
Capítulo 39
Poder das Runas
Então, ela falou.
"Tem certeza de que não vai se arrepender de entrar na masmorra?"
"Tudo bem."
Ela se virou levemente, fazendo um gesto em direção às seis figuras que estavam atrás dela.
Ray sentiu os olhares sobre ele — alguns curiosos, outros indiferentes, e alguns carregando o peso inconfundível da irritação. Um deles olhou para ele como quem observa um fardo desnecessário.
Não importa como eles me veem, pensou Ray, enquanto apertava as mãos em volta do cabo de sua espada. Desde que consiga entrar na masmorra.
Ele direcionou novamente sua atenção para Liera, deixando de lado qualquer preocupação com suas opiniões.
E então, começaram as apresentações.
Os olhos castanhos, que brilhavam como os de um predador, percorreram Ray como se o avaliasse cuidadosamente.
Uma lança longa e pontiaguda descansava diagonalmente em suas costas, seu corpo decorado com entalhes intricados que demonstravam tanto habilidade quanto experiência.
"Este é Nathaniel Grant," disse Liera. "Rank de Especialista. Lança. Ele é o líder desta equipe."
A mão de Liera moveu-se para a mulher que estava um pouco atrás de Nathaniel, com postura relaxada, embora cada movimento fosse calculado.
Cabelos pretos presos num rabo de cavalo alto, punhais gêmeos presos às coxas. Os olhos verdes brilhavam com um sorriso de diversão enquanto varriam Ray, avaliando-o como um predador que estuda sua presa.
"Selene Voss. Rank de Adept. Assassina."
Selene sorriu de lado, inclinando a cabeça. "Então, você é aquele que temos que vigiar de perto." Sua fala tinha um tom brincalhão, mas com uma pontada de seriedade por trás. "Não sei por que deixam uma criança entrar numa masmorra onde a taxa de mortalidade é imprevisível."
Ray a encarou de igual para igual, sem reagir. Se ela está tentando me testar, vai precisar se esforçar mais.
Liera seguiu em frente, indicando o homem enorme de armadura ao lado de Selene.
A armadura cinza escura tinha padrões iluminados, e um escudo de torre gigante estava preso às costas. Sua postura era firme, inabalável, como uma parede impenetrável entre seus aliados e o perigo.
"Garrick Holt. Rank de Especialista. Guardião."
Garrick lançou um olhar quase impessoal para Ray antes de voltar a focar na entrada da masmorra, sua presença transmitindo uma paciência silenciosa. Um homem que se comunica com ações, não com palavras.
Depois, a mão de Liera apontou para uma figura encapuzada, ligeiramente afastada dos outros. Vestindo robes de cor azul-escura, cabelos prateados caindo até os ombros, olhos tão pálidos que pareciam sobrenaturais. Uma leve rímela de mana cintilava à volta de seus dedos—sutil, mas inegável.
"Lucien Vale. Rank de Adept. Mago."
O olhar de Lucien era distante, indiferente. Ele estudava Ray do mesmo jeito que alguém examina um fenômeno desconhecido—algo que o intrigava, mas que, no final, era sem importância.
Liera continuou, sua próxima apresentação levando a uma mulher que apoiava levemente uma bengala. Usava uma mistura de tecido e armadura, com robes brancos decorados com bordados delicados que indicavam sua função.
Seus olhos cor de avelã não carregavam hostilidade, mas havia algo mais por trás—resignação, talvez?
"Irene Calloway. Rank de Adept. Curandeira."
Irene suspirou suavemente. "Acho que vou precisar me preparar para trabalho extra."
Ray levantou uma sobrancelha, mas ela apenas sacudiu a cabeça, como se já tivesse feito as pazes com os problemas inevitáveis que ele poderia trazer.
Por fim, a atenção de Liera se virou para o último membro da equipe—um homem vestido com uniforme tático escuro. Um arco na mão, com setas na alça nas costas. Cabelos loiros bem aparados, olhos castanhos atentos, sempre vigilantes.
"Vince Holloway. Rank de Adept. Atirador."
Vince olhou de relance para Ray antes de balançar a cabeça levemente. "Ouvi falar que você está no Rank de Aprendiz." Sua voz carregava ceticismo. "Ou você tem uma morte vontade, ou sabe de algo que a gente não sabe."
Ray encarou-o de frente, sem hesitar, e respondeu: "Talvez ambos."
Vince soltou uma risada curta, mas não disse mais nada.
Com as apresentações feitas, Liera voltou-se para Nathaniel. "Você conhece a missão. Colete informações e volte vivo."
Nathaniel assentiu. "Entendido."
Ela hesitou por um instante, antes de seu olhar se fixar novamente em Ray. Diferente do começo, sua irritação habitual já tinha desaparecido, substituída por algo indefinível—que ela não conseguiu identificar.
Ela parecia indecisa se devia dizer algo ou não, mas no final soltou um suspiro.
Então, sem mais palavras, ela deu um passo de lado.
A entrada da masmorra se projetava diante deles—um portal violeta pulsando com um ritmo semelhante a um batimento cardíaco.
Um frio profundo e não natural permeava o ambiente, enrolando-se aos tornozelos de Ray como tentáculos invisíveis, mais frio que o ar fresco da manhã.
A atmosfera mudou assim que se aproximaram. O sussurrar de vozes dos outros caçadores, o barulho das folhas ao vento, até o som de seus passos pareciam diminuir, engolidos por uma presença invisível.
O chão vibrava suavemente sob as botas de Ray, uma vibração quase imperceptível, como se algo sob a superfície estivesse se mexendo.
Um sussurro de vento saía do abismo, carregando um aroma—terra úmida, o leve cheiro metálico de sangue antigo.
A mudança foi desorientadora, mas breve—seu corpo já tinha se acostumado com isso por experiências anteriores.
O ar dentro da masmorra era pesado, carregado de uma energia invisível, mas opressora.
O silêncio era sufocante,
não era apenas a ausência de sons, parecia como se estivesse entrando em um vazio onde até mesmo os ecos da vida tinham sido engolidos.
Mas então algo se movimentou.
Uma ondulação na realidade, invisível a todos.
Como uma respiração exalada por algo vasto e invisível sob a superfície da existência.
[Segunda Condição Atendida: Presença do Recipiente de @^$%@% Detectada]
[Abrindo o acesso à Sala do Chefe]
Uma voz fria e mecânica vibrava pelo ambiente, com um tom distorcido, como um sussurro rastejando pelas bordas da existência.
No entanto, ninguém reagiu.
Nem Nathaniel, que varreu os arredores com olhos afiados. Nem Vince, com os dedos próximos à corda do arco.
Nem mesmo Selene, sempre perspicaz, mostrou qualquer sinal de reconhecimento.
A voz incomum tinha falado.
E, no entanto, ninguém — nem mesmo Ray — tinha ouvido.
[Todas as armadilhas desativadas...]
Uma pulsação se espalhou para fora.
A tensão invisível dentro das paredes se desfizer, o leve zumbido dos mecanismos alimentados por mana se apagando um a um.
Se Ray tivesse percebido, poderia imaginar inúmeros fios invisíveis se rompendo, liberando seus perigosos aprisionamentos.
[Todos os Guardianes Sumiram...]
Então veio o silêncio.
Não apenas silêncio—uma escuridão verdadeira, sufocante, o nada absoluto.
Os sons de fundo constantes de uma masmorra—os roedores distantes, os rugidos ocultos—todos desapareceram, como se tivessem sido apagados.
Sumiram.
E no lugar, uma quietude inquietante.
Nathaniel parou abruptamente, sua postura mudando de alerta para rígida.
"Que diabos é isso?" sussurrou Vince, com a voz mais baixa, cheia de incerteza. A mão pairava perto do arco, os dedos se contraindo.
Selene respirou fundo, seu sorriso desaparecido. "Consigo sentir, toda a presença próxima sumiu."
Irene pressionou as pontas dos dedos na testa, mexendo os lábios numa oração silenciosa.
Lucien estreitou os olhos pálidos, embora não dissesse uma palavra.
Ray cerrava a mandíbula, os dedos firmes ao redor da espada. Ele não sabia o que era aquilo. Não entendia o que acabara de acontecer.
Mas uma coisa era certa.
A masmorra tinha reagido a ele.