
Capítulo 28
Poder das Runas
Ash não parou até estar na frente da sua próxima aula.
Ela também não.
Ela o seguiu, sua presença uma sombra silenciosa atrás dele. O espaço entre eles parecia carregado de forma estranha, como um fio invisível tirando tenso — frágil, tilintando de medo.
Seus passos eram firmes.
Os dela, hesitantes.
Ela não tinha certeza do porquê de continuar seguindo.
Não havia motivo.
E mesmo assim, não conseguia parar.
Seus olhos vermelhos traçaram suas costas, como se tentassem encontrar algo — uma prova, um sinal de que ele era a pessoa que ela havia perdido.
Mas ele nunca se virou.
Nunca lhe lançou nem um olhar.
Seus dedos tremeram ao lado do corpo, formando um leve encurvamento. Um peso se instalou no peito dela, pressionando — pesado, estranho.
Talvez… ele não seja ele mesmo.
Talvez eu só sinta tanta saudade que estou imaginando coisas…
A semelhança era impressionante, mas será que era só isso? Uma brincadeira cruel do destino?
Seus dedos se fecharam um pouco mais, seu olhar caiu por um instante. A dor no coração dela não desapareceu — ao contrário, virou algo vazio, algo que roía as bordas de seus pensamentos.
Uma rajada de vento passou, bagunçando seus cabelos prateados, mas o calafrio que percorreu sua espinha não tinha relação com o frio.
Ela se obrigou a respirar fundo.
Depois outra.
E mesmo assim, ela continuou a seguir.
Enquanto isso, Ash—
Um respirar lento e controlado encheu seus pulmões, expulsando o tumulto que roía suas costelas.
Sua mente quase tinha se entregado — um passo longe de se desfazer.
Naquele último momento, o Feitiço da Estabilidade ativou-se, resfriando a tempestade furiosa dentro de sua cabeça.
Se não tivesse —
Seu aperto ficou mais forte, as unhas formando leves meandros na palma da mão.
Um décimo de segundo mais lento, e—
Poderia ter se virado.
E então—
Tudo poderia ter desmoronado.
Seu maxilar travou, uma musculatura tiqueando enquanto ele empurrava suas emoções para dentro, onde não pudessem alcançá-lo.
Com um impulso final, deu um passo à frente, empurrando as portas da próxima aula—
[Esgrima & Artes de Combate].
As portas pesadas rangeram ao se abrir, revelando uma vasta sala de treinamento semelhante a um estádio.
**
O aroma de aço e suor impregnava o ar.
A sala de treinamento se estendia ampla, estruturada como uma arena aberta, com tetos altos que se erguiam acima.
Luzes de mana flutuantes lançavam um brilho estéril sobre os pisos polidos, refletindo-se nos suportes reluzentes de armas alinhados nas paredes distantes.
Espadas, lanças, adagas — todas esperando, cada uma com uma promessa silenciosa de violência.
O chão próprio apresentava cicatrizes de batalhas incontáveis, arranhões e amassados imprecisos marcando a superfície até então impecável.
Passos ecoavam no espaço vasto, mesclando-se com o zumbido distante do ar alimentado por mana.
Alunos já estavam reunidos no centro, seus murmúrios silenciosos fundindo-se com a expectativa no ar.
O olhar de Ash oscilou brevemente sobre eles antes de desviar. Ele não tinha interesse na presença deles.
Porém, sua mente, de algum modo, estava em outro lugar.
Se ela é Nancy, então por que ela tem a mesma afinidade do personagem do romance?
Será que suas almas se fundiram?
Ou…
Uma musculatura na mandíbula dele se tensionou.
Não. Isso não deve ser possível.
Seu olhar piscou para o lado — ela ainda o seguia.
Claro que sim.
Seus dedos tremeram novamente, mas dessa vez, ele meteu as mãos nos bolsos, forçando-se a ficar imóvel.
Seus pensamentos não paravam.
Ela tinha a aula de Dança com a Lâmina — um caminho de fluidez e destruição. Eventualmente, ela empunharia lâminas gêmeas, dançando pelo campo de batalha como uma tempestade prateada.
Cavadinha nela.
Quase excessivamente adequado.
Uma risada amarga quase escapou, mas ele a reprimiu.
Soltou um suspiro lento e controlado.
Agora que ele sabia—agora que não havia dúvida—
O peso da responsabilidade pesava sobre ele como uma força inabalável.
E agora que eu sei que ela é realmente Nancy… tenho que protegê-la.
Que se dane o mundo e o protagonista. Se o tal enredo ameaçar machucá-la, eu juro que—
Antes que pudesse terminar o pensamento—
Uma voz interrompeu seus pensamentos.
“Oi.”
Ash piscou.
Ray estava à sua frente, com um sorriso relaxado no rosto.
“Perguntei ao funcionário,” disse Ray, casualmente esfregando a nuca. “A professora realmente queria falar comigo. Ela me levou até o diretor.”
Seu sorriso se alargou. “E adivinha? Ele me aceitou como discípulo dele.”
A expressão de Ash permaneceu impassiva.
Mas por dentro—
…Que porra!!
Minha desculpa funcionou mesmo?
E ele já virou discípulo do diretor?!
Parece que o enredo avançou.
Mesmo assim, ele forçou um sorriso educado. "Oh? Então, parabéns, né."
Desaparece logo. Não estou com humor pra papo.
Ray deu de ombros. “Tudo bem. Mas valeu mesmo.”
Então, antes que Ash pudesse relaxar—Ray passou por ele, indo direto a Elysia.
Uma sensação estranha apertou na garganta de Ash, secando sua boca.
Seu maxilar se fechou, uma sombra escurecendo seus pensamentos.
Antes era diferente.
Porque eu não sabia.
Mas agora, sei.
Agora que descobri que Elysia é Nancy—a minha Nancy—como diabos posso ignorar isso?
Seus dedos tremeram ao lado do corpo, ansiosos para agarrar algo—o pescoço de Ray, a gola dele, qualquer coisa para aliviar a frustração que fervia por dentro.
Ela era alguém preciosa pra ele, quer admitisse ou não.
Se alguma coisa acontecesse no futuro—se inimigos descobrissem a conexão deles—ela seria a primeira alvo.
E se aquele dia chegar…
Se ele for fraco demais para impedir—
O próprio pensamento fez seus dedos cerrar. Seu coração desacelerou, a mente se aguçando numa concentração fria.
Não. Não vou deixar que isso aconteça.
Se ficar longe dela a mantém segura, que assim seja.
E ainda—
Seus olhos se voltaram para Ray, que se aproximava cada vez mais, com seu passo tranquilo, expressão descontraída—totalmente alheio ao perigo que atraía como um ímã de porcaria.
Ray não era o problema.
O problema era que Elysia era demasiado gentil, confiava demais.
Ela não o afastaria.
E quanto mais ela ficasse perto dele, maior o risco de estar em perigo.
Ash apertou os punhos, as unhas afundando na palma das mãos.
Mesmo dizendo a si mesmo para ficar afastado—
Mesmo sabendo que era melhor assim—
Pela primeira vez em duas vidas—
Ash sentiu uma vontade de matar.
Não era só possessividade.
Era algo mais profundo.
Algo primal.
Algo que sussurrava—meu.
Sua mão se moveu antes mesmo de a cabeça processar.
Justo quando Ray estava quase passando, Ash o segurou firmemente.
Ray franziu a testa, virando levemente a cabeça, com os olhos estreitados. "O quê?"
Ash não piscou. Sua voz foi baixa, controlada. "Pra onde você vai?"
Ray aprofundou a expressão. "Como assim?"
Ash manteve o olhar, com expressão enigmática, mas havia algo na postura dele—algo rígido, tenso.
"Por que veio para a academia?"
As sobrancelhas de Ray se franziram, confusão passando por seu rosto. "O que—"
"Concentre-se no que veio fazer aqui." A voz de Ash mergulhou, mais baixa agora, mas afiada. Uma advertência de neutralidade. "Vai ser melhor pra você."
Justo quando ia concluir—
Fique longe dela.
Uma mudança repentina no ar o interrompeu.
Foi instantâneo.
Como uma onda que quebra, uma pressão invisível se instalou na sala.
O ar ficou espesso—não com magia, mas com algo cru, algo que comandava. Pressionava cada centímetro de espaço, atraía olhares, mandava atenção.
Uma presença.
Uma força que não precisava exigir respeito—porque já tinha isso.
O silêncio engoliu a sala.
todos olharam na direção dele.
Um homem entrou.
Seus movimentos eram precisos, deliberados—cada passo carregando um peso inabalável.
Ele não precisava falar.
Sua presença bastava.
Instrutor Leonard.
Um Caçador de Rank Lendário aposentado.
Postura ereta, expressão de ferro. Sua túnica de combate, sem mangas e prática, exibindo braços marcados por cicatrizes—cada uma uma história de batalhas enfrentadas e superadas.
Um suspiro silencioso quebrou o silêncio.
Ray recuou, colocando as mãos nos bolsos. "Sei."
E saiu caminhando.
Ash respirou fundo tranquilamente.
Mas Elysia—
Ela tinha percebido.
Seu olhar ardia ao seu lado, cheio de perguntas não ditas.
"Formem fila."
A voz do instrutor Leonard cortou o ar—fria e autoritária—interrompendo os pensamentos dela.
Ninguém ousou desobedecer.
Quando os alunos se organizaram, seus olhos afiados passaram por eles.
"Antes de começarmos, todos vão trocar por seus uniformes de treino padrão."
Com um movimento de mão, um suporte apareceu—fileiras de uniformes dobrados surgindo do nada.
"Os vestiários são ali. Têm cinco minutos."
Ninguém hesitou.
Os estudantes se moveram, murmurando baixinho enquanto examinavam os uniformes.
Mas Ash?
Ele já estava se movendo.
Cinco minutos depois—
A atmosfera mudou.
A tensão derreteu em expectativa.
Os alunos voltaram dos vestiários, vestindo os novos uniformes.
O ajuste era justo—feito para facilitar os movimentos. O material era resistente, mas flexível, aumentando a mobilidade e oferecendo proteção.
Mas além disso—
Revelava a diferença entre os treinados e os sem treino.
O uniforme destacava postura, força e controle. O poder natural em alguns, a rigidez na inexperiência em outros.
E então—
As alunas retornaram.
Silêncio se instaurou.
Alguns rapazes desviaram os olhos, tentando—e falhando—ser discretos.
Alguns engoliram em seco.
Embora práticos, os uniformes ajustavam-se às delas tão bem quanto às dos meninos.
E entre elas, algumas se destacaram—
Melissia, Grace, Lyra e... Elysia.
As sobrancelhas de Ash se mexeram.
O uniforme preso a elas como uma segunda pele, destacando suas pernas longas e fisiculturais._
A forma como seus cabelos coloridos caíam pelas costas as tornava ainda mais etéreas.
E, pior de tudo—
Todo.
Só.
Rapaz.
Estava.
Olhar.
Fixo.
Os dedos de Ash se fecharam em punhos.
Porra.
Sua irritação subiu, mas sua expressão permaneceu neutra.
Seus dedos se cerraram um pouco mais.
Não em raiva.
Nem em ciúmes.
Mas em aborrecimento.
Sabia que eles podiam ser mais discretos.
Só que tudo bem.
Sabia que não era culpa deles. É da natureza humana notar beleza, assim como era natural que Elysia e as demais se destacassem.
Porém, respeito sempre deve vir antes de admiração.
Seus olhos se voltaram para alguns rapazes que mantinham olhares longos demais.
Memorizou todos os seus rostos.
Sua atenção foi interrompida quando a voz do instrutor Leonard cortou a atmosfera de tensão.
"A roupa de combate é feita de uma fibra especial, infundida com metal condutor de mana," Leonard explicou.
"São feitas para treinar. Ao fornecer um pouco de mana, vocês podem aumentar o peso sobre o próprio corpo."
Seu olhar percorreu o cômodo.
"Podem usá-las até atingirem Rank Lendário. O ajuste de peso as torna excelentes para condicionamento."
A mente de Ash se acendeu.
Isso será útil para o meu treinamento.
"Elas são feitas principalmente para guerreiros, mas hoje, todos vão usá-las."
Leonard não esperou.
"Formem duplas para sparring."
A arena mudou de forma.
O piso liso e polido se transformou. Zonais de combate segmentadas surgiram, cada uma cercada por barreiras de mana.
Era um sistema bem planejado.
Sem espaço desperdiçado. Sem movimentos desnecessários fora das áreas designadas.
Os alunos imediatamente buscaram parceiros—alguns com amigos, outros procurando oponente digno.
Ash permaneceu imóvel.
Seu olhar afiado atravessou o cômodo.
Quem devo escolher?