
Capítulo 456
Fui parar dentro de uma história de fantasma... e ainda tenho que trabalhar
Os moradores da vila se reuniram ao meu redor.
[Ele está aqui, a sorte de Jisan!]
O homem com o megafone gritava cada vez mais alto e, sem que eu percebesse, o canto e o som dos gongs voltaram com força total.
Um turbilhão de gente.
"Por aqui!"
Senti a presença do Agente Bronze e o segui, desviando pelo meio da multidão para me esconder dos moradores, mas não foi suficiente.
"Uau, daebak."
"Será que essa pessoa vai mesmo ganhar o galo dourado?"
Pessoas que ainda não entendiam a situação cochichavam, enquanto os moradores da vila avançavam contra mim, deixando tudo para trás; alguns se ajoelhavam no chão e rezavam em direção à montanha, e Baek Saheon desaparecera no meio da multidão.
"Por favor, fujam."
Empurrei o Agente Bronze e a Assistente Eun para trás, tentando protegê-los dos moradores, mas o Agente Bronze avançou como se fosse enfrentá-los.
"Calma. A essa altura, as chances de eu sair 'são e salvo' são quase zero mesmo."
"…!"
"E isso estava claramente no manual."
Encarei seus olhos.
"O que fazer nessa situação."
Às vezes, durante operações de resgate, um dos agentes acaba sendo capturado pelos moradores.
Mas, a menos que seja o último dia do festival, não adianta sair na base da ignorância ou enfrentar a vila inteira.
Você sempre pode voltar para a vila durante o festival. Isso significa que pode retornar com a preparação adequada.
Não deixe que as emoções falem mais alto e estraguem uma oportunidade preciosa causando confusão. Aja com sabedoria e decisão.
Assim, quem for capturado, quem ficar para trás e quem for resgatado poderá escapar do desastre vivo.
"Vá."
"……"
"Vá, arrume um jeito de me resgatar rápido e volte. Só assim eu sobrevivo."
Eu via o conflito nos olhos do Agente Bronze, uma luta entre emoção e raciocínio.
Mas logo o raciocínio venceu.
"Amanhã."
"……"
"Eu volto para você. Não importa o que aconteça."
O Agente Bronze me entregou rapidamente um cadarço de cinco cores, que guardei na minha tatuagem de inventário.
No pior dos cenários, se eu corresse risco de desaparecer ou me suicidar, seria meu último recurso para escapar.
Então ele se abriu caminho pela multidão em uma velocidade assustadora e correu em direção à entrada.
"Ele está aqui! A sorte de Jisan!"
E, ao mesmo tempo, os moradores da vila se lançaram sobre mim.
Pisquei os olhos.
Parecia que eu havia perdido a consciência por um momento.
Quando voltei a si… estava deitado no chão amplo e de madeira antiga de uma casa.
Portas de correr dos dois lados da sala quadrada.
"……"
Lembrei de uma casa com o mesmo layout recentemente.
'É aquela casa de telhado de telhas.'
A Assistente Eun não estava à vista… parecia que ela não havia sido capturada comigo.
Foi um alívio.
'……'
Olhei para minhas pernas.
Elas estavam amarradas com uma corda dourada.
A corda saia por um buraco em uma das portas de correr.
Quando puxei um pouco, senti certa elasticidade. Parecia estar fixada no lugar.
'Então começa.'
Naquela hora.
Drrrrk.
A porta de correr abriu e entraram pessoas.
Não, só duas.
Uma carregava uma bandeja com comidas típicas do festival, a outra trazia uma garrafa de bebida alcoólica. Os dois fizeram uma profunda reverência e colocaram a comida e a bebida com cuidado.
Então uma música suave começou a tocar.
Do lado de fora do prédio, parecia que a festa selvagem e frenética continuava a noite toda.
"……"
Os dois trouxeram uma pequena caixa para sorteio e puxaram as cordinhas. No fim, quem tirou um palito com uma pena de galo ficou, enquanto o outro baixou a cabeça e saiu.
O que ficou era quem trouxe o álcool.
"Sr. Saheon."
"……"
Baek Saheon, o morador que trouxe a bebida, me olhou.
Eu podia imaginar quem havia armado para que eu tirasse o prêmio especial.
"Ontem à noite, você fez eu tirar o palito do 'prêmio especial' da sua bolsa de propósito, não foi?"
– …Chequei meu bolso.
Ele definitivamente me induziu a fazer isso.
Foi a única ação fora do comum capaz de explicar por que eu, que não havia tirado nada ontem, consegui o prêmio especial hoje.
"Foi para me fazer parecer alguém que já havia tirado o prêmio especial, para me 'qualificar'?"
"……"
"Para me guiar a tirar o prêmio especial hoje?"
Uma satisfação profunda brilhou nos olhos de Baek Saheon.
E, com voz rouca, ele falou.
"Se é isso o que você acha, e daí?"
"Então você planejou tudo isso há tempos."
"……"
"Você deve ter pensado muito sobre se isso funcionaria e o que fazer se os agentes falhassem em te resgatar."
Um sorriso quase delirante se espalhou pelos lábios de Baek Saheon.
"Isso mesmo."
Libertação.
Loucuras.
"Pensei nisso todos os dias. O que faria se um dia fosse escolhido. Eu nunca quis acabar daquele jeito. Toda vez que dormia nessa casa de merda, toda vez que alguém morria, até quando minha irmã mais velha morreu!"
Ele falou como se estivesse vomitando as palavras.
"Sempre pensei, eu nunca quero acabar assim. Droga, se eu morrer, deus ou o que seja…"
"Deus?"
Baek Saheon engoliu em seco. Havia um misto de receio e excitação em falar algo proibido.
"Esse festival é para adorar um deus, então."
"Adoração? Não!!"
Baek Saheon quase gritou.
"Isso é um ritual para criar um deus!"
"……!"
"Eles escolhem um dia auspicioso, fazem o festival, e quem é escolhido fica no santuário da vila para se tornar o deus, a sorte de Jisan, que vai nos libertar da 'verdade do mundo'. Eles realmente acreditam nessa loucura!"
"Isso é mesmo possível?"
"Eu não sei! Mas…"
Ele arfou.
"Tem algo aqui de verdade."
"……"
"Nos dias do festival, se nenhum forasteiro tirar o prêmio especial, os moradores juntam os palitos restantes e tiram entre si. E se alguém for escolhido…"
O rosto de Baek Saheon endureceu.
"Quando o último dia do festival termina, colocam um saco na sua cabeça como se fosse um bicho e te arrastam até o santuário do deus da vila."
"……"
"Lá eles fazem alguma coisa com você."
"O que quer dizer?"
"Eu não sei. Não sei. Mas, mas tem algo…"
O rosto dele ficou pálido.
"Quando aqueles que foram arrastados voltam de manhã, seus rostos mudam. Eles não falam mais. Começam a se preparar para o festival do ano seguinte juntos…"
"……"
"E quando o festival que prepararam acaba, eles se enforcam no santuário."
…!
"Mas então, a cada festival, eles aparecem de novo. Mesmo depois de mortos, voltam. Saem do santuário."
Ele uivou.
"Eles tocam na banda tradicional!!"[1]
"…!"
"Estão fazendo isso agora. Lá fora!"
Heeyaaaaaah!
"Eu não vou acabar assim. Não vou morrer. De jeito nenhum."
Os olhos de Baek Saheon brilhavam com medo, raiva, instinto de sobrevivência e uma sensação de alívio por estar vivo… então se acalmaram em um cálculo racional.
"Agora que você foi escolhido, o festival e o sorteio acabaram. Eu não preciso mais voltar aqui. Estar preso nesta vila maldita de Jisan, sendo mantido aqui, acabou."
Nota/explicação:
[1] Banda tradicional / Pungmul-nori – tradição de música folclórica coreana que inclui tambores, dança e canto, com dezenas de músicos em constante movimento.