
Capítulo 57
Poder das Runas
Uma pessoa desconhecida apareceu e me salvou...?
Mas por quê...?
O pensamento soava como uma rachadura no vidro, absurdo e frágil demais para se sustentar. Segundo o sistema, aquela mesma pessoa tinha interferido no seu destino e roubado as runas que eram destinadas a ele.
Se isso era verdade, então por que se dar ao trabalho de salvá-lo? Por que não deixá-lo morrer ali, quebrado e derrotado nas garras frias da masmorra?
A contradição corroía seus pensamentos como uma farpa sob a pele.
Será que é porque sem mim, ele não podia obter as runas? Era eu... uma peça necessária? Um recipiente, um mediador...?
Ele cerrava os punhos debaixo dos lençóis, os dedos levemente trêmulos enquanto a ideia se assentava.
Sim, deve ser isso... caso contrário, não consigo imaginar uma razão para ele ter me salvado.
O pensamento ficava desconfortável no peito dele, como uma pedra fria que arrastava sua respiração para baixo.
Justamente então, uma voz cortou o peso crescente na mente dele como uma agulha atravessando seda.
"O que está pensando, filhote?" perguntou Nichole, estreitando os olhos suspeitos enquanto notava a longa duração do silêncio.
Ray saiu de seus devaneios de imediato, os lábios se abrindo instintivamente. "Ah... nada," murmurou, enterrando a agitação de inquietação sob uma respiração superficial.
Mas aquele nada era pesado. Pressionava contra seu peito como uma pergunta que ele ainda não estava pronto para fazer em voz alta.
Em vez disso, ele mudou de assunto, tentando se ancorar em algo mais palpável. "E sobre o tesouro antigo? O que tinha na sala de recompensas?"
A expressão de Nichole escureceu quase instantaneamente, com a mandíbula se tensionando. Uma expressão de profundo descontentamento se formou como uma nuvem de tempestade que se aproxima.
Ray se segurou para não dizer mais nada. As marcas de hematomas de antes ainda latejavam suavemente, e algum pouco de sabedoria finalmente tinha surgido—às vezes, o silêncio era mais seguro do que a curiosidade.
"Depois de derrotar o demônio...", Nichole começou, embora sua voz carregasse a ponta de uma lembrança relutante.
Depois que o demônio foi finalmente derrotado, a pessoa desconhecida—a mesma que tinha salvado Ray—seguiu adiante para a sala de recompensas sozinha.
Ninguém ousou segui-lo imediatamente, talvez por admiração, medo ou pelo peso surreal do que tinha acabado de acontecer.
Mas o tempo passou, e quando Nathaniel e os outros finalmente entraram na câmara, ela estava vazia. Nenhuma pessoa permanecia lá dentro.
O único vestígio era a Espada do Cavaleiro Negro repousando tranquilamente perto do portal de saída, junto com alguns pedaços dispersos de equipamentos de nível C—raríssimos restos em comparação ao que esperavam encontrar.
"Quer dizer que ele levou o tesouro antigo?", perguntou Ray, sua voz baixa, mas carregada de uma seriedade apertada que antes não existia.
"Sim, é isso que todo mundo acredita. A origem do tesouro era de confiança demais para estar errada. Não há outra explicação."
Ray não falou mais. As palavras se contorciam na cabeça dele como fumaça, torcendo-se em algo mais pesado. Seus pensamentos voltaram para dentro, altos e inquietos.
O tesouro antigo devia ser a runa.
Aquele maldito... ele deve ter entrado na masmorra só por causa disso. Tudo o mais era apenas barulho. Só obstáculos.
Ele cerrava os punhos, as unhas cravando na pele da palma sem perceber.
Sistema... você conhece a localização exata daquela pessoa? perguntou silenciosamente, desesperado por uma pista—qualquer coisa para se apegar.
[Buscando na teia do destino.....]
[Busca malsucedida. Posicionamento não possível.]
A resposta veio com uma firmeza que arranhou seus nervos.
Ray estreitou os olhos.
Ching... claro.
E se ele estiver perto de mim? Você consegue identificá-lo se ele se aproximar?
[Negativo. O destino do alvo desapareceu da Teia do Destino, portanto, não é possível identificá-lo, mas se a Runa estiver por perto, ela pode ser detectada.]
Seus pulmões pararam, como se o momento tivesse congelado-o, preso na beira da descrença.
Que porra...?
As palavras não faziam sentido à primeira vista. Mas quanto mais ele as relia, mais gelado se sentia.
O destino dele desapareceu...?
Ele exalou lentamente, como se respirar alto demais fosse quebrar algo frágil.
Será que é possível... esconder o próprio destino?
[...]
O sistema não respondeu.
Justamente então, outra mensagem do sistema piscou diante dos olhos dele, cortando seus pensamentos como uma lâmina através da névoa.
[O sistema registrou a última localização conhecida do indivíduo. Deseja saber?]
Sim, sim, sim.
Ray respondeu sem hesitar, seus pensamentos acelerando, o coração pulando uma batida de surpresa repentina.
O sistema, paciente como sempre, respondeu poucos momentos depois.
[A última localização após o destino do alvo desaparecer na teia do destino foi...]
[...Academia Estrela-Rainha.]
A respiração dele ficou presa na garganta.
Que porra... então isso significa... que aquele que interferiu no meu destino—
Ele está aqui. Dentro da academia.
A realização caiu como um monte de pedras. Seus olhos se arregalaram levemente, as mãos agarrando instintivamente o lençol sob ele.
Mas quem...?
Sua mente começou a correr, passando pelos rostos de todos que conhecia, cada figura que passava pelos corredores, colegas, professores, funcionários.
Suspeita e confusão se misturaram como uma tempestade.
Antes que o pensamento pudesse se formar completamente, seu reflexo foi dilacerado por um som agudo, familiar.
BAM!!
Uma dor aguda explodiu no topo do seu crânio, puxando-o bruscamente de volta ao presente.
"Concentre-se, filhote."
A voz de Nichole era firme, sempre severa, com um eco suave de frustração quase imperceptível por baixo.
"Uhh..." Ray gemeu baixinho, a mão indo rápido para massagear o ponto dolorido onde tinha sido atingido.
O olhar de Nichole pesava sobre ele com toda a autoridade e preocupação misturadas.
"Diga-me—por que você perdeu o controle quando o demônio apareceu na sua frente?"
Ray congelou. A questão não era só sobre a batalha. Não era tática. Era pessoal.
"Eu... não sei," admitiu finalmente, com a voz baixa, quase um sussurro.
"Depois de vê-lo... minha mente simplesmente ficou em branco. Foi como se algo dentro de mim sePartisse e uma raiva imensa, incontrolável, tomasse tudo. Eu não consegui pensar. Não consegui enxergar claramente. Não me lembro do que aconteceu depois."
Nichole permaneceu em silêncio por um momento. Sua expressão continuava difícil de ler.
"Parece que precisamos trabalhar sua mentalidade. Caso contrário, você sempre perderá o controle em momentos críticos—e na próxima, talvez não apenas ferir o inimigo, mas prejudicar seus próprios aliados."
As palavras não tinham a intenção de repreender. Eram apenas fatos, uma verdade que não podia ser ignorada.
"Tudo bem, descanse agora. Você já perdeu três semanas de aula. Os pontos acadêmicos serão descontados, pois seu professor de turma é o vice-diretor, então precisa voltar a frequentar as aulas agora que acordou, e—leve isto."
Nichole estendeu a mão ao vazio, e com um movimento que parecia reverente, uma espada surgiu instantaneamente na sua mão.
Impressionado, Ray exclamou: "Mestre, posso também criar uma subespaco como você fez?"
"Haha, claro que pode. Desde que tenha um alto domínio do elemento espaço, como eu, é só aprender."
Ele colocou a espada à sua frente.
Preta como a noite, a lâmina era adornada com veias verdes sutis que pulsavam, como se se arrastassem sob a superfície, semelhantes a relâmpagos presos.
O punho tinha a forma de uma cabeça de dragão siseando, com olhos brilhando com um brilho estranho, quase como se fosse consciente.
Marca de dignidade e uma ameaça silenciosa—como se tivesse provado sangue e lembrado do sabor.
Será que isso... é a Espada do Cavaleiro Negro?
Suas mãos estenderam-se lentamente, hesitantes, tremendo um pouco enquanto envolviam o punho. O metal estava frio, mas não sem vida. Parecia... consciente. Como se a própria espada estivesse o observando de volta.
"Essa é para mim...?" perguntou Ray, com a voz instável, incerta.
"Sim. É só uma espada—não é mágica. Mas sua durabilidade e nitidez são de primeira. Ninguém na sua equipe era espadachim, e como você foi o que salvou a vida deles no final, concordaram em te deixar ficar com ela. Pode transformar isso como um presente."
A voz de Nichole suavizou-se um pouco, a mais leve rachadura na dureza habitual, antes de se virar de costas.
"Agora descanse. Eu vou embora."
E assim, ele desapareceu—deixando apenas o eco de sua presença e o suave zumbido do brilho verde da espada atrás dele.
Ray ficou ali por um longo momento, os olhos fixos na arma repousando em seu colo. Sua respiração ficou superficial, irregular.
Por quê... por que parece que ela está me chamando…?
Não havia resposta. Nenhuma voz. Apenas uma pressão silenciosa na parte de trás da mente dele, como um sussurro de um sonho que ele não conseguia lembrar.
Ainda nervoso, finalmente, Ray abriu a interface do sistema, os dedos digitando em direção à lâmina.
Seu sistema tinha uma função de identificação—uma das funções menos usadas, mas extremamente útil.
Permitindo que ele lesse as camadas ocultas de qualquer objeto inanimado, extraindo informações que outros nem ousariam imaginar.
E agora, mais do que nunca, ele precisava saber o que realmente era aquela espada.
**
Nome do Item: Espada Divina
Classe: ??? (Selada)
Descrição: A espada de um mito esquecido—apagado da memória, enterrado pelo medo. Aguardando o digno, e com ele, o retorno de uma verdade há muito negada.
**
"Espada do mito esquecido…", Ray pronunciou as palavras baixinho, quase reverente, com as sílabas escapando lentamente dos lábios enquanto seus olhos permaneciam fixos na lâmina diante dele.
Ele não sabia por que o nome tinha aquele efeito profundo dentro de si—não tinha memória, história ou ensinamentos que falassem de um "mito esquecido"—e ainda assim, sentia a carga de familiaridade pressionando seu peito.
Era como ver um rosto em um sonho—embaçado, sem nome, mas impossível de esquecer.
Sua mão pairou perto do punho, tremendo não de medo, mas de uma mistura estranha de empolgação e incerteza,
Algo na espada o chamava, não com palavras ou som, mas com presença própria—como um sussurro na alma que só ele podia ouvir.
Não fazia sentido.
Ele já tinha lido sobre armas que escolhem seu portador, mas essas eram artefatos de alta patente, lendários, registrados nos anais da história.
Ele tentou canalizar mana na espada, para extrair sua presença apenas pelo vontade.
Mas a lâmina se recusou a se mover. A frustração começou a subir nele, não alta ou raivosa, mas tensa e devagar, como se a espada quisesse responder.
Sistema... há alguma maneira de despertar essa espada?
[Analisando item...]
[Recomendação: Uma única gota do sangue do anfitrião é necessária para estabelecer o vínculo inicial.]
Contrato de sangue…? Faz sentido, de certa forma. Artefatos mais antigos às vezes exigiam uma marca, um sinal de intenção—algo mais permanente que mana sozinha.
Ele aproximou a lâmina, furou o pulso com um pedaço de vidro da bandeja do hospital ao seu lado—rente, rápido—e deixou a gota cair na superfície da espada.
Ela atingiu o metal frio com um som suave. Nada aconteceu por um instante.
Depois, lentamente, o metal começou a brilhar.
Não de forma vibrante ou intensa, mas como uma brasa morrendo reacendida. O selo gravado no punho brilhou fracamente, e por um breve momento, o ar ao seu redor ficou mais pesado, mais espesso, como se o próprio tempo estivesse desacelerando só para assistir a esse momento se desenrolar.
Uma mudança aconteceu na espada, novas linhas vermelhas começaram a surgir ao lado das verdes, parecendo que a espada transbordava sangue.
Sua respiração travou na garganta. O brilho da espada voltou ao aço, mas algo fundamental havia mudado.
"HAHAHAHAHA.....Finalmente tenho um mestre depois de tanto tempo."
E Ray... tinha acabado de despertar algo antigo.