
Capítulo 11
Poder das Runas
No dia seguinte
Um estádio enorme vibrava com vida. Estudantes preenchiam cada canto — alguns conversando animadamente, outros mexendo nervosamente as mãos, enquanto poucos permaneciam erguidos, transmitindo uma confiança silenciosa.
Por toda a extensão do continente humano, enormes telas holográficas transmitiam o evento ao vivo, exibindo imagens não só na cidade de Nexus, mas em todos os principais assentamentos.
Era o Exame de Entrada da Academia Estrelas da Luz.
Uma ocasião de grande importância que toda a humanidade aguardava ansiosamente.
Para o povo, não era apenas um teste.
Era o nascimento da próxima geração de Caçadores — aqueles destinados a enfrentar monstros e masmorras que ameaçavam seu mundo.
Porém, no meio daquela maré de crianças de doze anos ansiosas, uma figura destacou-se.
Ele não estava nervoso.
Ele não estava empolgado.
Estava calmo.
Calmo demais.
'Tudo exatamente como no romance.'
O olhar afiado de Ash varreu a multidão. Ele exalou as palavras: "Agora… cadê o Ray?"
Ele escaneou as fileiras intermináveis de jovens candidatos, mas só viu rostos desconhecidos. Dezenas e dezenas de crianças.
Com um suspiro, desistiu.
'Bem, mesmo que eu não tenha localizado ele, encontrei alguém familiar.'
Algum pouco mais distante, seus olhos fixaram-se em uma garota — cabelos prateados, olhos vermelhos como sangue, uma beleza delicada tão pura e etérea que parecia quase intocável.
Havia uma inocência em sua expressão que fazia as pessoas, instintivamente, querer protegê-la.
A beleza dela era comparável à de Melissia.
Talvez até maior.
Elísia Luz da Lua
'Mas tem algo estranho.'
No romance, Elísia fora uma plebeia que perdera os pais cedo. Essa tragédia a moldara uma garota fria e distante, que mantinha todos à distância.
O protagonista passara incontáveis esforços para romper suas barreiras emocionais após se apaixonar por ela à primeira vista, dedicando-se a amolecer seu coração gelado.
Então…
'Por que ela parece tão tímida e gentil?'
Ele observou enquanto um grupo de Meninos rodeava-a, tentando a sorte.
E, ao invés de calá-los com seu olhar gelado característico, ela sorriu e os rejeitou.
Com educação.
Se ela tivesse a mesma personalidade do romance, esses garotos certamente estariam congelados até agora.
'Será que minha existência já causou um efeito borboleta?'
'Mas eu não fiz nada de importante... Será que fiz?'
'Não… espera, espera, espera… por que ela—'
Seus pensamentos foram abruptamente interrompidos.
O ar mudou.
Todo o estádio silenciou ao descerem sobre eles uma presença esmagadora.
Um peso que chicoteava suas mentes — não com força bruta, mas com sussurros insidiosos.
Uma pressão sutil e persuasiva que se infiltrava em seus pensamentos.
Desista.
Fique Sós.
Vire-se e vá embora.
Esqueça este teste. Vá para casa. Durma.
Qual o sentido de ficar forte?
Por que fazer amigos?
Você está bem sozinho.
No final, eles vão morrer como ela.
A mandíbula de Ash se fechou com força.
Encrave os dentes, maldito seja.
Seus próprios pensamentos se voltaram contra ele.
Porra… Não imaginei que fosse tão ruim. Ouvir seus próprios pensamentos se voltando contra si mesmo…
Ele apertou os punhos, seu corpo resistindo ao desejo de ceder.
Este era o primeiro teste mencionado no romance, pensou, os olhos escurecendo enquanto se equilibrava contra a força invisível que pressionava sua mente.
A persuasão se intensificou,
Os sussurros se entrelaçaram em seus pensamentos, insidiosos e implacáveis.
Para parar.
Esse caminho não leva a lugar algum.
Esqueça essa luta inútil.
Você não nasceu para a grandeza.
A respiração de Ash ficou mais pesada.
Seu coração batia forte, mais alto que os murmúrios, mais alto que o silêncio distante do estádio.
O peso que pressionava sua mente não era apenas sufocante — era como se estivesse se afogando.
Uma sensação nauseante crescia no estômago.
Uma sensação fria, lenta, como dedos arranhando seu próprio ser, tentando arrancar as finas camadas de força de vontade que o sustentavam.
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Por que estou aqui?
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Seus joelhos tremeram.
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Não seria mais fácil desistir?
A visão dele começou a ficar turva nas bordas, sombras confundindo-se com a luz. Cada pensamento parecia estranho, contaminado.
A mente dele não era mais dele.
Então—
Um leve brilho.
Calor se espalhou pelo peito, dispersando os fiapos gélidos do desespero.
O Runas da Estabilidade.
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Descrição:
-Concede a habilidade de manter o equilíbrio apesar de energias conflitantes no corpo, garantindo fluxo e controle suaves em situações voláteis. (Passivo)
-Aumenta a eficiência do fluxo de mana em 50%, resultando em uma magia mais fluida e potente. (Passivo)
-Acalma a mente, prevenindo agitações emocionais e dominando sentimentos negativos, permitindo manter clareza e foco mesmo em cenários de alta tensão. (Passivo)
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O símbolo gravado em sua alma acendeu-se, invisível ao mundo, mas queimando como um farol silencioso dentro dele.
Os sussurros sufocantes recuaram — não, eles ainda estavam lá, tentando distorcer sua mente, mas com um alcance mais fraco.
Ash respirou fundo.
Mais uma vez.
E outra mais.
Seus pensamentos caóticos se desfizeram, desenrolando-se como nós sendo desfeitos.
Seus dedos cerraram-se em punhos, as unhas cravando na palma da mão. A dor era aguda, aterradora, trazendo uma sensação de ancoragem.
Porém, seu corpo não vacilava mais. Sua respiração voltou ao ritmo normal.
Ele piscou, tentando recuperar a Clareza,
Então,
O estádio voltou ao foco.
Corpos espalhados pelo chão — crianças que desmaiaram, inconscientes. Outras cambaleavam, olhos vidrados, sucumbindo aos sussurros.
Algumas já estavam partindo, virando as costas, afastando-se como se o teste nunca tivesse existido.
Os olhos de Ash escureceram.
'Tudo igual ao romance.'
Ele exalou lentamente, com controle.
Então, ergueu a cabeça.
Flutuando acima do estádio, uma mulher irradiava uma aura avassaladora — tão poderosa que o próprio ar parecia tremer em resposta.
Ela era etérea.
Antinatural.
Quase divina.
Cabelos longos, negros, que caíam até a cintura, emoldurando um rosto tão deslumbrante que parecia irreal. Um corpo delgado, com curvas delicadas, vestida com um uniforme justo que destacava sua perfeição inumana.
Ela parecia jovem — talvez começo dos vinte anos — mas Ash sabia que era mais do que isso.
Vice-diretora da Academia Estrelas da Luz… Elva Quill.
Seu olhar afiado percorreu o estádio.
E então, por um breve momento—
Seus olhos cruzaram com os dele.
Um sorriso debochado surgiu nos lábios dela.
'Tsc.'
Ash imediatamente desviou o olhar.
'Por que ela está olhando pra mim assim?'
Algo nela parecia estranho.
Ela era uma personagem misteriosa no romance — uma Caçadora de classificação SS-Rank que há muito atingira um muro, incapaz de avançar mais. Era mencionada poucas vezes, sempre à sombra.
No entanto, diante dele agora…
Ela não era nada como uma personagem secundária.
'…Será que o romance não fez justiça a ela?’
Antes que pudesse pensar mais, a voz dela ecoou pelo estádio.
"Ora…"
A voz dela era suave, aveludada, carregando clareza sem esforço pelo lugar.
"Isso foi divertido."
Ela deu uma risadinha — baixa, melodiosa, quase provocativa.
"É sempre interessante ver como os estudantes reagem ao primeiro teste. Alguns desmoronam na hora. Outros lutam até o último segundo. E…"
Os olhos dela brevemente voltaram-se para Ash novamente.
"Alguns… simplesmente permanecem indiferentes."
Ash se endireitou.
Ele não gostava dessa atenção.
'Por que parece que ela fala de mim especificamente?’
Elva sorriu.
"De qualquer forma, vamos aproveitar para não perder mais tempo."
Os demais estudantes, ainda atordoados pelo que acabaram de passar, lentamente se endireitaram, tentando se recompor.
"Para quem ainda está de pé…"
Ela levantou uma mão, fazendo um movimento sutil de estalo com os dedos.
Uma pulsação de mana se espalhou pelo estádio.
De repente—
Todos os estudantes que haviam desmaiado desapareceram.
Suspiros de surpresa surgiram ao ver os corpos inconscientes sumirem num piscar de olhos.
Porém, Ash não se assustou.
"Magia de teletransporte."
Elva voltou-se para os estudantes restantes, com um brilho de satisfação nos olhos.
"Parabéns. Vocês passaram no primeiro teste."
Silêncio.
Depois, sussurros.
Alguns estavam confusos.
Outros aliviados.
Alguns, simplesmente, jamais reagiram, cansados demais.
A maioria dos meninos —
ainda olhava para ela como bobos.
Uma expressão de diversão surgiu nos lábios de Elva.
"Hmm?"
Ela colocou um dedo nos lábios, fingindo estar pensando profundamente.
"Ah, meus caros. Vocês ainda estão demais chocados comigo para responder?"
Alguns garotos ficaram vermelhos como tomates.
Outros tossiram e desviaram o olhar envergonhados.
Ela riu suavemente.
"Escutem, crianças."
Sua voz subitamente ficou afiada.
"Se acharem que ficar me encarando como uns cachorros apaixonados vai ganhar pontos extras…"
A atmosfera ficou tensa.
"…Estão muito enganados."
Alguns estudantes tremeram ao sentirem um peso invisível pressionar suas costas.
Ash continuou impassível.
Elva observou suas reações com diversão e, satisfeita, assentiu.
"Pois bem—"
Seu tom brincalhão voltou num instante.
"Vamos falar do exame."
Ela desceu com graça até alguns metros acima deles.
"O que vocês sentiram foi um simples teste de força de vontade. Não foi sobre força, nem sobre inteligência — foi sobre resistência mental pura e simples."
Ela inclinou a cabeça.
"Gostaria de saber… quantos realmente entenderam o significado por trás disso?"
Silêncio.
Então, um estudante — um garoto próximo à frente — hesitou e levantou a mão.
"Hum… foi para ver se somos fortes o suficiente para resistir a ataques mentais inimigos?"
Elva sorriu.
"Essa faz parte."
Ela deu um passo à frente no ar, cruzando os braços.
"Mas, mais importante, era para verificar se vocês se renderiam ou não a si mesmos."
Seu olhar percorreu a multidão.
"Todo grande Caçador enfrenta batalhas. Algumas contra monstros. Outras contra masmorras. Algumas—contra outros Caçadores."
Ela se inclinou um pouco para frente.
"Mas as batalhas mais difíceis?"
Sua voz baixou.
"São as travadas dentro da sua própria mente."
Um calafrio percorreu alguns estudantes.
Ash, no entanto, apenas observava.
'Ela sabe como comandar uma multidão.'
De repente, Elva bateu palmas.
"Muito bem! Isso é o bastante por hoje."
Seu tom brincalhão retornou.
"De agora em diante, faremos uma prova escrita."
Alguns gemidos de desânimo surgiram da plateia.
Elva sorriu.
"Ah, não está animado?"
Ela colocou uma mão na cintura, fingindo decepção.
"Achava que todos vocês eram estudantes ansiosos — prontos para provar seu valor em cada aspecto do treinamento rigoroso da academia."
Silêncio.
Depois, alguns risinhos nervosos.
Sorriso de Elva se alargou.
"Era disso que eu precisava ouvir."
Ela deu um passo para trás.
"Agora, para os que estão em pânico — não se preocupem. A prova escrita não vai abordar teoria avançada de magia. Afinal, a maioria de vocês nem sabe o que é magia."
Alguns estudantes suspiraram de alívio.
Elva deixou o momento se prolongar —
Então—
Seu sorriso afiado se intensificou.
"Ah, mas não se relaxem demais."
Ela levantou um dedo, brincando com um fio do cabelo.
"A prova vai… bem, diga-se de passagem… ser… bastante inesperada."
Os estudantes ficaram tensos.
Ash estreitou os olhos.
'Ela está brincando com eles de propósito.'
Elva riu.
"Não se preocupem. Vocês vão descobrir em breve."
Então—
Sem aviso—
Ela desapareceu.
Um instante de silêncio passou.
Depois—
Todo o estádio explodiu em conversas nervosas.
Ash exalou.
'Aquela mulher…'
Ele não sabia se era apenas a personalidade dela, ou se ela tinha realmente se interessado por ele.
De qualquer forma—
Ele tinha uma sensação ruim sobre ela.
E sensações ruins… geralmente, eram corretas.
***
Nota do autor: Desculpem por ter pulado um capítulo ontem! Agradeço pela paciência e pelo apoio de sempre. Outros capítulos virão em breve! 🙏📖🔥