
Capítulo 48
Poder das Runas
O corpo de Ray ainda permanecia de pé, provavelmente por causa do efeito de Sobrecarga.
Ele olhou para o temporizador,
[2:32]
Consegui derrotá-lo na metade do tempo.
Finalmente tinha acabado.
Ou assim ele achava.
Pois no exato momento em que o corpo do cavaleiro desapareceu—
Um sussurro gelado deslizou pelo ar, quase uma murmuração, mas pesado o suficiente para tremer as ruínas. A temperatura despencou, e o chão sob os pés de Ray tremeu.
"Muito bem, Ray."
A voz não era alta. Não precisava ser. Carregava um peso estranho, uma presença que enroscava-se na sua espinha como um aperto de um espírito fantasmagórico.
"Fiquei feliz por ter esperado."
A respiração de Ray ficou presa. Seus instintos gritavam—perigo.
***
[PUNHO DE ASH]
Ash observava em silêncio enquanto Ray cravava sua espada no crânio do Cavaleiro Negro, a lâmina penetrando fundo, cortando a energia sombria que antes pulsava violentamente dentro da armadura.
Ash exalou lentamente.
Então, isso tudo permaneceu igual...
A habilidade que Ray havia acabado de usar—Sobrecarga.
Ash tinha lido sobre ela no romance. Uma habilidade poderosa que levava o corpo além dos seus limites, conferindo velocidade e força explosivas, mas com um custo alto—uma forte reação de volta.
O preço de usá-la era alto—Ray perderia a consciência por pelo menos um dia.
Faz sentido para mim.
Com Ray fora de combate, ele não precisaria se preocupar com interferências. Poderia simplesmente entrar, pegar a Runa e sair antes mesmo que os outros tivessem tempo de reagir.
Ou assim achava.
Porque o que aconteceu a seguir nunca foi mencionado no romance.
Os dedos destroçados do cavaleiro tremeram. Então, com um movimento quase mecânico, a mão se fechou ao redor da lâmina embutida em seu crânio.
O aço gemeu sob a pressão anormal, faíscas dançando na sua superfície enquanto a força do cavaleiro se apertava.
E então—
Ele arrancou a espada.
Energia sombria jorrou da ferida aberta, uma enxurrada torrencial que inundou os arredores como uma entidade viva.
O próprio ar parecia distorcer-se, curvando-se sob a força do poder do cavaleiro, cuja presença, antes em declínio, agora ardia com uma intensidade que fazia arrepios rastejarem pela espinha de Ash.
Que porra…
Um peso pesado caiu sobre todos, sufocante e artificial, enquanto a armadura quebrada do cavaleiro começava a se recompor lentamente.
As fissuras se fechavam, o metal rasgado se unia, e as cavidades vazias onde seus olhos brilhavam antes agora irradiavam um brilho malévolo e doentio.
Então—ele se moveu.
Explodindo para frente com velocidade aterradora, o cavaleiro atravessou a espaço num piscar de olhos.
Um punho flamejante, envolto em energia verde cracklante, cravou-se fundo na barriga de Ray.
O impacto foi monstruoso.
O corpo de Ray cambaleou, seus pés levantando do chão ao sentir a força do golpe, que enviou ondas de choque pelo aposento. Antes que pudesse se recuperar, um segundo soco atingiu suas costelas, a força do golpe o lançando pelo ar.
Seu corpo acertou uma coluna de pedra, o impacto sacudindo toda a estrutura do calabouço.
Poeira e detritos caíram do teto, preenchendo o ar com uma névoa sufocante.
O cavaleiro não parou.
Sua figura turvou-se, avançando novamente, implacável na sua perseguição.
Porém, desta vez, algo mudou.
Ray, que há poucos momentos tossia violentamente, lentamente endireitou-se. Sua respiração se estabilizou, os tremores nas mãos desapareceram enquanto uma estranha quietude tomava conta do seu corpo.
E então—ele fechou os olhos.
Os olhos de Ash se estreitaram.
Algo se sentia diferente.
O modo como Ray se mantinha, a pulsação da mana—não errática ou forçada, mas controlada, refinada.
Uma realização o atingiu.
Ele já tinha visto isso antes.
A postura, a pegada, o modo como o próprio ar ao redor de Ray parecia distorcer-se.
Sesgo do Vacío...
Uma técnica de espada que, no futuro, se tornaria forte o suficiente para cortar a própria realidade.
Mas Ash não esperou ver a execução completa, pois já sabia qual seria o resultado.
Ele aprendeu a técnica antecipadamente, mas, no final, ele venceria de qualquer jeito.
Sua atenção mudou de foco.
Mergulhando na escuridão, ele se escondeu de sua lugar secreto, seus movimentos precisos e silenciosos enquanto avançava em direção à espada caída do Cavaleiro Negro.
A lâmina havia caído a poucos metros de distância, sua superfície ainda pulsando com energia residual.
Num movimento rápido, ele guardou a espada dentro do seu Anel de Espaço.
Com a mesma eficiência fluida, ele voltou ao esconderijo, justo quando Ray fez seu movimento.
Um zumbido agudo cortou o ar.
A espada de Ray reluziu sob a luz tênue do calabouço.
Então—ele atacou.
Um único arco em forma de meia-lua de energia do vazio rasgou o torso do cavaleiro.
A própria estrutura da realidade ganiu diante do ataque.
O cavaleiro nem teve tempo de reagir.
O vazio atravessou seu corpo, dividindo-o em um instante,
Quase sem tempo para reação, Ash nem se deu ao trabalho de olhar.
Seu foco estava em outra direção.
Na espada em suas mãos.
Era uma obra-prima de escuridão, uma lâmina que parecia quase viva. A guarda tinha o formato da cabeça de um dragão, com olhos de ônix brilhando com uma luz verde arrepiante.
Ao longo da lâmina, padrões finos, semelhantes a veias, pulsavam fracamente, como se a própria espada ainda guardasse vestígios do poder do cavaleiro.
Mas o que realmente capturou sua atenção—o verdadeiro prêmio—estava embutido na extremidade da empunhadura.
Uma pequena pedra verde.
Ash passou os dedos pelo seu surface, sentindo o poder sutil aprisionado nela.
Por um breve instante, a gema piscou.
Sorriu.
Grande jackpot.
Sem hesitar, criou uma lâmina de relâmpago—pequena, precisa, nem maior que uma caneta. Sua manipulação de mana ainda não era perfeita, mas suficiente para o que precisava.
Com cuidado, encaixou a ponta da lâmina de relâmpago improvisada sob a gema, mexendo-a de um lado para o outro, tentando arrancá-la. Mas a coisa tava presa firme.
Ash rangeu os dentes. "Tsc, insistente, né?"
Olhou para a gema, ajustou sua pegada e puxou com mais força. Ainda assim, ela resistia a se soltar.
Suas mãos firmaram-se ao cabo, suor escorrendo pela testa. Trabalhou com determinação, murmurando baixinho—
"Vamos lá... reina pra mim."
No instante em que as palavras saíram, ele congelou.
Uma longa e estranha pausa tomou conta da sua mente.
Se alguém estivesse vendo agora—curvado na escuridão do calabouço, respirando pesado, sussurrando palavras doces a uma gema enquanto graduava os dedos nela—
Não haveria como confundir.
Imediatamente pensariam o pior.
Um pervertido.
Talvez até um fetichista.
A ideia o fez estremecer.
"Pronto, nunca mais diz isso."
Inspirou fundo, focou e, com um último esforço—
A gema saltou para fora.
Um sentimento de satisfação o invadiu—
Mas a sensação desapareceu no instante em que percebeu uma mudança no ar.
Sua cabeça virou rapidamente para o Ray.
---
Das sombras, uma figura deu um passo adiante.
Uma mulher.
Alta e elegante, ela se movia com uma graça natural—porém sua presença carregava um peso que pressionava o próprio ar, pesado e sufocante na sua intensidade.
Seus passos eram lentos, deliberados. Cada clique de salto contra a pedra era como um relógio contando regressivamente, enchendo a câmara com um ritmo estranho.
Então, ela falou.
"Muito bem, Ray."
Sua voz não era alta, mas cortava o ar como uma lâmina embebida em seda.
Ray, que estava recuperando o fôlego após a batalha, ficou rígido. Seus ombros se endireitaram, e seu aperto na espada ficou ainda mais firme.
Os instintos de Ash gritavam dentro dele.
Quem diabos ela é?
Como ela chegou aqui?
E, mais importante—ela me viu?
Cuidadosamente, ajustou sua posição nas sombras, dedos ainda presos à gema que acabara de roubar.
Mas ela não olhou na direção dele.
O olhar vermelho dela permaneceu fixo em Ray, brilhando com uma curiosidade que fez Ash estremecer.
"Fiquei feliz, por ter esperado."
Ela sorriu.
Não um sorriso caloroso, amigável—mas aquele que sugeria que ela tinha observado por um tempo
E Ash não tinha ideia de o que mais ela tinha visto.
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A postura de Ray mudou, sua posição ajustando-se sutilmente—não defensiva, mas cautelosa.
"Senhorita Liera…?"
Havia algo em seu tom.
Suspeita.
Desconfiança.
Os olhos de Ash se estreitaram.
Ray a conhece?
Liera sorriu, sua expressão impossível de decifrar.
"Você é bastante atento," ela ponderou, sua voz carregando uma nota de diversão. "Como era de se esperar de alguém que derrotou um monstro duas patentes acima de você."
Nathaniel, que assistia em silêncio, finalmente falou—com a voz tensa de descrença.
"Senhorita Liera… Como você entrou aqui?"
Seus olhos se aguçaram.
"Este calabouço é de patente Especial, como pode um Mestre como você entrar?"
O sorriso de Liera não vacilou, mas algo em seus olhos—uma expressão indecifrável.
Ela deu um suspiro suave, balançando a cabeça.
"Ah… Esperava prolongar um pouco mais isso," ela ponderou, com um tom quase brincalhão. "Mas acho que chegou a hora de deixar as aparências de lado."
Uma energia estranha pulsou de seu corpo, enviando uma ondulação pelo ar.
Nathaniel deu passos para trás instinctivamente, seu aperto na arma ficando mais firme.
"Liera, o que você—"
Sua voz foi cortada enquanto,
Fissuras se espalharam pela pele de porcelana dela como vidro frágil, formando padrões intricados em fissuras negras.
Suas íris arderam em vermelho profundo.
Vince recuou cambaleando, a respiração presa.
Todos pararam—choque, medo e raiva passando pelos rostos deles.
Dois chifres agudos atravessaram o couro cabeludo dela, ondulando levemente para trás, suas arestas irregulares como obsidiano.
A pele clara escureceu, assumindo uma tonalidade abyssal, veias de vermelho derretido traçando sua forma como rachaduras em uma estrela moribunda.
A transformação foi lenta—deliberada.
Ela era um demônio.
Ela tinha sido um demônio o tempo todo.
Ash, ainda escondido nas sombras, sentiu o estômago descer.
Que diabos… Um Demônio?
A respiração de Nathaniel tornou-se errática.
"Senhorita Liera…" Sua voz vacilou, a incredulidade transbordando em cada sílaba. "Você… é uma…"
Liera se alongou, balançando os ombros como se estivesse se livrando de uma pele velha.
"Um demônio?" Seus lábios se curvaram. "Ah, Nathaniel... Esperava mais de você."
Ela levantou uma mão, estudando seus dedos alongados, as garras afiadas substituindo as humanas.
"É bom estar de volta a ser quem sou," ela murmurou, quase para si mesma.
Então, ela olhou para eles.
E sorriu.
***
Quando Ray entrou no calabouço…
Liera observou enquanto Ray Dawson passava pelo portal, sua figura desaparecendo no brilho violáceo pulsante.
No exato momento em que desapareceu, um sorriso lento e quase imperceptível curvou seus lábios.
A adrenalina corria em suas veias, aguda e elétrica—um contraste gritante com a postura composta que mantivera diante dos outros.
Sua mente estava em outro lugar—no calabouço, no que havia dentro dele.
Na Runa.
Uma Runa dos Antigos… se estiver mesmo lá, meu destino mudará para sempre.
Ela passou anos infiltrada na estrutura de poder da cidade—interpretando o papel de uma executora leal, uma aliada confiável do Chefe da Cidade. Com precisão, manipulou, aconselhou e influenciou, tudo enquanto secretamente alimentava informações ao seu verdadeiro mestre.
O Rei Demônio.
Por décadas, trabalhou nas sombras, esperando, observando, aguardando o momento certo.
A paciência era sua maior arma, e agora, após anos de contenção, o momento que aguardava finalmente chegou.
As informações do Sussurrador haviam revelado um artefato de poder indescritível dentro do calabouço. Não apenas qualquer artefato—uma Runa de origem antiga, algo que o próprio Rei Demônio buscava há séculos.
Seu coração pulsava forte com a revelação. Se ela conseguisse obtê-la e entregá-la pessoalmente, deixaria de ser apenas mais uma infiltrada na cidade distante.
Ela ascenderia.
Mas o destino resolveu zombar dela.
O calabouço era restrito a Patente Especial e abaixo—e ela era uma Mestre.
Ela mal conseguiu esconder sua frustração. Depois de todo o esforço, toda a paciência… e agora isso?
Porém, ela não deixou transparecer sua emoção. Pelo contrário, guiou sutilmente a reunião de emergência a seu favor.
"Não podemos deixar passar uma oportunidade assim," ela sugeriu. "A informação vem do Sussurrador. Com certeza há uma Runa lá dentro. Devemos incentivar os caçadores a recuperar tudo de valor. Não perdemos nada e, quem sabe, podemos obter algo de grande valor."
Os oficiais hesitaram, mas, no final, concordaram. Até mesmo o Mercado Negro foi atraído.
Mas Liera nunca teve intenção de esperar passivamente enquanto outros pegavam a Runa.
Ela mesma iria buscá-la.
Ou assim achava.
Até que algo inesperado aconteceu.
Ray Dawson.
Um simples estudante da Academia apareceu, solicitando entrada. A princípio, ela descartou-o como irrelevante—até verificar seus registros.
Um Usuário de Afinidade Total.
Informações demoníacas haviam reportado a presença de um Usuário de Afinidade Total na Academia Estelar.
Os demônios há tempos debatiam eliminar alguém antes que ele se tornasse uma ameaça real. Alguns até propuseram assassiná-lo, temendo o que ele pudesse se tornar.
E agora, o tolo tinha entrado direto na própria armadilha.
Um sorriso se formou em seus lábios.
Não planejava usar essa oportunidade além da Runa… mas agora?
E se, além de garantir a Runa, ela pegasse a cabeça de Ray Dawson?
Com ambos, ela não seria apenas recompensada.
Ela seria elevada.
Seu nome deixaria de ser sussurrado às escondidas e passaria a ser reconhecido. O Rei Demônio acknowledluriaria ela.
Ela ficaria ao lado dele.
A Runa e a cabeça do prodígio… com ambos, ela ascenderia.
Seu sorriso se alargou.
Mas primeiro, precisava entrar.
Ela precisava diminuir seu nível—sem se enfraquecer.
E tinha a ferramenta perfeita para isso.
Com um olhar final para a entrada do calabouço, virou-se de revés.
Ela se afastou da cena, fingindo exaustão, alegando uma doença—uma enfermidade passageira, nada sério, apenas o suficiente para se isentar de suas tarefas.
Chegando a uma câmara secluded, ela puxou uma pedra vermelha-sanguínea do seu Anel de Espaço.
A Pedra Eclipse Carmesim.
Um relicário de magia demoníaca antiga.
Uma pedra de sacrifício.
Que poderia diminuir permanentemente a patente de um ser—mas, em troca, por um dia, dobraria o seu poder na patente inferior.
Um jogo perigoso. Uma jogada desesperada. Mas poder perdido pode ser recuperado.
Oportunidades como essa? Elas nunca aparecem duas vezes.
Ela segurou a pedra na palma da mão, sentindo a maldade antiga sussurrando através dela, convidando-a a seguir em frente.
Fechou o punho ao redor da pedra, a força se intensificando, e então a esmagou.
Uma onda de energia sombria pulsou pelo corpo dela.
Sintou-se como se seu corpo estivesse sendo destruído de dentro para fora.
Uma dor como nenhuma outra que ela já tinha sentido rasgou seu corpo.
Parecia que sua alma estava sendo partida, os alicerces de sua força arrancados, quebrados, e reconstituídos instantaneamente.
O processo durou poucos segundos, mas para ela, pareceu uma eternidade.
Quando terminou, ela cambaleou levemente, exalando um suspiro agudo.
Depois, lentamente, moveu os dedos.
Mesmo com sua patente reduzida, uma energia poderosa percorreu suas veias.
Seus lábios se curvaram.
Sou forte o bastante para matar todos eles.
Agora, tudo o que sobrava era garantir que ninguém suspeitasse de nada.
E, no momento certo—quando ninguém estivesse olhando—
Ela entrou no calabouço.