Poder das Runas

Capítulo 34

Poder das Runas

A/N: Bom, acordei para a realidade e fiz algumas mudanças no capítulo — acabei cometendo alguns erros. Recomendo reler, pois as atualizações são bem importantes!

***

Ash virou-se, caminhando lentamente em direção à porta. No momento em que a abriu, uma brisa fresca entrou, agitanto as arestas de suas roupas escuras.

"Três semanas", ele disse, sua voz se esvanecendo enquanto caminhava. "Nem menos."

"É, é", respondeu Garry, já desaparecendo na ferraria.

A porta se fechou com um estrondo suave atrás de Ash.

Do lado de fora, Ash pisou nas ruas desertas, com a pouca luz da lua lançando um brilho pálido sobre o concreto sem vida, enquanto os ventos fortes agitavam as folhas das plantas selvagens crescendo entre as fissuras.

Ash se moveu pelas ruas, seus passos suaves zunindo contra o paralelepípedo. Seu capuz permanecia puxado para baixo, seu rosto ainda escondido na escuridão, sua respiração estranhamente constante.

Seu corpo se movia sem hesitação, mas seus pensamentos estavam se enrolando sobre si mesmos — silenciosos, implacáveis, inevitáveis.

As palavras do ferreiro insistiam em não sair de sua cabeça.

"Não consigo sentir nada de você."

Elas giravam em sua mente, permanecendo como se tivessem sido marcadas em seu crânio.

"Sem caos. Sem ordem. Apenas... vazio."

Seu maxilar se contraía. Um pensamento repentino atravessou sua mente.

Isso não é possível... Não podia ser, podia?

Ash colocou a mão direita sobre o peito. Ele sentia amor por Elysia, não sentia? Curiosidade por esse mundo de fantasia, satisfação com sua força crescente, frustração por suas derrotas.

E além disso—ele ainda tomava decisões com base no que importava para ele. Ainda tinha desejos.

Então, por que...

Por que Garry não via nada?

Seu maxilar relaxou. Há uma chance de que a capa de sombras tenha dificultado sua visão. Mas mesmo assim...

O pensamento persistia, como um sussurro insistente que ele não conseguia ignorar, corroendo as margens de sua certeza. Ele se concentrou para dentro.

Algo em mim mudou?

E, com sua memória, não demorou para encontrar a resposta.

Sim, mudou.

É assustador como ele não tinha percebido antes — a mudança aconteceu silenciosamente.

Ou talvez... ele tinha percebido, mas ignorou.

Seus sentimentos ainda estavam lá, mas pareciam um pouco mais finos — esticados, distantes.

Tudo começou com a criação da habilidade Omni Thought. Foi quando tudo mudou.

A mudança não aconteceu do dia para a noite. Ele ainda podia sentir, mas a cada uso da habilidade, suas emoções ficavam mais tênues.

Embora a mudança não seja drástica, pode ser um efeito psicológico do uso de uma Runa…

Assim, outro pensamento veio à sua mente.

A Runa da Estabilidade e outras Runas.

O romance nunca mencionou efeitos colaterais.

Talvez Ray nunca tenha desbloqueado o verdadeiro potencial das Runas, deixando de mencionar isso.

Talvez... fosse algo destinado a se revelar mais tarde, nas partes que ele nunca alcançou.

Ou quem sabe... talvez seja apenas o destino brincando com ele.

Há a chance de que sua interferência no destino tenha causado essa consequência.

Ele não sabia.

Ele não poderia saber.

Mas esse pensamento se instalou fundo no seu peito.

Há muitas coisas desconhecidas.

As Runas não lhe davam apenas poder.

Elas estavam reescrevendo quem ele era.

Se eu continuar colecionando-as, se pegar aquilo que não foi feito para mim—vou me perder nesse caminho? Vou parar de sentir completamente? Ainda serei humano no final de tudo? Estarei apenas me tornando uma máquina fria e lógica? Existirei mesmo?

Deixarei de me importar com... Elysia?

Seu punho se apertou.

Não.

Essa era a única coisa que ele não permitiria.

As Runas podem deformá-lo, podem apagá-lo, do jeito que quiserem. Mas seu amor por Nancy—ele se apegaria a isso. Ele não deixaria que as corrompessem.

Porque, se não—quem o faria?

Seus passos desaceleraram até parar. Sua visão escureceu.

Se Ray pegar as Runas, o mundo está condenado. O romance deixou isso bem claro.

"A roda do destino gira, descontrolada e selvagem, um herói avança, abençoado e enganado.

Um milagre se dobra, um destino chama, e com ele, o mundo pode ser elevado—ou destruído."

Ray não era um vilão. Ele não era mau. Mas era perfeito, o escolhido, um herói típico. E como todo herói…

Ele lideraria o mundo rumo à destruição ou à salvação.

Os Demônios. Os Anjos. O ciclo infinito do destino estava destinado a se repetir incessantemente.

Logo, a ganância do Rei Demônio o consumiria, e ele enviaria outros demônios para invadir o mundo de Akumia.

Embora Ray pudesse lidar com isso, ainda assim poderia levar a uma nova causa para a queda do mundo—devido à exibição de poder dele.

Os Anjos notariam sua presença.

Ray não conseguiria detê-los, não com tão pouco tempo.

Ele não entenderia. Era ingênuo demais, confiava demais, e estava preso a ideais irrealistas.

Mas Ash…

Se Ash pegasse as Runas primeiro—se reescrevesse o destino com as próprias mãos—pelo menos assim o mundo teria uma chance.

Ele ainda morreria, afinal, teoricamente.

Mas não agora.

Não ainda.

Ele compraria tempo. Tempo suficiente para encontrar outro caminho. Tempo suficiente para deixar Ray evoluir ou evoluir para enfrentar Anjos e Demônios ao mesmo tempo.

Mesmo que isso significasse se sacrificar.

Mesmo que significasse perder o pouco que restava dele.

Seus lábios se curvaram em um sorriso sem humor.

Que irônico.

Ele detestava atenção. Passou a vida toda evitando os holofotes, movendo-se nas sombras, recusando-se a se destacar.

E, no entanto, aqui estava ele.

Pronto para lutar contra aqueles que já travavam uma batalha eterna. Prestes a fazer algo que garantiria que todos os olhos do universo se voltassem para ele.

Se pegasse as Runas, se desafiasse o próprio destino, então o mundo inteiro saberia seu nome, de uma maneira ou de outra.

Ele caminhava por uma trilha que o levava à destruição.

Quando transmigrara pela primeira vez, tudo o que importava era coletar runas, ficar forte o suficiente para se salvar, e abandonar este mundo se ele fosse desmoronar.

Mas agora,

isso não era mais sobre ele.

Era sobre outra pessoa.

Se Elysia podia trocar a vida dela por minha, por que eu não poderia fazer o mesmo?

Por que não poderia sacrificar algumas emoções por ela?

A resposta era ridiculamente simples.

Ele podia.

E ele faria.

Seus passos retomaram firmeza e determinação. Mas agora, carregavam a resolução de um homem pronto para enfrentar o mundo.

O vento sussurrava pelas vielas, como se espalhasse a declaração silenciosa do caminho que ele havia escolhido.

Se o destino se recusasse a deixar Elysia viver uma vida pacífica e feliz, então ele o dobraria à sua vontade.

Mesmo que isso significasse se tornar algo que ele não reconheceria mais.

Mesmo que isso significasse se tornar o inimigo de todo o Universo.

***

Depois que Ash saiu da Academia...

No refeitório da Academia, a conversa animada dos estudantes preenchia o ar quando Grace calmamente colocou sua bandeja na mesa, lançando um sorriso sarcástico para Elysia.

"Pronto, conta aí. Como você conseguiu escapar daquele último golpe tão facilmente?" ela perguntou, apontando seu garfo para Elysia como um desafio. "Juro, você quebrou minha moral lá na hora."

Elysia hesitou, colocando um fio de cabelo atrás da orelha. "Eu só... reagi."

Grace bufou. "Reagiu? Aquilo não foi só 'reagir', Elysia. Você leu meus movimentos como um livro aberto. Sei que não sou forte no combate corpo a corpo, mas ainda assim."

Elysia se ajeitou desconfortável. "Percebi que seu pé vacilou um pouco antes de você atacar... tornou mais fácil prever."

Grace piscou, depois deu uma risada. "Você percebeu o pé? Isso é algo que até veteranos têm dificuldade."

As bochechas de Elysia ficaram levemente coradas. "Não achei que fosse assim tão especial."

Grace balançou a cabeça, sorrindo. "Claro que não, você é humilde demais até para si mesma. Enfim, ouviu as fofocas recentes?"

Elysia piscou. "Fofoca?"

Grace sorriu de lado. "Sim, querida, ingênua. Você é o assunto da Academia."

Elysia franziu a testa, apertando mais um pouco o vidro da mão. "Eu? Por quê?"

Grace se inclinou com um olhar de quem sabe mais do que deveria, sussurrando um pouco. "Ray Dawson." Então, ela recuou um pouco, enfatizando suas próximas palavras com o mesmo tom brincalhão. "Tem. Estar. Bastante. Interessado. Em. Você." O sorriso dela se alargou enquanto acrescentava. "E as pessoas já perceberam."

A alça de Elysia vacilou. "Isso... provavelmente é um grande mal-entendido."

Grace levantou uma sobrancelha, questionando se sua amiga realmente acreditava no que dizia. "Será? Ele tem te olhando como se você fosse a resposta para todos os problemas dele." Ela fixou os olhos em Elysia antes de completar: "Vamos ser sinceros—ele é o Ray. O único cara com todas as afinidades, o estudante do primeiro ano mais forte... e ainda assim, é você o centro da atenção dele?"

Elysia abaixou o olhar. "Não sei por quê."

Grace estudou-a por um momento, depois suspirou. "Você é demasiado pura, Elysia. Qualquer outra garota ficaria radiante com isso."

Elysia forçou um sorriso pequeno. "Então, que fiquem com ele."

Grace balançou a cabeça, exasperada. "Ainda assim, como você."

A voz de Elysia saiu quase num sussurro. "É só a verdade."

Grace se reclinou. "Tudo bem, não vou insistir. Mas, sério, você já gostou de alguém? Tipo, alguma vez?"

Elysia hesitou, e antes que pudesse responder, lembranças vieram à tona—

Um dia claro sob as cerejeiras. Sua expressão de gozação. Aquele toque quente. Uma voz—suave, porém firme—chamando por seu nome.

Sua vida passada.

Seu amor antigo.

E então, outro rosto surgiu na sua cabeça.

Não de seu passado.

Do presente.

Olhos azuis. Olhar frio.

Um rosto neutro.

O fôlego de Elysia ficou preso, mas ela rapidamente se recompôs. "Acho que não importa."

Grace franziu os olhos, com um sorriso astuto no rosto. "Ah, mas importa. Você simplesmente deu um down, como se estivesse perdida em outro mundo."

Elysia deu uma risada curta, balançando a cabeça pela precisão da observação. "Eu estava apenas... pensativa."

"Humm. Pensando, é? Sobre quem?"

"Apenas memórias."

Grace levantou uma sobrancelha. "Memórias, ou alguém em particular?"

Elysia não respondeu. Sua mente voltou àquele rosto neutro, aos olhos azuis penetrantes que não tinham calor nem hostilidade, apenas uma observação fria, mecânica.

E ela o tinha testado, não tinha? Empurrado, provocado, provocado uma reação.

Mas ele permanecia incolor, indecifrável.

Então por quê? Por que ele veio à minha mente agora?

Meu coração cometeu um erro?

Grace sorriu de lado. "Viu? Isso. Isso mesmo? É alguém." Ela pediu de forma conversa. "Conta aí."

Elysia baixou o olhar para seu prato. "Não é nada importante."

Grace suspirou. "Você é péssima nesse papo de garota." Ela se recostou dramaticamente. "Tudo bem, continue com seus segredos. Mas anote aí: seja misteriosa se quiser. Mas não pense que está livre da minha curiosidade. Vou descobrir mais cedo ou mais tarde."

Elysia sorriu suavemente, aliviada por Grace ter desistido do assunto—pelo menos por enquanto. Seus pensamentos ainda estavam uma confusão.

Devo testá-lo de novo?

Grace deu um estalo com os dedos na frente do rosto de Elysia. "Vamos lá, sério. Você nunca ficou tão distraída assim antes. O que está acontecendo nessa cabecinha bonita?"

Elysia piscou, surpresa. "Nada, só..."

Ela parou, sem saber como explicar a confusão de pensamentos que tinha na cabeça.

Grace bufou, claramente insatisfeita com a resposta, mas resolveu deixar passar. Em vez disso, ela sorriu. "Tudo bem. Se não quer falar, vamos falar de algo realmente importante—como eu."

Elysia riu. "E você?"

Grace se inclinou, os olhos brilhando de diversão. "Decidi que preciso ficar mais forte."

Elysia inclinou a cabeça. "Mais forte? Pensei que você estivesse mais focada na magia de cura."

Grace assentiu. "Estou, mas seja real—não quero ser aquela mocinha esperando por um herói para me salvar."

Ela cruzou os braços, uma faísca de determinação nos olhos. "Recuso-me a ser alguém que só fica na linha de trás porque é uma classe de suporte. Além disso…". Seus dedos batucaram na mesa enquanto ela olhava para o nada por um momento.

"Sei que posso ser mais. Minha classe—não é feita só para suporte. Posso lutar como uma guerreira, como se tivesse nascido para isso. E às vezes... nem sinto que pertenço a humanos normais. Não sei por quê, mas está lá—uma sensação de que sou algo mais."

"Como se eu fosse Superior."

Elysia inclinou a cabeça, observando Grace de perto. "Superior aos humanos?"

Grace soltou um suspiro pequeno, brincando com sua colher enquanto pensava. "Sim... Sei como parece. Mas às vezes, quando luto, meu corpo simplesmente sabe o que fazer. Como um instinto, algo enraizado em mim. Sou uma curandeira, claro, mas não parece que isso seja só o que sou. É como... fui feita para algo mais."

Elysia hesitou, percebendo que Grace não estava apenas se gabando—ela realmente acreditava no que dizia. "Você contou isso a alguém?"

Grace bufou. "Contar o que? Que me sinto superior aos humanos? Que não encaixo no padrãozinho de 'classe de suporte' que todo mundo espera de mim?"

Ela sorriu, mas a expressão não chegou aos olhos. "Achariam que estou sendo pretensiosa."

"Acredito em você."

Grace piscou, surpresa.

Elysia abaixou as mãos, os dedos se apertando levemente. "Às vezes, as pessoas nascem diferentes. E, se for o caso... então, talvez, só precise provar que seus instintos estão certos."

O sorriso de Grace retornou, mais sincero desta vez. "Gosto do seu jeito de pensar." Ela cutucou o braço de Elysia. "Viu? Por isso te mantenho por perto. Você realmente me entende."

Elysia sorriu suavemente. "Fico feliz."

Grace recostou-se na cadeira, se alongando. "Já chega de falar de mim. E você, hein?"

Elysia piscou. "Eu? O que tem comigo?"

Grace sorriu maliciosamente. "Você nunca fala do que quer. Não tem um objetivo? Um sonho? Ou fica só flutuando na vida, Miss Misteriosa?"

Elysia hesitou. Ela tinha um objetivo?

Ela recebeu uma segunda chance—uma nova vida. E ainda assim, passou tanto tempo simplesmente... existindo.

Mas, no fundo, ela sabia.

"Não quero ser fraca", admitiu, com uma voz mais suave do que antes. "Não quero ser alguém que não consegue proteger quem é importante para mim, de novo."

O sorriso de Grace suavizou. "Agora, isso sim é uma resposta adequada."

Elysia olhou nos olhos dela, e por uma vez, sem brincadeiras, sem sorrisos brincalhões—apenas entendimento mútuo.

Porque ambas sabiam como era essa sensação.

O medo de ser impotente.

A necessidade de se manter firme.

De repente, Grace sorriu de repente, quebrando o clima sério. "Bem, nesse caso, continuamos treinando juntas. Imagina só, uma dupla imbatível—beleza e força juntas!"

Elysia riu suavemente. "Parece... interessante."

Grace sorriu radiante. "É exatamente! Agora, termina sua comida—já está fria. Temos treino para planejar."

Elysia assentiu, mas enquanto comia, seus pensamentos divagaram mais uma vez.

No próximo encontro com ele, vou testar de novo. Terei minha resposta, de uma forma ou de outra.

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