Poder das Runas

Capítulo 58

Poder das Runas

"HAHAHAHAHA... Finalmente tenho um mestre depois de tanto tempo."

Ray hesitou, quase deixando a espada cair quando a voz explodiu dentro de sua cabeça — não ouvida, mas sentida. Como um trovão de pensamentos, uma presença vibrando na medula dos ossos.

Que diabo…?

"Ei, não fica aí parado como um mortal zonzo, olhando fogo pela primeira vez. Você segura uma lenda, não uma faquinha de manteiga enfeitada."

Ray piscou, confuso e desconcertado. Seus olhos ficaram voltados ao redor do quarto do hospital, como se alguma pessoa pudesse sair das sombras e admitir que tudo aquilo era uma brincadeira elaborada.

"Q-quem é você?" ele perguntou, sua voz quase um sussurro. "Você é quem está mexendo com meu destino?"

"Não sei o que você quer dizer com 'mexendo', mas se eu estivesse no meu auge, seu destino já estaria abençoado só por tocar em mim. Sou a Espada do Destructor de Deuses, Aetheris. Temida por panteões e sussurrada nas sombras do tempo! HAHAHAHA!"

Espada…?

Ray olhou para baixo, a incredulidade estampada no rosto. "Você… você consegue falar?"

"Claro que posso falar!" a voz respondeu, com um tom irritado. "Você acha que lâminas que acabam com deuses vêm mudas e humildes? Eu não sou um bastão elemental de terceira categoria. Sou a Lâmina do Deus Esquecido. Acabei com a divindade com um só golpe. E agora estou ligado a você. O destino realmente tem um senso de humor perverso."

Espada…?

Ray olhou para ela, descrente. "Você… você consegue falar?"

"Claro que posso falar!" a voz rebateu, com uma pontada de irritação. "Você acha que lâminas que derrotam deuses vêm mudas? Não sou um espetáculo barato elemental. Sou a Espada do Deus Esquecido. Acabei com a divindade com um só golpe. E agora estou presa a você. O destino realmente tem um senso de humor tortuoso."

Ray afastou a espada um pouco mais do rosto, como se esperasse que ela lhe mordesse. "Destructor de Deuses, hein?" ele murmurou para si mesmo. "Mais parecia Death Ego."

"Cuidado com a língua, rapaz," a espada rosnou, e Ray sentiu uma vibração sutil percorrer a lâmina, como um animal mostrando os dentes após um sono profundo.

"Eu despedacei estrelas, coloquei sangue de seres divinos, vi impérios desmoronarem sob minha lâmina — e agora estou nas mãos de um mortal de olhos arregalados e completamente perdido que nem sabe qual ponta da espada apontar."

Ray exalou lentamente, recostando-se na cabeceira da cama. "Ótimo. Finalmente tenho uma espada falante, e ela é um antro de narcisismo e ódio aos deuses."

"Acordei, criança. Não por você, mas por causa do seu sangue. Você acendeu a faísca. Não confunda isso com valor."

De repente, o tom da voz mudou. A arrogância diminuiu um pouco, sendo substituída por um vazio estranho — uma pausa que parecia a respiração antes da tempestade.

"Estranho… Não me lembro do meu antigo mestre."

Ray piscou. "Você esqueceu?"

"Eu não esqueço," respondeu a espada friamente, mas as arestas da sua voz vacilaram, apenas um pouco. "Algo ficou travado. Selado. O núcleo de quem sou — minhas memórias — estão enterradas atrás de muros que não posso atravessar."

Ray observou as veias brilhantes ao longo da lâmina, sentindo o pulsar lento de algo antigo, algo incompleto.

"Por quê?" ele perguntou, com uma voz suave.

"Porque você é fraco," a espada respondeu bruscamente. "Sua alma é frágil. Sua força, triste. O selo reage ao crescimento do portador. À medida que você evolui, ele se solta. Quanto mais forte você ficar, mais de mim você vai despertar."

Ray franziu a testa. "Então está me dizendo que estou preso com uma espada mal-humorada que me insulta até eu ganhar um poder?"

"Você tem sorte," a lâmina rosnou. "Antigamente, eu teria vaporizado portadores indignos antes mesmo de eles tocarem na empunhadura. Você? Você vai viver. Por enquanto."

Uma espécie de silêncio frio tomou conta do quarto. Depois, mais suavemente, a espada acrescentou: "Quanto mais você aprofundar, mais começará a ver. Fragmentos. Ecos. Pedacinhos de quem eu era, e do que esqueci. Nomes há muito enterrados. Faces que se desvaneceram com o tempo."

Ela fez uma pausa, o ar carregado de algo que não foi dito.

"Quer respostas? Então sobrevive. Cresça. Não para conquistar poder — mas para descobri-lo. Não para usar o que foi, mas para lembrar por que isso importava."

Ray apertou o cabo com mais força. As linhas em vermelho e esmeralda na lâmina pulsavam levemente, como veias animadas pela respiração.

"E se eu não conseguir?"

Um risinho baixo ressoou em sua mente.

"Então morra rapidamente. Não tenho interesse em passar uma falha pelo umbigo."

Enquanto isso, enquanto Ray se comunicava com sua nova espada falante, em outro lugar, silenciosamente, outro indivíduo observava sua própria espada.

***

Finalmente… chegou.

Ash pensou enquanto olhava para a caixa retangular em suas mãos, o invólucro liso e polido carregando o peso de uma arma há muito esperada.

Antes de sair da loja do ferreiro, tinha pedido especificamente para o Garry entregá-la na academia, mas não lhe deu endereço, nem nome, apenas uma data e hora para entrega, com instruções para entregar na recepção.

Mesmo assim, ele não foi buscá-la pessoalmente. Em vez disso, pagou alguém para buscar por ele, mantendo sua identidade oculta sob várias camadas de cautela.

Ele não tinha escolha.

No final, Garry o viu — não, não seu rosto, mas sua forma. As sombras que o grudavam como uma segunda pele, o capuz puxado para baixo o suficiente para esconder cada traço.

Foi um baita incômodo... Se eu soubesse que ia acabar assim… teria adiado a forja da espada totalmente.

Ash exalou forte pelo nariz, o pensamento amargo na boca. Mas arrependimento não mudaria a situação. Agora, toda a Associação dos Humanos estava espalhando e exibindo seu retrato por aí — pôsteres de um homem com o rosto escondido na escuridão, capuz puxado para baixo, ameaçador e anônimo.

E o nome que deram a ele?

"Desconhecido."

Que nome ridículo é esse?

Ash bateu a língua. Nunca tinha deixado um nome, achava que não era necessário. Não imaginou que se tornaria um criminoso só por sair com um saco de ouro.

"Suspiro…"

Ele guardou a caixa no anel de espaço e seguiu em direção ao dormitório, cada passo silencioso e calculado. Isso não era algo para mostrar a qualquer um. Nem agora. Quando o mundo achava que ele era o vilão.

Devo ter matado todos…?

Um pensamento perigoso, que surgiu por um segundo.

Mas ele o abafou.

Nah… Se eu fosse chegar a esse ponto, não seria diferente de um demônio.

E mesmo assim...

Mesmo depois de salvar aqueles idiotas — arriscando tudo — eles o rotularam de criminoso. Disseram que ele roubou um relicário antigo.

O mais engraçado?

Naquela maldita sala de recompensas, nem tinha um "tesouro antigo". Era só uma montanha de moedas de ouro reluzindo sob a luz mofada da masmorra.

Ele pegou o dinheiro — claro — mas deixou todo o equipamento.

A única coisa que realmente levasse, além da montanha de moedas, foi um anel de espaço gigante — tão absurdo que cabia um estádio de futebol —, e ele o usou para guardar todo o ouro.

Foi uma surpresa pra ele, pois não sabia que teria um anel de espaço naquele monte de ouro.

Mesmo assim, deixou a Espada do Destructor de Deuses.

E ainda assim, aqueles idiotas o rotularam de ladrão…

Tá bom, talvez ele tenha levado um pouco demais.

"Ahem… Nada demais," murmurou consigo mesmo, com um sorriso convencido.

"Mas estou satisfeito com o que consegui."

Não pôde evitar.

O dinheiro que roubou daquele cômodo era insano. Era o suficiente para viver como um rei. Honestamente, se ele não fizesse mais nada pelo resto da vida, provavelmente conseguiria viver de boa com o que tinha agora.

Mas Ash não nasceu para ficar parado.

O mundo estaria condenado se ele parasse por aqui…

Porque as pessoas estavam olhando para ele.

Muito.

E a razão era simples — seu rosto.

Não… tudo nele.

Depois de duas cirurgias de reconstrução corporal, sua pele tinha eliminado todas as impurezas, ficando pristine e pálida, como porcelana intocada. Seu atributo carisma tinha disparado, e agora cada detalhe — seus lábios, seus olhos, a inclinação da cabeça, até o ritmo dos passos — exalava charme.

Cada movimento parecia natural e elegante, sem esforço. Cada olhar que ele lançava, mesmo sem querer, deixava as pessoas fissuradas.

No começo, pensei que ser bonito poderia ser bom… mas quem diria que ia ser tão pesado...

Ignorando os olhares grudados como chiclete na sola do sapato, Ash seguiu caminhando, tranquilo e indiferente, até chegar ao seu quarto.

No instante em que a porta se fechou, ele trancou as janelas, puxou as cortinas e deu uma pequena respirada. Finalmente, silêncio.

Ele se posicionou no meio da sala e retirou a caixa do anel de espaço.

Colocando com cuidado, abriu — e lá estava.

Sua espada.

Adornada na bainha, branca e pura, com marcas negras irregulares serpenteando ao longo, como cicatrizes de tinta na neve. Era… elegante, mas perigosa. Majestosa, mas selvagem.

A empunhadura combinava com a bainha — branca, limpa, com um fio preto amarrado na extremidade, balançando suavemente com sua respiração.

Ash a levantou do recipiente e lentamente passou os dedos ao longo do lado.

Gostaria que fosse preta… mas o branco também está bom. Combina com meu cabelo.

Ele a inclinou na mão, avaliando o comprimento e o equilíbrio.

Espada longa? Não… é uma Jian.

Diferente das espadas ocidentais ou sabres curvos, a jian era reta e de duas lâminas — uma lâmina elegante projetada para precisão e controle. Não era uma espada de força bruta.

Não, a jian sussurrou, dançou silenciosa, golpeou como água fluida transformada em aço.

Ele assentiu, satisfeito. Então tentou puxar a lâmina.

Não se moveu.

Franziu o cenho, infundiu mana na empunhadura — mas nada aconteceu.

Só quando percebeu um pequeno bilhete dobrado ao lado do interior de veludo da caixa é que parou. Pegou, desdobrou e leu:

***

Ei,

Seu danado — aprontou alguma na cidade, hein?

Sei lá. Não é da minha conta.

Só aviso que essa espada é uma obra-prima. Usei materiais exóticos nela, exceto o que você forneceu. O preço total é 50.000 moedas de ouro — sem negociação.

Ah, e… se quiser formar um Contrato de Alma com ela, coloque um pouco de sangue na lâmina.

Nem mesmo acho que um gremlin como você consiga fazer isso.

Se quiser vender, me avisa. Eu compro de volta.

– Garry

***

Ash encarou a nota, silencioso.

50.000 moedas de ouro… se fosse antes, teria xingado ele até o último fio de cabelo. Mas agora… não é lá grande coisa.

Ele estalou os dedos. Uma faísca de relâmpago piscou, e a nota virou cinzas num instante.

Depois, sem hesitar, fintou o próprio polegar e deixou uma gota de sangue escorrer sobre a sheath da espada.

Esperou.