Fui parar dentro de uma história de fantasma... e ainda tenho que trabalhar

Capítulo 91

Fui parar dentro de uma história de fantasma... e ainda tenho que trabalhar

Nada tinha dado certo desde que Saheon ficou preso com esse cara como colega de dormitório.

Só ouvir aquele desgraçado despejando comentários insanos naquele tom sarcasticamente eterno, como se ele nunca pudesse causar confusão, nem bêbado.

Isso fazia a cabeça de Saheon girar.

‘Preciso mesmo ficar com esse cara?’

Os outros funcionários que entraram com eles pareciam espalhados pela mansão bizarra, ainda meio acordando.

E os civis que ele encontrou antes? Ah, esses foram simplesmente dizimados.

Ainda assim, seria melhor andar sozinho do que ficar com esse maluco...?

Ele pesava desesperadamente suas opções quando Kim Soleum falou de repente.

“Vai falar de senhor para agora? Do nada?”

Filho da puta.

Um suor frio escorreu pela espinha de Saheon.

“...Era uma situação altamente urgente naquela hora, então acabei falando no modo informal sem querer... Mas acho melhor a gente voltar a se tratar com formalidade.”

Kim Soleum ficou olhando para Saheon por um instante e respondeu, com total indiferença,

“Entendi. Certo.”

“...Sim.”

Será que eu deveria... fugir?

Baek Saheon olhou para Kim Soleum.

Já tinha escutado todos os boatos absurdos sobre esse sujeito.

O ‘novato monstruoso’ do Grupo de Exploração de Campo.

— Ouvi dizer que ele enfrentou uma Escuridão nível A sozinho.

— Quase foi recrutado para a equipe de elite, mas recusou?

— Caramba, ouvi dizer que até encontrou um chefe de seção desaparecido. Esse cara é mesmo só um novato?

— E já teve duas revisões de manuais aprovadas? Parece tipo um novato-fantasia, propaganda pra enganar os demais empregados...

Os boatos ficaram tão ridículos que alguns até brincavam que ele era só um marketing da empresa.

Mas Baek Saheon não desconfiava dos rumores.

‘Não é porque ele é um doido varrido mesmo?’

Os resultados monstruosos desse cara provavelmente vinham dessa mente monstruosa, certo?

Uma mente tão diferente da de gente comum que conseguia ter ideias nem um pouco sensatas até dentro dessas histórias de terror.

Por mais pragmático egoísta que fosse, Baek Saheon sentia uma pressão única da imprevisibilidade desse maluco.

O medo do desconhecido.

‘Sinceramente, se alguém me dissesse que ele próprio é um conto de terror, eu acreditaria.’

Baek Saheon enxugou o suor frio.

Mesmo assim, queria informações. Pelo menos podia ouvir o que ele tinha a dizer.

“Para onde vamos? Pelo jeito daquela fera atacando as pessoas, essa Escuridão parece nos tratar como invasores...”

“Não é assim.”

“Desculpa?”

“Essa exposição definitivamente nos trata como convidados.”

Que diabos ele estava falando agora?

Baek Saheon olhou para Kim Soleum, que continuava falando com uma confiança inabalável.

“Por isso ela cobra uma taxa. Ela só pega os olhos. É só uma cobrança de ingresso.”

“……”

“Você não leu o manual?”

Claro que leu, porra.

Aquele documento maldito e bizarro contaminado pelo convite da exposição.

“É um convite. Quem é convidado não é tratado como invasor.”

“...Mas não mencionava nenhuma taxa.”

“Leia de novo. Lá no final da página três.”

Baek Saheon desdobrou o papel.

+++

Esta exposição é gratuita por uma hora como parte de nossa apreciação aberta à arte.

+++

“Gratuito por uma hora implica que depois vai cobrar ou expulsar você.”

“……!”

“Mas em vez de te expulsar do local, eles levam seus olhos. Aquela coisa mais cedo... provavelmente é um ‘funcionário’ desta exposição.”

Soava perturbadoramente convincente.

Sem pensar, Baek Saheon fez outra pergunta.

“Por que diabos você acha que os olhos humanos são considerados pagamento?”

“Bem, talvez porque sejam a parte mais valiosa do corpo humano?”

“……!”

“Parece que o que a gente carrega não tem valor pra eles.”

“...‘Eles’?”

Kim Soleum balançou a cabeça, sem expressão.

“Nem ideia.”

E ninguém enfiado nessa confusão saberia também.

Um arrepio percorreu as costas de Saheon.

“De qualquer jeito, quem quer que esteja por trás dessa exposição parece achar que partes do corpo humano são as coisas mais valiosas que temos.”

“……”

“Acho que os olhos são considerados o pagamento inicial mais adequado, então é isso.”

Olhos.

Baek Saheon tinha só um.

Ele quase instintivamente pressionou a mão sobre o olho que estava coberto.

Lembrou-se daquele dia com clareza.

Kim Soleum olhando para ele no metrô, levantando casualmente seu ‘gabarito’ de olho.

A calma desconcertante, a observação calculada, esperando que Baek Saheon percebesse que seu olho tinha sido arrancado à toa.

O olhar zombeteiro.

Essa Escuridão leva olhos como pagamento, mas o que diabos deixava aquele cara tão assustadoramente indiferente?

“Mas...”

“……!”

Kim Soleum encarava ele diretamente.

“Você caiu de novo no modo informal.” [1]

Um arrepio desceu a espinha de Baek Saheon.

Ele se forçou a falar calmamente enquanto, de vez, passava para o modo casual.

“Tá bom. Vamos falar no informal então? Somos da mesma turma, afinal, e temos que fugir juntos...”

“Nem quero,” respondeu Kim Soleum.

“……”

Por um instante, a irritação aflorou, mas Baek Saheon forçou um sorriso.

“Não fala assim. Você me escondeu no duto antes — isso não significa que queria me salvar como colega?”

“Não. Achei que poderia usar você como isca, se precisasse.”

“……”

Baek Saheon desistiu de manipular e partiu para a persuasão.

Kim Soleum parecia entender muito bem aquela história horrível da exposição sombria.

“Se a gente ficar junto, a exploração fica mais fácil. Ainda mais num lugar escuro como esse.”

“Não é bem assim.”

“……”

“Mas, pelo dopamina, tudo bem, vamos ficar juntos. Quanto mais gente, mais imprevisível fica.”

Esse desgraçado insano.

Baek Saheon tinha certeza agora.

Nunca tinha encontrado alguém tão descaradamente maluco, nem em toda sua vida tumultuada.

Ainda assim...

‘Tem que ser louco assim pra sobreviver nessa empresa amaldiçoada?’

Sentindo uma estranha sensação de derrota, ele cerrou os dentes sob sua máscara de bode negro.

“Vamos.”

Kim Soleum ignorou a expressão congelada de Baek Saheon e começou a andar.

Então, do nada, falou,

“Valeu. Isso me tranquiliza.”

“O quê?”

O que ele estava agradecendo?

Antes que Baek Saheon pudesse perguntar, Kim Soleum levou a mão à boca.

“Silêncio. Estou falando com o Braun.”

“……”

Baek Saheon mal conseguiu falar.

“Braun?”

“É.”

Kim Soleum tirou do bolso do paletó algo — um chaveiro de coelhinho de pelúcia fofinho.

“O Braun está te mandando um oi agora.”

“……”

Baek Saheon subitamente quis correr, bem longe.

Claro que ele não poderia imaginar que Braun na verdade estava ‘dizendo’: “Oh! Saudações a você, Sr. Bode Expiatório, futura próxima vítima desta sala!”

Nem percebeu que Kim Soleum estava pensando,

‘Ufa. Ter mais uma pessoa junto deixa isso aqui um pouco menos assustador.’

A ideia de ficar vagando sozinho por esse lugar com Braun o deixava com tanto medo quanto durante o incidente do changgwi.

‘Foi uma boa escolha afinal!’

“Você vai procurar outro lugar tipo aquele duto de antes?”

“Não.”

Kim Soleum lançou um olhar incrédulo a Baek Saheon, como se olhasse para um cara realmente ridículo.

“Estou procurando a saída. Por que eu procuraria um duto?”

“……”

“Quer dizer, se você gosta tanto de duto, fica num aí. Se te pegarem, só paga a taxa.”

Kim Soleum sabia exatamente o que tipo de pessoa Baek Saheon era.

‘Esse cara, ele é o tipo que não pode ficar solto.’

Era alguém que aproveitaria qualquer brecha, assim como atacou alguém sem pestanejar assim que se conheceram.

Nunca esqueça que o apelido de Baek Saheon no <Registros de Exploração Sombria> era ‘Víbora’, ou seja, cobra venenosa!

Nunca baixar a guarda!

‘Beleza, vou agir igual doido também.’

Assim começou a desconfortável e tensa exploração da Escuridão de dois lunáticos certificados.

Notas:

[1] Sobre a mudança do nível de fala do Baek Saheon, desculpa aí de novo, mas não conheço jeito melhor de diferenciar, a não ser às vezes adicionar “senhor” quando ele sobe para o nível mais formal.

Mas como o Soleum é tão pedante em apontar os deslizes do Saheon, fica bem evidente, kkk ↩