Poder das Runas

Capítulo 23

Poder das Runas

Ash caminhava ao lado dos outros, seus passos firmes, mas sua mente completamente em confusão.

Será que realmente era ela?

Só de pensar nisso, um calafrio percorreu sua espinha.

Não… Não, isso é impossível.

Mas a dúvida já havia plantado raiz.

E se?

Seus dedos se cerraram em um punho.

E se ela for realmente Nancy?

Uma enxurrada de memórias ameaçava ressurgir, memórias que ele já tinha enterrado há muito tempo.

A sensação do riso dela. A forma como ela costumava chamar seu nome. Como a presença dela já foi seu refúgio seguro.

Mas calor e risos não eram as únicas coisas ligadas àquele nome. Não, havia algo mais.

Algo sufocante.

Um peso no peito.

Sombra que nunca o deixou.

Os ecos de um passado que ele jamais conseguiria mudar.

Ele engoliu em seco, o maxilar se apertando.

Se for ela… O que fazer então? Deveria ficar feliz? Aliviado?

Sua respiração parecia superficial.

Ou devo ter medo?

Seus lábios se comprimiram numa linha fina.

Será que mereço estar perto dela novamente?

As palavras pareciam veneno em sua mente, algo podre rasgando as paredes de seus pensamentos.

Não. Não, eu não devo pensar assim.

Ele precisava de clareza.

Com uma exalação aguda, Ash repentinamente deu um tapa nas próprias bochechas, ganhando olhares estranhos dos estudantes ao redor.

Ele os ignorou.

Foco. Primeiro, preciso confirmar quem ela é.

Mas como?

Será que perguntar diretamente funciona? Não. Isso seria tolice. Se ela fosse Nancy, e tivesse até uma fração das memórias do passado, reconheceria ele imediatamente.

E se ela não fosse… Bem, então ele estaria apenas se fazendo de bobo.

Não. Ele precisava de algo mais.

Alguma prova.

Alguma conexão que só eles saberiam.

Mas lá no fundo, ele não estaria apenas enrolando?

Tenho medo de saber a verdade.

Porque se for ela. Se ela realmente estivesse aqui. Então isso significaria…

Não. Não pense nisso.

Seus dedos tremeram, a sensação fantasmal de mãos ensanguentadas subindo pela pele dele.

Ele cerrou os punhos, forçando a respiração a permanecer firme.

Se não fosse pela Runas da Estabilidade, sua mente poderia já estar mergulhada naquele estado depressivo anterior.

Aquele estado que o levava a jogar o jogo de realidade virtual só para desviar sua mente daqueles pensamentos.

Em pouco tempo, chegaram à sala de testes de afinidade.

Os estudantes entraram, e Ash mal percebeu a grandiosidade do lugar. A sala era fracamente iluminada, salvo pelo brilho etéreo de uma grande esfera de cristal no centro.

Eles se posicionaram em um arco ao redor dela, o ar pesado de expectativa.

Elva avançou, ficando ao lado da esfera com um sorriso de conhecimento.

"Agora, meus estudantes, venham um de cada vez. Vamos ver suas afinidades," ela anunciou.

A voz dela era calma, mas carregava uma pontada aguda, um peso que fez Ash levantar os olhos.

Os olhos dela correram pelos estudantes antes de se fixar nele.

"Pelo que sei, não houve teste de afinidade antes da prova de entrada. Isso quer dizer que alguns podem ter decidido esconder suas afinidades," ela continuou, com um tom leve, mas com algo quase brincalhão.

"Vamos ver quem são eles."

Ela enfatizou a última frase, seu olhar travado em Ash.

Ele encarou-a, de expressão inconstante, antes de desviar o olhar.

Por enquanto, ele tinha questões maiores do que o jogo que Elva estava jogando.

Sua mente ainda estava presa em pensamentos sobre Elysia.

Sobre Nancy.

Sobre o passado que teimava em não deixá-lo em paz.

Se ela realmente for Nancy…

A ideia apertou seu coração.

E então, o que devo fazer? Fingir que nada aconteceu? Fingir que ela não…

Sua mente se perdeu, rodando nos mesmos pensamentos.

Ele expulsou o ar rapidamente.

Não podia deixar seus pensamentos vagarem ali.

Não aqui.

Não agora.

Ele precisava de tempo.

Precisava de respostas.

"Vamos começar pelo ranking, que acha?" a voz de Elva cortou seus pensamentos como uma lâmina.

Ela virou-se para os estudantes, um sorriso de knowing ainda nos lábios.

"Melissia, venha vindo."

"Sim, Senhora," respondeu Melissia, avançando confiante em direção à esfera.

Finalmente, sem conseguir se concentrar, Ash ativou sua habilidade Pensamento Omni por uma fração de segundo—

E a cancelou instantaneamente.

Mesmo assim, a dor de cabeça atinge-lo como um martelo, mas era algo suportável.

Essa dor não era nada para ele.

Após ativar a habilidade, sua mente voltou ao seu estado habitual de calma.

Todas as ideias desnecessárias desapareceram.

Com a mente limpa, ele respirou fundo, seu rosto voltando à expressão usualmente neutra enquanto pensava.

Vamos pensar nisso depois de chegar ao alojamento. Não adianta pensar agora.

Ele exalou e acompanhou Melissa colocar a mão na esfera.

Um brilho vermelho vibrante se espalhou por sua superfície.

"Você tem Afinidade de Fogo. Ótimo. Fique atrás de mim," ela disse para Melissa, enquanto Elva anotava algo na tela holográfica.

"Próximo."

Grace avançou.

Vem aí a rara Afinidade por Luz. Pensou Ash enquanto via Grace colocar a mão na esfera.

No momento em que sua mão tocou a esfera, um brilho branco brilhante explode, causando murmúrios entre os estudantes ao redor.

"Como esperado dela."

"Ela parece um anjo."

"Ei, cala a boca, você sabe quem ela é?"

"Sei, por isso estou a admirando de longe."

Claro que ela é bonita. Afinal, ela é meio anjo, pensou Ash ao ouvir os murmúrios.

"Tudo bem, recuem," disse Elva, indiferente. Ela anotou algo sem sequer olhar para cima.

Próximo.

Lyra avançou em direção à esfera.

Ao contrário dos outros, não havia nervosismo em seus passos. Ela não hesitava, nem era arrogante.

No instante em que seus dedos tocaram a esfera de cristal—

Um brilho verde exuberante se espalhou, girando como vinhas que se estendem em direção ao sol.

E então, algo raro.

O som de folhas arrulhando ecoou na sala.

Os estudantes murmuraram surpresos.

"Usuária de Afinidade com a Natureza…"

"Achei que só elfos tinham isso?"

"O que esperar da filha da Santa Lydia?"

O olhar de Lyra permaneceu firme. Ela não reagiu aos sussurros, nem parecia particularmente impressionada com o próprio resultado.

Elva, contudo, levantou uma sobrancelha.

"Hmm, Natureza… Uma afinidade rara entre humanos. Deve ser bem legal, estar conectada ao mundo de maneiras que os outros não conseguem."

Pela primeira vez, Lyra falou. A voz dela era suave, mas firme.

"Tem seus momentos, Professora."

Elva sorriu de forma sardônica.

"Resposta modesta."

Os estudantes riram.

Ela deu alguns passos para trás sem dizer mais nada.

"Próximo," ordenou Elva.

Um garoto com ombros largos, cabelo castanho escuro curto, avançou.

Ao contrário de Lyra, ele transbordava confiança.

Seus passos eram firmes. Sua postura imperturbável.

Irvin não era apenas um qualquer—ele era herdeiro do maior Gremio de Ferreiros, um dos mais ricos, envolvido na extração de artefatos e forja de armas.

E isso era evidente.

No momento em que sua mão tocou a esfera—

Um brilho metálico profundo pulsou para fora.

No instante seguinte, uma luz marrom opaca pisca abaixo dela.

"Afinidade com Metal e Terra," anotou Elva.

Os murmúrios recomeçaram.

"Faz sentido. A família dele é famosa por seu trabalho em metais."

"Afinidade dupla, hein? Isso é bem bom."

"Duh, ele é filho de um Santo, né."

Irvin deu um sorriso satisfeito, claramente contente. Ele virou um pouco, lançando um olhar aos outros—especialmente para Ray e Ethan.

Quer ver a reação deles.

A Ash, chamou atenção instantaneamente.

Velho galhinho. Já acha que é o melhor.

Mas sua arrogância não era sem motivo.

Alguns estudantes reviraram os olhos. Outros sussurraram entre si.

Mas não havia como negar.

Irvin Blackstone era forte.

Ao recuar, seu olhar permaneceu por uma fração de segundo em Ray—só o tempo suficiente para enviar uma mensagem.

Um desafio silencioso.

Ray, no entanto, permaneceu impassível. Sua expressão era composta, inexpressiva.

"Próximo," chamou Elva.

E então—

No instante em que ela avançou, Ash sentiu seu corpo inteiro ficar tenso.

Seu cabelo prateado reluziu sob a luz, fios refletindo como luz de luar derretido. Seus olhos vermelhos, varreram a multidão antes de se fixar na esfera.

Ela colocou a mão sobre ela.

E num piscar de olhos—

Um brilho azul intenso se espalhou por sua superfície.

Depois—

Prata.

Como a luz da lua refletida sobre um mar infinito.

Os murmúrios retornaram, mas desta vez carregando um peso diferente.

Uma admiração silenciosa tomou conta do ambiente, misturada com algo mais—medo.

"Afinidade com a Lua…?"

"Uma bênção da Lua?"

Mesmo entre os elites, isso era raro.

Quase lendário.

Elva sorriu mais profundamente, embora agora tinha um olhar afiado—a mistura de interesse e investigação.

"Interessante," ela murmurou. "Você não mencionou a Afinidade com a Lua na sua ficha. Por quê?"

Elysia hesitou, seus dedos tremendo ligeiramente antes de falar.

"Não sabia como controlá-la," ela admitiu. "Achava que não era importante."

Elva riu baixinho, a voz suave, mas carregada de algo sabido.

"Querida, uma Afinidade com a Lua nunca é irrelevante."

Os murmúrios só aumentaram, uma onda de excitação silenciosa varrendo os estudantes.

Assim como no romance.

Água e Lua.

Ela sabia que traços estão ligados às almas, e às vezes esses traços também influenciam a Afinidade da pessoa.

Tudo igual, há uma grande chance de ela não ser Nancy.

Ash respirou fundo pelo nariz, aliviado na sua cabeça,

"Próximo," chamou Elva.

Os estudantes continuaram, um após o outro.

Até chegar a vez do protagonista do romance.

Ele avançou, descontraído, casual como sempre.

Seu cabelo preto balançou levemente enquanto colocava a mão na esfera.

E então—

O mundo explodiu em cores.

Todos os tons imagináveis surgiram e se expandiram, brilhando cada vez mais, consumindo a sala com um espetáculo radiante.

Mas duas cores se destacaram acima do restante.

Vermelho. (Fogo)

Azul escuro. (espaço)

As cores pulsavam, vivas, quase desafiando.

A expressão de Elva vacilou.

Pela primeira vez, uma surpresa genuína cruzou seu rosto.

Os estudantes ficaram em completo silêncio.

Então—

Caos.

"Caramba—"

"Um usuário de Afinidade Total?! Isso é—"

"Impossível!"

"Não era só um mito?"

Uma garota segurou o peito, como se tivesse visto um deus descer do céu.

Ray deu um passo atrás, encarando a esfera como se ela tivesse traído ele.

"Eu—eu achava que tinha só duas—"

Elva se recomposed rapidamente, mas seu tom mudou.

"Um usuário de Afinidade Total… Não é interessante?"

Era brincalhão.

Mas porbaixo da brincadeira, havia algo mais afiado.

Algo perigoso.

Ray engoliu em seco. Sua mão se fechou levemente ao lado do corpo.

Ash, no entanto, apenas sorriu.

Procure culpar seu sistema se quiser. No momento que você o ativou, já tinha Afinidade Total. Só que estavam trancadas.

Pena que Ray não fazia ideia do inferno que acabava de entrar.

Os murmúrios continuaram, mas agora, algo tinha mudado.

Os estudantes pareciam… sobrecarregados.

Empolgação? Com certeza.

Choque? Completamente.

Mas agora, o nível de exigência tinha ficado tão alto que até afinidades raras pareciam comuns em comparação.

A tensão se recusava a diminuir.

Até—

"Tudo bem, tudo bem, acalmem-se. Ainda há estudantes por vir. Podem falar depois que todos tiverem sua vez."

A voz de Elva, embora leve, tinha um tom autoritário.

Os estudantes silenciaram, mas os olhos ainda brincavam na direção de Ray, na esfera, incapazes de se desvencilhar do peso do que tinham acabado de testemunhar.

No entanto, o olhar de Ash estava longe dali.

Parece um cachorrinho adorável, assistindo com admiração.

Os olhos de Melissia brilhavam, suas mãos pequenas cerradas de empolgação. A admiração iluminava seu rosto, todo o foco fixo em Ray, como se ele fosse o próprio sol.

Ash respirou fundo.

Tanta dedicação, hein.

"Próximo," chamou Elva.

O assassino avançou.

Ethan Nightshade.

Seu rosto permanecia impassível, seus movimentos precisos, calculados.

Ash observava atento.

Ele já sabia o que vinha.

No instante em que Ethan tocou a esfera—

Uma névoa negra profunda se enroscou ao redor dela.

Depois—

Uma cor púrpura escura pulsou para fora, ondulando como a própria essência da noite.

"Sombra e Trevas," murmurou Elva.

Alguns estudantes respiraram fundo.

Mas após o resultado de Ray…

Ninguém reagiu com tanta força.

Parece que todos haviam ficado anestesiados.

Um golpe amargo do destino.

Porém, Ethan não achou graça.

Seus olhos cruzaram com os de Ray por um breve segundo.

Mandíbula dele se fechou. Seus dedos tremeram ao se cerrar em um punho, mas ele não disse nada.

Ash soltou uma risada interna.

'Pensando bem, o enredo devia mudar por minha causa, mas, pelo jeito, fora as interações entre os protagonistas, nada vai mudar.'

'Espero que nada mude em relação aos demônios que estão na Academia.'

Ethan deu um passo atrás, com uma expressão cuidadosamente neutra.

"Próximo," chamou Elva.

E finalmente—

Os estudantes passaram, um após o outro.

Até que chegou a hora dela.

O olhar dela se fixou na última nome na lista.

Aquela que ela vinha esperando.

"Ash."

Quando o nome dele foi chamado, o silêncio caiu de novo.

O olhar de Elva foi profundo, afiado, como se ela já soubesse a resposta.

E Ash?

Ele avançou.

A expressão dele era impassível.

Mas a sua mente estava em tormento.

Espero que meu traço não esteja relacionado às afinidades.

{1} - Afeito às afinidades, ele também pode ter outro traço além do relâmpago?