Poder das Runas

Capítulo 49

Poder das Runas

Liera esticou as mãos, flexionando suas unhas longas enquanto admirava sua forma recém-transformada.

Um sorriso torto brincou em seus lábios ao sentir a energia bruta pulsando em suas veias, seus olhos rubros brilhando de excitação.

Ela se virou para encarar o grupo, sua expressão indecifrável por um momento, antes de soltar uma risada suave. "Ah… devo dizer, quase me sinto mal," refletiu, inclinando a cabeça. "Afinal, éramos camaradas, não é?"

Silêncio.

Nathaniel cerrara os punhos, suas knuckles ficando brancas. Sua voz hesitou, quase um sussurro. "Liera… o que você é?" Seu pescoço apertava, o peso da traição pressionando seu peito.

O olhar de Liera passou por ele, amusada. "O que eu sou?" repetiu, colocando uma mão garras na parte do peito. "Um demônio, claro. Isso foi tão difícil de descobrir?"

Vince recuou cambaleando, como se tivesse sido atingido. "Não… Não pode ser." Sua respiração travou, os olhos andando entre suas mãos tremulas e a expressão cruel de Liera. "Confiamos em você. Você lutou ao nosso lado. Você—" A voz dele quebrou. Por quê?

"E eu aproveitei cada segundo," admitiu Liera com um sorriso malicioso. "De verdade. Vocês humanos têm emoções tão fascinantes—confiança, camaradagem, esperança… São tão frágeis. Tão fáceis de quebrar."

A respiração de Irene foi superficial, as mãos tremendo enquanto ela instintivamente buscava sua arma. "Você nos enganou o tempo todo?"

Liera encolheu os olhos. "Ah, por favor. Não finja que está tão traída. Você realmente achou que um simples humano pudesse ser tão perfeito? Que eu pudesse estar entre vocês como uma igual, não—uma superior—and não ser algo mais?"

Ela soltou uma risada baixa. "Nunca precisei da sua confiança. Apenas brinquei porque era conveniente."

O rosto de Lucien permaneceu neutro, mas seus punhos estavam brancos de tanta força ao segurar as adagas. "Por que revelar-se agora?"

"Porque não preciso mais fingir," respondeu simplesmente. "Estava esperando por uma oportunidade perfeita. E agora…"

Um calafrio lentamente percorreu seu corpo, seu sorriso se alargando com uma fome que já não era só de diversão—mas de antecipação.

"Agora, ela se apresentou."

E então—

O chão tremeu sob seus pés, um rugido profundo, gutural, vibrando através da pedra como o brado de uma fera adormecida.

Rachaduras se espalharam pelo teto, e poeira caiu em finas fios fantasmais.

A masmorra parecia ganhar vida.

O ar mudou de repente. As paredes gemeram como se algo antigo tivesse sido perturbado.

Então, sem aviso—

No extremo oposto da câmara, a parede de pedra torceu-se, reformando-se, os tijolos rachando e deslocando-se enquanto uma pequena porta surgia do nada.

Silêncio caiu na sala.

O ar ficou frio. Pesado de algo invisível, algo Antigo.

A respiração de Liera ficou preso.

Seus lábios se abriram, sua expressão mudando de diversão para algo quase… reverente.

Seus dedos tremeram, seus olhos arregalados enquanto ela encarava a porta como se fosse a salvação em si.

"É aqui…" ela sussurrou, sua voz quase um sussurro.

"Heheh…heheh...hehe"

Ela jogou a cabeça para trás, um sorriso de alegria se espalhando pelo rosto.

"É aqui!!!!"

"Isso… É por isso que fui enviada aqui!" Sua voz tremia de emoção, as mãos cerradas em punhos. "Um Rune antigo… Não, algo maior."

Seus olhos brilhavam com uma luz fanática. "O Rei Demônio me recompensará por isso… Vou emergir!"

Ela deu um passo à frente, seu corpo inteiro tremendo de expectativa.

Enquanto isso, a equipe de Ray permanecia congelada.

Esgotados de mana, com os membros pesados de cansaço, eles cambalearam, mas não caíram.

O terror se apossava de seus peitos, uma vontade instintiva de fugir se enrolando por suas espinhas, mas eles não se mexeram.

Seus dedos tremiam, as armas escorregadias de suor, os joelhos ameaçando ceder—mas nenhum deles virou as costas.

Ash, por outro lado, permanecia indiferente.

Seu olhar passou pela porta, mas nenhuma emoção surgiu em seu rosto.

Não há nada ali que me beneficie, e o mais importante…

O olhar de Ash se voltou para Ray.

Suspiro… ele vai perder o controle.

No romance, a primeira vez que Ray encontrou um demônio, ele enlouqueceu. Os instrutores da Academia tiveram que intervir só para parar sua fúria—mesmo depois que o demônio foi morto. E não foi um evento isolado.

Toda vez que via um demônio, ele se perdia. Como uma fera selvagem atacando tudo ao redor até sua fúria se extinguir.

Até aprender a controlá-la, isso continuaria acontecendo.

Ash observava Ray com cautela.

Ele permaneceu parado.

Distraidamente parado.

Sua cabeça caiu, os ombros rígidos. Sua respiração—superficial, entrecortada—soava quase ofegante.

Começa.

Mas Ash não tinha mais tempo para se preocupar com isso.

A situação ficava perigosa. Se Ray perder a consciência antes de matar o demônio, ele vai morrer.

Não posso deixar que isso aconteça.

Uma expressão de frustração apareceu em seus lábios. Droga… Nunca pensei que estaria absorvendo outro Rune dentro dessa maldita masmorra.

Seu aperto ao redor da joia ficou mais forte, um peso frio e desconfortável se instalando em seu peito.

Preciso me preparar para o pior cenário possível.

Deixando esses pensamentos de lado, ele levantou a joia em direção à boca.

Por um momento, hesitou.

Mas, não seria melhor se ele morresse? Assim, poderia coletar as runas livremente, sair deste mundo e partir para outro planeta com Elysia.

Devo salvá-lo ou deixá-lo?

Depois de pensar bastante, ele decidiu.

Vamos não arriscar, quem sabe o que pode acontecer…

Com um suspiro resignado, ele colocou a joia na boca e murmurou:

"Rune do Equilíbrio."

***

Enquanto isso, Ray…

Uma tremedeira percorreu o corpo de Ray. Sua respiração ficou ofegante—suspiros curtos, rápidos, escapando de seus lábios. Suas mãos tremeram, seu aperto na espada ficou tão forte que o pomo gemeu sob a pressão.

Seus ombros começaram a tremer.

No começo, foi sutil, quase imperceptível.

Então—

"Haha…"

Uma risada leve saiu de sua boca—curta, partida.

Sua cabeça se virou rapidamente, suas pupilas dilataram.

"Haha… Haha… Haha…"

O som escorregou pelo ar, desigual, instável—como um homem na beira de um abismo, olhando para um abismo que lhe dava risada de volta.

Então, uma voz— baixa, áspera, rastejando pela garganta como algo grotesco e vivo.

"Demônio."

Pequenas memórias surgiram à sua frente,

—As mãos de sua mãe, quentes enquanto bagunçava seu cabelo. "Meu pequeno cavaleiro."

Seus dedos espasmaram.

"Demônio."

—A silhueta forte de seu pai, entre ele e os demônios. "Corra, Ray. CORRA!"

A palavra saiu de seus lábios, inicialmente silenciosa.

Depois novamente.

"Demônio."

E mais uma vez.

"Demônio."

A cada vez, sua voz ficava mais alta.

"Demônio."

Fogo. Gritos. O cheiro de carne queimada.

—Os braços de sua mãe ao redor dele, tremendo. "Não olhe para fora, querido. Espere por nós, voltaremos."

"DEMÔNIO."

"DEMÔNIO."

A risada se torceu, distorcendo-se em algo antinatural, algo aterrorizante, rastejando das profundezas de sua alma.

"HAHAHAHA—"

Seus lábios se alongaram em um sorriso, dentes à mostra em algo que mal podia ser chamado de sorriso.

Seu rosto—eufórico e extasiado.

Todo o seu corpo tremeu, seu peito subindo e descendo de forma irregular enquanto sua respiração ficava febril. Seu coração pulsava forte contra as costelas—selvagem, incontrolável. Seu pulso ecoava em seus ouvidos, ofuscando qualquer outro som.

Veias em seus olhos explodiram. Os brancos ficaram carmesim.

O globo ocular—pintado de sangue, aberto e brilhando com algo crua.

Malícia.

Ódio.

E algo mais.

Euforia.

Como uma fera faminta que acaba de encontrar sua presa.

Ele deu um passo à frente.

E o próprio mundo pareceu hesitar.

O ar ficou sufocante.

A temperatura despencou.

Uma intenção de matar tão vil, tão totalmente desenfreada, explodiu dele como uma onda gigante, atingindo as paredes, o chão, o próprio tecido do espaço.

A respiração de Nathaniel ficou presa, seu rosto perdendo cor. "O-Que diabos…?"

Vince recuou cambaleando, a garganta seca. "Ei… O que há com ele?"

Irene apertou os braços, tremendo por inteiro.

Até Liera parou.

Um lampejo de inquietação cruzou seus olhos.

Por um segundo.

Mas então—

Ray deu mais um passo.

Sua voz aumentou de volume.

"Demônio"

"Demônio. Demônio. Demônio. Demônio. DEMÔNIO. DEMÔNIO. DEMÔNIO."

"Hehehhee—hahahaha"

Era a risada de alguém à beira da sanidade, equilibrando-se na linha tênue entre razão e loucura.

Seus ombros tremiam a cada risada ofegante. Sua cabeça inclinou-se de lado, as brancas de seus olhos visíveis agora,

"FINALMENTE ENCONTREI UM!!"

Sua voz rasgou a masmorra, cortando o silêncio sufocante como um relâmpago atravessando o céu.

"Hehehhee—hahahaha"

A risada dele escorreu, descontrolada, incessante, transformando-se em um coro de loucura.

E então—

[Passo Cintilante]

A figura de Ray tornou-se turva—depois, num piscar de olhos, ele já estava ali, a espada já descendo.

O ar uivou enquanto a lâmina cortava, um arco de morte correndo em direção ao pescoço de Liera.

Liera mal teve tempo de reagir.

A lâmina cortou o ar com um grito, um som tão afiado e violento que um arrepio percorreu sua espinha.

Rápido—!

Seus instintos rugiram, e ela torceu o corpo no último segundo.

CORTE—!

Um chiado metálico soou enquanto a espada de Ray perfurava o espaço onde sua cabeça havia estado poucos milissegundos antes. Fios de cabelo dela flutuaram, cortados limpos pelo ataque.

Mas Ray—

Ray não tinha terminado.

Seus olhos vermelhos como sangue fixaram nela, selvagens e implacáveis.

"Heh… Hehehe… Hahahahaha!!"

A voz dele tremeu com algo entre risada e histeria. Seus ombros tremeram—não de medo, mas de uma excitação pura e crua.

Sua expressão se alargou de forma anormal, os dentes à mostra em uma careta quase predatória. Sua respiração foi errática, profunda e trêmula, como se seu corpo não pudesse conter a fúria que pulsava através dele.

"Encontrei um Demônio."

Seus dedos ticaram.

A sua voz escorria com veneno, distorcida em algo grotesco e retorcido.

"DEMONIO—!!"

O ar rachou.

A pressão sufocante de sua intenção de matar aumentou, pressionando as paredes, distorcendo a própria atmosfera.

Os olhos de Liera estreitaram.

Ela tinha subestimado-o.

Para um humano, para um garoto que nunca matou um humano antes, esse nível de intenção de matar… Não era normal. Era algo nascido de ódio puro e incontrolável.

"Tch—"

Ela Chiou a língua, seus músculos se enroscando enquanto se movia, seu corpo piscando para trás como uma sombra.

Mas Ray já estava lá.

"Hah—!!"

Sua espada desceu num arco vingativo—

[Lâmina Aura: Espaço]

E uma brilhante lua crescente de energia do vazio explodiu de sua lâmina.

A cicatriz rasgou o ar como se a própria realidade tivesse sido dilacerada.

Os olhos de Liera se arregalaram. Tch, isso é perigoso—!

Ela se desviou na horinha, escapando por uma mecha de cabelo.

O aftershock—

Uma onda de choque massiva estourou, criando uma fissura profunda no chão da masmorra.

Poeira e destroços explodiram no ar, o chão se partindo como se a própria masmorra recuasse diante da ira de Ray.

Mas ele não tinha terminado.

Uma pulsação profunda de energia pulsou de seu corpo, distorcendo o ar ao seu redor,

E então—ele desapareceu.

Os olhos de Liera ziaram ao redor, Onde—?!

Um segundo tarde demais.

Um estrondo ecoou na câmara enquanto Ray se materializava na sua frente—

Uma explosão de fogo crepitou em sua espada.

[Lâmina Aura: Fogo]

Um arco ofuscante de labaredas seguiu seu golpe, o cheiro de ozônio impregnando o ar.

Liera mal conseguiu interceptar. Suas garras encontraram a lâmina dele, faíscas voando quando os dois colidiram. A força do impacto fez ela escorregar para trás, seus braços tremendo levemente.

Ela já lutou com prodígios antes.

Mas isso—

Era algo completamente diferente.

Uma chuva incessante de ataques seguiu. Os golpes de Ray eram selvagens, mas precisos, cada movimento impulsionado por uma fúria bruta mas aprimorado por algo mais instintivo—algo assustadoramente natural.

Mana de Fogo e Espaço arco-ìbam de sua lâmina, cada movimento seguido pelo estrondo de uma tempestade. O próprio ar parecia ondular com sua velocidade.

Então—

Ele torceu o pulso.

A espada vibrava violentamente, a mana se condensando na lâmina, dobrando o espaço ao redor.

As pupilas de Liera dilataram. Ah, não—!

[Lâmina Aura: Espaço x Fogo]

Um corte devastador rasgou a masmorra—

O espaço ao redor dela se distorceu. As paredes de pedra racharam. A masmorra inteira tremeu com o impacto.

Os instintos de Liera gritaram. Ela se torceu, a ponta da espada de Ray quase a atingindo por um fio de cabelo. O calor do golpe raspou sua bochecha, uma fina linha de vermelho surgindo antes mesmo de ela perceber a dor.

Ela chiou a língua. Isso não é bom. Se continuar assim—

Mas Ray…

Sua espada se quebrou, incapaz de resistir à força bruta de seu golpe. Fragmentos de metal se espalharam, batendo no chão de pedra.

Ray não piscou.

Sem hesitar, sem pensar duas vezes, sua mão mergulhou no inventário. Uma nova espada se materializou em sua mão, como se a destruição da anterior fosse irrelevante.

E ele não parou.

Sua respiração veio ofegante, o peito arfando.

Os efeitos do Overclock começaram a fazer efeito.

Seus músculos contraíram de forma errática, seu aperto na arma se intensificando, seu corpo quase se partindo sob a pressão.

Mas os olhos dele—

Os olhos não demonstravam hesitação.

Ele riu novamente, um som profundo e perturbador.

"Heh… Hahaha… É isso…! É assim que deve ser!"