
Capítulo 37
Poder das Runas
Ray entrou na clareira lotada, seu olhar varrendo o mar de figuras que preenchiam o espaço.
Não eram civis comuns. Cada pessoa carregava uma arma, suas armaduras riscadíssimas e gastas de inúmeras batalhas.
Cazadores, mercenários e agentes da lei se agrupavam em grupos tensos, conversas sussurradas, mas carregadas de urgência.
O próprio ar estava pesado, espesso de uma expectativa que antecedia algo grande.
Ele se deslocou pelo meio da multidão, movendo-se com propósito, mas mantendo uma presença discreta.
Ao passar por um grupo de caçadores, suas vozes cortaram o silêncio ao redor dele.
"Porra, viu aquele impasse entre o Chefe da Cidade e o líder da facção do Mercado Negro?"
"Claro que vi. Juro que, se eles tivessem realmente brigado, a destruição teria arrasado metade do bairro."
"Mas você está deixando passar o verdadeiro ponto. O Mercado Negro nunca age tão abertamente assim. Se eles aparecerem desse jeito, é porque o que tem lá dentro dessa masmorra vale arriscar uma guerra."
Os olhos de Ray piscaram na direção do falante, um caçador robusto segurando o cabo da espada como uma tábua de salvação. Seu companheiro riu desdenhoso.
Então, alguém mais se aproximou, abaixando a voz.
"É, ouvi boatos… algo sobre um tesouro antigo."
Ray segurou um suspiro. Eu já sei disso tudo.
Ele não tinha interesse em ouvir os mesmos rumores de novo. Precisava de algo útil—informações sobre como a masmorra funcionava, se já tinham entrado forças poderosas lá dentro, que tipos de criaturas se escondiam lá.
Ele fez um movimento sutil, avançando em direção a outro grupo.
"Vamos concordar—essa é uma oportunidade única na vida."
"É, se você quiser jogar sua vida fora. A taxa de mortalidade é altíssima."
"Mas pense bem! Nem precisamos arriscar muito. É só entrar, pegar o que der para pegar e vender por uma fortuna. O Mercado Negro paga bem, e as autoridades da cidade também."
"E, se der sorte, talvez até chamemos a atenção de um caçador de alto nível."
As sobrancelhas de Ray se franziram levemente.
Eles estão pagando por tudo que encontrarem lá dentro?
Se o Mercado Negro e a cidade estavam realmente desesperados pelo que havia dentro, ao ponto de jogarem dinheiro em caçadores aleatórios, a situação já estava fora de controle.
Isso significava que aquilo não era apenas uma disputa desesperada por poder—era uma operação organizada.
Alguém, seja as autoridades ou o Mercado Negro, queria tão desesperadamente algo que estavam dispostos a contratar caçadores aleatórios como ferramentas descartáveis para conseguir.
E, ao perceber isso, uma sensação de inquietação lentamente se apoderou de Ray.
Tenho que entrar. Se eu perder mais tempo, posso falhar nessa missão antes mesmo de tentar.
Ele já tinha perdido tempo demais. Quanto mais demorasse, mais caçadores entrariam antes dele. Se esperasse demais, a missão poderia fracassar antes mesmo de colocar o pé dentro da masmorra.
Seu ritmo acelerou, a urgência pressionando seus nervos enquanto se aproximava da entrada da masmorra.
O portal violeta cintilante se erguia à frente, um contraste sombrio contra os prédios ao redor.
Ao avançar, a multidão diminuiu. Os caçadores de ociosidade, que apenas observavam, ficaram para trás, enquanto aqueles dispostos a arriscar suas vidas avançavam.
Estes eram os desesperados que apostavam tudo por uma chance de riqueza.
Alguns eram fortes—combatentes experientes que irradiavam confiança—mas outros estavam à beira de desmoronar, seus dedos tremendo contra as armas, o medo evidente em suas posturas.
Ray respirou fundo, se controlando.
Não sei por que o sistema me deu uma missão tão difícil…
O objetivo era limpar uma masmorra de nível C. Isso significava que as pessoas que entrassem deveriam ser, no mínimo, de Rank Expert ou abaixo.
{1} - Rank Expert (Especialista)
E ele não era um Expert.
Nem perto disso.
Sou apenas um Aprendiz. Nem sei se consigo sair vivo.
O mais inteligente seria recuar.
Mas uma coisa lá no fundo do peito não deixava.
Isso não era lógica, era instinto.
Algo dentro daquela masmorra o aguardava.
Ele podia sentir isso.
E se fosse embora agora, sabia—sem sombra de dúvida—que iria se arrepender.
Quando Ray se aproximou mais do portal, uma voz aguda cortou o ar pesado e denso.
"Pare aí mesmo."
Não era alta, mas tinha um peso que exigia obediência. A autoridade nela fez o corpo de Ray ficar tenso de imediato, seus passos parando no meio do caminho.
Ele virou-se, e a primeira coisa que percebeu foi que aquilo não era apenas um enforcement de nível baixo.
Uma mulher avançou em sua direção, cada movimento controlado, deliberado—como uma lâmina afiada preparada para o combate.
A luz azul suave de uma tela holográfica iluminava seu rosto, piscando sobre seus traços angulosos e suaves.
Sua presença por si só mudou o ambiente de uma forma que fez até os caçadores ao redor se endireitarem subconscientemente.
O uniforme exalava autoridade, feito sob medida com precisão rígida. O tecido azul-marinho se ajustava ao corpo, reforçado com placas obsidiana nos ombros e antebraços, levemente encantadas para absorver impactos.
Um bordado dourado delineava as bordas da jaqueta, formando padrões intrincados que brilhavam sob a luz da masmorra.
Na cintura, uma faixa preta fina carregava uma pistola de mana holsterada, com uma faca de combate elegante ao lado.
E no peito—bordado com fio prateado, visível mesmo na iluminação fraca—estava o emblema da Associação Humana.
Diferente dos outros enforce, que usavam suas uniformes como símbolo de status, ela vestia o dela como uma segunda pele. Não havia hesitação em seu passo, nenhum movimento desperdiçado.
Seus olhos eram afiados, a dissectar Ray em um olhar—avaliando, calculando, concluindo antes que ele pudesse sequer assimilar o peso do olhar dela.
Ela não olhava para ele como uma estudante.
Olhava como uma desvios do lugar esperado.
Os músculos de Ray se tensionaram ao resistir à vontade de se mexer sob a observação dela.
"Qual o seu nome?" ela perguntou, a voz clara, sem emoções desnecessárias.
Ray encontrou seu olhar sem vacilar, "Ray Dawson."
Ela não respondeu imediatamente.
Nem o reconheceu completamente ainda. Em vez disso, os dedos deslizaram sobre a tela holográfica, digitando seu nome com destreza treinada. A interface piscou enquanto os dados carregavam instantaneamente.
Seus lábios se moveram levemente enquanto ela lia.
"Ray Dawson… 12 anos… Aventureiro de Rank E… estudante da Academia Estrelas… All-Affin—"
Então, ela parou.
Seus dedos pairaram um pouco acima da interface.
O olhar dela voltou para ele, as pupilas contraídas levemente como se o visse pela primeira vez.
Uma rachadura apareceu na sua compostura calculada, tão breve que a maioria nem percebeu. Mas Ray percebeu.
Um lampejo de descrença.
"Você… está aqui?" ela murmurou, quase em um sussurro, como se o simples fato fosse estranho.
Sua expressão não mudou muito, mas algo na maneira como ela se endireitou—a tensão sutil nos ombros, o brilho de hesitação nos olhos—traíram seus pensamentos.
Ela digitou novamente para conferir as informações.
Mas nada mudou.
Uma respiração lenta e medida saiu dela enquanto se endireitava, reforçando sua máscara profissional.
"Diga-me," ela disse, inclinando a cabeça um pouco, "por que exatamente você está aqui?"
Ray piscou, pensando internamente: Isso foi uma forma estranha de colocar a questão.
Oficialmente, ele respondeu, "Vim para ganhar experiência prática," a mentira saindo com facilidade da língua.
Os dedos dela tremeram.
Ela não contestou imediatamente.
Ao contrário, observou-o atentamente.
Seu olhar ficou mais profundo.
O peso do olhar dela se depositou sobre ele como uma tempestade que se formava lentamente, silenciosa, mas sufocante.
Ela não acreditava nele.
Sabia que ele estava mentindo.
Mas não insistiu.
Em vez disso, ela soltou um suspiro suave, mudando a postura antes de dizer suas palavras finais com absoluta certeza.
"Você não está autorizado a entrar."
Frowning, Ray perguntou: "Por quê?"
Ela deslizou os dedos pelo holograma novamente. "Porque o mínimo para entrada é Rank Adept (D-Rank)." Ela levantou o olhar, fixando-o. "E você é apenas um Aprendiz."
Ray apertou a mandíbula, mas tentou se manter calmo.
"Tenho minha carteira de aventureiro," rebateu. "As regras dizem que posso entrar em uma masmorra um nível acima do meu. Isso é procedimento padrão."
A ponta dos lábios dela ficou tensa—não por irritação, mas por algo muito mais condescendente.
"Essa era a regra," ela corrigiu devagar e deliberadamente, "mas essa masmorra mudou."
Ela virou um pouco a tela holográfica, revelando novos dados confidenciais. "Recebemos informações de que a estrutura interna mudou bastante. Diversas equipes entraram desde ontem."
Ela hesitou por um instante antes de continuar.
"Mas nenhuma retornou."
Ray absorveu a informação sem demonstrar reação.
Isso, ele já sabia.
Quando o caseiro mencionou, ele já tinha entendido os riscos. Mas ouvi-lo de uma fonte oficial, ver a tensão na postura dela, o desconforto escondido sob sua expressão neutra—confirmou que havia algo muito errado com essa masmorra.
E, mesmo assim, apesar de saber disso, ele ainda precisava entrar.
Ela não havia terminado de falar.
Seus olhos se endureceram.
"E você," ela disse, com a voz um pouco mais baixa, "nem deveria estar aqui."
Ray sentiu os ombros tensionarem. "O que quer dizer?"
Ela tocou na tela novamente. "Não sei quem autorizou sua saída da academia sem supervisão," ela disse cuidadosamente. "Mas, de acordo com todos os registros oficiais, nenhum estudante do primeiro ano pode entrar em uma masmorra sozinho."
Ray abriu a boca para argumentar, mas ela foi mais rápida.
"Você pode ter entrado em masmorras antes," ela disse, "mas isso foi antes de estar matriculado na academia."
Seu tom se manteve calmo e equilibrado. Mas agora tinha uma ponta, um aviso silencioso por baixo.
"E, há alguns dias, foi emitido um aviso especial."
O pulso de Ray acelerou.
De modo deliberado, ela virou a tela na direção dele e apontou para a única linha destacada.
[Ray Dawson não tem permissão para deixar a academia desacompanhado.]
Uma sensação fria tomou conta do estômago.
Seu corpo todo se tensionou.
Então, ela deu o golpe final.
"Você é o único usuário de All-Affinity registrado na história," ela afirmou. "E isso por si só faz de você um ativo de alta prioridade."
Ela soltou um suspiro pelo nariz. "Você entende a gravidade da sua situação?"
Os pensamentos de Ray pararam abruptamente.
Espera… eu não podia sair sozinho?
Isso não podia estar certo. Ninguém tinha parado ele. Ninguém tinha dito nada.
Mas, ao pensar nisso—realmente pensar—ele percebeu…
Ninguém tentou pará-lo porque ninguém esperava que ele fosse mesmo sair.
Não era uma regra que ele tivesse quebrado.
Era uma regra que eles assumiram que ele nunca quebraria.
Droga.
O pulso dele acelerou mais um pouco. Isso não era mais só uma questão de restrições da masmorra. Se ela entrasse em contato com a academia—
Sua missão fracassaria.
Sua chance de entrar na masmorra desapareceria.
E a pior parte?
Parecia que ela já estava fazendo a ligação.
A respiração de Ray ficou um pouco mais acelerada. Sua mente buscava uma saída, uma desculpa, uma maneira de escapar.
O que faço?
Seus instintos gritavam por ele mover-se, dizer algo—qualquer coisa—antes que ela apertasse aquele botão final.