
Capítulo 84
Fui parar dentro de uma história de fantasma... e ainda tenho que trabalhar
A primeira coisa que senti foi umidade.
Chasqueio.
Quando enfiei a mão molhada com água salgada no buraco da serpente, uma frieza estranha, como mergulhar a mão em tinta, me envolveu.
Então, fui sugado para dentro.
"......!"
A sucção que começou na minha mão logo envolveu todo o meu corpo.
'N-não consigo respirar.'
Era como se um papel molhado estivesse se apertando ao redor do meu corpo, me sufocando. Minha visão girava, escura e tonta, até que finalmente…
Ofeguei!
Com um súbito suspiro, consegui respirar novamente, como se tivesse emergido para um ar fresco.
Abri os olhos.
Em vez de estrelas, as luzes de néon de uma cidade do interior se estendiam diante de mim, brilhando contra a noite de outono na Coreia.
'Eu... sobrevivi.'
Eu estava de volta à realidade.
"Huu..."
Tentei me levantar, mas minhas pernas tremiam tanto que quase caí. Tinta vermelha escura pingava dos meus pés, deixando um rastro no chão.
"......"
Segui o rastro de tinta com o olhar.
Vi um pedaço antigo de hanji¹ com uma pintura em lavagem de tinta desbotada e borrada, caído no chão.
Era como se, depois de tantos anos, a imagem tivesse desaparecido completamente e uma tinta nova tivesse sido derramada por cima, deixando quase nenhuma forma reconhecível.
'...Deve ter sido uma daquelas pinturas amaldiçoadas conectadas àquela montanha insana.'
Estremeci, desvie rapidamente o olhar e me virei para checar os outros espalhados pelo chão.
Um, dois, três... sete. Todos estavam ali.
Parecia que a pintura os tinha cuspido logo depois de mim.
"Ugh..."
"Você está bem?"
"Ai... Hã! E-estamos do lado de fora!!"
O chefe de seção Lee Byeongjin olhou ao redor e gritou surpreso.
"Haha!! N-nós conseguimos!! Estamos vivos!!"
Então, cheio de alívio e gratidão, virou-se para mim e fez uma reverência profunda.
"Obrigado... por nos salvar..."
"Você se salvou, chefe de seção. Foi você quem realizou o ritual, afinal."
"...Haha, tão humilde... Fico até envergonhado."
O chefe de seção Lee fez outra reverência, visivelmente emocionado. Achei melhor deixá-lo pensar que era humildade e não bajulação.
"O-ooh!"
Os próximos a voltarem ao normal foram os alunos do ensino médio. Enquanto os ajudava a se recompor, ouvi seus comentários surpresos.
"Esse lugar... era onde vocês deveriam estar na excursão da escola?"
"Sim!!"
Agora que olhava ao redor, realmente se parecia com a descrição deles do 'gazebo atrás da nossa hospedagem'.
'Então todos nós fomos cuspidos aqui.'
...Foi sorte não termos acordado naquele escritório estranho no porão da empresa.
Reforcei para as crianças que se abraçavam aliviadas, chorando e prontas para descer a montanha correndo.
"Cuidado onde pisam. Quando chegarem lá embaixo, procurem um adulto e liguem para seus pais, combinado?"
Mas as crianças pareciam nervosas, hesitantes em ir embora.
"Você não vai com a gente...?"
Bem... eles tinham um ponto.
Se eu fosse visto como um herói por salvá-los ou confundido com um sequestrador, se eu fosse à polícia, a empresa provavelmente não iria gostar...
'O importante é que as crianças voltem para casa em segurança.'
Balancei a cabeça lentamente.
"Precisamos ir para outro lugar. Vocês só continuem descendo e não olhem para trás."
Muito cuidado para não tropeçar.
"......! Certo."
As crianças pareciam reunir coragem, assentiram com os rostos decididos e começaram a descer a montanha cuidadosamente, apoiando-se umas nas outras.
'Bom.'
Como o caminho era bem cuidado e a montanha não muito alta, eles levariam uns cinco minutos para descer.
Enquanto os observava garantir que estivessem seguros, senti um toque no ombro.
"Com licença..."
Era o sargento da segurança, que já estava de pé e cambaleava levemente, segurando um talo com ginseng selvagem verdoso ainda preso.
"Ei, garoto, pega isso..."
"Ah."
O sargento estendeu o talo com o ginseng selvagem inconsciente pendurado.
'Quer dizer, podíamos ter simplesmente deixado lá.'
Mesmo assim, peguei o ginseng sem protestar. O sargento se virou e começou a andar, arrastando os passos pesados.
"...Para onde vai?"
"Pro escritório... ainda estou de plantão..."
Ah.
'Mas estamos em Gyeongju agora.'
(N.T.: Uma viagem de KTX de Gyeongju a Seul dura cerca de 2h40, enquanto de ônibus são de 4 a 5 horas.)
Quando ele voltar, provavelmente seu turno já terá terminado.
De qualquer forma, segui-o porque também precisava voltar para Seul, carregando Go Seonha, a universitária exausta, jogada sobre meu ombro.
'Vou deixá-la na frente da delegacia no caminho.'
Então, naquele momento—
"Aah... Os dois da Segurança precisam voltar logo! Eu, eu vou junto! Haha! Não é justo eu acompanhar vocês como a pessoa desaparecida que vocês acharam? Vamos juntos!"
Olhei para o chefe de seção Lee Byeongjin, que corria para alcançar a gente, parecendo um puxa-saco com medo de perder seu salvador.
Bem, agora que escapamos... talvez fosse hora de ele conhecer a verdade.
"E, ah, quando tudo isso acabar, vou passar no seu departamento para agradecer direito a vocês dois! Haha, onde mesmo fica a equipe de Segurança...?"
"Não."
"......?"
"Mesmo que você venha para a equipe de Segurança, não vai conseguir me encontrar."
"Hã?"
"Eu faço parte da equipe de Exploração de Campo."
Seguiu-se um silêncio pesado.
"Mas, ah, sua roupa... você está com uniforme de Segurança—"
"Foi só emprestado..."
"......?!"
Com esse comentário do sargento da segurança, o rosto do chefe de seção Lee misturou confusão e, após um momento, ele pareceu montar o quebra-cabeça na cabeça.
"Ahh! Ah! E-entendi, mas você não parece conhecido. Você não tem apoio administrativo? Ah! Talvez seja de uma equipe especial? Por isso veste esse uniforme de segurança...?"
"Sou recém-contratado, senhor."
"......?"
"Sou novato do time D."
"......???"
[1] Hanji: papel tradicional coreano feito à mão, conhecido por sua durabilidade e textura única.