não soubesse se era fome emocional ou apenas os efeitos do que seu corpo tinha passado. De qualquer forma, era bom comer.
Quando chegou à sala de aula, o número familiar na porta o encarou—1S.
Ele não hesitou. Empurrou a porta e entrou.
***
A/N: Ei, só quero perguntar rapidinho—vocês acham o ritmo um pouco lento? Ou está de boas? Tô tentando fazer a história encaixar direitinho, então se parecer que está arrastando, eu acelero um pouco. Me digam o que acham, vai ajudar MUITO para os próximos capítulos! 🙌