
Capítulo 17
Verme (Parahumanos #1)
Na avaliação de Victoria Dallon, poucas coisas eram mais iradas do que voar. O campo de força invisível que se estendia alguns milímetros acima de sua pele e roupas tornava tudo ainda melhor. O campo impedia que o frio mais intenso tocasse-lhe a pele, mas ainda permitia que ela sentisse o vento no rosto e nos cabelos. Insetos não espirravam contra seu rosto como fazem nos para-brisas de carros, mesmo quando ela atingia oitenta milhas por hora.
Ao avistar seu alvo, ela exclamou e mergulhou em direção ao chão, ganhando velocidade onde qualquer outro estaria desacelerando. Ela bateu forte no asfalto, o suficiente para rachá-lo e lançar fragmentos ao ar, tocando o chão com o joelho e o pé, com um braço estendido. Ficou naquela posição de joelhos por alguns poucos segundos, deixando seus cabelos platinados e o capa que estava jogada sobre um dos ombros esvoaçarem na corrente de ar que a acompanhava na descida. Ela encarou o olhar do seu alvo com uma expressão de aço.
Ela havia praticado aquela aterrissagem por semanas para acertá-la perfeitamente.
O homem era um caucasiano de vinte e poucos anos, de cabeça raspada, camisa social de mangas arregaçadas, jeans e botas de trabalho. Ao vê-la, ele saiu correndo sem olhar pra trás.
Victoria sorriu ao vê-lo desaparecer na extremidade do beco. Ela se levantou, sacudiu a poeira e ajeitou os cabelos com os dedos. Depois, levantou um pé do chão e voou atrás dele a uns quarenta e cinco milhas por hora, num ritmo tranquilo.
Não precisou de um minuto para alcançá-lo, mesmo com a vantagem de tempo que lhe dera. Ela passou por ele, roçando seu corpo. Em um instante, parou bruscamente, de frente para ele. Novamente, o vento criou um efeito dramático ao agitar seus cabelos, a capa e a saia do traje.
“A mulher que você atacou se chama Andrea Young,” ela falou.
O homem olhou por cima do ombro, como se avaliasse suas rotas de fuga.
“Nem pense nisso, feioso,” ela disse, “Você sabe que eu te pegaria, e pode confiar, eu já tô furiosa o suficiente sem você desperdiçar meu tempo.”
“Eu não fiz nada,” ele rosnou.
“Andrea Young!” Victoria elevou a voz. Enquanto gritava, usou seu poder. O homem recuou, como se ela tivesse lhe dado um tapa. “Uma estudante negra foi agredida tão brutalmente que precisou de atendimento médico! Tiraram os dentes dela! Você tá tentando me convencer de que você, um skinhead com os punhos inchados, alguém que estava na multidão assistindo aos paramédicos chegarem com uma expressão quase jubilosa, não fez nada!?”
“Eu não fiz nada importante,” ele zombou. Sua arrogância foi quebrada ao lançar um olhar de relance por cima do ombro, como se quisesse estar em outro lugar naquele exato momento.
Ela avançou, cerrando os punhos ao pegar o colarinho dele. Por um momento, pensou em empurrá-lo contra a parede de tijolos até rachá-la e, em seguida, jogá-lo na lixeira ao pé da parede. Mas, em vez disso, recuou um pouco, fazendo-os parar no ar. Agora estavam a uma altura suficiente para ele sentir-se desconfortável com o próprio porte. A lixeira, quase vazia, ficava logo abaixo dele, mas ela duvidava que ele estivesse prestando atenção em qualquer coisa além dela.
“Acho seguro afirmar que você é membro da Empire Eighty-Eight,” ela disse, fixando os olhos nele com dureza, “ou pelo menos, tem alguns amigos que são. Então, vamos ao que interessa: ou você me conta tudo o que os triplo-E estão fazendo, ou eu quebro seus braços e suas pernas e, então, você me conta tudo.”
Enquanto falava, aumentava seu poder. Ela soube que estava funcionando quando ele começou a contorcer-se, tentando evitar seu olhar.
“Vai se foder, você não pode me tocar. Tem lei contra isso,” ele falou, fixando o olhar para um lado, nervoso.
Ela elevou ainda mais sua energia. Seu corpo vibrou com uma corrente de energia — ondas de força que qualquer um próximo a ela sentiria como uma carga emocional de admiração ou medo. Para aqueles que tinham motivo para temer, seria uma sensação de intimidada pura e simples.
“Última chance,” ela avisou.
Infelizmente, o medo afeta cada um de um jeito diferente. Para este idiota, só piorou sua teimosia. Ela notou isso na linguagem corporal dele antes mesmo de abrir a boca — era um cara que reagia a qualquer coisa que o assustasse ou perturbasse com uma resistência quase automática, como se fosse uma resposta mútua.
“Vai chupar minha bola peluda e suada,” ele rosnou, finalizando com um baba, “Vadia.”
Ela o lançou pelo ar. Como ela conseguia levantar coisas pesadas com facilidade, uma jogada casual já era suficiente para alcançar uma boa distância — ele voou uns vinte e cinco, trinta metros pela estrada de trás antes de bater no asfalto, rolando por mais dez.
Ele ficou completamente imóvel tempo suficiente para Victoria se preocupar se ele tinha quebrado pescoço ou coluna ao rolar. Ela respirou aliviada quando ouviu um gemido e viu-o começar a se levantar cambaleando.
“Pronto pra falar?” ela perguntou, sua voz ecoando no beco. Ela não avançou, apenas deixou-se cair mais perto do chão.
Com uma mão apoiando a perna dele enquanto se endireitava, ele levantou a outra, fazendo o dedo do meio para ela e virou-se, mancando pela entrada do beco.
Que diabos ele tava pensando? Que ela ia apenas deixá-lo ir embora? Que, o quê, ela aceitaria sua falta de senso de preservação? Que ela era incapaz de fazer mal a ele de verdade? Ainda por cima, ele ia insultá-la e tentar sair andando?
“Vai se foder também,” ela sussurrou entre os dentes. Então, chutou a lixeira com força suficiente para fazê-la voar pela rua. Ela girou preguiçosamente no ar, arremessada na direção do homem que recuava, a trajetória e o giro quase inalterados, até acertá-lo em cheio e fazê-lo cair de costas. Ela escorregou por mais três a cinco metros além dele, com as laterais metálicas do lixo chiando e faíscando ao raspar no asfalto.
Dessa vez, ele não se levantou.
“Droga,” ela amaldiçoou, “Foda, foda, foda.” Ela voou até ele, verificou o pulso e suspirou, então foi até a rua mais próxima. Encontrou o endereço, pegou o celular na talabarda e discou.
“Oi, mana? Sim, eu achei ele. É, meio que... o problema. É, desculpa, podemos conversar isso depois? Tô na Spayder com Rock, tem uma ruazinha que passa atrás dos prédios. Perto do centro, mais ou menos. É, valeu.”
Victoria voltou ao skinhead inconsciente, verificou o pulso e escutou atentamente as mudanças na respiração dele. Demorou um longo e tranquilo cinco minutos até a chegada da sua irmã.
“De novo, Victoria?” a voz a interrompeu da contemplação.
“Usa meu codinome, por favor,” pediu Victoria à garota. Sua irmã era completamente diferente dela: onde Victoria era linda, alta, maravilhosa, loira, Amy era meio desajeitada. O traje de Victoria mostrava sua silhueta, com vestido branco justo até a metade da coxa (com shorts por baixo), capa sobre o ombro, botas altas e uma tiara dourada com pontas que irradiavam, lembrando raios de sol ou a Estátua da Liberdade. O traje de Amy, por outro lado, quase parecia um burca: uma túnica com capuz grande e um lenço cobrindo a metade inferior do rosto. A túnica era branca como alabastro, com uma cruz vermelha de médico no peito e nas costas.
“Nossas identidades são públicas,” respondeu Amy, puxando o capuz para trás e o lenço, revelando cabelos castanho-crespos e um rosto com sardas bem distribuídas.
“É pelo princípio,” retrucou Victoria.
“Quer falar de princípios,, Glory Girl?” perguntou Amy com sarcasmo, “Já foi a sexta — sexta! — vez que você quase matou alguém. E eu só sei disso!”
“Sou forte o suficiente pra levantar um SUV com a cabeça,” murmurou Victoria, “É difícil sempre se segurar.”
“Tenho certeza que a Carol acreditaria nessa história,” disse Amy, deixando claro que não acreditava, “Mas eu te conheço melhor do que ninguém. Se você tá tendo dificuldade de se controlar, o problema não é aqui —” ela cutucou o bíceps de Victoria, “— é aqui—” ela bateu na testa da irmã com força. Victoria nem piscou.
“Olha, será que você podia salvar ele?” ela pediu.
“Tô pensando que não,” respondeu Amy, baixinho.
“O quê?”
“Tem consequências, Vicky. Se eu te ajudar agora, o que impede você de fazer outra vez? Posso chamar os paramédicos. Conheço gente boa no hospital. Eles provavelmente podem arrumar ele direitinho.”
“Ei, ei, ei,” disse Victoria, “Não é brincadeira. Se ele for pro hospital, a polícia pergunta, e aí? Vão acabar descobrindo quem a gente é. Isso não é bom pra gente nem pra nossa família, toda a Nova Onda. Tudo que a gente construiu.”
Amy franziu a testa e olhou para o homem caído.
“Sei que você não curte muito essa coisa de herói, mas realmente ia até esse ponto? Você faria isso com a gente? Comigo?”
Amy apontou o dedo para a irmã. “Não é isso. Não sou eu. Não é minha culpa que chegamos a esse ponto. É você. Você tá cruzando limites, indo longe demais. E é exatamente isso que as pessoas que criticam a Nova Onda têm medo. A gente não é apoiada pelo governo. Não somos protegidas, organizadas ou regulamentadas do mesmo jeito. Todo mundo sabe quem somos por baixo das máscaras. Isso quer dizer que temos que ser responsáveis. A coisa mais certa a fazer, como membro deste time, é deixar os paramédicos levarem ele, e deixar a lei agir como achar melhor.”
De repente, Victoria puxou Amy para um abraço. Amy resistiu por um instante, depois deixou os braços pendurados ao lado do corpo.
“Isso aqui não é só um time, Amy,” disse Victoria, “Somos uma família. Sua família.”
O homem que jazia a poucos metros mexeu-se, gemeu, longo e forte.
“Minha família adotiva,” murmurou Amy no ombro de Victoria, “E para de tentar usar seu poder de merda pra me fazer toda buba schnurr sobre o quão incrível você é. Não funciona. Já tô exposta tempo demais, tô imunizada.”
“Dói,” gemeu o homem.
“Eu não tô usando meu poder, otária,” Victoria disse, soltando-a, “Só tô abraçando minha irmã. Minha irmã ótima, carinhosa e misericordiosa.”
O homem reclamou ainda mais forte, “Não consigo mexer. Tô com frio.”
Amy franziu ao olhar para Victoria. “Eu vou curá-lo. Mas essa é a última vez.”
Victoria sorriu radiante. “Obrigada.”
Amy se inclinou sobre o homem e tocou sua face com a mão. “Fratura na costela, clavícula fraturada, mandíbula quebrada, escápula fraturada, sterno fraturado, pulmão machucado, ulna e rádio quebrados...”
“Entendi o ponto,” disse Victoria.
“Entende mesmo?” perguntou Amy. Depois suspirou. “Ainda não acabei. Vai levar um tempo. Quer que eu senta?”
Victoria cruzou as pernas, assumindo uma posição sentada, flutuando meio pé acima do chão. Amy só ajoelhou-se onde estava e descansou a mão no rosto do homem. A tensão saiu do corpo dele, e ele relaxou.
“E a mulher? Andrea?”
“Melhor do que nunca, fisicamente,” respondeu Amy, “Cresci dentes novos, resolvi tudo, da escoria às escoriações, até dei uma revisão geral na cabeça aos pés. Vai se sentir como se tivesse saído de um spa, com os melhores nutricionistas, a melhor academia e a melhor médica cuidando dela por um mês certinho.”
“Ótimo,” concordou Victoria.
“Mentalmente? Emocionalmente? Cabe a ela lidar com as consequências de uma surra. Eu não tenho como mexer no cérebro.”
“Bem—” Victoria começou a falar.
“Sim, sim. Não posso. Não quero. É complicado e não confio em mim mesma pra não estragar tudo quando mexo na cabeça de alguém. É isso, ponto final.”
Victoria tentou dizer algo, mas fechou a boca. Mesmo que não fossem sangue do mesmo sangue, elas eram irmãs. Só irmãs teriam discussões recorrentes dessas. Já tinham passado por várias variações sobre esse assunto. Para ela, Amy estava se prejudicando ao não praticar usar seus poderes na cabeça das pessoas. Era só questão de tempo até ela precisar fazer uma cirurgia de emergência no cérebro e, por incapacidade, não conseguir. Amy, por sua vez, se recusava a discutir isso.
Ela não queria abrir uma ferida delicada enquanto Amy fazia um grande favor a ela. Para mudar de assunto, Victoria perguntou: “Posso interrogar ele?”
“Tanto faz,” suspirou Amy.
Victoria bateu algumas vezes na testa do homem para chamar sua atenção. Ele mal mexia a cabeça, mas os olhos rolaram na direção dela.
“Pronto para responder minhas perguntas, ou eu e minha irmã só vamos embora e deixamos você assim?”
“Eu... vou te processar,” ele conseguiu dizer, ofegando, e ainda acrescentou, “Vadia.”
“Tente. Adoraria ver um skinhead com alguns ossos quebrados enfrentando uma heroína cuja mãe é uma das melhores advogadas de Brockton Bay. Você a conhece, não é?”
“Brandish,” ele disse.
“Esse é o nome dela no traje. Normalmente, ela é a Carol Dallon. Ela te daria uma surra na corte, acredita,” Victoria afirmou. Ela acreditava. O que o vagabundo não entendia era que, mesmo que perdesse o caso, o circo midiático que se levantaria faria mais mal do que qualquer outra coisa. Mas ela não precisava informar isso. Perguntou: “Então, levo minha irmã embora, ou você tá disposto a trocar umas informações por alívio de meses de dor insuportável e uma vida toda de artrite e entorses nos ossos?”
“E disfunção erétil,” Amy falou bem alto, o suficiente para o vagabundo ouvir, “Você quebrou a nona vértebra. Isso vai afetar toda a função nervosa nos membros abaixo da cintura. Se eu deixar você assim, seus dedos vão ficar sempre meio dormentes, e vai ser difícil até conseguir levantar” — ela apontou, forte, na direção do órgão genital do homem — “e, se você sabe o que quero dizer, vai ter uma sacanagem bem difícil de fazer.”
Os olhos do skinhead se arregalaram um pouco. “Você tá brincando.”
“Tenho uma licença médica honorária,” disse Amy, séria, “Não posso brincar com essas coisas. Juramento de Hipócrates.”
“‘Não fazer dano’ não é isso?” perguntou o gangster. Então, gemeu, longo, forte, com uma leve rufada na respiração, enquanto ela afastava a mão dele do corpo.
“Isso é só a primeira parte, assim como liberdade de expressão e direito a armas são só a primeira parte de uma constituição enorme. Parece que ele não está cooperando, Glory Girl. Devemos ir?”
“Porra!” exclamou o homem, depois fez uma careta, tocando a lateral com uma das mãos, “Eu vou falar. Por favor, faz o que tava fazendo. Toca em mim e tira essa dor, me conserta?”
Amy o tocou. Ele relaxou, e logo começou a falar.
“A Empire Eighty-Eight está expandindo para os Docks, por ordem do Lung. O Lung está sob custódia, e, aconteça o que acontecer, o ABB está mais fraco. Isso significa que há território à disposição, e a Empire não está avançando muito no centro. Não há mais do que meses. Então, o Kaiser acha que devíamos tomar os Docks agora, enquanto o ABB está de fora, conquistar algum espaço mais fácil. Não sei mais nada além disso, sobre seus planos.”
“Por quê?” perguntou Victoria.
“Esse cara, Coil. Não sei quais são seus poderes, mas ele tem um exército particular. Ex-militar, todos eles. Pelo menos cinquenta, disse Kaiser, e cada um com equipamentos de ponta. A armadura deles é melhor que kevlar. Se você atira neles, eles levantam de novo em questão de segundos. Quando você atira num porco, é fácil saber que quebrou umas costelas. Mas não é o mais louco. Esses caras? Eles têm lasers ligados às metralhadoras que carregam. Se eles acharem que balas não estão dando conta, ou se estiverem atrás de alguém protegido, disparam feixes de laser roxos capazes de cortar aço. Arrancam qualquer cobertura e queimam você também.”
“Sim, eu sei dele. Os métodos dele são caros,” disse Victoria, “Soldados de primeira linha, equipamento de ponta.”
O gangster fez que sim com a cabeça, fraco, “Mas mesmo com grana, ele luta com a gente pelos territórios do centro. Uma guerra de vaivém, ninguém avança quase nada. Isso faz meses. Então, o Kaiser acha que a gente deve tomar os Docks, agora que o ABB está enfraquecido, conquistar um território mais fácil. É o que ele planeja, ao menos, mas não sei mais do que isso.”
“Quem mais está agindo? Faultline?”
“A vadia com os perigos na turma dela? Ela é mercenária, com objetivos diferentes. Mas talvez. Se ela quiser expandir, agora seria uma boa hora. Com a fama que ela tem, até se daria bem.”
“Então, quem mais? Tem uma lacuna de poder nos Docks. O Kaiser disse que quer tomar aquilo, mas eu aposto que alertaram você de outros querendo se meter na jogada.”
O skinhead riu, depois fez uma careta, “Tá achando que eu sou burra, garota? Todo mundo vai querer pegar um pedaço. Não só as gangues maiores e equipes, mas todo mundo. Os Docks estão prontos pra pegar. O local vale tanto quanto o centro. É o lugar favorito pra comprar no mercado negro. Sexo, drogas, violência. E a galera já tá acostumada a pagar propina. É só mudar quem recebe. Os Docks são um território valiosíssimo, e pode acabar numa guerra total por isso.”
Ele olhou para a heroína loira e riu, enquanto ela mantinha uma expressão firme. Seus lábios se cerraram.
“Quer saber minha aposta? A Empire vai ficar com a maior fatia, porque é forte o suficiente. Coil vai enfiar o dedo só pra provocar a gente, o ABB vai segurar alguma parte. Mas também vai aparecer um monte de gente pequena querendo um pedaço. Über, Leet, Circus, os Undersiders, Squealer, Trainwreck, Stain, outros que você nunca ouviu falar? Eles vão tentar conquistar seu espaço. E aí uma das duas coisas vai acontecer: ou começa uma guerra, com civis se machucando, ou forma-se uma aliança entre as equipes e vilões solos, e a coisa fica ainda pior pra você.”
Ele riu novamente, alto, rindo forte.
“Vamos lá, Panacea,” disse Victoria, levantando-se, tocando o chão com as botas e ajeitando a saia, “Já deu por hoje.”
“Tem certeza? Ainda não acabei,” respondeu Amy.
“Você consertou as escoriações, os ossos quebrados?” Ou seja, tudo que poderia colocar ela em problema.
“Sim, mas não consertei tudo,” respondeu Amy.
“Bom o suficiente,” decidiu Victoria.
“Ei!” gritou o skinhead, “O acordo era que você me consertasse se eu falasse! Você consertou meu pau?” Ele tentou se levantar, mas as pernas não sustentaram, e ele caiu de costas, “Ei! Não tenho como andar, vou te processar!”
O semblante de Victoria mudou num instante, e seu poder se derramou de uma vez, surpreendendo o criminoso. Por um instante, seus olhos ficaram como os de um cavalo assustado, toda a branca rolando, sem foco. Ela puxou a gola da camisa dele, levantou-o e rosnou perto do ouvido, numa voz baixa, quase um sussurro: “Tente. Minha irmã acabou de te curar… na maior parte, com um toque. Alguma vez você já pensou no que ela também poderia fazer? Já quis imaginar que, talvez, ela pudesse te quebrar do mesmo jeito? Ou mudar a cor da sua pele, seu racista de merda? Deixo claro que não sou nem metade daquilo que minha irmã pequena é.”
Ela soltou-o. Ele caiu no chão, desmaiado.
Quando as duas irmãs se afastaram, Victoria pegou o celular de uma pochete na cintura com a mão livre. Olhando para Amy, disse: “Obrigado.”
“Vai com cuidado, Victoria. Não posso trazer gente de volta à vida, e uma vez que você foi longe demais...”
“Vou fazer o melhor que puder. Melhor ainda,” prometeu Victoria, discando com uma mão. Colocou o celular no ouvido, “Alô? Serviços de emergência? Solicito linha especial. Nova Onda, Glory Girl. Criminoso incapaz, para vocês recolherem, sem poderes. Não, sem pressa, eu aguardo.”
Deixando o olhar sobre o rapaz ainda cambaleando, ela comentou: “Ele não vai levantar?”
“Vai ficar dormente da cintura para baixo por mais três horas. O braço esquerdo também vai ficar meio ruim por esse período, então ele só se moverá se arrastar com um braço, se conseguir. Vai ter também os dedos dormentes por pelo menos um mês,” ela sorriu.
“Você realmente...?”
“Não. Nada quebrou, e eu não estraguei nada, além de uma dormência temporária. Mas ele não sabe disso. O medo e a dúvida vão reforçar o efeito, e a sugestão se torna uma profecia autorrealizável.”
“Amy!” Victoria riu, abraçando a irmã com um braço, “Você não tinha dito que não ia mexer na cabeça das pessoas?”