
Capítulo 9
Poder das Runas
"Ding"
Ash saiu da loja, as portas automáticas se fechando suavemente atrás dele. Ajustou a sacola em suas mãos, cheia de comida.
Vestindo uma camisa branca simples e calças pretas, ele se misturava facilmente à multidão.
Nunca imaginei que, depois de transmigrar para um mundo novo, estaria fazendo tarefas para um garoto, pensou, uma leve carranca se formando nos lábios. Seus ombros relaxing um pouco enquanto suspirava.
'Bem, tecnicamente, agora também sou uma criança.'
Ele respirou fundo, balançando a cabeça.
Há duas semanas, pediu à Melissia que o ensinasse a controlar seu mana avassalador. Agora, com apenas uma semana para o exame de ingresso na academia, sentia-se dividido entre frustração e progresso.
'No começo foi difícil, mas agora estou me acostumando', refletiu, seus dedos apertando levemente a alça da sacola.
Lembrou-se da primeira vez que tentou criar um simples raio de relâmpago no carro. Seu mana havia se inflamado descontroladamente, e o resultado foi um fiasco completo.
Mesmo após as explicações de Melissia, controlar o mana parecia uma luta constante, como tentar segurar água com as mãos abertas — sempre escorrendo pelos dedos.
'Droga. O mundo dos gênios é mesmo diferente', pensou, os lábios comprimidos numa expressão de determinação.
'Quem diria que Nyra acabaria vindo me ensinar no final.'
O maxilar de Ash travou brevemente ao recordar as palavras duras de Nyra.
"Você não é inteligente o suficiente para entender as explicações da Miss Melissia", ela dissera, com um tom tão casual como se estivesse falando do tempo.
Engolindo o orgulho, deixou que ela o ensinasse como quem aprende a escrever. Se sobreviver significava suportar alguns golpes no ego, assim fosse. Seu progresso era lento, mas constante. Agora, pelo menos, conseguia controlar o mana — de maneira desajeitada.
Feitiços de verdade, no entanto, eram outra história. Para isso, era preciso uma formação na academia, uma herança familiar ou livros de habilidades raras.
Ele podia, porém, criar um relâmpago básico, embora fosse considerado magia de nível zero.
Estranhamente, o dano causado por sua magia era maior do que o normal. Mesmo após verificar seu status, não encontrou explicação.
'Acho que vou descobrir isso com o tempo.'
Deixando a ideia de lado, suspirou.
"Realmente não entendo garotas", murmurou. Seus passos desaceleraram, como se estivessem pesados por seus pensamentos. "Se você é um gênio, curta isso. Por que ficar se gabando na cara dos outros?"
A verdade é que, controlar o mana ainda parecia estranho para ele. Faz menos de um mês desde sua transmigração, e ele ainda lutava para se adaptar à nova realidade.
Não entendia como os protagonistas transmigrados dos romances conseguiam controlar o mana com tanta facilidade,
Olhou para a cidade movimentada ao seu redor, apreciando as vistas às quais já se acostumara ao longo das últimas semanas.
'Este mundo é realmente avançado', pensou Ash, seu olhar percorrendo os arranha-céus imponentes.
As superfícies de vidro reluziam sob a luz do sol, com padrões rúnicos suaves brilhando nas bordas — uma mistura perfeita de magia e arquitetura.
As ruas tinham vida própria. Veículos movidos a mana pairavam silenciosamente no céu, com designs elegantes que davam à cidade um ar futurista.
Uma lâmpada de rua flutuante acima pulsava suavemente com uma luz azulada, seu núcleo de cristal imbuído de magia, projetando uma luz constante sobre as calçadas.
Por um momento, a expressão de Ash suavizou, um brilho de admiração cruzando seu rosto. Apertou ainda mais a sacola e retomou a caminhada.
"É como se magia e ciência tivessem se apaixonado e construíram uma cidade juntas", refletiu, um leve sorriso travando nos cantos da boca.
Quando chegou, sua prioridade era sobreviver, então pouco tinha observado além das primeiras impressões.
Mas agora, ao notar tudo com mais atenção, não podia negar o quão avançada era essa civilização.
"Não imaginei que fosse tão desenvolvido", murmurou Ash para si mesmo, franzindo o olhar de maneira pensativa.
Lembrou-se de quando chegou pela primeira vez e se perguntou por que a filha de um Santo viajava em um carro flutuante.
Com uma mage de espaço na família, a teleporte seria a escolha lógica. Até Nyra, com sua afinidade com o espaço, poderia facilmente os levar até a Academia em um instante.
Mas, ao perguntar, descobriu o motivo — Melissia simplesmente preferia viajar de carro.
'Ai... nem sei mais o que dizer', pensou, seus passos desacelerando por um momento, as sobrancelhas franzidas.
Xingou-se internamente pelo fracasso em conseguir a sua segunda runa antes do exame, mas...
'Aquela maldita criança teve que aparecer e estragar tudo.'
Seu aperto na sacola ficou mais forte, os nós dos dedos ficando brancos.
'Até a Nyra tem afinidade com espaço. Se ela quisesse, poderia me levar direto para Ironhold.'
Porém, Nyra era inabalável — irritantemente assim. Sua lealdade a Melissia era absoluta, como uma cavaleira fiel ao seu senhor.
'Se essa runa não fosse sua primeira, eu não teria apressado tanto assim', pensou, o rosto escurecendo.
A runa de Ironhold — seria a primeira do protagonista, conquistada na primeira semana da academia.
Ash quis lá pegar cedo, para eliminar incertezas. Mas, quando chegou, sua prioridade era sobreviver, não estratégia.
A Runha da Estabilidade foi sua única saída para manter-se vivo.
Sobrancelhas franzidas, seus passos pesaram ainda mais.
'Poderia ter usado meu conhecimento do romance para chantagear aquelas duas mulheres', pensou, uma ideia que deixou um gosto amargo na boca.
Porém, seu punho relaxou, e ele balançou a cabeça levemente.
'Informação sem poder para protegê-la... é como um rico dormindo na casa de ladrões', lembrou-se.
Sim, ele poderia manipular as duas com o que sabia. Mas as consequências? Viraria alvo, alguém misterioso e suspeito. Esse não era o tipo de drama que queria.
'Quero que minha identidade como Ash Burn seja só um estudante comum — nada mais.'
Qualquer outra coisa, faria sob um nome diferente.
Por isso, contou a Melissia e Nyra que tinha uma classe de mago. Era melhor esconder sua classe única e frequentar a academia como um mago comum.
Sua classe especial continuaria um segredo, algo que ele usaria com uma identidade diferente.
Mas, para isso, precisava de algo mais — algo do baú da família Ravencroft.
Primeiro, amaldiçoou sua má sorte por se envolver com Melissia. Mas, quanto mais pensava, mais via aquilo como uma oportunidade.
Mesmo assim —
'Vou me vingar.'
Um sorriso lento se curvou nos lábios dele.
'Vou fazer ela me mandar fazer tarefas também.'
Seu sorriso de determinação se abriu enquanto voltava em direção ao carro.
***
"Por que você demorou tanto só para comprar comida?", perguntou Melissa, com uma voz que parecia uma patroa repreendendo uma funcionária incompetente.
Ash suspirou internamente, "Às vezes, eu até curto o drama que ela inventa o dia todo... mas também é exaustante."
"Só estava passeando", respondeu calmamente, entregando a comida e se acomodando no assento.
Assim que se sentou, o carro acelerou suavemente para frente.
Ash recostou-se e esticou os dedos.
Conjurou uma pequena bola de relâmpago, observando-a piscar entre seus dedos. No começo, conseguia formar apenas uma com total concentração. Mas, após treinar bastante, conseguiu fazer quatro ao mesmo tempo.
Os olhos de Melissa se estreitaram. "Tch. Parece patético. Eu provavelmente faria dez dessas ao mesmo tempo."
Ash soltou uma risada debochada, deixando a segunda bola se apagar aos poucos.
Melissa ergueu uma sobrancelha, seu sorriso se ampliando como se percebesse sua irritação. Ash rapidamente se controlou, murmurando para si mesmo: "Filho da mãe".
"O que você disse?" ela perguntou, com um olhar cortante como uma lâmina de aço.
"Nada", respondeu Ash com facilidade, mantendo uma expressão calma, embora uma pontada de irritação brilhando em seus olhos.
'Já virou habito — ela sempre encontra uma maneira de me tirar do sério', pensou, um pequeno sorriso amargo nos lábios.
Sabia que não conseguiria sua segunda runa antes do exame, então decidiu focar em lutar como um mago.
E havia a possibilidade de criar habilidades.
Deveria criar uma habilidade agora ou esperar? Com apenas a Runha da Estabilidade, ele não tinha certeza se valia a pena.
Por ora, decidiu esperar. Se a situação exigisse, criaria uma habilidade. Caso contrário, a paciência seria melhor.
E assim, seus dias passaram — praticando controle de mana, esperando sua recuperação, fazendo tarefas para Melissa e dormindo à noite.
Até que, finalmente —
Chegaram à Nexus City.
O coração do Continente Humano.
Uma cidade construída para treinar as futuras gerações da humanidade.