
Capítulo 86
Fui parar dentro de uma história de fantasma... e ainda tenho que trabalhar
Respirei fundo e me lembrei das instruções para a Banheira Sangrenta.
Primeiro, encha a banheira com água morna.
1- Adicione água limpa na banheira à vontade.
(‘Banheira da Juventude – Edição Massagem nos Pés’ é um produto que não suporta enchimento automático de água.)
Conforme indicado, despejei água morna suficiente da pia para a banheira, o bastante para submergir uma pelúcia.
Então…
Aqui começa o processo principal.
2- Depois que a água atingir o nível desejado, despeje pelo menos 200ml de sangue fresco sobre ela.
Quanto mais fresco o sangue, especialmente de um sujeito saudável e vigoroso, melhores os efeitos.
A própria ideia de que algo tão absurdo estivesse escrito com uma fonte simpática e educada parecia surreal, mas, felizmente, eu tinha um substituto.
Levantei o ginseng selvagem.
Com uma tesoura, cortei uma das raízes externas médias.
‘Ugh.’
Um líquido púrpura escuro, nauseante de se olhar, escorria da raiz cortada.
Agradeci profundamente as luvas de borracha que estava usando.
Com cuidado para não tocar no líquido, encostei a raiz cortada na borda da Banheira Sangrenta.
E então, um espetáculo notável aconteceu.
Burburinho, burburinho.
O líquido que tocou a água começou a espumar, liberando um aroma fantástico.
“……!”
O líquido púrpura escuro e nauseante transformou-se em um creme rico, belo e cor de rosa que brilhava intensamente.
Era bizarro e hipnotizante.
A água do banho, luxuosa e convidativa, na qual qualquer um se sentiria tentado a entrar, agora estava pronta.
3- Submerja seu corpo inteiro na água e aproveite a experiência.
(A Edição Massagem nos Pés também restaura a vitalidade de todo o corpo.)
Uma voz ansiosa veio debaixo da cama escura.
– Finalmente!
Era a risada da pelúcia.
– Ah, não precisa me carregar, Sr. Cervo.
– Só não vire para trás.
Fiquei paralisado no lugar.
…Atrás de mim, ouvi um som.
Thump.
Thump.
Thump.
O som de passos.
Não, seria a pelúcia?
O som parecia o de sapatos de couro masculinos, pesados e rítmicos, um tanto animados, mas firmes. Passou bem atrás de mim e parou.
Então veio o som de algo caindo na banheira.
– Pode olhar agora.
Virei a cabeça.
A pelúcia, encharcada na água da pequena banheira, flutuava ali com seu rosto sorridente de mascote, inalterado.
“…Braun?”
Não houve resposta.
Claro que não. Falar cara a cara com uma pelúcia não é algo possível na realidade.
Mas eu sabia que ele estava ouvindo.
“Bem, vou ajeitar o ginseng selvagem por enquanto. Aproveite o banho.”
Coloquei o ginseng, que havia parado de escorrer líquido, de volta sobre a mesa e me virei para olhar a banheira, lembrando dos relatos de quem já havia usado a Banheira Sangrenta.
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Registro de Uso #05
No processo de limpar os restos de um sabonete efervescente deixado por um inquilino (um homem meio caucasiano, na casa dos 20 anos), o proprietário (um homem na casa dos 40) inevitavelmente mergulhou a mão na água do banho remanescente. Isso durou cerca de 30 segundos antes que ele esvaziasse a banheira.
Imediatamente, a pele e os tecidos musculares da mão rejuvenesceram para o estado da metade dos 30 anos. Sinais de vitalidade foram observados em todo o corpo.
Naquela mesma noite, ele tentou fugir com a Banheira Sangrenta no carro, mas foi capturado.
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Hmm, nada disso parecia estar acontecendo aqui.
‘Talvez não funcione em bonecos mesmo.’
Eu devia pegar uma toalha.
Quando me virei em direção ao móvel—
– Ooooh!
Uma voz?
Virei a cabeça.
Da banheira aparentemente vazia, faíscas tênues estalavam como uma tela de TV antiga com curto-circuito.
– A luz está entrando em meus membros sem poder!
Flash.
A sombra da pelúcia surgiu grande sobre a banheira, com seus bracinhos pequenos erguidos em triunfo.
O que foi aquilo?
– Sr. Cervo!
Não me chame!
– Que artefato fascinante! Hahaha, hahahaha!
Engoli em seco enquanto observava.
‘…Será que ele realmente está recuperando suas forças?’
Não havia registro de que o efeito de rejuvenescimento da Banheira Sangrenta fosse tão intenso. Era inédito.
– Mais sais de banho! Jogue mais!
Sais de banho.
Sem pensar, peguei o ginseng selvagem da mesa…
[AAAAACK! Seu moleque, não pegue o ginseng selvagem!!!]
[Piedade, nobre senhor!! Me perdoe! Por favor, me perdoe!!]
Merda, porra!
Assustado, soltei o ginseng por reflexo.
Thunk.
O ginseng caiu direto na Banheira Sangrenta. Pareceu perceber que seu líquido estava sendo transformado em água de banho perfumada e soltou um grito desesperado.
[AAAAAAHHHHH!!]
Mas foi só isso.
O ginseng não parecia capaz de causar problemas como antes.
Se o poder misterioso da banheira o estava suprimindo, ou se Braun tinha feito algo, não sabia dizer.
Um grito desesperado ecoou.
[Por favor, nobre senhor! Nobre senhor!! Eu estava errado! Eu estava errado!]
[Eu vou dar o meu melhor! Vou servir você!!]
– Que falta de educação e barulho!
Mais faíscas estalaram da Banheira Sangrenta.
Parecia uma tela de TV com o sinal embolado.
De dentro dela, a voz estrondosa de um locutor irritado ressoava.
– Corte o pescoço, Amigo! Acabe com isso! Não estrague essa cena!
“……”
Endireitei a postura.
Sem olhar para dentro da banheira, disse,
“Não precisa chegar a tanto para calar ele.”
– ……
“Não precisa de métodos tão extremos.”
– Em um show, um único momento ou timing pode definir todas as reações e emoções.
“Mas isso aqui não é um show, né?”
– É verdade…
A eletricidade que chispeava da banheira começou a diminuir.
– Você está certo. É verdade mesmo.
Ufa.
‘Quase acabei registrando isso como uso irregular da Banheira Sangrenta.’
Nem que a situação já não fosse absurda o bastante.
De dentro da banheira veio uma voz chorosa e lamentosa.
[Obrigado… Obrigado, salvador.]
[Benfeitor gentil! Por favor, agora me tire daqui e me salve das mãos desse monstro impiedoso…]
Cruzei os braços.
“Eu nunca disse que ia salvar você.”
[……?!]
Quem termina como vítima no meio de uma história de fantasmas?
Sempre é a pessoa bondosa que baixa a guarda em momentos assim!
‘Quando um fantasma começa a chorar e você fica com pena, é justamente aí que algo assustador acontece!’
Em situações assim, é preciso manter a calma e agir com firmeza. Encarei o ginseng selvagem abandonado na banheira, além da borda de cerâmica.
“Se eu te salvar, como posso saber que você não vai causar problemas?”
Um soluço respondeu.
[Então, nesse caso… hum, que tal isto? Um campo! Eu vou te contar sobre os tesouros raros do campo onde eu vivia!]
“Não preciso.”
Certamente seriam itens amaldiçoados ou assombrados de qualquer jeito.
[En- Então…]
Suspirei.
“Apenas prove que não vai atrapalhar ninguém. Fique quieto.”
[……]
O ginseng ficou em silêncio.
Pelo menos, eu tinha ganhado tempo.
Alguns minutos se passaram em silêncio tenso (embora provavelmente agradável para Braun).
‘Dez minutos.’
Esse era o tempo que eu havia marcado quando—
– Hm. Foi um banho excelente.
“……”
Acabou?
Eu estava para virar a cabeça, pensando que talvez precisasse tirar Braun da banheira.
– Ah, esplêndido… Obrigado, Sr. Cervo.
A voz da pelúcia mudou, ficando maliciosa.
– Por esperar até eu terminar meu banho!
Bang.
[GAAAHH!!]
Um estrondo e um grito saíram da banheira.
Esse maluco—!