
Capítulo 35
Poder das Runas
"Flecha de Fogo!"
No momento em que as palavras saíram dos seus lábios, dez rajadas escaldantes de fogo irromperam de suas pontas dos dedos, rasgando o ar em arcos perfeitamente direcionados.
Elas atravessaram os alvos em movimento com precisão cirúrgica, cada impacto deixando um rastro de calor e brasas.
Os alvos desapareceram.
Depois, mais vinte apareceram.
Melissia nem sequer hesitou.
"Flecha de Fogo!"
A segunda salva avançou em velocidade cegante—mas desta vez, uma delas errou o alvo.
Os dedos de Melissia estremeceram. Uma temperatura aguda, irritante, rastejou por baixo da pele dela, não vindo da magia de fogo, mas de algo diferente—algo mais profundo.
Ela bateu os dentes enquanto cerrava a mandíbula.
"Ainda não é suficiente."
Sem perder tempo, levantou a mão novamente, a magia pulsando, impulsionando-se para ser mais rápida, mais forte, melhor.
A cada repetição, ela drenava seu mana mais rapidamente.
Cada tentativa aumentava sua frustração.
Ela se recusava a parar.
Não até—
Uma onda de tontura a atingiu.
Sua visão ficou turva por um segundo. As bordas dos alvos tremeluziam como miragens.
Quase cambaleou.
Quase.
"Tch."
Ela cerrava os punhos e forçava-se a ficar de pé.
Seu corpo estava se esgotando.
Ela odiava isso.
Detestava sentir-se fraca.
Melissia soltou um suspiro frustrado e virou-se do campo de treinamento, caminhando até o banco ao lado.
Ela limpou o suor da testa, pegou sua garrafinha de água e fez uma longa goleada. O líquido frio mal conseguiu aliviar o calor no peito.
Então, ela ouviu.
O murmúrio baixo de estudantes conversando nas proximidades.
Ela não quis ouvir. Não tinha motivo pra se importar.
E ainda assim, no momento em que captou as primeiras palavras, seus músculos ficaram tensos instintivamente.
"Ei, sabe quando vamos finalmente conhecer os seniors?"
"Sim, ouvi dizer que as provas deles ainda estão acontecendo, então estão fora da academia."
"Esquece os seniors—você ouviu o boato sobre o Ray?"
"Que boato?"
"Ah, sério, você já sabe! Que ele se apaixonou por Elysia à primeira vista!"
"É, ele nem fala com—"
O aperto de Melissia ao redor da garrafinha de água ficou mais forte, perigosamente próxima de esmagá-la.
Suas unhas cravaram no plástico, seus dedos ficando brancos pelo esforço.
Uma temperatura amargurada e sufocante se enroscou no peito dela.
Não era novidade.
Ela já tinha ouvido aquilo antes.
Os rumores. Os sussurros. A maneira como as pessoas falavam deles como se já fossem um casal.
Ela tinha ignorado. Forçado a afastar. Fingido que não importava.
Mas ouvir de novo—agora, neste momento, quando já estava irritada, frustrada, à beira de explodir—
Parecia como se alguém tivesse enfiado uma adaga e a tivesse torcido mais fundo.
Sua respiração deu uma pausa por um instante.
"Por que ela?"
Aquela questão feia e insuportável ressurgiu, mais alto do que nunca.
"Por que não eu?"
Ela engoliu o pensamento como se fosse veneno, mas ele se recusava a desaparecer.
Melissia apertou os dentes, forçando-se a se acalmar.
Ela não tinha direito de reclamar.
Ela não tinha direito de sentir assim.
E ainda assim, não importava quantas vezes dissesse isso a si mesma—ainda doía.
Seus dedos tremeram novamente. Sua magia agitava-se dentro dela, instável, inquieta.
"Preciso sair."
Melissia levantou-se abruptamente, virando-se das vozes.
***
Ela atravessou o campus da academia em um ritmo acelerado, o coração martelando forte nos ouvidos. O ar fresco da noite tocava sua pele, mas nada aliviasse o calor que fervia por baixo dele.
"Aquele idiota. Aquele convencido, estúpido e inconsciente—"
Seus punhos cerraram ao lado, as unhas cravando nas palmas das mãos.
Ela odiava esse sentimento.
Odiava que aquilo a afetasse.
E, mais do que tudo—odiava que aquilo não afetasse ele.
Então, como se o próprio universo quisesse zombar, ela o viu.
Ray.
Seguindo adiante com passo firme, as mãos nos bolsos, olhos dourados fixos à frente.
Como se toda a academia não estivesse cheia de rumores sobre ele.
Como se nada disso importasse.
Ao vê-lo tão intocável,
Algo dentro dela quebrou.
Ela não pensou.
Só agiu.
"Ei!"
Ray parou no meio do caminho. Virou-se ligeiramente, piscando ao ver ela.
"…Melissia?" Sua voz foi calma, firme.
Isso irritou ainda mais.
Ela foi até ele, seus olhos vermelhos brilhando com calor. "Você realmente está andando por aí como se nada estivesse acontecendo?"
Ray franziu a testa. "Do que você está falando?"
Melissia bufou, cruzando os braços. Suas unhas cravaram na pele. "Ah, vamos lá, não se faça de bobo. Metade da academia está falando de você e da Elysia. Sobre como você 'se apaixonou à primeira vista'."
A voz carregava zombaria, mas ela mesma podia ouvir a amargura por trás dela.
O rosto de Ray não mudou. "E daí?"
Melissia piscou.
Suas mãos se apertaram.
"E daí?" ela repetiu, com voz perigosamente baixa. "É só isso que você tem a dizer?"
Ray suspirou, esfregando a nuca. "Deixa eles falar, Melissia. Para mim, não significa nada."
O estômago dela virou.
Ela forçou uma risada curta e sem humor. "Ah, é mesmo? Porque, do que eu vejo, parece que importa para todo mundo menos para você."
Ray olhou nos olhos dela, impassível. "Porque isso não muda nada."
Melissia abriu a boca—depois a fechou.
Algo dentro dela quebrou.
Ela deu um passo mais perto, a voz agora mais baixa.
"Então… é verdade, então?"
Ray não hesitou.
"…Sim."
A respiração dela ficou presa.
A garganta apertou.
A dor entorpecente que fermentava fundo no peito de repente ficou mais afiada, tornando-se algo cru.
Ela forçou um sorriso, mesmo com os dedos tremendo. "Hah… Então é isso, então?"
Ray respirou fundo. "Melissia, por que está reagindo assim?"
O coração dela deu uma reviravolta.
Ela não deveria ter reagido. Não deveria ter hesitado.
Mas fez.
Seus lábios se abriram, mas ela não tinha resposta.
Porque ela mesma nem sabia a resposta.
Seus sentimentos estavam um emaranhado—uma bagunça que ela não conseguia desfazer.
Então, ao invés disso, ela zombou. "Tch. Não é nada."
Ray franziu um pouco o rosto. "Então, por que está tão irritada?"
Ela odiava essa pergunta.
Odiava que ele a olhasse daquele jeito.
Como se realmente estivesse tentando entender.
Como se ela fosse algo que ele nunca tinha considerado de verdade.
Suas unhas cravaram nas palmas das mãos.
"Não estou brava," ela disse, sua voz quase um sussurro.
Ray franziu as sobrancelhas.
Ela soltou uma risada amarga. "Sabe de uma coisa? Você tem razão. Não importa. Foi burração da minha parte pensar diferente."
Ray se mexeu ligeiramente, como se alguma coisa nas palavras dela não lhe caísse bem.
"Melissia—"
Ela deu um passo atrás, ligeiramente.
"Tenho que ir," ela murmurou, virando-se antes que ele pudesse falar mais.
Seu ritmo acelerou.
Ela não esperou ele impedi-la.
Não esperou que chamasse seu nome.
Não esperou por mais nada.
Porque, se ela fizesse—
Nã o tinha certeza se conseguiria segurar as emoções.
***
Quando chegou ao alojamento, suas mãos tremiam.
A chave quase escorregou dos dedos.
Ela a empurrou na fechadura.
A porta rangeu ao abrir.
Ela entrou, fechando a porta atrás de si.
E então—ficou lá, parada, congelada.
As pernas fraquejaram.
O corpo dela parecia pesado demais.
E, pela primeira vez naquela noite—ela permitiu que afundasse.
Desabou na cama, agarrando o pequeno ursinho de pelúcia ao lado do travesseiro.
Sentou-se perto, os dedos firmes no tecido gasta, como se aquilo pudesse segurá-la.
Enterrou o rosto no pelo suave, soltando um suspiro moroso e irregular, tentando se acalmar, mas, ao contrário, algo profundo dentro dela se partiu.
E então—seu corpo se tensionou, os ombros encolheram, e uma sensação de calor passou pelas suas lágrimas, molhando a pelúcia em suas mãos.
Sem soluços, sem suspiros agudos, apenas o tremor silencioso de um coração desconsolado, uma dor que não precisava de som para ser insuportável.
Porque não era só sobre o Ray.
Era sobre tudo que ela tinha negado admitir—até agora.
Era sobre todos aqueles pequenos momentos que ela não tinha percebido que importavam.
A maneira estúpida de seu peito parecer mais leve quando ele estava por perto.
A confiança dele, que sempre a irritou—but que também a fez admirá-lo.
A maneira como ele se tornara importante para ela—sem ela perceber.
E agora, ela era apenas mais uma espectadora.
"Estúpido."
"Tão porra de estúpido."
Mas, por mais que ela se amaldiçoasse, aquilo não parava de doer.