Poder das Runas

Capítulo 45

Poder das Runas

A câmara cheirava a sangue.

O chão de pedra sob eles estava escorregadio de carmim, corpos espalhados em todos os cantos do campo de batalha. Os únicos sons que permaneciam eram suas respirações ofegantes e o gotejar rítmico e distante de sangue vindo dos cadáveres imóveis.

Ray estava de pé entre os caídos, com os dedos fechados firmemente ao redor da empunhadura da espada, fazendo seus nós ficarem brancos.

Seu peito arfava, a adrenalina ainda pulsando nas veias, mas a batalha tinha acabado. A fúria que o impulsionara momentos antes agora pesava dentro dele, sufocando.

Porém, não tinha sido uma vitória.

Não quando tantos estavam mortos.

O corpo de Garrick jazia a alguns metros de distância.

Seu escudo—o mesmo escudo que os tinha protegido inúmeras vezes—estava rachado, sua superfície antes polida agora manchada de sangue. Sua silhueta imensa, que antes parecia uma parede inabalável, agora estava imóvel.

Seu rosto congelado numa expressão de desprezo—não de dor, mas de resistência. Mesmo na morte, recusara-se a ceder.

Irene ajoelhou-se ao lado dele, com as mãos tremendo, pairando sobre seu peito, emitindo uma luz tênue de magia curativa. Mas era inútil. Ela sabia que era inútil.

Mesmo assim, ela não parou.

Seus respirações vinham em suspiros curtos, suas mãos pressionando desesperadamente sobre suas feridas, sua magia piscando como uma vela prestes a se apagar. Seus lábios se moveram, sussurrando encantamentos—orações, súplicas, negando-se desesperadamente.

"Vamos lá," ela conseguiu dizer entre tosses. "Vamos lá, só — só um pouquinho mais—"

Mas não houve resposta. Nenhum movimento.

Garrick tinha desaparecido.

Um suspiro cortante e trêmulo saiu de sua garganta, suas mãos tremendo violentamente. O brilho da magia dela piscou uma vez, e depois desapareceu completamente.

Selene virou-se, o maxilar cerradíssimo, a mão apertando a manga de seu uniforme com tanta força que quase rasgou. Ela arrancou um pedaço do tecido e amarrou ao redor do braço ferido, sua expressão usual de sorriso irônico desaparecida. "Precisamos nos mover," ela murmurou, a voz vazia de emoção. "Ficar aqui não vai trazer eles de volta."

Vince ergueu-se da parede com um gemido, a mão ensanguentada apertando seu lado. Cuspiu no chão, a face contorcida de nojo.

Nathaniel não respondeu. Simplesmente limpou a lança contra o capote de um mercenário caído, com movimentos mecânicos e olhos distantes. Seu corpo ainda estava imóvel, mas seus dedos tremiam levemente ao redor da arma.

Bary tinha sido o último a morrer.

Seu combate fora brutal—a lança de Nathaniel contra a Grande Espada de Bary. Ele lutara como uma besta encurralada, desviando e atacando com a precisão de alguém que nunca tinha perdido antes.

Porém, no final, Nathaniel cravou sua lança direto na garganta dele, pressionando-o ao chão, encharcado de sangue.

E, ainda assim, não havia satisfação naquilo.

Apenas perda.

Lucien respirou fundo. "Eu não gosto disso."

"Ninguém gosta," murmurou Nathaniel.

Irene limpou o suor de suas bochechas molhadas, engolindo sua dor. Levantou-se ao lado de Garrick, o rosto pálido, mas decidido.

Ray sentiu a nuca formigar, sua respiração curta.

Nathaniel fez uma inspiração lenta e deu um passo à frente. "Você foi ótimo, Ray. Agora vamos:**"

Após descansarem por um tempo, entraram na sala do chefe.

E as portas se fecharam com um estrondo atrás deles.


No instante em que cruzaram o limiar, a escuridão ao redor deles ganhou vida.

Uma a uma, as tochas acenderam-se com chamas verdes e assustadoras, projetando sombras distorcidas nas paredes de pedra úmidas. O fogo sobrenatural tremulava intensamente, como se fosse vivo, sua luz banhando a câmara com uma luminescência inquietante.

O ar estava pesado com uma tensão perturbadora, carregado com um cheiro que não era de sangue nem de decomposição—algo muito pior. Ele grudava nos pulmões deles, transformando cada respiração numa sensação lenta e sufocante.

No centro do hall, uma figura solitária se destacou.

Um cavaleiro de pedra.

Mas algo parecia profundamente errado com o ar que ele exalava.

Então, seus olhos brilharam.

Em suas órbitas, duas brasas de fogo esmeralda acenderam-se lentamente, lançando um brilho assustador enquanto ele levantava a cabeça lentamente.

Seu olhar travou em Ray.

E não vacilou.

Os outros tensaram, as mãos instintivamente fechando-se com força ao redor das armas. Um suor frio escorreu pela espinha de Ray, mas antes que pudesse reagir—

Ash moveu-se.

Silenciosamente, com facilidade.

Diferente dos demais, ele não ficou paralisado. Não recuou ao ver o soldado negro, nem reagiu à atmosfera opressiva que os pressionava.

Ele era imune ao medo.

A expressão dele permanecia indecifrável enquanto se movia nas sombras, escapando com habilidade treinada.

Ele não estava aqui para lutar.

Ainda não.

Ele estava aqui para observar.

E quando chegasse a hora—quando o momento fosse adequado—ele atacaria pelo Runa.


O cavaleiro negro não exalava respiração nem som algum—apenas uma presença avassaladora que fazia o ar ficar mais pesado ainda, pressionando-os contra os pulmões como uma manopla.

A armadura dele era obsidiana, de uma escuridão quase vítrea, polida até um brilho antinatural que refletia a luz fraca da câmara. Veias de luz verde pulsavam sob a superfície rachada, afiadas e ameaçadoras.

Mas era a espada que chamava o olhar de Ray.

Uma lâmina preta como breu, cuja lâmina brilhava com uma tonalidade verde assustadora, pulsando suavemente—quase como se estivesse viva.

Então, essa é a espada do Deus-Aperto, pensou Ash, olhando fixamente na arma com um olhar faminto.

Pena. Se não fosse pelos requisitos absurdos, eu a pegaria. Mas, infelizmente, ela era destinada a Ray.

Nathaniel exalou profundamente. "Formação," ordenou, com uma voz cortando o silêncio sufocante.

"Ray, fica na retaguarda. Você ainda é fraco para isso."

Ray apertou os punhos, mas obedeceu. Retrocedeu, embora seu olhar penetrasse firmemente no cavaleiro.

Os olhos de Nathaniel nunca deixaram o inimigo à sua frente. O peso da liderança fazia sua voz parecer carregada, sem espaço para discussão.

Selene girou suas adagas nas mãos, com postura leve, preparada para reagir a qualquer momento.

Vince já tinha uma seta encaixada, os dedos tencionando a corda do arco.

Lucien murmurou uma oração, magia se formando em torno de suas mãos.

A bengala de Irene emitia uma luz tênue, sua expressão tensa, pronta para curar a qualquer momento.

Mas então, de repente,

O cavaleiro negro moveu-se.

{A/N: Alterando soldado para Cavaleiro}

E o caos se instalou.

No momento, ele parecia parado.

No seguinte—

Estava bem na frente de Nathaniel.

Um combatente normal nem teria percebido o movimento.

Mas Nathaniel não era comum.

CLANG!!

Lança contra espada.

O impacto enviou uma onda de choque ensurdecedora pelo ambiente, fazendo Vince e Lucien tropeçarem para trás.

Os braços de Nathaniel tremeram com a força, os pés cavando na pedra enquanto mal mantinha sua postura.

"Droga—!" Ele rangeu os dentes, forçando-se contra o peso da investida.

Está rápido demais.

Mas ele não recuou.

Ele torceu sua lança, redirecionando a força, e contra-atacou com uma estocada precisa.

Uma investida rápida e precisa—

O Cavaleiro Negro inclinou seu corpo levemente, desviando com uma facilidade inumana.

Os olhos de Nathaniel se arregalaram.

A espada girou em um arco horizontal limpo—com a intenção de decapitar o adversário.

Não posso desviar.

Mas antes que a lâmina o alcançasse—

THWACK!!!

Uma flecha atingiu a espada, desviando sua trajetória por um mísero centímetro.

Um centímetro que salvou a vida de Nathaniel.

Vince disparara no último momento possível.

Nathaniel rolou para trás, rangeu os dentes ao ajustar sua postura. "Obrigado—"

Antes que pudesse terminar, Selene agiu.

Ela surgiu das sombras como um espectro, suas adagas brilhando sob a luz fraca.

Ela mirou na coluna do cavaleiro.

Mas o cavaleiro—

Nem sequer virou-se.

Em vez disso—

O cotovelo dele disparou para trás, atingindo suas costelas.

O impacto foi brutal.

Seus olhos arregalaram enquanto ela foi arremessada pelo ambiente, batendo na parede com um estrondo grotesco.

Ela urros, sangue voando de seus lábios.

No entanto, ela não estava morta.

Ela torceu seu corpo na última fração de segundo, minimizando os danos.

Ainda estava na luta.

Mas quase não.

Lucien, que esperava por uma abertura, concluiu seu feitiço.

"Amarra Infernal!"

Depois do chão, correntes de fogo emergiram, serpenteando em direção ao cavaleiro como víboras vivas.

Ela prenderam seus braços, pernas, queimando e restringindo.

Lucien gritou, suor escorrendo pela testa.

"AGORA! ATACAR COM TODA FORÇA!"

A flecha de Vince disparou na direção dos olhos do inimigo.

Nathaniel avançou com sua lança brilhando de mana, mirando o coração do cavaleiro.

Selene voltou a atacar, apesar de seus ferimentos.

Até Irene se juntou, lançando uma explosão de magia de luz—seu único feitiço ofensivo—diretamente contra o inimigo.

Não é fácil vencer, pensava Ash assistindo à tática que usaram.

CRACK!!!

As correntes se desfizeram, junto com a esperança deles.

Como vidro frágil.

O cavaleiro rasgou-se livre do feitiço como se fosse nada.

A flecha de Vince cortou o ar em direção ao olho do cavaleiro.

CLANG!!!!

A flecha se quebrou no meio do caminho, desviada com um movimento casual da lâmina do cavaleiro. Ele tinha visto o ataque antes mesmo de Vince soltá-la.

Nathaniel avançou na mesma hora, sua lança como um borrão, buscando o ponto mais fraco na armadura do inimigo. Um golpe direto na junta exposta do ombro.

Mas antes que a ponta tocasse o metal—

O cavaleiro torceu-se, deslocando-se com um movimento ágil, com um movimento de pulso.

A lança de Nathaniel foi desviada para o lado, seu próprio impulso fazendo-o perder o equilíbrio.

E então, o Cavaleiro Negro deu um soco brutal e rápido.

Ele chutou as costelas de Nathaniel, levantando-o do chão antes de arremessá-lo para trás. Nathaniel caiu forte no chão, asfixiando-se ao puxar o ar enquanto uma dor aguda e fragmentada explodia pelo lado.

Selene moveu-se como uma sombra, suas adagas brilhando, uma apontando para a garganta do inimigo, a outra para a coluna.

Mas o cavaleiro não virou-se.

Como se percebesse o ataque, ele apenas ajustou seu peso, deixando a primeira adaga passar por uma unha de sorte. Então, com um movimento quase preguiçoso, seu braço se retraiu—novamente.

Uma rasteira no estilo backhand.

Ele pegou Selene de surpresa, acertando seu rosto com força total.

Crack!!

O corpo dela se torceu no ar antes de cair no chão, sangue jorrando de sua boca.

A voz de Lucien ecoou pelo salão. "Selene, segura aí!"

O ar crepitou com mana enquanto ele liberava uma rajada de fogo contra o cavaleiro negro, as chamas avançando com força, atingindo suas costas. O calor era tão intenso que Ray podia senti-lo de longe.

No entanto, o cavaleiro nem se moveu para desviar.

As flames avançaram, colidindo com a armadura dele.

E se apagaram.

O feitiço—desapareceu. Como se nunca tivesse existido.

Lucien recuou, com um choque estampado na face.

Irene correu até Selene, a luz da magia de cura já cobrindo o corpo dela. "Ela está viva!" ela gritou, quase em pânico. "Mas ela—não vai aguentar muito se não —"

Uma sombra se lançou sobre ela.

O cavaleiro negro já avançava na direção deles.

Seus olhos verdes queimavam com algo quase divertido, como se estivesse se divertindo com tudo isso. Ele tinha estado brincando com eles—testando-os.

E agora, estava pronto para matar.

O coração de Ray pulsava desesperado.

As mãos tremiam.

A cabeça dele gritava para que se movesse.

Mas lhes tinham dito para ficar para trás.

Acreditavam que poderiam lidar com isso.

Porém, um a um, estavam caindo.

Nathaniel ainda lutava para se levantar. Vince preparava outra flecha, mas suas mãos tremiam. A magia de Lucien tinha falhado, e Irene estava ocupada demais salvando Selene para fazer mais alguma coisa.

E o cavaleiro negro—

O cavaleiro negro estava prestes a esmagá-los.

Algo caiu dentro de Ray.

Não.

Seu corpo se moveu antes mesmo que sua mente processasse.

Seus pés fincaram no chão e, num instante, ele avançou com toda força. O mundo ficou embaçado por um momento, sua mente hiperfocada no alvo.

O cavaleiro levantou o pé, pronto para pisar em Irene—

A espada de Ray brilhou.

Um arco agudo e limpo.

Sua lâmina encontrou o tornozelo do cavaleiro na angulação perfeita, atingindo na hora exata em que ele levantava o peso.

O impacto fez a criatura cambalear.

"CORRA!" gritou Ray.

Irene saiu de seu transe, recuando desesperada com Selene nos braços.

O cavaleiro virou a cabeça em sua direção, o olhar flamejante fixo nele.

Ray sentiu de novo—aquele peso sufocante. A sensação de que aquilo era além dele, além de tudo que poderia lutar.

Porém—

Ele conseguiu senti-lo.

Seus movimentos.

Seus ataques.

A maneira como lutava.

Toda ação, cada golpe, cada defesa—com seu trait de Espadão Divino, ele poderia ver tudo.

Depois de ver a postura na batalha,

Seu corpo compreendeu.

Sua mente entendeu.

Um arrepio percorreu seu corpo, algo frio e cortante, mas ao mesmo tempo empolgante.

Tsk, querendo bancar o valente, pensou Ash, com uma expressão como se tivesse vomitado.

Os lábios de Ray se abriram, a respiração trêmula, a voz firme. "Eu te digo quando se mover."

Nathaniel, segurando o lado, virou-se para ele. "O quê?"

Os olhos de Ray nunca se afastaram do soldado negro.

"Consigo enxergar," murmurou, mais para si mesmo do que para os outros. Sua pegada apertou na espada. "Sei como ele luta."

Lucien olhou para ele, incrédulo. "Você—O quê diabo você tá falando?"

Mas Ray não respondeu.

Ele se moveu.

E desta vez, quando o cavaleiro negro balançou a espada—

Ele desviou como se soubesse o que ia acontecer.

Sua lâmina atingiu o braço na hora exata, interrompendo seu impulso. Seu corpo já sabia como reagir antes mesmo de pensar nisso.

Ele já tinha aprendido.

De fora, da observação—ele tinha dominado.

Seu corpo se sentia leve.

Sua espada tinha a sensação certa.

Mas ainda assim, a diferença de estatísticas não era tão fácil de superar.

Ray foi jogado para trás novamente.

***

A/N: E aí, queridos leitores!

Lembram daquela liberação em massa de 10 capítulos que mencionei? Pois é, a espera está quase no fim! 🎉

Amanhã é o grande dia—então apertem os cintos, peguem pipoca e preparem-se para uma montanha-russa total! 🚀🔥 Vocês não vão querer perder! 😏