Poder das Runas

Capítulo 56

Poder das Runas

Brilho.

Essa foi a primeira coisa que Ray viu ao abrir os olhos. Uma luz terrivelmente brilhante, estéril, invadia sua visão, obrigando-o a franzir os olhos.

Ele piscou—uma, duas vezes—cada movimento arrastando como melado através de névoa. O mundo se recompôs—embaçado, fragmentado, como um sonho que se arranha para sair da realidade.

Seu corpo clamava em silêncio. Cada nervo parecia ter sido estilhaçado e refeito com fogo e arame.

"…Ugh."

O gemido escapou— seco, rachado, áspero. Seus lábios estavam rachados. Sua garganta, sedenta como um deserto queimado sob dois sóis.

Ele tentou se sentar, mas uma dor atravessou suas costelas e coluna como uma lanterna de relâmpagos cravada de uma só vez em seus pulmões.

"Isso não é sensato", veio uma voz—suave, calma, mas inegavelmente firme.

Uma mulher estava ao lado da cama. De meia-idade, vestida com túnicas de curandeira brancas e verdes. Seus olhos tinham a serenidade treinada de alguém que já viu demais de perto a face da morte.

"Você tem sorte de estar vivo. Deixe que eu avise o diretor—ele pediu para ser informado primeiro assim que você acordasse", ela disse antes de se virar e sair apressada do quarto.

A urgência repentina dela deixou uma onda de confusão em seu peito.

Ele virou a cabeça lentamente, fazendo um esforço, e olhou pela janela. Lá estava ela—o pátio familiar, as torres imponentes, os campos de treinamento balançando sob a luz da manhã.

Isso é… a Academia?

Mas… eu estava na masmorra.

A lembrança o atacou.

Exato… aquele demônio... eu perdi o controle. A raiva engoliu tudo. Depois disso… não me lembro.

Eu o matei? Completei a missão? Ou… foi outra pessoa?

O silêncio não respondeu nada.

Com um suspiro, Ray abriu sua janela de status, esperando obter clareza.

Em vez disso, uma cascata de mensagens do sistema se desenrolou diante dele como um veredito:

***

[Missão: Limpar Masmorra de Risco C ~Gruta do Dente de Gelo~]

[Concluída]

[Recompensas Gerando....]

[AVISO!!!!!!!]

[O corpo e o núcleo do hospedeiro estão entrando em colapso devido a uma carga enorme]

[AVISO!!!!!!!]

[ALERTA!!!!!!!]

[A condição do hospedeiro está se tornando crítica.....]

[Protocolo de emergência ativado...]

[Recompensas mudando.....]

[Recompensa: 10.000 pontos de sistema]

[Consumindo pontos de sistema para estabilizar e tratar o corpo e o núcleo do hospedeiro.....]

[....]

[....]

[Removendo status de paralisia.....]

[Tempo estimado de recuperação: 1 mês]

**

Ray ficou fixo na mensagem brilhante, sua respiração presa entre o incredulidade e o medo.

"Protocolo de emergência?"

"Status de incapacidade… removido?"

Que diabos… o que aconteceu com meu corpo?

O sistema... ele mudou minhas recompensas para me salvar?

Seu olhar foi descendo lentamente até as mãos. Elas pareciam normais agora—sem cortes, sem sangue, sem sinais de congelamento—mas algo parecia estranho.

Parecia que ele era uma versão emprestada de si mesmo, costurada por algo antigo e frio.

"Status de incapacidade…"

As palavras se repetiam como um eco numa caverna.

Eu estava incapacitado. De verdade. Os efeitos de Overclock mais a separação do Void devem ter me deixado assim...

Uma dor no estômago apertou.

Isso significava que o dano tinha sido além do que curandeiros podiam consertar. Além de poções e magia de cura.

Mas não era só isso. Os alertas ainda continuavam,

***

[#%@$^# foi detectado perto do hospedeiro...]

[Flutuações incomuns na teia do destino foram registradas.]

[Segundo as informações coletadas… a pessoa desconhecida é a responsável pela mudança no destino do hospedeiro...]

[Tentando identificação...]

[...]

[Falha. Interferência detectada de %%#$#$%. Identificação bloqueada.]

[Procedendo com a sobreposição do sistema... exibindo as informações ao hospedeiro antes do previsto...]

[A pessoa tomou as runas que eram destinadas a você.]

[Que interromperam a ordem natural.]

[Uma runa estrangeira está suprimindo o protocolo de identificação do sistema. A identificação permanece impossível]

[Se o hospedeiro deseja reivindicar seu destino—andreaudrar o equilíbrio do mundo—]

[—Mate a pessoa desconhecida.]

**

[Missão Gerada: Eliminar o Disparador do Destino]

[Prazo: Nenhum]

[Recompensa: ???]

***

Ray ficou olhando fixamente para o texto brilhante que ainda pairava diante de seus olhos.

Matá-la.

Ela permanecia ali, imóvel—final. Como um veredito gravado em pedra.

Ele não piscou.

Runas.

A palavra ecoou dentro da sua cabeça como um nome esquecido de repente pronunciado em voz alta.

Não. Isso não podia estar certo.

Runas não eram reais. Eram lendas, pedaços de histórias antigas passadas ao redor de fogueiras e contos de dormir. Marcas de poder deixadas por deuses ancestrais—fábulas usadas para assustar crianças ou dar-lhes algo para sonhar.

Ele se lembrava de zombar delas quando era criança.

Seu ar ficou preso na garganta.

Mas se o sistema estivesse dizendo a verdade… se aquelas runas fossem reais… e fossem feitas para ele—

Então alguém tinha levado mais do que uma recompensa. Tinha tomado o que era para ser parte de sua própria alma.

Mas quem seria aquela pessoa…

Havia alguém além dos seus companheiros e do demônio?

Um frio percorreu sua espinha, mais gélido que o gelo da masmorra. Um silêncio pesado tomou o ambiente, tornando seu próprio coração demasiadamente alto, demasiado lento. Seus pensamentos continuavam girando, circulando a mesma pergunta de novo e de novo, sem resposta.

Ele não conseguia respirar. Seu coração batia forte no peito, cada palpitada mais pesada que a anterior.

Como? Por quê?

Ele tentou se sentar novamente, ignorando a dor cortante que rasgava suas costelas como uma lâmina desigual.

As folhas do leito sussurraram sob ele, úmidas de suor. Sua mão se estendeu em direção à janela do sistema, como se pudesse forçar uma explicação, uma justificativa.

Mas não havia mais nada.

Apenas silêncio.

E aquela linha condenatória:

Eles tomaram as runas que eram destinadas a você.

Suas mãos caíram no colo, seus dedos se curvaram lentamente em punhos.

Ele nem percebeu que estava cerrando os dentes até que a musculatura da mandíbula começasse a doer. Sua boca tinha gosto de sangue—provavelmente mordeu a própria língua.

Mitos. Histórias. Mentiras.

Todas elas eram reais.

E alguém tinha roubado seu destino.

Sua visão ficou turva—não de lágrimas, mas de fúria. Um grito silencioso, crescente, apertado no peito, que fazia seu corpo inteiro parecer pequeno demais para contê-lo.

Ele queria destruir algo.

Quebrar a janela. Arrancar a verdade das paredes. Ele precisava de algo, qualquer coisa, para se sustentar—mas tudo o que tinha era silêncio e uma verdade roubada.

Mas antes que pudesse se mover—

A porta se abriu com força.

O som quebrou seu raciocínio como um trovão, agudo e repentino.

Ray deu um salto, instintivamente tentando alcançar um arma que não estava ali.

O Diretor estava na porta.

Seus olhos tinham o olhar de um falcão em busca de presa—quentes, gelados, furiosos.

"Você. O que diabos fez naquela masmorra?"

Ray ficou paralisado ao vê-lo com raiva.

"M-Mestre... ouça, não foi minha culpa..."

Ele tentou se defender, mas—

Um punho desceu sobre a coroa da sua cabeça.

BAM!!!

"Não foi sua culpa, seu filho da mãe. Ouvi quantas vezes você usou aquele golpe que ensinei..."

"Foi uma técnica para uma única vez, mas você… quantas vezes usou… mais de dez malditas vezes."

"Ainda bem que não ficou incapacitado..."

Bem, em certo sentido, ele já estava assim...

Mais uma vez, um punho atingiu a cabeça dele.

BAM!!!

"Por que você não responde, seu idiota..."

"Me-sorry, Mestre..."

"Mais desculpas, seu inútil. Você ficou inconsciente por três semanas inteiras..."

Nichole continuou a repreender Ray por um bom tempo, batendo na cabeça dele repetidas vezes, causando inchaço.

Só depois de uma hora completa ele parou.

"Você sabe quantas vezes tive que engolir meu orgulho pra te colocar naquela masmorra?"

Ray piscou. "Espera, o quê?"

Era verdade.

Depois de conversar com Ray antes de entrar na masmorra, Nichole teve que solicitar ao responsável da cidade de Iron Hold que permitisse a participação de Ray na incursão.

Se quisesse, ele poderia ter usado sua autoridade de Santo, mas o responsável de Iron Hold era seu amigo de infância. Mesmo usando seu posto, o homem não aceitaria deixar um garoto entrar em uma masmorra duas categorias acima do seu nível.

Nichole também não queria isso. Quem abriria mão de permitir que seu próprio discípulo entrasse num lugar tão perigoso? Mas foi só ao ouvir a voz de Ray—a teimosia, a determinação carregada na sua tonalidade—que ele concordou.

Ray baixou o olhar. "...Os outros estão bem? Como o demônio morreu? Já ouvi sua reclamação por uma hora."

"Seu ingrato..." murmurou Nichole, mas acabou cedendo.

Depois que Ray perdeu a consciência, apareceu uma pessoa desconhecida e enfrentou o demônio.

Ele era estranho de várias maneiras... seu corpo se curava toda vez que se machucava. Ainda era mais fraco que Ray, mas de alguma forma seus ataques atingiam mais fundo, eram mais contundentes e carregavam mais peso do que sua força física sugeria.

Ele emanava uma aura antiga—uma que fazia você sentir medo lá no fundo. Mas não era a aura de poder… se fosse, a luta teria terminado sem resistência.

E, no final, essa pessoa desconhecida matou o demônio sacrificando seu braço. A parte mais assustadora não era o sacrifício—mas o que ela fez depois. Pegou o membro amputado e o reattou, tratando sua própria carne como uma ferramenta comum.

E a parte mais inusitada... ele usou magia e espada ao mesmo tempo.

Ray franziu o cenho. "Isso… é impossível."

"Exatamente," disse Nichole. "Todos ficaram chocados."

Mas por motivos diferentes…

Nichole não revelou tudo. Sabia muito mais do que deixou transparecer.

Sabia que os demônios começaram a invadir este mundo de um lugar desconhecido. No começo, era algo sutil—pequenas incursões por quebras de masmorras de baixo nível.

Algumas criaturas escapando, quase sem causar alarme.

Mas então, as ondas cresceram.

Começaram a surgir por masmorras que nunca haviam sido registradas—não mapeadas, não monitoradas, como se surgissem do nada da noite para o dia.

E essas quebras de masmorra... não eram normais.

Normalmente, uma masmorra só quebrava após longos períodos de abandono. Era lento, previsível, evitável—sempre havia tempo para evitar o desastre.

Mas essas novas não seguiam essa regra.

Na hora em que surgiam, colapsavam—abrindo passagem para os demônios entrarem, sem nada que pudesse impedi-los.

Como se alguma coisa—ou alguém—estivesse rasgando por força a teia da realidade.

Como se tivessem descoberto um método de viajar entre dimensões livremente, ignorando as leis naturais por completo.

E não era mais só invasão.

Eles estavam começando a se unir. Não como ameaças dispersas, mas como uma força organizada.

Em algum lugar—ainda desconhecido—eles estavam construindo uma base.

E entre eles… havia um certo demônio.

Nichole lutou contra ele uma vez, ao lado dos Sete Santos.

Mesmo assim, mal conseguiram se segurar.

Aquele demônio usava espada e magia.

Então, Nichole sabia a verdade.

Existiam demônios que podiam usar ambos.

Monstros de duas classes de outro mundo.

O demônio que rumores diziam ser o Filho do Rei Demônio.

***