
Capítulo 69
Poder das Runas
"S-Senhora Aurora...?"
Ray murmurou, as bochechas infladas como uma esquila pega no ato, ainda mastigando o bolo com uma expressão desajeitada.
Fofo...
Aurora pensou, com os lábios curvados num sorriso tímido, embora sua expressão permanecesse composta.
"N-Nice em te conhecer, senhor," Ray gaguejou, engolindo apressadamente o bolo e se esforçando para recuperar a pouca dignidade que tinha.
O sorriso de Aurora se aprofundou, seu tom brincalhão, mas leve.
"Parece que o novato é educado."
{Polido pra caramba. Por que você chama um pirralho da sua idade de senhor? Você é a mestra do grande mim. Como pode se curvar a uma adolescente abençoada pelas estrelas?}
Cale a boca…
Ray deu uma risada constrangida. "Haha…"
E assim, os dois estudantes mais fortes de suas respectivas séries ficaram cara a cara, trocando conversinhas pequenas enquanto, em outro lugar, a tensão aumentava como ondas.
***
"Demônios vão atacar os estudantes, todos os professores serão transferidos para outro lugar," disse Elysia, com uma voz séria.
Ash ouviu silenciosamente, mas por dentro—
Como ela sabe disso…?
O que, diabos, está acontecendo aqui…?
"Você deve estar chocado, né? Como eu sei… Mas você conhece a Amelia, não é? Ela disse que teve um sonho..." Elysia contou a ele sobre o sonho.
Ouvindo as palavras dela, Ash ficou pasmo. Mas, ainda assim, sua mente permaneceu calma, mesmo que seus pensamentos estivessem um pouco confusos.
Sonhos que mostram o futuro...?
Não me diga… Droga, droga… merda. Só tinha uma pessoa na história que poderia prever o futuro.
Aquela maldita bruxa—ah, não… qual era mesmo o nome dela? Ah, certo... era Bruxa do Destino, Não… Observadora do Destino.
Espera, espera, espera—não me diga que a Amelia é aquela bruxa indisciplinada... mas como isso pode ser?
O romance nunca revelou quem realmente era a Sussurradora, mas mencionou aquela bruxa. Ela tinha uma conexão enigmática com a Sussurradora, aparecendo após a queda do Mundo de Akumia, nas mãos dos anjos.
Ela veio a se tornar membro do grupo de Ray, que estava com suas haréns. Mas o que assustava mais nela era que ela podia perceber as emoções das pessoas.
Ash costumava chamá-la de bruxa por causa de sua personalidade desagradável. Com sua habilidade de ver emoções, ela provocava muitas brigas entre os integrantes do harém.
Basicamente, ela achava prazer em assistir às brigas das pessoas. Além disso, era a personagem mais odiada do romance.
Comentários dos leitores variaram de "Rainha arrasadora" a "Será que ela podia tropeçar e cair em um poço de buracos na trama?"
Ugh… mas por que eu estou bravo? Deve ser hábito…
Até Ash não gostava dela.
Faz sentido agora—vendo como ela me perseguia. E, como ela não conseguia ver minhas emoções, provavelmente decidiu testar minha paciência.
Droga, estou na mira dela…
Foi uma pena, mas ele não podia fazer nada a respeito.
Muitas coisas ficaram claras agora para Ash—por que ela agia assim, por que tinha aquela personalidade, quem ela realmente era e como conseguiu entrar na academia.
Faz sentido agora… ela mencionou seu avô. Isso significa que a Sussurradora é um velho, e ele deve ter pedido ao Diretor para aceitar a neta dele.
Como o Diretor poderia rejeitar o pedido da Sussurradora, ainda mais facilmente assim? Se pudessem fazer ela lhe dever um favor, seriam beneficiados.
Mas por que decidiram aparecer agora?
Ash ficou confuso. Foi então que caiu a ficha.
Eu sou o motivo.
Se ele não tivesse mencionado o nome da Sussurradora, essa situação não teria acontecido.
No fim, tudo foi culpa dele.
"Ei, parece que sou um idiota? Para de pensar e fala alguma coisa," disse Elysia, com uma voz afiada. Sua amabilidade habitual tinha desaparecido.
Saindo de seus pensamentos, ele perguntou, "Por que você está me dizendo isso? Você devia avisar os instrutores."
"Vamos parar com essa enrolação—estou ficando irritada," disse Elysia em voz baixa, mas com um tom de raiva. "O que você acha, Ash Burn? Que eu não sei quem você é só porque decidiu se afastar de mim e agir diferente?"
Era melhor que estivessem perto do canto. Se mais alguém tivesse ouvido, teria sido um desastre.
O-que... espera...
Ash ficou assustado—literalmente sentiu como se o chão sob seus pés tivesse desaparecido.
"Embora eu não saiba por que você está fazendo isso, depois que esse evento acabar, você me contará tudo. Entendeu?"
O que devo dizer agora? Ela acaba de jogar duas bombas de uma só vez.
Certo... ela sempre foi assim…
Mesmo assim, ele tentou. "Já te disse que não sou a pessoa que você procura. E sobre o ataque—"
"Você realmente quer que eu te espanque igual naquela noite? E agora eu estou muito mais forte. Seria uma boa experiência, né?" ela perguntou com um sorriso. Até os olhos dela estavam curvados, mas para Ash, aquela expressão era como a de um demônio.
Porra…
Embora geralmente fosse gentil e amável, ela nem sempre era assim. Quando ficava com raiva, ela batia em Ash para aliviar o sentimento.
Ela chamava isso de terapia. Ele chamava de trauma.
Até já houve uma vez em que Ash quis terminar o relacionamento por causa disso.
Naquela noite, ela o bateu a noite toda. Só de pensar nisso, um calafrio percorreu sua espinha.
Ele não tinha nada a dizer. Sabia que, não importasse o que fizesse, se tentasse negar as palavras dela, seu futuro seria sombrio.
Então, mudou de assunto.
"Você falou que eles vão entrar por um portal?" perguntou.
"Hmm… Eu vou te deixar mudar de assunto, já que há coisas mais urgentes. Mas não pense que eu esqueci."
"Sim. Eles vão entrar pelo portal."
Finalmente aceitou. Eu sabia. Esse idiota só precisa levar puxão de orelha para o cérebro começar a funcionar.
Ela sabia que, quando se tratava de amor e sentimentos, ele era meio bobo. Mas era isso que ela gostava nele.
Ele não é como uma criança? Tentando esconder coisas da mãe dele? Hehe…
Ash olhou para a face dela, rindo e brincando, e pensou: Ela não é normal.
Um momento ela estava séria, no outro sorria como uma idiota feliz. Como alguém pode ter tantas oscilações de humor?
Deixando isso de lado, ele focou nas informações que ela lhe deu.
Demônios vão entrar pelo portal… mas esses idiotas já estão aqui. Será que planejam abrir o portal para criar mais caos?
Ele cerradura os punhos, depois olhou para ela e disse—
"Vamos sair daqui."
Ao que Elysia ficou calada.
Ela olhou em seus olhos frios e indiferentes e disse:
"Você nem demonstra um pouquinho de felicidade por me ver de novo. E agora me manda sair… e deixar esses garotos morrerem?"
Outro motivo pelo qual eu não queria contar tudo. Ela não é como eu. Ela tem um coração bondoso. Não vai deixar ninguém morrer se tiver uma maneira de salvá-los.
Ash ficou em silêncio, depois olhou bem nos olhos dela e disse—
"...Não quero te perder de novo."
Sua voz deu uma trinca, só um pouco, mas o suficiente para tremer algo dentro dele. Ele não sabia por que aquelas palavras vieram à tona.
Ele não planejava dizê-las. Escaparam pelos momentos de controle, como a água escorrendo entre as pedras, carregando um peso que há tempos tentava enterrar.
Aquele momento ficou pesado.
Seu peito doía—não por dor física, mas pela pressão de emoções que nunca tinham cicatrizado. As memórias, a culpa, a tristeza… estavam todas voltando à tona, rasgando o silêncio que ele tinha criado ao seu redor.
Elysia congelou.
Ela ficou sem ar ao tentar entender o que tinha acabado de ouvir. Seus lábios tremeram, mas nenhuma palavra saiu. O fogo nos olhos dela diminuiu por um segundo, dominado por algo mais profundo. Algo mais gentil.
Sua raiva não desapareceu—mas vacilou.
Ela esperava mentiras. Esperava negação. Esperava que ele a afastasse como sempre fazia.
Mas não isso.
E justo quando deu um passo instável para frente, como se fosse dizer algo—talvez para alcançar, talvez para abraçar—
BOOOM!!!
***
Poucos momentos antes…
"Instrutora Elva!" Grace gritou, sua voz cortando a conversa animada no grande salão enquanto ela corria em direção a ela, com Amelia e Lyra logo atrás.
Cabeças se viraram instantaneamente. Estudantes que conversavam ou esperavam instruções congelaram no meio da frase. Até alguns instrutores levantaram as sobrancelhas. Não muito longe, Ray e Aurora pararam de falar, ambos olhando na direção da confusão repentina.
Lyra rapidamente se inclinou, sussurrando com dureza, "Por que diabos você gritou daquele jeito?!"
"Mas a situação é urgente!" Grace retrucou, com a voz carregada de frustração.
"Idiota, quer que o salão todo entre em pânico?!" Lyra rebateu, tentando falar baixo. "Você tem noção do que vão pensar se começar a falar disso agora?"
"Ela tem razão," acrescentou Amelia, sua voz mais suave, mas firme. "Você realmente não deveria ter gritado assim. Tem jeito de lidar com isso, sabe."
Mas Grace já não ouvia mais. Seu rosto estava tenso, os olhos afiados de preocupação. Sem dizer uma palavra, ela agarrou a mão da Instrutora Elva e a puxou para longe do grupo. Os outros seguiram, embora inseguros do que fazer.
Grace não perdeu tempo. Rapidamente contou tudo para Elva—sobre o sonho da Amelia, os sinais de alerta, e o que Elysia tinha dito. As palavras vieram rápidas, e ela não omitiu detalhes, mesmo com a voz tremendo.
Elva permaneceu calada, com seu rosto ficando mais escuro a cada frase. Não fez perguntas, não interrompeu. Apenas ouviu, entendendo mais do que qualquer outro na sala.
Porque ela sabia.
Sabia exatamente quem era o guardião de Amelia, e mais importante, do que aquele homem era capaz.
Se uma garota como Amelia, criada sob a tutela dele, tivesse um sonho assim… não era só um sonho. Era um aviso. Uma premonição.
Elva respirou fundo, e então liberou toda a sua aura sem hesitar.
BOOOM.
O ar na sala mudou instantaneamente.
Não foi barulhento ou chamativo, mas foi poderoso. A pressão atingiu todos como uma onda, fazendo alguns estudantes cambalearem ou recuarem, lutando contra o peso dela para respirar.
Aura de Elva não era descontrolada. Era controlada, precisa, carregando a força de alguém que viu perigo real e enfrentou de frente.
Ela não fazia isso para se mostrar. Era uma mensagem.
***