Poder das Runas

Capítulo 40

Poder das Runas

O silêncio pressionava os ombros de Ray como um manto pesado, tão espesso que dava vontade de sufocar.

O ar dentro da masmorra era enjoado, antigo, com um leve cheiro metálico que grudava em suas narinas.

Suas botas arranhavam o piso irregular, uma superfície fria, coberta de musgo, feita de azulejos gastos e rachados, que pareciam estar ali há séculos, intocados pelo tempo ou pela vida.

Seus olhos subiram para os pilares imponentes que ladeavam o salão principal, cada um suportando o peso do vasto teto abobadado acima.

As esculturas gravadas neles estavam desbotadas e corroídas pelo tempo, mas surgiam entre os danos figuras — guerreiros, bestas e símbolos que ele não conseguia decifrar — como sussurros de uma história esquecida.

Ray engoliu em seco e voltou-se para trás.

A entrada por onde acabavam de passar agora era uma parede sem saída. O portal, que deveria estar piscando atrás deles como um farol de esperança, simplesmente tinha desaparecido.

Uma parede de pedra lisa e sem costura se estendia atrás, como se a própria masmorra tivesse devorado a única saída que tinham.

O grupo de Nathaniel também percebeu. A compreensão veio em sintonia. Vince foi o primeiro a quebrar o silêncio com uma risada seca e irônica.

"Acho que estamos ferrados," murmurou Vince, descansando a mão casualmente sobre seu arco, embora seus olhos pestanejassem de modo desconfiado pelo ambiente.

Selene lançou a ele um olhar cortante, suficiente para cortar. "Realmente é hora de piada, idiota?"

Vince levantou uma sobrancelha, o canto da boca se curvando para cima. "E o que mais eu devia dizer? Bem-vindos às férias do inferno?"

Selene apertou a mandíbula. "Você total—"

"Chega," a voz de Nathaniel cortou a discussão como uma lâmina, calma e autoritária.

Ele moveu um pouco sua lança, escaneando os cantos escuros do salão. "Concentrem-se."

Ray permaneceu em silêncio, parado a alguns passos atrás deles. As vozes quase não chegavam até ele.

Seu olhar continuava atento à atmosfera estranha que corroía seus instintos — o silêncio perturbador, o peso opressor de olhos invisíveis.

Era como se a própria masmorra estivesse observando.

O olhar de Nathaniel varreu a área, depois se voltou para sua equipe. "A mecânica da masmorra é incomum," disse, com a voz baixa, mas firme.

"Sem portal de retorno, significa que este lugar é uma viagem de ida só até que o possamos limpar. Provavelmente, as equipes que vieram antes de nós tinham o mesmo objetivo."

"Devem ter avançado," acrescentou Irene suavemente, passando os dedos na coluna ao seu lado. Ela fez uma careta, recuando ao sentir poeira e leves traces de sangue seco sob os dedos. "Mas por que não há atividade de monstros? Isso não é normal."

Lucien franziu o cenho. "Sim, mas masmorras não ficam vazias assim. Parece que algo acabou com tudo."

Garrick virou a voz mais grave. "Estava todo mundo aqui antes de entrarmos, mas sumiram no instante em que entramos. Não é estranho?"

Houve uma pausa tensa.

Ninguém tinha uma resposta.

Os dedos de Ray tremeram ao lado, roçando na empunhadura da espada.

O que é este lugar? Seu instinto revirou o estômago. Ele gritava que aquilo não era o cenário habitual de uma masmorra, mas ninguém dizia nada em voz alta.

Ele manteve a boca fechada, observando-os de trás. Eles eram muito mais experientes que ele; se não estavam falando sobre a anormalidade, provavelmente era grave.

"Certo." Vince suspirou, passando a mão pelos cabelos. "Vamos nos mover antes que as paredes cancelem ou algo assim. Não quero que esse lugar vire um túmulo."

Assim, eles avançaram mais fundo na masmorra. O salão se estendeu em um corredor largo, as paredes se estreitando levemente como se os levassem ainda mais para dentro.

Fragilis beams de tochas mágicas iluminavam o caminho, suas luzes tremulando de forma estranha, projetando sombras alongadas e dançantes.

Enquanto caminhavam, Ray ouvia o eco de seus passos no piso frio de pedra, cada passo reforçado pelo silêncio ameaçador que insistia em permanecer.

Selene se aproximou dele, com um sorriso de escárnio. "Tem certeza que tá preparado pra isso, garoto da Academia?"

Ray lhe lançou um olhar de lado, mas não respondeu.

"Parece que já tá se arrependendo," ela provocou, embora a tensão estivesse evidente na voz.

Ray manteve seu tom controlado. "Já vi coisa pior."

Vince comentou à frente. "Duvido. Essa masmorra tá estranha, mesmo pra gente."

A mão de Ray permaneceu perto da espada. "Posso me virar sozinho."

"Claro," Selene disse, seu sorriso desvanecendo à medida que eles avançavam mais fundo pelo corredor.

Ray foi o primeiro a perceber a mudança — o cheiro metálico cada vez mais forte no ar.

Logo, os outros também sentiram.

Cheiro de sangue

O ritmo deles diminuiu enquanto o corredor se abria para outra câmara, menor e mais escura.

A primeira coisa que viram foram os corpos, muitos corpos.

Espalhados pelo chão estavam os mortos dilacerados de caçadores.

Alguns carregavam o emblema da Associação Humana, outros não tinham marca alguma — provavelmente caçadores renegados — e alguns vestiam a roupa escura típica de mercenários do mercado negro.

Mas não havia carcaças de monstros.

Apenas corpos humanos, contorcidos de forma anormal, com os rostos congelados de medo, pescoços cortados limpos ou torsos perfurados por golpes cirúrgicos precisos.

"Droga..." murmurou Vince, baixando um pouco seu arco. "Que porra é essa? E onde estão os corpos dos monstros?"

Os olhos de Selene correram para as armadilhas não acionadas na parede e no chão — placas de pressão, fios de mana, lançadores de espetos. Tudo intacto.

"Por que as armadilhas não dispararam?" sussurrou Irene, com uma voz trêmula.

As sobrancelhas de Nathaniel se franziram, varrendo a câmara com o olhar.

Selene respondeu à sua dúvida. "Elas foram ativadas, mas agora estão desativadas. Isso não é normal."

Ray ajoelhou-se ao lado de um dos corpos, estudando o ferimento.

É uma ferida de golpe de espada. Quem fez isso foi rápido e habilidoso. Seus dedos tocaram o sangue seco, ainda levemente morno. Isso aconteceu recentemente.

Os demais estavam tensos, trocando olhares nervosos enquanto avançavam cautelosamente para o fundo da sala.

A porta à frente permanecia aberta, o próximo corredor sumido na escuridão.

"Vamos continuar," disse Nathaniel com expressão sombria. "Mas fiquem atentos."

O grupo seguiu adiante. Quanto mais fundo iam, mais o silêncio se tornava sufocante, e o cheiro de sangue ficava mais intenso.

Então, justo quando eles contornaram uma curva rumo a uma nova câmara—

"Parem!" ordenou Nathaniel, levantando a mão.

Na penumbra à frente, iluminados pelo brilho fraco de tochas, estavam um grupo de sobreviventes machucados.

Caçadores da Associação Humana, agrupados atrás de barricadas improvisadas de pedras quebradas e detritos.

Suas armas estavam empunhadas, olhos selvagens de desespero.

Alguns estavam feridos, sangue escorrendo pelas bandagens improvisadas.

Um deles, um homem barbudo de cabelos grisalhos e olhos afiados, ergueu a arma tremendo.

"Fica onde está!" gritou, com a voz rouca. "Não se aproxime mais!"

A tensão correu pelo ar como uma mola presa, e Ray sentiu o medo deles irradiando.

Nathaniel lentamente levantou a mão, sinalizando paz. "Somos aliados."

Havia uma estranha quietude, como se o ar estivesse segurando a respiração.

Outros caçadores estavam prontos para atacar ao menor sinal de hostilidade.

O homem barbudo respirava com dificuldade, sua respiração alta na quietude do corredor, enquanto a mão tremia, com o rifle treinado em direção ao grupo de Nathaniel.

Seus olhos fundos botavam de um lado ao outro, selvagens e vermelhos de cansaço, como se qualquer movimento brusco pudesse destruir o pouco de calma que restava.

"Somos da Associação Humana," disse Nathaniel de modo firme, avançando um passo à frente do grupo, mostrando uma credencial. "Não somos seus inimigos."

Viu os ombros do homem relaxarem, como se o peso da fadiga e do medo finalmente tivesse os dominado.

Seu rifle vacilou, baixando lentamente. "...Soldados de pedra," ele tosse. "Estavam por toda parte. Fortes. DEMAIS."

Ray franziu o cenho. Soldados de pedra? Isso explicava os corpos mutilados antes.

Ele voltou o olhar para o corredor sem vida atrás deles, uma sensação de desconforto crescendo no estômago.

"Lutamos até o limite," continuou o caçador, limpando sangue dos lábios rachados. "Tinha tudo para sermos exterminados, se eles não desaparecessem de repente."

"Eles desapareceram?" Selene repetiu, com desconfiança na voz.

"Sumiram." A voz do homem tremeu. "Justamente... sumiram como fumaça. Primeiro vieram em pequenos grupos, mas quanto mais matávamos, mais apareciam. Alguns mercenários do mercado negro avançaram na frente, deixando a gente para enfrentar aquelas aberrações."

Vince murmurou entre dentes: "Porra, esses filhos da puta."

Todos tinham uma expressão de raiva sutil ao ouvir aquilo.

Nesse momento, Ray deu um passo à frente, examinando os sobreviventes machucados.

Eles estavam largados — quase famintos, sem muitos recursos, com ferimentos ainda pingando sangue, mesmo presos com retalhos.

"Muitos se machucaram na luta," explicou o caçador, apontando para trás, onde vários estavam encostados nas barricadas caindo aos pedaços, alguns quase inconscientes.

Sem pensar, Ray acessou seu sistema. Se não fizermos algo agora, não vão aguentar. O coração acelerou enquanto ele navegava pelas opções em sua loja.

Pocinhos de cura... são de baixa qualidade, mas vão ajudar.

Comprou várias com um movimento mental, materializando-as com um brilho tênue.

"Que diabos—" Vince piscou, observando Ray se aproximar dos feridos.

"Precisam de ajuda," afirmou Ray simplesmente, abaixando-se ao lado de uma jovem com um profundo corte na coxa.

Os demais observavam com cautela enquanto ele destampava uma poção e a colocava com cuidado nos lábios da mulher. "Beba," sussurrou gentilmente.

Para seu alívio, ela hesitou antes de beber, e a magia atuou rapidamente, fechando o ferimento o suficiente para ela poder se levantar.

"De onde tirou essas coisas?" perguntou Selene, cruzando os braços, com as sobrancelhas elevadas de curiosidade.

Ray deu de ombros. "Não quero ver gente morrendo se puder ajudar."

"Idiota," murmurou Selene, mas sem o veneno de antes.

Ray ignorou a garota, passando para o próximo caçador ferido.

Segure firme, pensou, entregando outra poção a um homem com uma faixa de sangue na cabeça.

Nathaniel aprovou com a cabeça, sem dizer nada, apenas virou-se para sua equipe. "Ajude os outros," ordenou suavemente.

Selene, resmungando baixinho, ajoelhou-se ao lado de outro ferido e começou a trocar a bandagem de um braço torcido.

Vince distribuiu comida, enquanto outro membro do grupo oferecia água aos que estavam quase sem forças para ficar de pé.

Ray continuou trabalhando, ignorando o suor escorrendo na testa. Seus estoques davam para o que precisasse por ora, mas cada poção que entregava pesava no coração.

Meus pontos do sistema podem acabar assim... mas eles precisam agora.

"Obrigado..." murmurou um caçador fraco ao receber um pedaço de pão e uma garrafa de água de Ray.

Ray sorriu cansado, mas sincero. "Coma, ainda temos bastante chão pela frente."

Pouco a pouco, o clima alleviou um pouco. Os feridos não estavam mais à beira do colapso, e a cor começava a retornar aos seus rostos.

Fortalecidos, os quinze se reagruparem e avançaram mais profundamente na masmorra.

Ray ficou novamente no final, observando atentamente os recém-chegados.

Enquanto avançavam mais fundo, nenhuma criatura surgia das sombras, nenhum truque era acionado sob seus passos.

A calma assustadora parecia dizer que a própria masmorra já tinha julgado eles e achado que não valia a pena lutar.

O corredor se estendia sem fim, iluminado apenas pelo brilho oscilante das tochas mortas presas nas paredes rachadas.

O peso do pedra acima deles parecia quase sufocante, as esculturas desgastadas quase os observando com olhos vazios.

O estômago de Ray revirou a cada passo. Está muito silêncio, e por que tenho essa sensação de alguém me observando...?

Desde que encontrou o grupo de caçadores, uma sensação incômoda persistia — alguém ou algo os observava, e essa sensação não era nada agradável.

Nathaniel avançou na frente, lança em punho. "Estejam prontos para qualquer coisa," murmurou, com os olhos varrendo o corredor vazio. "Parece um túmulo."

Finalmente, saíram para uma câmara enorme, que superava todas as outras.

As paredes se erguiam até a escuridão, com o leve brilho do mana quase iluminando as extremidades distantes.

Uma porta de pedra gigantesca se destacava ao final da sala, irradiando uma energia assustadora. Sua superfície era adornada com runas brilhantes pulsando como um coração, cada símbolo antigo e poderoso.

Ray estremeceu.

O mana escapando da porta era sufocante, denso como uma tempestade prestes a desabar.

Mas não era só a porta que chamava atenção.

No seu chão, várias figuras — envoltas em mantos pretos com marcas vermelhas costuradas nas roupas — trabalhavam freneticamente para abrir a porta.

Operativos do Mercado Negro. Alguns manipulavam dispositivos mágicos, outros entoavam feitiços baixinho, e alguns mantinham armas na mão, os olhos nervosos atentos às sombras ao redor.

"O que diabos eles estão fazendo?" sussurrou Garrick, com os dentes cerrados.

"Estão tentando forçar a porta," respondeu Lucien, com a voz tensa.

O coração de Ray acelerou fortemente. São insanos?

Os olhos de Nathaniel se estreitaram. "Estão drenando as defesas da porta. É uma loucura."

Como se sentisse olhos nele, um dos mercenários do mercado negro olhou para trás, os olhos aguçados e frios. Seu olhar varreu a sala antes de se fixar no grupo de Ray, e sua expressão endureceu instantaneamente.

Ray deu um passo à frente, colocando-se parcialmente na frente de alguns dos feridos atrás dele. Sua mão apertou a empunhadura da espada.

Você não vai tocá-los.

Vince cutucou Ray com o cotovelo. "Ei, bobo, você tá se destacando."

"Fico de boa," murmura Ray, mantendo o olhar fixo nos operativos do Mercado Negro.

Vamos protegê-los primeiro. Depois dou um jeito no resto.

Selene suspirou. "Vai acabar morrendo assim, agindo desse jeito."

Mas Ray mal a ouviu, corpo tenso, preparado para agir.

Eles não vão fazer mal a esses caras enquanto eu estiver de pé.

Alguns caçadores feridos trocaram sussurros apressados, a tensão aumentando, como se fosse inevitável um confronto.