Poder das Runas

Capítulo 8

Poder das Runas

[Ponto de vista de Melissia]

Melissia olhava pela janela, com a mente em tumulto.

Ela não tinha certeza do motivo de estar tão irritada.

Não costumava se irritar com o que um plebeu dizia para ela. Por uma vez, era a única filha de um poder de classificação santificada e futura cabeça da Família Ravencroft.

Porém, algo em Ash a incomodava. Ele era fraco… Pateticamente fraco.

Ele não controlava bem seu mana, mas seu nível de magia era superior ao de uma pessoa comum.

No entanto, o que a perturbava não era isso — ela sabia que era uma gênio e que pessoas fracas existiam em todos os lugares.

Não, o problema era a forma como ele falava com ela, mesmo sabendo quem ela era.

Fazia seu sangue ferver.

Quero socá-lo até ficar sem forças.

O olhar gelado que ele lhe lançou, a maneira como falou — era como se ele não temesse ela. Ou como se soubesse que ela não o mataria.

Isso não me agrada.

Por que ele agia tão calmo? Tão impassível? E por que se recusava a se curvar às suas vontades como todos os outros?

Ele a chamou de mimada e isso doeu mais do que ela gostaria de admitir. Mas por quê? Não era como se ela nunca tivesse sido chamada de coisas piores antes.

Era simplesmente… aquela sensação de que, ao olhar pra ela com aqueles olhos, como se enxergasse dentro dela, como se ela fosse apenas mais uma peça no quebra-cabeça que ele tentava montar.

Ele a observava como se soubesse o que ela ia fazer, e isso a deixava desconfortável. Por isso que ela chorou.

Não era de seu feitio mostrar um lado tão vulnerável, especialmente para um garoto.

Ela estava confusa.

A maioria das pessoas a olhava como se ela fosse algo especial.

Uma prodígio.

Uma futura governante.

Uma força a ser considerada.

E ela gostava disso.

Gostava de ser vista assim.

Mas Ash? Não. Ele mal reagia.

Tratava ela como uma criança normal.

Quando tentou jogar seus jogos habituais, tentando fazer com que ele pedisse desculpas, ele não hesitou.

Ele não caía em suas manipulações. A maioria das pessoas ficava aterrorizada com seu temperamento, com o fogo que poderia destruí-las num instante.

Mas Ash? Ficava ali, apenas de pé.

Mesmo depois de pedir desculpas, parecia que ele fazia tudo aquilo só para fugir da situação.

Ele até desviou de seu ataque, mesmo sendo fraco.

Embora fosse o ataque mais básico dela.

Irritava-a profundamente.

Aquele filho da mãe chamou ela de fofa, ela pensou, com o rosto aquecido contra a sua vontade.

Fofa.

A palavra ressoou na cabeça dela, cada vez mais alto. Nenhum garoto jamais tinha dito aquilo para ela antes, mas a vergonha logo foi substituída por uma raiva renovada.

Era quase como se ele fosse quem estivesse no controle, como se ela não tivesse medo dele. Como ele conseguia fazer isso?

Ela odiava o jeito como ele a fazia sentir—confusa, envergonhada, irritada, arrependida—tudo ao mesmo tempo. Era como se ela não tivesse mais controle sobre si mesma perto dele.

Não costumava perder o controle, especialmente com uma coisa tão trivial quanto um menino.

Desde pequena, lhe ensinaram a manter a compostura, a ser uma dama poderosa e digna do que todos esperavam dela. Mas Ash? Ele a fazia se sentir… pequena.

Aquele filho da mãe…

Ele é um idiota, ela murmurou para si mesma.

Ele é apenas um idiota.

E ainda assim, lá estava ele, sorrindo como um idiota, rindo de algo que ela não podia nem ver.

O que há de tão engraçado?

Ela olhou fixamente para ele, seu olhar se estreitando.

Sua irritação só crescia enquanto o via fixar o olhar vazio no ar, como se nada no mundo importasse. E então—então—ele murmurou algo embaixo da respiração, de um jeito tão suave que ela não conseguiu ouvir.

"O quê?" ela perguntou rótula, com sua voz cortante.

Ele respondeu educadamente, com a voz tão calma quanto antes.

Depois daquele momento embaraçoso (chorando), ele vinha tratando ela como uma princesa, mas aquilo a irritava ainda mais.

Mesmo sendo respeitoso, seus olhos diziam o contrário. Seus olhos—pareciam como se estivesse assistindo a uma peça divertida acontecer.

Isso a deixava ainda mais chateada.

Mas algo mais impossível aconteceu.

"Ei, senhorita Melissia," ele chamou.

Ela lhe respondeu com frustração, esperando o que viria a seguir.

"O quê?" ela respondeu secamente, com uma ponta de impaciência na voz.

Mas, então, as próximas palavras dele destruíram toda sua raiva.

"Você pode me ensinar a controlar meu mana? Sou iniciante."

O coração de Melissia pulou uma batida ao ouvir as palavras dele, e ela se pegou piscando surpresa.

O quê?!

Ash. Ash—a pessoa rude e fria, que agia como se ela não importasse—estava pedindo ajuda? Dela? De todas as pessoas? Que coragem.

Ela tentou manter a expressão neutra, mas por dentro, sua cabeça começou a girar.

Ensinar ele? Uma prodígio ensinando um plebeu?

Seu primeiro instinto foi rir. Seria algum tipo de pegadinha? Ele devia estar zombando dela, certo?

Mas então, algum sentimento diferente surgiu no fundo dela.

Ele fala sério?

Seu olhar subiu para ele, estudando seu rosto em busca de sinais de engano.

Sem sorriso de deboche.

Sem segundas intenções nos olhos dele.

Apenas um olhar calmo, quase distante. Será… que ele está sendo sincero?

Huh.

Ela engoliu em seco, a irritação crescendo. "Você fala sério?" Sua voz saiu baixa, com uma leve ponta de sarcasmo, mas uma curiosidade estranha começava a surgir nela.

Por que ele pediria isso a mim?

O questionamento girava na sua cabeça.

Ele é realmente tão ruim com mana?

Ela nunca o viu lutar, e pela cena passada na frente da mina, parecia que ele era bom em combate físico.

'Será que essa é uma oportunidade?'

Um leve sorriso surgiu nos lábios dela, embora sua mente já estivesse correndo. Se ele estivesse realmente pedindo ajuda, isso significava que ele estava vulnerável.

E Melissia… ela vive para o poder. A ideia de ter esse tipo de vantagem sobre alguém como Ash acelerou seu coração.

Ela poderia ajudá-lo. Mostrá-lo como controlar seu mana, e então — talvez — usar isso a seu favor.

Porém,

"Por que eu?" ela perguntou agudamente, levantando uma sobrancelha. "Você tem gente suficiente para procurar. Por que veio falar comigo?"

Sua voz carregava uma mistura de desconfiança e interesse genuíno. Raro alguém procurar ela, de verdade, por ajuda.

Na maioria das vezes, as pessoas estavam ocupadas demais tentando bajulá-la ou usar seu status como arma. Ash não era assim, e isso a desconcertava.

Ela cruzou os braços, tentando esconder a breve faísca de incerteza que passou por seu rosto.

Ela não podia se dar ao luxo de mostrar fraqueza. Não agora, depois de tudo que aconteceu.

Ele a encarou sem hesitação.

"Se você não tivesse me sequestrado, eu não teria pedido. Mas os humanos precisam se adaptar, e agora quero aproveitar essa oportunidade para aprender. Você não vai me deixar sair, então quero tirar o máximo dessa situação."

Sua resposta calma só agravou sua confusão. Ela procurou em seu rosto algum sinal de zombaria, mas nada encontrou. Sua expressão permaneceu séria, o tom sincero.

"Rei a classe Maga," continuou, "mas não sei nada sobre ela. E quem melhor para aprender do que a Prodigiosa do Mana?" Sua voz era firme, quase respeitosa. "Por favor, me ensine."

Os lábios de Melissia se contorceram numa sobrancelha convencida. "Você não sabe que está aqui para me servir, e não o contrário?" ela retrucou, com tom de zombaria.

Mas as próximas palavras dele destruíram a atmosfera de arrogância como gelo se quebrando sob os pés.

"Por que não fazemos uma aposta, Melissia?" Ash disse, com um tom assustadoramente calmo. "Ensine-me a controlar meu mana, e eu passo na prova de entrada. Se eu falhar, serei seu servo pelo resto da vida. Mas se eu passar… você me deve um favor."

O carro ficou em silêncio. Até Nyra olhou para trás, com interesse aguçado.

Os olhos de Melissia se arregalaram. Sua primeira reação foi de incredulidade.

Ele… ele acabou de me chamar pelo meu nome?

Seu sangue fervia. Como ele ousa!

Porém, enquanto a raiva a dominava, outra emoção surgiu — um lampejo de algo que ela não conseguiu identificar. Isso a deixou insegura, ferindo sua compostura.

Sua expressão ficou congelada, entre a fúria e algo que ela não soube precisar.