Poder das Runas

Capítulo 33

Poder das Runas

Sob a sombra da noite, Ash saiu da taverna, seus passos leves pelas ruas de paralelepípedos. Seu capuz estava puxado para baixo, o tecido do Capuz das Sombras engolindo seus traços em uma escuridão mutável. Para o mundo, ele era pouco mais que um fantasma—apenas uma silhueta sem rosto movendo-se pela sujeira e desesperança do submundo da cidade. Não importa qual mundo você visite, é tudo igual em toda parte. Seu olhar percorreu os becos mal iluminados e os prédios degradados. Paredes rachadas, casas improvisadas, e o cheiro de madeira úmida preenchiam o ar. As pessoas aqui carregavam cansaço no rosto, andando com os ombros caídos e olhos exaustos. Ash não lhes deu atenção; afinal, tinha assuntos a resolver.

Finalmente, ele parou diante de uma loja de ferreiro, com um letreiro de madeira meio quebrado, pendurado quase por seus últimos pregos—Garry's Forge. Ele bateu na porta de madeira gasta. Bate, bate. Silêncio. Ash esperou. Mas não recebeu resposta. Depois de mexer a língua, bateu novamente, mais forte desta vez. Ainda nada. —“Foi dormir cedo ou então morreu?” murmurou consigo mesmo.

Justo quando ia levantar o punho para bater mais uma vez—

[1] - No original, "CLANK!!" representa um som metálico forte, aqui deixando a forma de onomatopeia para manter a intenção sonora.

uma chapiscada de metal pesada foi ouvida lá dentro. Então, após um rangido longo, a porta se abriu só um pouco, uma única pálpebra vermelha e inchada espiando por ela.

—“Quem diabos vem bater aqui a essa hora?” A voz era profunda, áspera, nada amistosa.

Ash, envolto em seu manto, permaneceu imóvel. Que grosseria. —"Um cliente," respondeu com suavidade. A íris se estreitou. —“Um cliente,” repetiu Garry, com uma risada seca. —“E que idiota aparece de madrugada, de capuz como se fosse um ladrão de túmulo?”

Ash sorriu disfarçadamente—embora ninguém pudesse ver. —“...Um rico.”

O silêncio pairou no ar até que o ferreiro falou, isqueiro na voz:

—“Escuta aqui, garoto. Você não vem na minha loja nessa hora falando em ‘pedido’—é assim que a turma acaba com a cabeça piece por peça.”

Garoto?

Ash franziu as mãos ao ouvir a palavra. —“Sim. Garoto,” disse Garry seco, com tédio. —“Posso ser velho, mas não sou surdo. Sua voz—é boa demais. Ainda não parece alguém que já passou pelo inferno.”

Se ao menos você soubesse...

Ash permaneceu calado por um instante, suspirou e falou:

—“Tudo bem. Vamos negociar.”

Garry bufou. —“Tch. Negócio, hein? Você fala demais pro seu tamanho de molequeAssassino no escuro."

Ash alegou: —“Ouvi dizer que você é o melhor ferreiro do continente.”

—“Então ouvi errado.” A porta rangeu, começando a se fechar. —“Procure em outro lugar—”

—“Arma da Alma.”

As palavras saíram suaves, mas pesaram como um martelo.

A porta parou.

Os dedos de Garry apertaram a moldura. Um olho visível fixou Ash, penetrante, calculando. Pela primeira vez, uma tensão verdadeira pairou no ar.

Lentamente, a porta se abriu um pouco mais.

—“…É melhor você começar a explicar logo, garoto. Rápido.”

Ash não se moveu. —“Preciso que forge uma Arma da Alma.”

—“Sem mentira,” respondeu Garry com tom apático, “mas não faço serviço pra quem não conheço. Ainda mais de alguém com uma sombra na face.”

Ash abriu seu relógio da academia, deixando o brasão brilhar sob a luz tênue da lua. O olho de Garry piscou. Relógios da academia eram estritamente controlados, sua propriedade incontestável. A ideia de alguém com o relógio errado nem passou por sua cabeça.

—“Tch.” Ele abriu a porta totalmente e recuou, resmungando. —“Tá bom. Entra. Mas se você fizer alguma gracinha, vou te jogar na fornalha.”

Ash entrou.

***

Dentro da Forja

A loja era uma zona de guerra de metal e fogo. Ferro remexido e ferramentas quebradas cobriam o chão. O cheiro de aço derretido e óleo queimado sufocava o ar. No fundo, a forja ainda ardia, indicando que o velho havia trabalhado até tarde.

Ash observou a sala, pensando: Bagunçado, mas com método. Ele não trabalha só por trabalhar—ele é obsessivo.

Garry fechou a porta e virou-se.

Ash lançou um olhar para ele mesmo.

Garry parecia ter sido forjado nas próprias chamas com as quais trabalhava. Ombros largos, braços grossos como troncos, pele bronzeada marcada por cicatrizes de queimadura. Os cabelos pretos grisalhos estavam desarrumados, a mandíbula quadrada com barba por fazer. Uma cicatriz profunda atravessava sua face esquerda, perigosamente perto do olho. E aqueles olhos âmbar—afiados, inflexíveis—estavam fixos em Ash.

—“Tá. Fala.” Sua voz tinha peso. —“Quem mandou você aqui?”

—“Ninguém.”

Ele bufou. —“Mentira. Ninguém entra aqui pedindo uma Arma da Alma do nada. Ou você não sabe o que está pedindo, ou alguém te mandou fazer isso.”

Ash reachou dentro da bolsa.

A mão do ferreiro tremeu em direção a um martelo próximo.

—Que velho paranoico.

Ash notou, mas não reagiu. Manteve-se devagar, desembrulhou um pano. Assim que revelou o conteúdo, o ambiente ficou mais pesado.

Uma Pedra da Alma pulsava com um brilho violeta profundo, quase como um coração batendo, emitindo uma energia inquietante, viva. Ao lado, jazia uma barra de Eternium, seu superfície prateada-azulada brilhando sob as brasas da forja.

O metal mais forte existente. Raro como diamantes, mais duro que o adamantino, mas mais leve que o aço.

Garry permaneceu imóvel.

Não falou.

Seu olhar permaneceu nas matérias, mas algo em sua expressão mudou.

Seus dedos se fecharam, como resistindo à vontade de agarrar.

—“…De onde diabos você conseguiu isso?” Sua voz ficou mais baixa, quase sem modalidade.

Ash inclinou a cabeça. —“Você quer mesmo saber?”

Uma contração tremeu na mandíbula de Garry. Seus olhos voltaram à Pedra da Alma, os dedos se movimentando nervosamente.

Então, de repente—

Ele riu.

Um som vazio, amargo.

—“Garoto, você tem noção de quantas pessoas matariam por isso?”

Mais do que posso contar.

Ash sorriu. —“Por isso é que não entrei numa loja comum.”

Os olhos de Garry se estreitaram. —“E veio até mim porque…?”

—“Porque ouvi dizer que você é o melhor. E que não trabalha pra qualquer um.”

Silêncio.

Ele respirou fundo, esfregou o rosto. —“Droga.”

Virou-se, seu olhar fixou-se em uma lâmina antiga e inacabada pendurada na parede. Diferente das outras, estava intocada, a lâmina desgastada pelos anos de negligência.

Ash permaneceu calado.

Ele já sabia.

Garry deu uma respiração lenta.

—“Não fabrico mais Armas da Alma.”

—“Por quê?” Ash ainda perguntou.

Seus dedos se cerraram em um punho. —“Porque a última que fiz matou quem a empunhou.”

As palavras ficaram no ar, pesadas.

O peso na sua fala era diferente desta vez. Não era amargura. Era culpa.

Os olhos âmbar do ferreiro tremeluziam na Pedra da Alma. Seus dedos se flexionaram novamente—como um viciado olhando para um vício que jurou abandonar.

Ash observou seu rosto.

—Ele está mentindo.

Não sobre a morte. Não, essa parte era real. Mas a culpa não vinha de fabricar a arma.

Vinha de ter falhado a pessoa que a usou.

Ash deu uma respiração suave.

—“Você cometeu um erro.”

O homem bufou. —“Não. A arma foi perfeita. Quem a usou, não.”

Ele respirou pelo nariz, esfregando o rosto como se tentasse apagar o passado.

Virou-se para Ash, com os olhos âmbar brilhando. —“Sabe como funciona uma Arma da Alma, garoto?”

Ash assentiu. —“Ela se conecta à alma do portador. Cresce com ele.”

—“Não só isso.” O olhar do ferreiro ficou mais afiado. —“Uma Arma da Alma reflete suas emoções. Se suas emoções estiverem instáveis, a arma também estará. E se perder o controle—”

—“Ela te mata.”

Garry fechou os dedos. —“Exatamente.”

O olhar dele caiu na Pedra da Alma na mesa. Ela pulsava suavemente, um batimento lento de luz violeta. O ferreiro olhou para ela por um longo momento, antes de parecer ter pensado em algo e olhar de volta para Ash.

E então, pela primeira vez, sua expressão mudou—não só surpresa, não só reconhecimento, mas confusão.

Os dedos dele tremeram.

Ash viu a mandíbula de Garry ficar tensa, os músculos duros como se estivesse tentando levantar algo muito mais pesado do que podia.

—“…Que estranho”, murmurou.

—“O que é?”

Os olhos de Garry brilhavam por um instante.

—“Não sinto nada de você.”

Ash permaneceu calado, mas, por dentro, se assustou.

—Espera, o quê?

As mãos do velho se fecharam ao lado do corpo. Sua voz ficou mais baixa, mais calma, com algo indecifrável.

—“Sabe por que eu conseguia forjar Armas da Alma?” ele perguntou.

Ash não respondeu.

Ele nem esperou resposta.

—“Porque eu tenho Visão da Alma.” Ele bateu na testa. —“Posso ver o fluxo das emoções de uma pessoa, a força da sua vontade. Se suas emoções forem caóticas, instáveis—elas morrem. Se tiverem controle—podem usar isso.” Ele encarou Ash sem piscar. —“Mas você…” Seus dedos se contraíram. —“Não há nada.”

Uma estranha calmaria se instaurou entre eles.

O semblante de Garry se aprofundou. —“Sem caos. Sem estabilidade. Apenas… vazio.”

Isso não fazia sentido.

Ele deu um passo adiante, os olhos estreitando como um predador analisando uma ameaça desconhecida.

—“Isso é impossível”, disse Garry.

Sem caos, sem estabilidade? Apenas… vazio? Ash pensou, chocando-se internamente.

—Não era assim que devia ser.

Ele sentia emoções. Irritação. Frustração. Até diversão. Não era uma casca oca.

Então por que Garry olhava para ele como se estivesse encarando um abismo?

As mãos do ferreiro se cerraram. —“Entende o que isso quer dizer? Sem emoções, você não consegue criar uma Conexão da Alma. Sem raiva, sem dor, sem convicção—não há nada que te una à lâmina.”

Então não posso me ligar a uma arma?

Os dedos de Ash tremeram, mas ele logo se controlou.

Isso era um problema. Uma Arma da Alma precisava de emoções. Se Garry estivesse certo, a arma rejeitaria ele. Não obedeceria. Se alimentaria dele.

… Então, o que diabos eu faço?

Ele não ia recuar. Precisava dessa arma. Os detalhes poderiam esperar. Mas isso significava algo mais profundo. Sua própria existência estava contra as regras deste mundo.

Quem diabos eu sou? Será por causa do Capuz das Sombras? Ele está impedindo que ele leia minhas emoções?

Ainda assim, disse: —“Não é uma vantagem? Sem emoções, não posso perder o controle.”

Garry escureceu o olhar. —“Não é.”

Virou-se, balançando a cabeça. —“Esquece. Não vou fazer isso. Não fabrico armas para mortos-vivos.”

Sim, talvez fosse possível, pensou ele, mas...

Ash não se moveu.

Não debateu.

Não tentou convencer.

Apenas… ficou ali.

Silencioso e firme.

Garry sentiu que algo mudou. Não na expressão de Ash.

Nem mesmo dava para ver o rosto dele, apenas um abismo de escuridão sob o capuz. Não na postura. A criança permanecia tensa, imóvel.

Mas o ar em volta parecia diferente.

O cômodo ficou mais pesado.

Como ficar na beira de um abismo profundo.

Garry rangeu os dentes. Sua Visão da Alma se acendeu, tentando captar alguma coisa—qualquer coisa—do garoto à sua frente.

Mas não havia nada.

Nenhum medo. Nenhuma hesitação. Nenhuma luz de raiva escondida.

Apenas um silêncio vazio e pulsante.

Garry exalou com força, quebrando o olhar. —“…Droga.”

Ainda assim, Ash permaneceu calado.

O queixo do ferreiro ficou tenso. Ele virou-se, passando a mão pelo rosto. —“Não gosto disso.”

—“Você não precisa.”

Garry soltou uma risada amarga. —“Gato arrogante.”

Um silêncio longo se estendeu entre eles.

Depois—devagar—Garrry caminhou até a velha lâmina inacabada na parede. Seus dedos tocaram o cabo, hesitando, carregado pelo peso do passado.

Ele deveria recusar.

Deveria expulsar o garoto e fingir que nada tinha acontecido.

Mas aquela vacuidade...

Aquela imensa vazio impossível.

Ele nunca tinha visto algo assim.

E, por algum maldito motivo—isso o assustava, mas também o excitava.

Seus dedos se cerraram. Seus dentes travaram.

E, finalmente, deu uma longa, lenta respiração.

—“Três semanas”, murmurou.

Ash arqueou uma sobrancelha. —“Tanto tempo?”

Garry lançou-lhe um olhar sério. —“Ainda bem que estou considerando, moleque. Uma Arma da Alma não se faz em pouco tempo.”

Ele se virou, com tom plano:

—“Mas se eu decidir fazer, será do meu jeito.”

Ash assentiu. —“Justo.”

Garry fez uma clique com a língua. —“Tch. Tá bom.” Cruzou os braços. —“Que tipo de arma você quer?”

—“Uma boa espada. Aquela que melhor combina comigo. Você é o profissional—faça algo que seja realmente bom.”

Garry soltou um gemido. —“Hmph. Bem vago, mas eu dou um jeito.” Ele pegou uma fita métrica. —“Vem aqui. Se vou fazer essa coisa, preciso das suas medidas.”

Ash avançou, deixando o ferreiro trabalhar. Após um momento, Garry recuou, estudando-o por um instante final.

—“Tá. Posso fazer uma arma adequada pra você.”

Então, ele estreitou os olhos.

—“Mas agora… mostre seu rosto.”

Mas Ash não se moveu.

A expressão do ferreiro se endureceu. —“Não fabrico armas pra quem não confia.”

Um ar incomum de tensão pairava.

Depois, Ash inclinou um pouco a cabeça.

—“O tempo vai revelar muitas coisas. Um dia, vou usar sua arma pra criar meu nome. Quando isso acontecer, você vai saber exatamente quem eu sou.”

Garry soltou uma risada seca.

—“Heh. Palavras ousadas, moleque.”

Ash virou-se na direção da porta.

—“Três semanas,” disse, de costas. “Nada menos.”

—“Sim, sim,” Murmurou Garry.

A porta se fechou atrás dele.

O ferreiro encarou a Pedra da Alma. Ela pulsava de forma constante, um ritmo estranho, vivo. Lentamente, um sorriso tímido surgiu no rosto de Garry.

—“Maldito garoto… Nem sei se o que estou fazendo é certo,” murmurou.

Seus dedos se fecharam ao redor da pedra.

—“Acho que vou ter que assumir a responsabilidade.”