
Capítulo 68
Poder das Runas
Cadê ele?
Elysia vasculhou o salão lotado, seus olhos varrendo rostos familiares, mas nenhum deles era o dele.
Ela conseguiu extrair pedaços de verdade de Ash mais cedo — não porque ele tivesse contado a ela diretamente, mas porque ela percebeu as mentiras que ele embrulhava em suas palavras como uma armadura.
Pedaço por pedaço, entre sua evasiva e meias-verdades, ela entendeu: que os demônios atacariam hoje.
Mas ela não sabia quando. Ou como.
Ela nem fazia ideia de como Ash tinha descoberto algo assim. Muitas perguntas queimavam em sua cabeça. Queria confrontá-lo, dizer que sabia das mentiras, das meias-verdades que ele tentava esconder por trás daquela expressão tranquila.
Porém, segurou-se porque — no instante em que ele falou sobre o fim do mundo, algo em seu coração mudou.
Porque se fosse Ash…
Então ele nunca lhe diria nada. Não se fosse para mantê-la afastada do perigo. Não depois de já ter deixado ela ir embora uma vez.
Aquele idiota ainda é um idiota… se ao menos ele tivesse confrontado, não precisávamos jogar esse jogo idiota de esconde-esconde…
E se ele acha que ficar longe de mim me protege, enganou-se. Esqueceu quem eu sou?
Se ele realmente acredita que eu vou simplesmente deixá-lo em paz… então está sonhando.
Né quando seus olhos se fixaram nele.
Um garoto com cabelo branco prateado, apoiado casualmente perto de uma das colunas, encarando-a diretamente. Vestia uma camisa cinza, com o colarinho largamente aberto, como se não estivesse nem aí. E seu olhar fazia o resto do mundo parecer barulhento demais.
Uhh... ele ficaria muito mais bonito se sorrisse...
Não sei se é coincidência ou não, mas… por que nosso cabelo quase se parece…
Foi nesse momento que um pensamento indecente a pegou de surpresa. Suas bochechas esquentaram levemente enquanto sua mente viajava longe demais.
Não. Pare. O que você está pensando? Ainda somos crianças. O mundo está acabando — não posso estar pensando nisso agora.
Ela balançou a cabeça suavemente e voltou o olhar para os outros, tentando disfarçar sua expressão.
"Devemos nos separar," ela disse, com um tom firme, entrando na pele de líder antes que alguém pudesse fazer perguntas. "Procurem ao redor. Se perceberem algo estranho, me avisem imediatamente."
Os outros assentiram, percebendo a seriedade dela.
"A Melissa atendeu a ligação?" Grace perguntou, baixa.
"Não. Não sei onde ela está," respondeu Elysia, tentando esconder a decepção. Seus dedos se mexiam inquietos ao lado do corpo.
"Devemos avisar os garotos sobre isso? Talvez possam ajudar," Lyra sugeriu com cuidado, trocando olhares entre eles.
Elysia hesitou por um momento. Aquela sugestão… fazia sentido. Mas seu silêncio persistiu.
Ela queria correr até a Instrutora Elva, gritar o aviso bem alto para que alguém acreditasse nela. Mas algo dentro dela a impediu.
O que aconteceria se ela destruísse tudo que Ash tenta fazer ao interferir? E se ele já tiver planejado algo…?
Ela só contou às pessoas em quem confiava — aquelas que ouviriam sem duvidar de sua sanidade. Porque não podia se dar ao luxo de ter dúvidas. Não naquela noite.
Enquanto pensava nisso tudo, Amelia hesitou, levantou a mão e falou baixinho:
"Umm... E-que… eu, hum… tive um sonho. Sobre hoje."
Todas as atenções se voltaram para ela. Até a música de fundo ficou mais silenciosa por um segundo, como se o momento estivesse segurando a respiração.
"No meu sonho..." Amelia continuou, mexendo nas mangas, "os instrutores… eles desapareceram. Como se fossem teletransportados para outro lugar. E então… demônios. Começaram a entrar por um portal. Havia gritos, e… e sangue. Tanta sangue. E o Ray… o Ray estava lutando na linha de frente."
Sua voz se quebrou no final, as palavras tremendo como se tivessem medo de existir.
Todos olharam com atenção para ela.
Expressão de Grace se tornando séria, com sua voz mais fria do que o habitual.
"Como exatamente o seu sonho se relaciona com a realidade, Amelia?"
"Eu… eu não sei," Amelia gaguejou. "Pensava que fosse só um pesadelo, mas com tudo acontecendo… não parece mais um."
Lyra abriu a boca, tentando minimizar com uma risadinha leve. "É só um sonho, Amelia. Tivemos dias difíceis. Talvez você…"
"Vão avisar os instrutores," disse Elysia de repente, sua voz cortando o ruído como uma espada atravessando a névoa.
Todos pararam.
Até Amelia a olhou, olhos arregalados — não por causa da ordem, mas por aquilo que ela sentia.
De Elysia, Amelia percebeu uma enxurrada de emoções — preocupação, raiva e um tipo de desejo profundo e dolorido, mas não havia medo. Era tão diferente de Grace, que escondia sua insegurança por controle. Tão diferente de Lyra, que tremia de medo mesmo sorrindo.
Há algo em Elysia que não combina com o resto delas.
O que ela é...? Amelia pensou, incapaz de desviar os olhos.
"Vá avisar a Instrutora Elva," Elysia repetiu, ainda calma, mas com firmeza maior agora. "Se conseguirmos parar pelo menos um pouco, temos que tentar. Prefiro correr o risco de estar errada do que ver as pessoas morrendo."
Antes que alguém pudesse responder, ela se virou e se afastou com passos rápidos e decididos.
Amelia, Grace e Lyra trocaram olhares. Nenhuma palavra foi necessária entre elas.
Correm na direção de Elva, que estava no centro do salão, cada passo ecoando com uma urgência que não havia ali momentos atrás.
O banquete, antes repleto de risadas descuidadas e música suave, de repente parecia diferente — como a primeira gota de chuva antes da tempestade.
***
[Aurora Starborn]
O banquete era barulhento e demais brilhoso para o seu gosto.
Aurora Starborn estava no centro de tudo, rodeada por instrutores e estudantes que provavelmente nem olhariam para ela se fosse há um ano atrás. Agora eles não conseguiam parar.
Desde que seu talento *[Abençoada pelas Estrelas]* despertou, tudo tinha mudado.
Ela era só uma garota comum, com roupas de segunda mão e sem sobrenome relevante. As pessoas riam, sussurravam, tinham pena. Mas então, mana estelar surgiu dela como se estivesse esperando o momento certo para se mostrar — e, do nada, as risadas pararam.
Mas o que realmente fazia tudo ficar especial — o que a diferenciava — era sua versatilidade.
Poder usar qualquer feitiço com mana estelar. Fogo, água, vento, relâmpago... não importava. Ela misturava com tudo. Claro que dominar todos os elementos era um pesadelo e meio, e ela ainda não estava nem perto disso, mas só o potencial já era assustador.
E um dia, se se esforçar o suficiente, poderá criar feitiços feitos unicamente para mana estelar. Que ninguém mais consiga usar. Que tenham a ver só com ela.
Uma pequena galáxia de magia dela própria.
Só de pensar nisso, seus lábios se curvassem em um sorriso.
Ela gostava do respeito que começava a receber.
…Ao menos no começo.
"Srta. Aurora, devo dizer, seu controle de mana é realmente divino—"
"Você é a futura Santa, sem dúvida!"
"Já consideraria entrar na nossa Guilda? Acredito que o próprio mestre da guilda—"
Ela sorriu, assentiu, agiu com educação.
Ok. Alguém poderia, por favor, ficar quieto por dois segundos? Não sou uma relíquia, chega de me encher de palavras.
Ela nem tinha tanta idade. Só treze anos. Quase catorze. E falavam como se ela já estivesse a caminho de se tornar uma antiga sábia.
Ela olhou ao redor, os olhos se deslocando de uma mesa para outra, quieta, se afastando da multidão. Não odiava elogios, não. Era…legal. Mas quando exageravam, ela sentia vontade de sufocar.
Juro que, se mais um velho chamar ela de 'jovem das estrelas', vou pular da janela.
Indo na direção do canto mais silencioso do salão, ela puxou as mangas, as estrelas bordadas na bainha cintilando a cada passo, como se soubessem que ela era a responsável pela energia que fazia o ar vibrar naquela noite.
E então seus olhos se fixaram em alguém.
Um garoto.
Ele tinha cabelo preto, igual ao dela, olhos dourados que brilhavam como joias na escuridão, e uma postura de confiança no ar ao seu redor. Estava comendo a comida do banquete.
Ray.
Ela tinha ouvido falar dele. Apesar de não ter passado na prova de entrada, era o estudante mais forte do primeiro ano. Não era só forte — era… estranhamente quieto sobre isso, o que despertava ainda mais a curiosidade das pessoas.
Então é ele. O mais forte do primeiro ano, hein?
Hum... bem bonito e fofo.
Ela inclinou a cabeça de leve, divertindo-se. Há algo estranho nele. Não de um jeito ruim — só… diferente.
E talvez seja por isso que seus pés começaram a se mover sozinhos.
Bem, eu sou o mais forte do segundo ano. Ele é o mais forte do primeiro. Devemos pelo menos dar um oi, né? É isso que pessoas poderosas fazem, né? Criar conexões e tal.
E também… talvez eu esteja entediada.
Então, ela foi andando na direção dele, tentando não parecer que estava se esforçando demais.
[Ray Dawson]
Não sei o que fazer…
Ray pensou, mastigando lentamente o pedaço de bolo.
Ele estava confuso — dividido entre duas dores de cabeça. De um lado, alguém na academia estava brincando com o destino dele, puxando fios nas sombras. E, do outro, havia… uma escolha.
Uma escolha boba.
Entre salvar uma pessoa.
A Elysia ou a Senior Aurora.
E ele odiava isso.
{Qual é a dúvida? É só matar a garota que você não gosta. Problema resolvido.}
Pare de ler meus pensamentos, droga.
{Não é que eu queira. É assim que funciona a conexão.}
É? Então o seu último mestre devia ter uma personalidade horrível para você sair assim.
{Não ouse insultar meu Mestre.}
Eu sou seu mestre.
Silêncio.
Por uma vez, a espada realmente calou a boca.
Ray soltou uma longa respiração e pegou mais um pedaço de bolo. Sua cabeça ainda rodava. Não queria pensar mais.
Mas o destino claramente não se importava com o que ele queria.
Porque foi nesse momento que ouviu.
Uma voz suave e doce vindo de trás.
"Olá, júnior~"
Ray parou, com a boca ainda cheia de bolo.
Ele se virou lentamente.
E lá estava ela.
A fonte de seu estresse atual.
A única pessoa que não queria ver naquele momento.
"S-Senior Aurora…?"