
Capítulo 36
Poder das Runas
Ray saiu da academia sob o manto da meia-noite, levando apenas o que precisava.
A maior parte de seus pertences estava guardada com segurança no inventário do sistema. A única coisa que carregava consigo era sua espada.
A viagem de Nexus City até Ironhold City deveria ter levado um dia inteiro, mas o trem—movido por mana luminosa—andava quase como a própria luz.
Em poucas horas, ele cruzara uma distância que turistas comuns levariam um dia inteiro para percorrer.
Quando desceu do trem, a primeira coisa que percebeu foi a atmosfera.
O ar parecia pulsar com uma tensão incomum, carregada tanto de mana quanto de apreensão.
Diferente de Nexus City, onde a mana fluía em correntes controladas pelos postes encantados e transportes levitantes, a energia de Ironhold parecia bruta e selvagem.
As veias de sigilos brilhantes embutidos nas ruas piscavam de forma inconsistente, como se a própria cidade estivesse segurando a respiração.
O olhar de Ray percorreu a cena, observando como os comerciantes conversavam em voz baixa, como até mesmo os mercenários endurecidos perto das portas se seguravam—sem exibições de bêbados, sem risadas casuais, apenas olhares agudos e cautelosos trocados em silêncio.
Havia soldados demais. Eles não apenas patrulhavam—estavam examinando cada detalhe.
Seus olhares afiados varreram os viajantes, ficando tempo demais neles, as mãos descansando instinctivamente na bainha das armas. Os civis se moviam com urgência silenciosa, passos apressados, vozes baixas.
Algo ruim está para acontecer, pensou Ray enquanto continuava a se afastar da estação,
Sentindo a peso no ar, acelerou o passo.
Vamos procurar uma pousada hoje. Ainda tenho dois dias para concluir a segunda missão.
Falando em missão.
**
[Missão: Viajar até Ironhold City]
[Concluída]
[Recompensas sendo distribuídas]
[+ 10 Pontos de Atributo]
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Ao fechar a janela dourada da missão, Ray aumentou seu ritmo.
Vou distribuir meus atributos depois, neste momento preciso descobrir o que diabos está acontecendo na cidade.
O sistema lhe dera dois dias para completar a próxima missão, mas mesmo sem olhar para o texto dourado que ainda pairava na lateral de sua visão,
Ray já sabia que essa missão seria muito mais complicada do que parecia.
Não demorou a chegar na pousada modesta, uma estrutura de dois andares entre uma velha loja de armas e um vendedor de poções empoeirado.
Era o tipo de lugar onde as pessoas passavam sem perguntas.
Ray abriu a porta, entrando na sala mal iluminada. O cheiro de madeira envelhecida e de pequenas lanternas carregadas de mana preenchia o espaço, suas luzes intermitentes projetando sombras alongadas nas paredes.
Poucos clientes dispersos permaneciam em silêncio, com a cabeça abaixada sobre suas bebidas, perdidos em seus próprios pensamentos.
No canto mais distante, atrás de um balcão de madeira gasto, estava o estalajadeiro—um homem já na meia-idade, com o rosto marcado pelos anos de experiência.
Ele limpava uma caneca com movimentos lentos e deliberados, seu olhar afiado e calculista levantando-se no instante em que Ray se aproximou.
"Preciso de um quarto," disse Ray, retirando seu capuz, removendo a poeira leve que havia grudado em seu manto na viagem.
O estalajadeiro mal reagiu, colocando a caneca e deslizando uma chave enferrujada pelo balcão.
"Dez silvers," falou. "Sem desconto."
Ray entregou as moedas sem hesitar, guardando a chave no bolso.
Ele poderia ter parado por aí, ido direto ao quarto, mas o ar nesta cidade estava demais, carregado de verdades não ditas.
Encostado ao balcão, deixou o olhar vagar até a janela. "A cidade parece… estranha," comentou casualmente. "Algo está acontecendo, não está?"
As mãos do estalajadeiro se pararam por um breve instante antes de retomarem seu movimento lento e deliberado sobre a caneca que limpava.
"Esta é Ironhold," respondeu de forma rude. "Sempre é tensa."
Os olhos de Ray estreitaram levemente. Uma mentira.
Por um segundo, considerou pressionar mais.
Então, uma ideia surgiu.
Sem dizer uma palavra, puxou do bolso a insígnia da academia e a colocou sobre o balcão.
Clic.
A postura do velho endureceu um pouco, seu olhar piscou em direção ao emblema antes de rapidamente desviar.
"Você deveria esconder isso, garoto. Mostrar por aí não traz vantagem aqui."
Ray inclinou a cabeça. "Acabei de chegar. Preciso saber o que está acontecendo."
O estalajadeiro suspirou, masajeando as têmporas, murmurando: "A cidade está à flor da pele. Dizem que uma batalha vai explodir em breve."
Os dedos de Ray tremeram. Lá vem eles.
"Entre quem?" perguntou, a voz firme.
"As autoridades—caçadores, agentes da lei—they’re se preparando para agir contra alguém." O estalajadeiro apertou a mandíbula. "Contra o Mercado Negro."
A expressão de Ray permaneceu imperturbável, mas a mente já trabalhava acelerada.
O Mercado Negro sempre foi um problema nessas cidades—traficantes subterrâneos, mercenários, negócios ilegais. Mas para as autoridades irem até o ponto de declarar guerra aberta?
Isso não era normal.
E mesmo assim, a sensação no estômago dizia que não era apenas crime organizado ou comércio ilícito.
Era algo maior.
Algo pior.
Seu tom diminuiu um pouco. "Qual o motivo da confusão?"
O estalajadeiro hesitou novamente. Dessa vez, Ray percebeu o leve tremor de inquietação em seus olhos.
"... Algo sobre uma masmorra," finalmente disse. "Tem um boato de que há algum Tesouro Antigo lá dentro."
Os dedos de Ray se cerraram em um punho frouxo ao lado do corpo.
Coincidência?
A garganta dele virou uma nódoa de ansiedade enquanto as ideias se alinhavam.
A missão repentina do sistema.
A cidade à beira do caos.
O Mercado Negro e as autoridades prestes a se confrontarem.
Um suspiro lento e pesado escapou de seus lábios enquanto sua mente começava a juntar as peças.
Uma sensação familiar, sombria, invadiu-o—a sensação de estar a um passo de algo muito maior do que ele mesmo.
Olhou para cima, seus olhos dourados afiados sob a luz fraca das lanternas.
"Qual é o nome da masmorra?" perguntou.
O estalajadeiro hesitou.
Depois, lentamente, murmurou: "Frost-fang Grotto."
O coração de Ray parou.
Pela primeira vez desde que entrou na cidade—desde que saiu da academia—sua respiração ficou presa na garganta.
Porque esse nome…
Era o mesmo que estava escrito no registro de missões dele.
[Missão: Destruir Masmorra de Nível C-Rank, Frost-fang Grotto]
O sistema o enviara ali por causa disso.
Ele não sabia o que o aguardava dentro daquela masmorra.
Mas podia ter certeza de uma coisa.
Não era o único procurando por ela.
O estalajadeiro, talvez percebendo seu silêncio como incerteza, suspirou e passou a mão no rosto marcado pelo tempo.
"Você tem esse semblante," murmurou o velho. "Como se estivesse prestes a fazer uma besteira."
Ray não respondeu.
Em vez disso, afastou-se do balcão, guardando sua insígnia da academia.
"Vou levar minha chave," disse, de tom controlado.
O estalajadeiro balançou a cabeça, mas deslizou a chave enferrujada em sua direção assim mesmo.
"Quarto no andar de cima," explicou. "Segunda porta à esquerda. E—" seus olhos se sombrearam, "—conselho gratuito, garoto: evite se meter em fogo que não é seu."
Ray fixou o olhar no velho, expressão impassível.
O aviso estava claro.
Fique longe de problemas. Não coloque o nariz onde não deve.
Mas Ray nunca foi do tipo que foge do fogo.
Especialmente quando o fogo já estava na sua porta.
Sem dizer uma palavra, pegou a chave enferrujada e se virou em direção às escadas.
Os degraus de madeira rangiam sob seu peso enquanto subia, as lanternas fracas projetando sombras bruxuleantes ao longo do corredor estreito.
A chave entrou na fechadura com um clique suave, e a porta rangeu ao ser empurrada.
O cômodo era pequeno—apenas uma cama, uma cadeira de madeira e uma mesinha ao lado. As paredes estavam gastas, e o cheiro de madeira antiga e vestígios de álcool pairava no ar.
Não era muito.
Mas bastava.
Ray trancou a porta atrás de si e deixou a mochila na cadeira. Sua espada, ainda presa na cintura, parecia mais pesada do que o normal—como uma lembrança silenciosa do que o aguardava.
Fechou os olhos, respirando lentamente. Sua mente ainda revisava tudo o que o estalajadeiro dissera.
Uma confusão com o Mercado Negro. Uma masmorra. Tesouro Antigo.
Por que o sistema quer que eu esteja aqui?
Quer que eu pegue o Tesouro Antigo lá dentro?
Se sim, que momento horrível para isso.
Há tantas incógnitas. Tantos movimentos nas sombras.
Mas pensar nisso agora não mudaria nada.
Ele precisava descansar.
Amanhã, começaria a entender o que está acontecendo.
Com esse pensamento final, Ray apagou as luzes e se deitou na cama.
A cidade lá fora estava inquieta.
Mas em poucos instantes, ele entrou em sono profundo.
[Manhã seguinte]
Ray acordou antes do amanhecer, com a luz tênue da manhã atravessando as frestas das persianas de madeira, lançando raios dourados contra o chão gasto.
Seu corpo se sentia descansado, mas a mente não parava de pensar. O peso das descobertas de ontem ainda pressionava seus pensamentos, cada pergunta sem resposta girando na cabeça como um enigma por resolver.
Ele passou a mão pelos cabelos, soltando um suspiro profundo. Não tinha tempo a perder com coisas que não podia mudar.
Havia trabalho a fazer.
O cheiro de madeira envelhecida e os vestígios de óleo queimado ainda pairavam no ar enquanto ele descia a escada rangente.
O estalajadeiro já se movimentava, seus passos pesados ecoando suavemente enquanto preparava o dia.
Alguns moradores matutinos estavam dispersos pela taverna, inclinados sobre canecas de cerveja fraca e pratos de comida simples—pão, ovos, carne seca.
Alguns comiam em silêncio, outros trocavam conversas sussurradas, suas vozes carregadas da mesma tensão que nunca deixara a cidade.
Ray não ficou.
Depositou algumas silvers no balcão, pegou um prato e comeu rapidamente.
A refeição era simples, comum—mas era comida, e isso bastava.
Em poucos minutos, saiu pela porta, voltando ao coração inquieto de Ironhold.
As ruas já estavam se movimentando; o ritmo da cidade mudado do silêncio cauteloso para o clangor rítmico da manhã.
Comerciantes anunciavam suas mercadorias, suas vozes se sobrepunham numa sinfonia caótica de trocas, olhos atentos enquanto trocavam moedas com viajantes cautelosos.
Carruagens retinham pela pavimentação de pedra, suas rodas clicando em sincronia com passos apressados.
Veículos movidos por mana zumbiam suavemente ao fundo, cruzando o trânsito matinal com um brilho sutil sob suas molduras encantadas.
Porém, sob tudo isso, aquela mesma tensão ainda persistia.
Como uma tempestade prestes a se formar.
Tenho sorte de ter me tornado discípulo de um Santo.
O pensamento veio à sua mente enquanto ele caminhava, os dedos inconscientemente apertando a empunhadura de sua espada.
Sua esgrima melhorou bastante na última semana, embora a maior parte do progresso não fosse só do treinamento—era seu Atributo Deus da Espada.
Sem ele, não seria quem sou hoje.
Não tenho medo do combate à frente.
Esse não é o problema. Mas não sou tolo de ignorar a sensação que me arranha a mente, a de que algo está muito errado.
Demorou quase uma hora para chegar ao seu destino.
A entrada da masmorra ficava próxima a um distrito de mercado, escondida atrás de fileiras de prédios que pareciam comuns.
E ainda assim, assim que Ray chegou, soube—aquele lugar era tudo menos comum.
***